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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.4 Instrumento de coleta de dados − entrevista

Schuler e De Toni (2015) preconizam a utilização de entrevistas − aplicadas oralmente ou por escrito, realizadas face a face, por telefone ou Internet − para a coleta dos dados da etapa de Configuração de Conteúdo, na qual se busca identificar os atributos mais salientes que formam a imagem do objeto estudado. As perguntas foram formuladas com a intenção de provocar o surgimento desses atributos. Para tanto, os respondentes foram instigados a

82 Programa de egressos da Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: <www.sempre.ufmg.br>.

83 Diz respeito a quando os dados foram recentemente percebidos na mente do indivíduo.

84 De acordo com o Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA) da UFMG, em consulta realizada em outubro de 2018, constavam 486 ex-alunos formados no curso de graduação em Biblioteconomia no período de 2013 a 2017.

expressar a primeira ideia que surge em mente sobre o objeto em questão, utilizando para isso a livre associação de ideias.

Reforçam Schuler e De Toni (2015, p. 158):

A livre associação, ou evocação livre, é uma das formas mais utilizadas para identificar as imagens que as pessoas formam sobre os objetos (GUIMELLI, 199485). Consiste em apresentar aos entrevistados um estímulo, ou Termo Indutor (ex.: nome da organização, produto, marca etc.) e, a partir daí, pedir que digam as palavras ou expressões que lhes tenham vindo imediatamente à lembrança (POIESZ, 198986; SÁ, 199687; MALHOTRA, 200188). A vantagem dessa técnica é permitir identificar os elementos latentes na mente das pessoas em torno do Termo Indutor, sem muito controle da racionalidade (ZIMER e GOLDEN, 198889). Baseado nisso, o MCI conta, na formulação de sua entrevista estruturada, com duas questões iniciais, que permitem essa livre associação de significados por parte do respondente. As demais questões propõem estímulos semiconduzidos, levando o respondente a evocar a imagem do objeto pesquisado a partir de outros pontos de vista (dimensões de realidade e percepção).

A associação livre é muito utilizada em entrevistas com grupos focais para descobrir como os indivíduos imaginam um assunto, sob qual perspectiva o compreendem e como o relacionam com outras ideias e conceitos (GASKELL, 2013). Esta técnica, proposta por Schuler e De Toni (2015) para o MCI, possibilita um mapeamento exploratório acerca do tema investigado.

Inseriram-se no instrumento da entrevista questões que estimulassem respostas livres e espontâneas. Em sua tese, De Toni (2005) optou por fazer as entrevistas por escrito, priorizando a economia de tempo para o tratamento das respostas e para contemplar um maior número de respondentes, uma vez que nas entrevistas orais isso se tornaria praticamente impossível. Contudo, ele mesmo alerta que a forma escrita pode “cercear a

85 GUIMELLI, C. Transformation des représentations sociales, pratiques nouvelles et schèmes cognitifs de base. In: GUIMELLI, C. Structures et transformations des représentations sociales. Lausanne: Delachaux et Niestlé, 1994. p. 171-198.

86 POIESZ, B. C. The image concept: its place in consumer psychology. Journal of Economic Psychology, v. 10, p. 457-472, 1989.

87 SÁ, C.P. Sobre o núcleo central das representações sociais. Petrópolis: Vozes, 1996. 88 MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

89 ZIMER, M. R.; GOLDEN, L. L. Impressions of retail stores: a content analysis of consumer images. Journal of Retailing. v. 64, n. 3, p. 265-293, 1988.

espontaneidade dos respondentes e privilegiar o aparecimento dos aspectos racionais da imagem, em detrimento dos emocionais e dos simbólicos” (DE TONI, 2005, p. 146).

Pelo fato de o número de respondentes ter ultrapassado a amostra inicial idealizada, isto é, 40 egressos, e de o período não ter sido muito propício para o encontro presencial, pois era final de ano (novembro de 2018), a aplicação da entrevista foi executada de dois modos: a) por escrito, mas com a presença desta pesquisadora, em que compareceram 12 egressos; e b) por escrito, a distância, via Internet, com a participação de 28 egressos.

Na primeira modalidade, os egressos preencheram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) da pesquisa e responderam às questões, as quais foram imediatamente transcritas no instrumento pela autora da investigação. Na segunda modalidade foi agendada uma data para o retorno do instrumento respondido pelo egresso. Nestes casos, primeiramente, fez-se um contato por telefone ou pelo aplicativo WhatsApp, em que a pesquisadora fornecia algumas instruções e se colocava totalmente à disposição para sanar quaisquer dúvidas. Embora se tenha conhecimento de que a aplicação da entrevista na forma oral possibilita maior envolvimento entre entrevistador e entrevistado, acarretando maior extração de informações, não se pode descartar a facilidade que a modalidade escrita traz para o posterior tratamento dos dados. A escolha dessas opções de aplicação foi confirmada como positiva por meio da realização do pré-teste do instrumento.

