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Considerando que a distinção entre as abordagens quantitativa e qualitativa é realizada, acima de tudo, em função do método utilizado, poderão neste momento, no desenvolvimento da investigação em Ciências Sociais, coexistir a associação de ambas, não descurando, no entanto as dificuldades inerentes à sua utilização simultânea.

Porém, dada a especificidade do nosso estudo, optámos por uma investigação de cariz qualitativo.

A investigação qualitativa na área das Ciências da Educação tem vindo a ampliar o seu campo de acção. De facto, “um campo que era dominado pelas questões da mensuração, definições operacionais, variáveis, teste de hipóteses e estatística” alargou-se para contemplar uma metodologia que “enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamental e o estudo das percepções pessoais.” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 49)

Também o privilégio do ambiente natural, enquanto contexto da investigação, e o contacto directo com os sujeitos, são outras das características marcantes deste tipo de estudo.

A recolha de dados “em forma de palavras ou imagens e não de números” (idem, p. 48), permite uma riqueza de análise que se vê coarctada aquando da opção pela investigação quantitativa.

Específica deste tipo de investigação é ainda a preocupação com as perspectivas dos participantes. A sua apreensão permite fazer “luz sobre a dinâmica interna das situações, “(…) o que é frequentemente invisível para o observador externo”. (Bogdan e Biklen, 1994, p. 51)

Ainda de salientar que em investigação qualitativa os dados ou provas não são recolhidos “com o objectivo de confirmar ou infirmar hipóteses construídas

previamente”, mas antes “as abstracções são construídas à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando.” (idem, p. 50)

Largamente utilizado na investigação em Ciências Sociais, o estudo de caso pode ser definido, de acordo com Yin (1988) “como uma abordagem empírica que: - investiga um fenómeno actual no seu contexto real; quando, – os limites entre determinados fenómenos e o seu contexto não são claramente evidentes; e no qual – são utilizadas muitas fontes de dados.” (Yin citado por Carmo e Ferreira, 1998, p. 216).

Ainda de acordo com o mesmo autor, “o estudo de caso constitui a estratégia preferida quando se quer responder a questões de ‘como’ ou ‘porquê’; o investigador não pode exercer controlo sobre os acontecimentos e o estudo focaliza-se na investigação de um fenómeno actual no seu próprio contexto.” (idem, p. 216).

Para Merriam (1988), “o estudo de caso consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico.” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 89)

E acrescenta a autora,

No que concerne aos estudos de caso qualitativos, Merriam (1988) destaca como características fundamentais: particular – dado que se focaliza em determinada situação, acontecimento, programa ou fenómeno; descritivo – pois o produto final é uma descrição “rica” do fenómeno em estudo; heurístico – porque conduz à compreensão do fenómeno que está a ser estudado; indutivo – dado que a maioria destes estudos tem como base o raciocínio indutivo; e holístico – atendendo a que tem em conta a realidade na sua globalidade. (Carmo e Ferreira, 1998, p. 217)

Segundo Werner e Schoepfle (1978), “existem muitos tipos diferentes de estudos qualitativos.” (Werner e Schoepfle, citados por Bogdan e Biklen, 1994, p. 90), dos quais destacamos o estudo de caso de observação. Neste tipo de estudos, o foco pode centrar- se numa organização ou num aspecto específico da mesma, e a melhor técnica de recolha de dados é a observação participante.

Um dos aspectos inerentes ao estudo de caso é a integração do investigador no meio, e, consequentemente, ser aceite. Sendo certo que o sucesso desta estratégia deverá passar por um conjunto de características das quais poder-se-á destacar ser discreto, paciente, ter uma atitude de aceitação incondicional do outro (isento de juízos de valor) e de empatia. Nos casos de estudo de caso em escolas, por exemplo, é assim fundamental

que tanto os sujeitos da organização participantes na investigação como o investigador se sintam implicados na vida da própria organização.

A este propósito Walker, R. (1983),

cita um investigador que afirma que “o trabalhador de campo ideal será talvez uma pessoa que aprendeu a comportar-se de uma maneira natural e previsível, que se implique, ainda que não intensamente, na situação.” E refere ainda que particularmente o investigador que faz uma trabalho a prazo, confronta-se intensamente com esta duplicidade constante de implicação e distanciação, sendo ao mesmo tempo “estranho e amigo” parecendo “fazer uma estranha viagem por uma terra que lhe é familiar.” (Freire, 1997, pp. 570-571)

O mesmo autor afirma que os estudos de caso “são um passo para a acção, para a tomada de decisões”. De facto, será necessário conhecer para agir e o estudo de caso permite-nos um conhecimento profundo da realidade com incidência no processo, ou seja, no que ocorre numa organização durante um determinado lapso de tempo. (idem, pp. 570-571)

Walker refere como vantagens do estudo de caso, para além da anteriormente citada:  Os estudos de caso (produto) podem constituir um arquivo de material

descritivo suficientemente rico para permitir reinterpretações subsequentes;  Os estudos de caso são mais acessíveis ao público em geral do que outros dados

de investigação (podem servir múltiplas audiências).

O estudo de caso enquanto tipo de estudo não surge isento de importantes limitações e dificuldades:

 São estudos muito complexos, morosos e difíceis de levar a cabo, por isso implicam a existência de uma equipa de investigação;

 O acesso aos dados levanta problemas, assim como a sua publicação; o investigador tem de ter bem presentes os problemas da confidencialidade dos dados, os limites entre o público e o privado, preservando o anonimato dos sujeitos;

 Levanta também problemas quanto aos efeitos da implicação do investigador na realidade que estuda e seus reflexos nos resultados obtidos;

 Põe ainda o problema da generalização, uma vez que se trata de um estudo em profundidade de uma realidade específica, considerando os seus aspectos idiossincrásicos; mas este aspecto pode, no entanto, ser superado através do recurso a estudos de caso múltiplos, seguindo o mesmo esquema de investigação, na tentativa de encontrar algumas possíveis generalizações. (idem, p. 572)