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O material recolhido no campo não pode ser considerado, em si mesmo, um conjunto de dados, já que conforme citado por Bell (2004), os dados recolhidos pouco significado têm até serem analisados e avaliados.

Segundo Bogdan e Biklen, o termo “dado” diz respeito aos materiais em bruto recolhidos pelo investigador e que formam a base da análise, sendo “simultaneamente as provas e as pistas.” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 149)

Serão assim as notas de trabalho, as gravações e as transcrições das entrevistas apenas fontes de informação, a partir das quais se constroem os dados com recurso aos meios formais que a análise propicia.

Em investigação qualitativa, e de acordo com Colás (2004), a análise dos dados não é uma etapa precisa e temporalmente determinada por uma fase concreta da investigação, decorrendo antes ao longo de todo o processo investigativo, sendo, conforme Quivy e Campenhoudt (1998), difícil a distinção entre a recolha e a análise das informações. 6.1. QUESTIONÁRIO

No que diz respeito ao questionário, e após a sua aplicação, considerando também que o mesmo já se apresentava pré-codificado, o que facilitou de sobremaneira o seu tratamento, optámos por, numa primeira fase, sistematizar os seus resultados em quadros de frequências absolutas e relativas. Para tal, recorremos ao Microsoft Office Excel 2003, criando uma base de dados que nos permitiu tratar os mesmos e proceder a

uma análise descritiva, através de gráficos de colunas agrupadas com efeito visual 3D, colunas empilhadas com efeito visual 3D, gráficos de linhas com marcadores de dados mostrados em cada valor e gráficos circulares destacado com efeitos visuais 3D.

Essa análise descritiva será apresentada na Secção 2. do Capítulo II.

Relativamente à I Parte, serão apresentados os resultados pela ordem em que surgem no questionário. Quanto à II Parte, optámos por agrupar os resultados em função de cada objectivo de investigação previamente definido.

Ainda no que se refere à II Parte, decidimos fazer referências complementares à teoria das comunidades de prática de Etienne Wenger, sempre que a mesma não se encontrasse devidamente explicitada na 1ª Parte desta dissertação. De facto, a riqueza de tal teoria surge como impossibilitadora de uma abordagem pormenorizada, pelo que, sempre que assim o entendemos, a ela fizemos referências contextualizadas com a análise dos tópicos e dos dados.

6.2. ENTREVISTA E DIÁRIOS DOS PROFESSORES

Conforme referenciado por Manuela Esteves “a análise de conteúdo é a expressão genérica utilizada para designar um conjunto de técnicas possíveis para tratamento de informação previamente recolhida.” (Esteves, 2006, p. 107)

Considerando a origem e natureza diversificadas dos dados a tratar, optámos aqui por citar a tipologia dos dados sugerida por Van der Maren (1995):

 Dados invocados pelo investigador (existentes independentemente da acção do próprio investigador) onde poderemos citar como exemplos artigos de jornal, biografias, documentos de arquivo, etc.;

 Dados suscitados pelo investigador, em que como exemplos poderemos citar os protocolos de entrevistas, os diários, portefólios, etc. (Esteves, 2006, p. 107)

Caracterizada por Berelson e Lazarsfeld, em 1952, como uma técnica especificamente aplicável à quantificação, surge no entanto, e posteriormente, Holsti (1968) que opta por definir a análise de conteúdo como “uma técnica para fazer inferências por identificação sistemática e objectiva das características específicas de uma mensagem.” (idem, p. 108)

Afirmam a este propósito Silva e Pinto (2005) que “a análise de conteúdo é uma técnica de tratamento de informação, não é um método. Como técnica pode integrar-se em

qualquer dos grandes tipos de procedimentos lógicos de investigação e servir igualmente os diferentes níveis de investigação empírica.” (Silva e Pinto, 2005, p. 104) A análise de conteúdo surge assim como a forma mais adequada ao tratamento de testemunhos e informações “que apresentam um certo grau de profundidade e de complexidade”. (Quivy e Campenhoudt, 1998, p. 227). Para além disso, dado que implica a utilização de processos técnicos relativamente precisos, permite satisfazer harmoniosamente as exigências do rigor metodológico e da profundidade inventiva, possibilitando ao investigador o distanciamento necessário relativamente aos seus próprios valores e representações.

Assim, e de acordo com Bardin (2004), a análise de conteúdo surge como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens” que tem como finalidade “a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não).” (Bardin, 2004, pp. 33 e 34)

6.2.1. A ENTREVISTA

Conforme referido na Secção 5.3.2., entrevistámos sete professores da escola secundária onde funcionava o projecto e sobre a qual recaiu a nossa investigação. Considerando que o objectivo principal destas entrevistas passava por aprofundar aspectos menos óbvios resultantes do questionário e, sempre que possível, abordar outros aspectos impossíveis de cobrir no referido questionário, tentámos, em detrimento da representatividade numérica, deter a nossa preocupação na heterogeneidade dos entrevistados, e que, portanto, aprioristicamente, seriam bons informantes relativamente às questões que nos propúnhamos colocar-lhes.