O pré-teste desta etapa de aplicação das entrevistas ocorreu em outubro de 2018, considerando três egressos do curso de Biblioteconomia da UFMG, tendo um concluído em 2013 e dois em 2017. Vale ressaltar que esses egressos foram selecionados por meio do critério da acessibilidade, sendo que dois eram acadêmicos da pós-graduação e uma egressa que atuava no mercado. Foram testadas três modalidades de aplicação: a oral e presencial, em que a pesquisadora gravava toda a entrevista, para ser transcrita posteriormente; a escrita e presencial, em que a pesquisadora transcrevia as respostas imediatamente após a resposta do egresso; e a distância, em que o instrumento foi enviado ao participante para que este respondesse às questões por escrito.

Após a verificação de todos procedimentos, incluindo o tratamento e a análise dos dados dessas três entrevistas, apurou-se que as modalidades escritas (presencial e a distância) conseguiram atender às expectativas acerca do conteúdo apreendido nas respostas e, mais especificamente, não prejudicaram a identificação dos atributos da imagem do curso. Isso sem mencionar que certa objetividade nas respostas, que ocorre na modalidade

escrita, não compromete no caso do MCI o entendimento da complexidade do conteúdo das entrevistas, muito menos o tratamento e análise dos dados extraídos.

Considerando essas ponderações, elaborou-se o roteiro estruturado de entrevista, que foi aplicado por escrito, de modo presencial ou a distância. Nesse ponto do trabalho, deve-se destacar que, além das questões orientadas para identificar os atributos da imagem do curso pertinentes ao MCI, foram formuladas questões demográficas, além das questões de opinião sobre o curso e daquelas relacionadas ao percurso profissional do egresso. Tais perguntas foram importantes para o cotejamento entre a imagem percebida do curso e a trajetória profissional do egresso − isto é, a percepção da relação de influência entre essas duas dimensões. Ainda que a inserção de questões referentes ao percurso profissional e à opinião dos egressos sobre o curso não fizesse parte do MCI, acreditou-se ser coerente a introdução delas, uma vez que permitiam agregar componente novo ao método e atender uma parte da problematização desta pesquisa.

A título de exemplo, a Figura 10 mostra parte do roteiro da entrevista relativa ao MCI. No Apêndice B, encontra-se o instrumento completo, com a inserção das questões demográficas e das questões sobre o percurso profissional do egresso.

Figura 10 – Entrevista estruturada para a etapa de Configuração de Conteúdo da imagem

DIMENSÕES DA IMAGEM

QUESTÕES

Geral 1. Quando eu digo curso de Biblioteconomia (Termo Indutor), qual a primeira coisa que lhe vem à mente?

2. Que outras ideias lhe vêm à mente sobre o curso de Biblioteconomia?

Afetiva 3. Quais os sentimentos que lhe vêm à mente sobre o curso de Biblioteconomia?

Emocional

4. Do que você gostou no curso de Biblioteconomia?

5. Do que você não gostou no curso de Biblioteconomia?

Racional 6. Qual a utilidade do curso de Biblioteconomia para você?

Simbólica 7. O que o curso de Biblioteconomia representou para você, na sua vida?

Visionária

8. O que você espera do curso de Biblioteconomia no futuro?

Projeção 9. Se você pudesse descrever em poucas palavras a imagem mais representativa do curso de Biblioteconomia perante a sociedade, qual seria essa imagem?

Fonte: Adaptada de Schuler; De Toni (2015, p. 160).

Diante do fato que as imagens são teoricamente compostas de informações de diversas naturezas, esse tipo de questão do roteiro de entrevista procurou incentivar o surgimento de atributos variados, representando essas naturezas distintas. Logo, as perguntas da Figura 10 se referem ao tipo de provocação que se procurou suscitar, levando- se em consideração as categorias dos atributos identificados na entrevista que se pretendeu agrupar no tratamento dos dados (SCHULER; DE TONI, 2015). Sendo assim:

As questões 1 e 2 da entrevista auxiliam na identificação indiscriminada dos atributos que fazem parte da memória do sujeito, mais proximamente ligados à menção do nome da organização, marca ou produto. Essas duas questões buscam entender genericamente o tipo de representação mental que o sujeito tem sobre o objeto (DICKSON e ALBAUM, 197790; REYNOLDS e GUTMAN, 198491). [...] As demais questões buscam dar maior complexidade à abordagem, repetindo o mesmo questionamento básico a partir de outros pontos de vista (a partir das várias dimensões da imagem), formando, assim, uma escala unidimensional, que se interessa em propor ao respondente um maior número de oportunidades de revelar os atributos que fazem parte de sua imagem do objeto pesquisado. O objetivo principal das escalas unidimensionais é abordar a mesma questão de formas distintas, de maneira a que o respondente revele seus pensamentos sobre uma questão específica a partir de vários pontos de vista. No caso, as demais questões trazem estímulos que fariam o respondente posicionar-se desde os pontos de vista afetivo, emocional, racional, sensorial, simbólico, visionário e axiomático, sobre o mesmo objeto (SCHULER; DE TONI, 2015, p. 159-160).