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O inquérito por questionário é utilizado, frequentemente, nos estudos de caso “quando se pretende ter acesso a um número elevado de actores no seio de uma organização, ou num contexto social específico” (Afonso, 2005, p. 102). Constitui-se como uma técnica de recolha de informação que exige grande atenção/dedicação por parte do seu autor, evidenciada na forma como coloca as questões. O investigador não está presente quando os inquiridos procedem ao seu preenchimento, não sendo possível a clarificação das questões quando surgem dúvidas, “o questionário deve ser concebido de tal forma que não haja necessidade de outras explicações para além daquelas que estão explicitamente previstas” (Ghiglione & Matalon, 1997, p. 105).

Um dos fundamentos apontados para o insucesso na recolha de informação através dos inquéritos, segundo Foddy (1996, p. 2) reside no facto de “os inquiridos não interpretarem as perguntas nos termos pretendidos”, assim o investigador deve “assegurar-se de que conhecem os

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termos em que os inquiridos vão interpretar as palavras fundamentais” (Ibid., p. 44), porém nem sempre “é fácil ultrapassar os problemas derivados da ausência de um entendimento comum sobre significados” (Ibid.).

Outros dos aspectos salientados por Foddy (1996, p. 2) reportam-se à “falta de esforço ou de interesse por parte dos inquiridos” e à sua falta de motivação “para admitir certas atitudes ou comportamentos”, a que subjazem a estranheza ou a falta de reflexão sobre o tema, o tipo de questões, o tempo necessário para responder ao inquérito. A inadequação de muitas questões é evidenciada por um conjunto de problemas identificados por Foddy (1996, pp. 2-9), importa salientar alguns dessas dificuldades: a relação entre o que os inquiridos dizem e o que efectivamente fazem nem sempre è muito forte; as atitudes, hábitos, crenças e opiniões dos inquiridos apresentam-se frequentemente bastante instáveis; pequenas diferenças no vocabulário utilizado nas perguntas podem produzir grandes diferenças ao nível dos resultados obtidos; os contextos culturais de pertença afectam a forma de interpretar e responder. Assim, “para construir um inquérito é obviamente necessário saber com exactidão o que procuramos, garantir que as questões tenham o mesmo significado para todos, que os diferentes aspectos da questão tenham sido abordados” (Ghiglione & Matalon, 1997, p. 108).

Sendo que “toda a acção de pesquisa se traduz no acto de perguntar” e “identificar os elementos constituintes da resposta” (Ferreira, 2007, p. 165) procurámos inquirir um número alargado de actores de modo a analisar as suas percepções e acções no processo de implementação do ECD.

5.1. Processo de construção do inquérito por questionário

Na elaboração do inquérito por questionário privilegiámos a inclusão de questões de resposta fechada, colocando, apenas, em cada uma das dimensões uma questão de resposta aberta.

Independentemente da opção por respostas abertas ou fechadas, “a questão central não é tanto qual o formato que produz respostas mais válidas, mas se os inquiridos sabem ou não qual o tipo de respostas que devem fornecer, e este problema coloca-se quer nas perguntas fechadas quer nas abertas” (Foddy, 1996, p. 169).

Ao estipularmos/definirmos diferentes dimensões pretendemos contextualizar o referencial empírico, acautelando a dispersão dos inquiridos de modo a que não se focalizassem em diversas dimensões, ou combinações de dimensões, que permitisse indicações contextuais, de forma a auxiliar

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a interpretação da questão para que “ela adquira sentido e se torne relevante para eles” (Foddy, 1996, p. 210).

O inquérito por questionário utilizado na investigação engloba três dimensões, a saber: Profissão Docente; Trabalho Docente; e Relações entre os Docentes. Em termos estruturais o questionário é composto por uma, breve, nota introdutória onde clarificamos os inquiridos quanto ao seu objectivo, bem como a afirmação da salvaguarda do anonimato e da garantia de confidencialidade dos dados recolhidos. De seguida colocámos um bloco de questões relativas às características de identificação pessoal e profissional dos inquiridos.

O corpus central do inquérito, que engloba as três dimensões de análise, é constituído por uma breve contextualização de cada uma das dimensões, integra vinte questões de resposta fechada e uma questão de resposta aberta num total de sessenta questões de resposta fechada e três de resposta aberta dando “aos respondentes a oportunidade de exprimirem as suas opiniões sobre o tópico a ser investigado” (Bell, 2004, p. 119).

