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3 INOVAÇÃO EDUCACIONAL COMO PRINCÍPIO PEDAGÓGICO

3.1 O campo teórico da inovação e sua interface com a educação

O termo inovação integra um conjunto de fatores históricos circunscritos ao modo de produzir de uma dada sociedade. A sua concepção destaca, essencialmente, a forma como se organizam e se processam as mudanças experimentadas pelos sistemas sociais. Contudo, é importante destacar que o tema da inovação não configura um exemplo congruente de aceitação entre os que pensam acerca desse conceito, quando o uso do termo implica ameaçar as formas constituídas de organização social.

Do ponto de vista da acepção da palavra, o termo “inovar” é repleto de significados. Embora o tema da inovação não se constitua em um objetivo deste estudo, expõem-se aqui, algumas definições.

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define “inovação” como algo novo, que é recente; ou, ainda, aquilo que é novidade e aparece recentemente. No Dicionário de Trabalho e Tecnologia, a palavra “inovação” engloba o conjunto de processos que têm relação com “o uso, a aplicação e a transformação dos conhecimentos técnico e científico em recursos relacionados à produção e à comercialização, tendo, no sistema capitalista, o lucro como perspectiva” (CASTILHOS, 2006, p. 161). Já o Manual de Oslo (2005, p. 46) trata do

115 Segundo os PCNs (1998, p. 135), o uso dessas tecnologias “diz respeito aos recursos tecnológicos que permitem o trânsito de informações, que podem ser os diferentes meios de comunicação (jornalismo impresso, rádio e televisão), os livros, os computadores etc. Apenas uma parte diz respeito a meios eletrônicos, que surgiram no final do século XIX e que se tornaram publicamente reconhecidos no início do século XX, com as primeiras transmissões radiofônicas e de televisão, na década de 20. Os meios eletrônicos incluem as tecnologias mais tradicionais, como rádio, televisão, gravação de áudio e vídeo, além de sistemas multimídias, redes telemáticas, robótica e outros”.

conceito de inovação como a criação de um produto novo “ou significativamente melhorado” para ser implantado, seja ele em forma de bem ou serviço. E, ainda, como “um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”. Assim, da forma como foi exposto, o conceito de inovação se expressa dentro de contextos situados aos arredores de uma demanda de cunho econômico.

Essa linha de interpretação está fundamentada nos estudos realizados por Joseph Alois Schumpeter (1883-1950)116 sobre teoria econômica. Para este autor, considerado pioneiro na definição e discussão do tema, inovar significa “produzir outras coisas, ou as mesmas coisas de outra maneira, combinar diferentemente materiais e forças, enfim, realizar novas combinações”(1998, p. 76). Ou seja, “inovar” para Scumpeter significa ir além do domínio puramente econômico, embora se constitua em ingrediente essencial para alcançar o desenvolvimento econômico. Segundo esse autor, o ato de inovar consiste na combinação de cinco fatores: i) introdução de novos produtos; ii) introdução de novos métodos de produção; iii) abertura de novos mercados; iv) desenvolvimento de novas fontes provedoras de matérias- primas e outros insumos; e v) criação de novas estruturas de mercado em uma indústria117. Entre outros aspectos, depreende-se que o sucesso e o crescimento pretendidos por uma determinada economia são decorrentes, antes de tudo, dos processos inventivos impulsionados por novos incrementos tecnológicos acionados pela ação empreendedora do “empresário”118, cujo objetivo é conferir dinamismo à economia. Assim, compreende-se que, na perspectiva schumpeteriana, a importância do empresário no desenvolvimento da produção capitalista é a sua capacidade e seu desejo de inovar (MORICOCHI; GONÇALVES, 1994).

Como se referiu Castilho, inovar depende da combinação de três fatores elementares: novas tecnologias, progresso técnico e mudanças tecnológicas. Isso em razão da sistematização dos vínculos “ciência, técnica e produção”. Por sua vez, Vargas (2008, p.9) ressalta que, embora o conceito de inovação seja embrionário ao desenvolvimento da indústria capitalista, no setor de serviços o tema tem ocupado um espaço de destaque na contemporaneidade. Apresenta-se “como consultorias, ou serviços profissionais altamente

116 Joseph Alois Schumpeter foi um economista austríaco. É considerado um dos mais importantes economistas da primeira metade do século XX, e foi um dos primeiros a considerar as inovações tecnológicas como motor do desenvolvimento capitalista.

117 In: Manual de Oslo. Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação Tecnológica Disponível em: http://download.finep.gov.br/imprensa/manual_de_oslo.pdf. Acesso em: 13/05/2014. 118 Na visão schumpeteriana, o empresário é o indivíduo imbuído de habilidades para realizações e propensão

para os negócios; ele inova a produção. Para Schumpeter, o ato de inovar, nato do empresário, não se configura como sendo de natureza apenas comercial, mas implica uma vontade de conquista, de realização, de ser diferente dos indivíduos comuns.

qualificados, como dos serviços médicos, advocatícios” e livre da intervenção “de qualquer meio material”. Com foco no social, essa nova forma de abordar o conceito de inovação, “[...] especialmente a inovação tecnológica, é tida atualmente como essencial nas estratégias de diferenciação, competitividade e crescimento em um número cada vez maior de negócios” (FUCK; VILHA, 2011, p.4).

