• Nenhum resultado encontrado

A instituição Escola foi alvo de contínuas convulsões através dos tempos.

Na actualidade, novos desafios se lhe impõem, fruto da evolução social e tecnológica que emerge no limiar deste século. Porém, e como afirma Morgado,

Os notáveis progressos económicos, científicos e tecnológicos que, a par de uma ampla interacção global, nos conduziram rapidamente à actual sociedade da informação e do conhecimento não foram igualmente eficazes na erradicação das desigualdades, da exclusão (…). (Morgado, 2005, pp. 13-14)

E acrescenta ainda o autor

Hoje, mais do que nunca, torna-se necessário educar no sentido de ajudar o indivíduo a saber compreender-se e a aceitar os outros tal como são, isto é, uma educação que, para além do saber, elege o saber-ser, o saber-estar e o saber- aprender como principais prioridades. Uma educação que faz do conhecimento, da compreensão, do respeito mútuo, da aceitação, da solidariedade e da convivência os pilares essenciais da construção pessoal, social e cultural do indivíduo. (Morgado, 2005, p. 16)

Perante tal conjuntura de constante desafio, “a educação surge como um trunfo indispensável à humanidade na sua construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social.” (Delors, 1996, pp. 41-44)

Também perante tal desafio, e como referido por Delors na obra citada, “A educação deve, pois, adaptar-se constantemente a estas transformações da sociedade, sem deixar de transmitir as aquisições, os saberes básicos frutos da experiência humana.” (idem, pp. 41-44)

Tendo em consideração as recomendações da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI que alertam para que “O princípio da igualdade de oportunidades deve sempre informar as opções que se vierem a tomar.” (idem, pp. 41-44), deverão ser envidados os esforços ao alcance de toda a sociedade e de todos os agentes com responsabilidade, não esquecendo que todos nós, enquanto cidadãos do mundo, somos corresponsáveis pelo sucesso de uma sociedade que se pretende de sucesso.

De facto, a nível europeu assiste-se a uma preocupação na formação dos cidadãos, activos ou não, onde uma das palavras-chave é a “aprendizagem ao longo da vida”. Por

outro lado, e concomitantemente a esta preocupação, à qual Portugal não está indiferente, assiste-se, no nosso país, a um combate incessante a um dos maiores flagelos do século XXI no que à educação diz respeito: o nível de analfabetismo e analfabetismo funcional irrompem ainda com valores elevados, pelo que Portugal surge (ainda) no presente como um dos países da OCDE com maior taxa de analfabetismo. Pode-se assim verificar, a partir de um estudo levado a efeito pelo INE, cujo período de referência foi o ano de 2001, que a taxa de analfabetismo em Portugal é ainda de 9,03%, conforme se apresenta no quadro abaixo:

LOCAL DE RESIDÊNCIA TAXA DE ANALFABETISMO(%)

Portugal 9,03

Continente 8,93

Região Autónoma dos Açores 9,45

Região Autónoma da Madeira 12,71

Quadro 1: Taxa de analfabetismo em Portugal

Fonte: INE; Inquérito ao Emprego – Dados actualizados em 15 de Maio de 2007

Por outro lado e paralelamente, os níveis de escolaridade dos activos são reduzidos, conforme se poderá verificar pelo quadro abaixo, representativo de um estudo que revela dados do 1º trimestre de 2007 quanto ao nível de escolaridade mais elevado completo da população activa do continente português:

NÍVEL DE ESCOLARIDADE Nº (EM MILHARES)

Nenhum 276,1 Básico – 1º Ciclo 1466,0 Básico – 2º Ciclo 1047,1 Básico – 3º Ciclo 996,5 Secundário e pós-secundário 815,2 Superior 766,9

Quadro 2: Nível de escolaridade em Portugal

Fonte: INE; Inquérito ao Emprego – Dados actualizados em 31 de Maio de 2007

Da análise dos números é possível verificar que a instituição escola tem que, hoje mais do que nunca, tentar inverter esta tendência.

Para tentar reduzir esse flagelo, tem-se verificado um enorme esforço por parte da tutela com uma série de iniciativas, das quais passamos a enumerar, a título de exemplo, as seguintes:

 “As 50 medidas de política para melhorar a escola pública”, publicadas em Janeiro de 2007.

Este documento apresenta um conjunto de medidas, organizadas em cinco áreas de intervenção: 1) qualificar e integrar o 1º ciclo do ensino básico; 2) melhorar as condições de ensino e aprendizagem no ensino básico; 3) avaliar a reforma do ensino secundário e diversificar ofertas formativas; 4) concretizar a Iniciativa Novas Oportunidades de qualificação para os jovens e para os adultos; 5) melhorar as condições de funcionamento das escolas e de trabalho dos professores.

 Por outro lado, no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, foi definida como uma das prioridades a educação e formação. Como tal, a Comissão Europeia, lançou, em 27 de Julho de 2007, uma iniciativa designada “Escolas para o século XXI”, dirigida a todos os que se interessam pelo desenvolvimento da educação escolar na Europa, em forma de consulta pública acerca dos desafios que se apresentam às escolas no século XXI, solicitando contributos relativos a questões cruciais para o futuro das escolas na Europa, nomeadamente competências-chave, inclusão social e o papel dos professores.

Também em prol desse esforço, o recenseamento escolar relativo ao ano 2006/2007 demonstra resultados positivos do combate ao insucesso e abandono escolares, verificando-se um crescimento do número de alunos no 3º ciclo do ensino básico resultante do aumento dos cursos profissionalizantes.

Resta, no entanto, a certeza inequívoca de que qualquer reforma e mudança não poderão ser feitas sem a presença e envolvimento dos professores. De facto, enquanto agente educativo é também ele agente de mudança, pois “não há reforma com sucesso sem a contribuição e participação activa dos professores” (Delors, 1996, pp. 41-44). Acrescenta ainda o mesmo autor “Pede-se muito aos professores, demasiado até.”, de onde se poderá inferir que o papel do profissional docente é crucial e terá que lhe ser dispensada atenção particular.