As questões fechadas compreendem uma sequência de afirmações relacionadas com o objecto de estudo, isto é, representam várias asserções em que o item resulta da reunião de um conjunto de informações sobre o conteúdo em investigação numa procura contínua de “questões de importância significativa” (Bell, 2004, p. 183).

O grau de concordância ou discordância com as afirmações, registado através da escala de Likert com hipóteses gradativas de resposta, permitem ao respondente posicionar-se perante as questões colocadas. Uma vantagem da escala de Likert é que ela fornece direcções sobre a atitude do inquirido em relação a cada afirmação, sendo ela positiva ou negativa. Numa escala com cinco categorias definidas, 1- discordo totalmente, 2- discordo, 3- nem concordo e nem discordo, 4- concordo e 5- concordo totalmente, a supressão da categoria central pode conduzir o inquirido a ter uma tendência de marcar na escala uma posição positiva, no caso a categoria quatro, ou uma posição negativa no caso a categoria dois. Assim, as posições intermédias de resposta “deveriam passar a ser mais explicitadas para deixarem de ser apenas respostas cómodas de rejeição a respostas polares” (Ferreira, 2007, p. 184). Uma das grandes preocupações em qualquer pesquisa, em particular, aquelas onde o elemento humano fornece as informações investigadas com base na sua percepção, é o fiel registo dessas informações, isto é, o que se deseja registar é a opinião do respondente que retrate a realidade do fenómeno estudado.

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No processo de elaboração do questionário seguimos, ainda, de perto as orientações de Hill & Hill (2005, p. 165) quando evocam, sob a forma de conselho prático, a indispensabilidade

“da cooperação dos potenciais respondentes para preencher o questionário, e, portanto, é necessário fazer um pouco de “marketing” com ele. Um questionário que tenha uma aparência esteticamente atraente, aumenta a probabilidade de que o potencial respondente “compre” o questionário e o preencha”.

Sustentamos, tal como Ferreira (2007, p. 188), que não há “questionários perfeitos”.

5.1.1. Pré-teste

O pré-teste, efectuado no mês de Março de 2009, foi aplicado a uma pequena amostra, constituída por 20 professores pertencentes à população-alvo. Procurámos a representatividade, em particular, dos diferentes departamentos, da categoria profissional, e da situação profissional. Solicitamos, ainda, a um grupo de professores fora do universo da amostra que se pronunciassem sobre a estrutura e a representatividade do seu conteúdo.

Pretendíamos com o pré-teste observar se as questões eram perceptíveis por todos; se existiam perguntas desnecessárias, inadequadas ou demasiado difíceis, ou seja, se a linguagem era adequada e acessível; verificar se a sequência das questões era aceitável, se tinha sentido; comprovar se as questões não induziam respostas e se não influenciavam as respostas seguintes; e se o questionário seria demasiado longo, aborrecido ou difícil. Para a validação do nosso instrumento procedemos a uma análise linguística das respostas e a incidência das mesmas, verificando se as respostas iam (ou não) ao encontro dos objectivos da nossa pesquisa. Através do pré-teste, averiguamos as diferentes condições gráficas e as instruções que o acompanham, a validade do conteúdo e a adequação das questões, tendo sido necessário eliminar algumas questões e alterar outras, resultando a versão final a aplicar à população em estudo (Apêndice I)

O inquérito foi aplicado durante o mês de Abril de 2009. A distribuição foi precedida de um contacto prévio com o órgão de gestão. Assim, no dia combinado, entregámos nos órgãos de direcção e gestão um número de exemplares correspondentes à totalidade de professores do Agrupamento ou Escola não Agrupada, distribuímos um total de 508 inquéritos. Os exemplares estavam distribuídos/divididos por envelopes endereçados aos Coordenadores de Departamento, acompanhados de uma comunicação onde solicitávamos que os passassem aos colegas e onde explicávamos a forma de devolução (no Conselho Executivo). No processo de recolha sentimos algumas dificuldades, particularmente, nas escolas não agrupadas, após alguma insistência

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conseguimos a sua recolha em número razoável. Foram devolvidos 305 questionários respondidos, o que equivale a uma taxa de retorno de 60%.