Para manutenção do sigilo quanto à identidade dos sujeitos de investigação, aspecto assegurado a cada um anteriormente e reiterado aquando da realização das entrevistas, optámos por denominar os entrevistados por códigos alfanuméricos, proporcionando assim a facilitação das referências a cada um deles, sendo que no Anexo F se apresenta a correspondência entre os vários sujeitos de investigação e a codificação atribuída. As entrevistas decorreram em diferentes locais, em função da disponibilidade logística e física em que cada uma se verificou; de facto, as entrevistas coincidiram com o

encerramento do ano lectivo e reuniões de avaliação do terceiro período lectivo. Foi no entanto sempre nossa preocupação procurar um local calmo e aprazível, proporcionando aos entrevistados o conforto e privacidade necessários, evitando assim as interrupções perturbadoras. No Anexo G apresentamos os locais e as datas de realização das nove entrevistas.

O tratamento das entrevistas iniciou-se com a transcrição integral das gravações, correspondendo o corpus das mesmas a cerca de três horas e quarenta e quatro minutos, ocupando cento e três páginas A4 de texto.

De acordo com o sugerido por Bogdan e Biklen (1994), “um cabeçalho no princípio de cada entrevista ajuda a organizar os seus dados e a recuperar segmentos específicos quando tem necessidade deles.” (p. 173)

Como tal, e seguindo as sugestões dos autores, foi incluído, para a transcrição de cada uma das entrevistas, um cabeçalho que permitiu a organização dos dados, nomeadamente com a indicação da identificação codificada do entrevistado, a data e o local da entrevista.

O processo seguido e os procedimentos adoptados visando o tratamento do corpus, teve como base as recomendações de Bogdan e Biklen bem como de Bardin que passamos a descrever sumariamente.

Como primeira etapa, optámos por cumprir a fase que Bardin designa por “leitura flutuante”, permitindo assim “conhecer o texto deixando-se invadir por impressões e orientações”. (Bardin, 2004, p. 90)

Na verdade, a extensão do corpus bem como a diversidade dos temas abordados revelou-se-nos demasiado rica pelo que optámos, de seguida, por proceder a várias releituras flutuantes e por último, de acordo com Bogdan e Biklen, por realizar a leitura integral das transcrições, assinalando na margem direita as áreas chave focadas pelos entrevistados e começando a esboçar os temas.

Delimitar os temas foi também tarefa morosa, sendo essa a etapa seguinte a que nos propusemos.

6.2.2. OS DIÁRIOS DOS PROFESSORES

No que se refere aos diários dos professores, e tal como anteriormente referenciado na secção 5.4. do Capítulo I, foram inicialmente, em Janeiro, solicitados os diários a seis docentes. Porém, e à data da conclusão da recolha de dados, um dos professores previamente contactado não procedeu à entrega do seu diário. As razões prenderam-se não com a falta de vontade de colaborar com a investigação mas antes com problemas de ordem técnica, nomeadamente de natureza informática – um vírus que culminou com a inevitável formatação do disco rígido e que o impediu de recuperar o seu diário. Pelo que, para esta análise, apenas poderão ser considerados cinco diários.

A entrega destes cinco diários processou-se na data previamente acordada e os mesmos foram entregues de diferentes formas e também em diferentes formatos, nomeadamente, por e-mail, manuscritos e outros em formato digital – processados já no Microsoft Word. Como tal, a primeira tarefa que tivemos de realizar foi passar a formato digital os diários manuscritos, para que isso nos facilitasse o seu posterior tratamento e análise. Foram, posteriormente, percorridas todas as etapas necessárias para o seu tratamento, de acordo com a técnica da análise de conteúdo.

Iniciada a leitura flutuante, foi de imediato possível retirar-se uma conclusão: os docentes solicitados não procederam ao registo de uma forma regular, ou seja, com uma frequência que nos permita inferir do alcance de rotina desse registo.

Capítulo II. ANÁLISE DOS DADOS 1. INTRODUÇÃO

Ao longo deste capítulo, procederemos à análise dos dados obtidos através dos diferentes instrumentos recolhidos para o nosso estudo e faremos a sua interpretação. Para uma maior eficácia, dividimos este capítulo em secções, afim de pormenorizadamente analisarmos e interpretarmos os diversos dados recolhidos através das diferentes fontes.