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ENTREVISTAS A REPRESENTANTES INSTITUCIONAIS LOCAIS

2. Agentes promotores das intervenções (Quem promove as iniciativas?) 1 Qualificação dos agentes

2.2. Inspiração dos agentes

Filipe Balestra e Sara Göransson encontram nos bairros/aldeias informais, construídos sem a intervenção dos arquitetos, a sua inspiração de trabalho. Contudo, “mesmo sendo apologistas da intervenção espontânea nas construções, Filipe e Sara não defendem o caos, a desorganização, a ausência de limites. Defendem é uma maior flexibilidade para aquilo a que designam arquitectura sem arquitectos” (Amaro, 2011: 45). É a criatividades destes lugares informais que impulsiona a criatividade de Filipe Balestra. “Se a criatividade é filha da necessidade, há muito que aprender nestes lugares. Os pobres têm sido os meus professores” (Balestra apud Dias e Milheiro, 2009: 88). Com eles aprendeu sobre design participativo (id.: 92), conceito que tem tentado imprimir aos seus trabalhos. Defende assim o contacto permanente do arquiteto com o terreno, ou seja, o envolvimento do arquiteto com a realidade onde intervém (Macedo, 2011b: 25), estabelecendo “uma relação de proximidade afectiva com as comunidades” (id.: ibid.), o que o levou a estabelecer uma comparação metafórica com a arte dos Impressionistas123.

Filipe Balestra pretende desenvolver “uma arquitectura que sirva de instrumento para a evolução da cidade e do ser humano (…) um instrumento para nos ajudar a viver vidas melhores” (id.: ibid.), por isso descreve o atelier Urban Nouveau* como “uma plataforma interdisciplinar que suporta uma rede aberta de seres humanos que resolvem problemas do dia-a-dia” (Balestra apud Queirós, 2011: 55). Segundo Macedo (2011b), “Filipe Balestra integra-se numa tendência de recuperação dos valores éticos e sociais da arquitectura, que procura soluções menos espectaculares, mas mais eficientes, no

123 “Fascino-me com Impressionismo. O que mais me marca no Impressionismo é o facto de os pintores terem saído do estúdio para irem pintar fora, encarando a realidade como ela é. Tiveram de lidar com o sol, que muda demasiadamente rápido, tiveram de pintar rápido, ou seja, tiveram de improvisar; por isso é que os quadros são incríveis. De alguma forma, gostaria de nos comparar aos Impressionistas, porque trabalhamos no terreno quase todos os dias” (Balestra apud Dias e Milheiro, 2009: 92).

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sentido de melhorarem realmente as condições de vida das populações que devem servir” (id.: 3), ou seja, “soluções pragmáticas e imaginativas, que resolvam eficazmente os problemas com que se depara” (id.: 25). Neste sentido, vai ao encontro de uma arquitetura ligada às necessidades primárias das comunidades e, assim, defende o discurso característico de alguns arquitetos dos anos 70124.

Embora defenda a participação da população local nos seus projetos, não considera que deva apenas satisfazer as suas vontades imediatas. “Não se trata de fazer somente o que as pessoas querem. É preciso duas coisas: ouvir (absorver/interpretar) e falar (propor alternativas/solucionar). É uma troca, uma aprendizagem mútua” (Balestra apud Dias e Milheiro, 2009: 92). Balestra acredita assim que a mudança de uma determinada situação só é possível por via da proposição de alternativas à realidade existente, o que o faz citar Buckminster Fuller na sua apresentação intitulada “Strategies for collective evolution” no âmbito das TED Talks: “You never change things by fighting the existing reality. To change something, build a new model that makes the existing model obsolete” (Buckminster Fuller apud Balestra in Vídeo TEDx Edges, 2011).

Segundo Awan et al. (2011), o método de trabalho e a produção arquitetónica dos Exyzt aproximam- se do teatro e da performance (id.: 146) e apresentam semelhanças com a “arquitetura utópica” dos anos 60 e 70, mais concretamente com os experimentos do grupo Haus-Rucker-Co e de Yona Friedman; e a arquitetura contemporânea de Patrick Bouchain e dos Raumlabor (Website Spatial Agency - Exyzt). O manifesto do coletivo apresenta três frases de ordem: “Be Utopian!”, “Experiment!” e “React and Act!” (Website Exyzt) e a seguinte declaração de intenções:

We want to build new worlds where fiction is reality and games are new rules for democracy. If space is made by dynamics of exchange, then everybody can be the architects of our world and encourage creativity, reflexion and to renew social behaviours (…) We do refuse to enter the current architectural practice which serve the building industry. We do deal with the reality of construction. We design, build and live our constructions and host the freedom for visitors to appropriate our projects. We produce an open source architecture that offer an access to basic public amenities and a place for exchange: A physical framework

124 “If design is merely an inducement to consume, then we must reject design; if architecture is merely the codifying of the bourgeois models of ownership and society, then we must reject architecture; if architecture and town planning is merely the formalization of present injust social divisions, then we must reject town planning and its cities... until all design activities are aimed towards meeting primary needs. Until then, design must disappear. We can live without architecture” (Adolfo Natalini (Superstudio), 1971 apud Facebook Urban Nouveau*).

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for a direct and immediate emulation between people and space. We wish to incite anyone to re appropriate and get involved with his own social and physical environment (id.).

A terceira e última frase de ordem, “React and Act!”, baseia-se na ideia de que “a community of users actively creating and inhabiting their urban environment is key to generating a vibrant city” (id.). O coletivo pretende defender esta tomada de posição política através da intervenção em situações pré- existentes criando condições de envolvimento comunitário e cultural. Ao mesmo tempo, tencionam implantar estruturas públicas temporárias que possam servir de experiência a novos modelos de habitar e realçar os usos e os espaços públicos coletivos (id.).

Em suma, é possível verificar, no discurso dos coletivos Urban Nouveau* e Exyzt, ligações com alguns discursos da “arquitetura utópica”, ou seja, com os movimentos arquitetónicos dos anos 60 e 70. Ao mesmo tempo, revelam influências de iniciativas contemporâneas, o que os coloca em concordância com a inspiração dos agentes das ESC.

3. Natureza das intervenções (O que se produz nas iniciativas?)