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ENTREVISTAS A REPRESENTANTES INSTITUCIONAIS LOCAIS

2.2 Técnicas de tratamento e análise da informação

Para o tratamento da informação recolhida nos documentos e entrevistas recorre-se à técnica de análise de conteúdo qualitativa estruturante (Mayring, 2000), apoiada na grelha analítica anteriormente apresentada, como forma de identificar, nos textos e discursos dos entrevistados, critérios associados às Estratégias Sociais Criativas e à Inovação Sócio-Territorial. A análise de conteúdo qualitativa estruturante possibilita o tratamento do texto de forma sistemática e baseado em teoria, confrontando os aspetos recortados do material com a grelha analítica proposta (id.).

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O modelo de análise de conteúdo qualitativa, desenvolvido por Philipp Mayring na década de 80, coloca em evidência três procedimentos analíticos distintos que dependem particularmente da questão de partida da investigação (Kohlbacher, 2005: [56]): a “sumarização” (processo de redução do material aos conteúdos essenciais e de criação, por meio de abstracção, de um corpus que continua a ser um reflexo do material original); a “explicação” (processo que acrescenta material adicional a determinados segmentos do texto com o intuito de aumentar a sua compreensão, esclarecimento, explicação e interpretação) e a “estruturação” (processo de filtro/recorte de determinados aspectos do material na base de critérios pré-estabelecidos e sua posterior avaliação) (id.: ibid.). Entende-se que o procedimento analítico que melhor se enquadra na questão de partida e objetivos do presente estudo é a “estruturação” que corresponde, em certa medida, aos procedimentos usados na análise de conteúdo clássica e compreende, segundo Philipp Mayring (2000), três passos fundamentais: 1) a determinação de unidades de análise a partir das quais as dimensões de estruturação são estabelecidas em bases teóricas e as estruturas do sistema de categorias67 são fixadas; 2) a definição de exemplos âncora, com regras de codificação68 em categorias separadas; 3) a passagem pelo material, a marcação das localidades e o processamento dos resultados (Kohlbacher, 2005: [56]).

A parte central do processo de estruturação deriva, como referido, da análise de conteúdo clássica uma vez que as unidades de codificação e avaliação são colocadas e organizadas num esquema de categorias (id.: [57]). Contudo, de acordo com Kohlbacher (2005), a principal diferença entre a análise de conteúdo tradicional e a estruturação, dentro de uma análise de conteúdo qualitativa, é o desenvolvimento do processo de codificação (id.: ibid.). Embora o processo se baseie num sistema de categorias teoricamente guiado, este encontra-se aberto a alterações, sobretudo quando informações relevantes que surgem no decorrer da passagem pelo material não se enquadram nas categorias

67 A análise categorial, segundo Bardin (Bardin, 2009 [1977]), “funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos” (id.: 199). “A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos.” (id.: 145).

68 Ao processo de tratamento de material dá-se o nome de codificação. De acordo com Bardin (Bardin, 2009 [1977]):“a codificação corresponde a uma transformação – efectuada segundo regras precisas – dos dados em bruto do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, pretende atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão; susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto, que podem servir de índices” (id.: 129)

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propostas (id.: ibid.). Ou seja, as dimensões categóricas existentes podem assim ser modificadas e novas categorias podem ser desenhadas, implicando posteriormente uma reavaliação do material.

Especificamente neste estudo, a análise categorial faz-se corresponder a uma análise por temas caracterizadores dos conceitos de análise. A análise temática foi abordada por Laurence Bardin (2009 [1977]) como sendo uma das possibilidades de análise categorial que “consiste em descobrir os «núcleos de sentido» que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objectivo analítico escolhido” (id.: 131). Neste sentido, o tema é encarado como “a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura” (id.: ibid.). Considerando o tema a unidade de registo numa análise de conteúdo, a regra de recorte baseia-se no sentido e não na forma das comunicações, não sendo “fornecida uma vez por todas, visto que o recorte depende do nível de análise e não de manifestações formais reguladas” (id.: ibid.).

De acordo com as características da análise de conteúdo qualitativa estruturante anteriormente apresentadas, segue-se uma abordagem aos principais desafios à sua aplicação no processo de análise das entrevistas e do web-documentário sobre a Casa do Vapor. Um primeiro desafio que se apresenta a esse processo é a transcrição das entrevistas presentes no web-documentário e elaboradas no âmbito da investigação, sendo que “a transcrição deve ser integral e fiel ao que foi dito” (Guerra, 2006: 69). Segue-se a leitura do texto transcrito que implica o sublinhar de frases ou sequências ilustrativas do discurso e outras cujo significado não é imediatamente apreendido e que são reveladoras de temas inesperados e novas problemáticas (id.: 70); e posteriormente, a confrontação das sequências com as dimensões de análise presentes na gelha analítica, ou seja, o procedimento de análise de conteúdo estruturante definido por Philipp Mayring (2000). No caso em que são encontradas informações relevantes que não constam no sistema de categorias, tal como foi referido anteriormente, procede-se ao seu redesenho e a uma nova avaliação do material.

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CAPÍTULO III – As Iniciativas de Intervenção dos Arquitetos na Cova do Vapor: TISA e

Casa do Vapor. Oportunidades de Inovação Sócio-Territorial? – Estudo de caso

O presente capítulo é dedicado ao estudo das iniciativas TISA – The Informal School of Architecture (Maio a Julho de 2011) e Casa do Vapor (Abril a Outubro de 2013), ambas desenvolvidas na Cova do Vapor, um bairro de assentamento informal localizado na freguesia da Trafaria (atual União de Freguesias de Caparica e Trafaria), concelho de Almada da AML. Situada “numa área de grande dinâmica morfológica” (Queirós, 2011: 45) da Península de Setúbal, “sobre um ecossistema dunar” (Santos, 2010: A8), mais precisamente “no ‘cotovelo’ de terra que o rio Tejo construiu com o Oceano Atlântico, no extremo Norte da Costa da Caparica” (Queirós, 2011: 44); a Cova do Vapor foi, em tempos, “aldeia de pescadores, mas hoje é também um povoado balnear e de residência permanente, de casas pequenas e aconchegadas” (id.: ibid.), cujo acesso se faz “apenas por uma única estrada junto à foz do rio, que rompe a Mata de S. João da Caparica” (Mateus, 2010: 13) que a separa das restantes áreas edificadas (Figura 3.1.).

Figura 3.1. Localização geográfica da Cova do Vapor no extremo ocidental da Costa da Trafaria

Fonte: Google Earth

Este estudo é baseado na grelha analítica apresentada no capítulo anterior, tendo, por isso, como objetivo, a identificação de ESC nas iniciativas, bem como a avaliação do impacto das mesmas em termos de inovação sócio-territorial.

Cova do Vapor

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1. Meio de intervenção (Onde se produzem as iniciativas?)