De outra parte, no discurso da inovação, repousa uma conjuntura de reorganização estrutural do mundo capitalista denominada de globalização. Desde a sua ocorrência, a globalização engendra novas teias de relações sociais, culturais, políticas e econômicas, ressignificando a geopolítica das nações e acentuando o grau de pobreza, desemprego e subemprego na realidade de países em situação de elevado estado de desigualdade social. Decorre daí a corrida sem freio desses países atrás de um tipo de conhecimento capaz de torná-los competitivos e suficientemente ajustados às incertezas geradas pelo mercado global.

A partir do exposto, reitera-se, aqui, o sentido do termo inovação como parte constitutiva do processo de formação e desenvolvimento do homem. Sua ocorrência implica, antes de tudo, situações sociais, que, imbuídas de fatores históricos e, articulados entre si, conduzem os processos de reinvenção do conhecimento humano. Significa dizer, entre outras coisas, que, do ponto de vista histórico, o uso do termo advém dos modos de organização da vida social, em seus diferentes contextos.

No âmbito educacional, a inovação tem seu registro na chamada “era da informação”, mais precisamente no século XX, consolidando-se no século XXI (Figueiredo, 2011). O centro do debate recai sobre as deficiências dos sistemas públicos de ensino, que passam a investir em experiências pedagógicas inovadoras como fonte de qualidade educacional. Nas palavras de Gil & Hernandez (2011, p. 476), concomitantemente ao desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da consolidação da sociedade industrial, o século XX “poderia ser definido como o século de desejo de mudança para melhorar, a princípio, os sistemas educativos”.

Assim, em vias de uma nova pedagogia,

A inovação consistiu em substituir a necessidade de ensinar um corpus de conhecimentos científicos por uma abordagem nova baseada na pesquisa e na descoberta, mediante a experimentação. Destinada a formar bons cientistas, essa orientação pretendia prepará-los também para estarem abertos ao questionamento da noção de verdade científica, enquanto realidade estável e regida por critérios essencialistas e objetivistas. Pretendia-se, igualmente, preparar os estudantes para o acesso a cursos técnicos, promover uma alfabetização científica e fornecer a cada indivíduo a possibilidade de agir, da maneira mais eficaz, em uma sociedade na qual a técnica se tornava, dia a dia, cada vez mais presente (idem, 2011, p. 480).

Tal como postulava o novo modelo de ensino, as propostas pedagógicas baseadas na experimentação tornaram-se verdadeiros laboratórios de aprendizagem na busca de uma educação capaz de acompanhar as mudanças das sociedades, em que o poder da tecnologia crescia vertiginosamente. À vista disso, aprender, nesse contexto, significa estar individualmente119 preparado para os desafios de uma sociedade em permanente estado de transformação. Desse modo de pensar, o desenvolvimento científico, atrelado às novas tecnologias de produção, além de funcionar como motor de engrenagem para o progresso econômico, funcionaria, da mesma forma, para o avanço educacional. Dentro dessa lógica, toma-se por empréstimo a frase de Foray (2001), que diz não haver mais lugar no mercado nem na indústria para as empresas que não inovam. E o mesmo pode ser dito para as escolas que se recusam a realizar um trabalho pedagógico inovador.

Em face disso,

a nova educação deve pautar-se no fato de que vivemos em uma sociedade dinâmica, na qual as transformações em ritmo acelerado tornam os conhecimentos cada vez mais provisórios, pois um conhecimento que hoje é tido como verdadeiro pode ser superado em poucos anos ou mesmo em alguns meses. O indivíduo que não aprender a se atualizar estará condenado ao eterno anacronismo, à eterna defasagem de seus conhecimentos DUARTE, 2001, p. 7).

Nas palavras do autor, fica clara a sentença de uma sociedade em constantes e complexas transformações para a educação do futuro: converter-se em um instrumento de adaptação dos indivíduos às novas formas sociais de produção ditadas pelo capitalismo. Como observou Messina (2001, p. 3), no campo da educação, a inovação surge associada a uma lógica generalista orientada pelos princípios da experimentação. E, no bojo de tal contexto, chama a nossa atenção o aspecto político-ideológico que subjaz o discurso em volta da inovação educacional, a partir dos anos de 1980. Segundo o autor, “no marco das reformas educacionais, as inovações têm sido implementadas desde cima, mecanismos de ajuste mais que de satisfação das demandas dos atores”. Essa constatação induz ao questionamento quanto ao espaço ocupado pela inovação na educação escolar.

Segundo Messina (2001), é possível pensar o lugar da inovação em âmbito escolar como parte de um processo estrutural de intervenções econômicas projetadas pelo evento histórico da globalização. Nesse sentido, ela adentra nas escolas como um mecanismo estratégico de “regulação social e pedagógica”. Desde então, a inovação tem ocupado tempo e espaço nas discussões educacionais provocadas pelo governo, por políticos, gestores,

professores, estudantes e pela sociedade. Daí resulta um bom número de propostas e projetos vindos dos formuladores de políticas públicas ostentando um tipo novo de incremento educacional120 que, adaptado ao trabalho pedagógico, é condição assegurada para a boa aprendizagem do estudante.

A partir do exposto, empreende-se que a gênese da palavra inovação está fundamentada no campo da produção econômica. Na educação, este conceito é ressignificado e apropriado como adjetivo de mudança, ou seja, como um acontecimento marcado pela incorporação de novos experimentos nos processos pedagógicos.

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