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2.5 VALORES DO TRABALHO

2.5.2 Instrumentos para medida de valores relativos ao trabalho no Brasil

No Brasil, Porto e Tamayo (2003) identificaram apenas dois instrumentos: o primeiro instrumento foi uma tradução da escala de Lawrence (1971) e foi construído por Lomonaco e Angelini em 1970. O instrumento é baseado no inventário de Super (1957), composto por 105 itens. Esse instrumento não foi validado para o Brasil.

O segundo instrumento foi construído por Borges (1999), denominado Inventário do Significado do Trabalho. O instrumento foi dividido em duas classes de atributos: valorativos (como o trabalho deve ser) e descritivos (como o trabalho é).

Os resultados da pesquisa identificaram 5 fatores de atributos valorativos pela autora: 1) exigências sociais; 2) justiça no trabalho; 3) esforço corporal e desumanização; 4) realização pessoal; 5) sobrevivência pessoal e familiar. Borges (1999), a partir dos resultados obtidos, a autora sugere a associação entre a estrutura de atributos de valores do trabalho encontra apoio na abordagem proposta por Schwartz (1992), conforme apontado no

Quadro 3.

Quadro 3. Comparação entre Valores Laborais propostos por Borges (1999) e os tipos motivacionais propostos por Schwartz (1992).

Valores Laborais Borges (1999)

Tipos motivacionais Schwartz (1992)

Exigências Sociais Refere-se à semelhança e repetição das tarefas e à contribuição ao progresso social

Tradição, Conformidade e Universalismo

Justiça no Trabalho Agrega itens que definem o trabalho com a função de proteger o indivíduo

Segurança e

Universalismo Esforço Corporal e

desumanização

Refere-se à opinião de que o trabalho deve representar esforço corporal

---- Realização pessoal Reúne itens sobre o prazer associado ao

trabalho

Hedonismo e Realização Sobrevivência

pessoal e familiar

Refere-se ao papel do trabalho de garantir sustento ao indivíduo e à família

Autodeterminação Fonte: Borges (1999) e Schwartz (1992)

Porto e Tamayo (2003) identificaram a necessidade de construção e validação de uma escala para medir os valores relativos ao trabalho na população brasileira, considerando pessoas com instrução mais elevada e com embasamento de uma teoria sólida.

Esses autores, a partir do modelo teórico de Ros, Schwartz e Surkiss (1999), construíram uma escala para avaliação dos valores laborais no Brasil, denominada Escala de Valores relativos ao Trabalho (EVT). Os resultados das pesquisas indicaram a existência de quatro fatores, com bons índices de confiabilidade e boas cargas fatoriais: 1) Realização Profissional; 2) Estabilidade; 3) Relações Sociais; e 4) Prestígio. Porto e Tamayo (2003) relacionam os quatro fatores identificados com as quatro dimensões da teoria de Schwartz (1992), conforme Quadro 4:

Quadro 4. Relação entre a Escala de Valores Relativos ao Trabalho propostos por Porto e Tamayo (2003) e as dimensões de segunda ordem propostas por Schwartz (1992).

Dimensões da Teoria de Valores Gerais

Escala de Valores Relativos ao Trabalho

Abertura à mudança Fator Realização Profissional (favorecimento de mudança por meio da autonomia e criatividade)

Autotranscedência Fator Relações Sociais (alcance de relações sociais e bem estar das pessoas próximas e da sociedade)

Autopromoção Fator Prestígio (alcance de sucesso pessoal e influência sobre os outros)

Conservação Fator Estabilidade (segurança e manutenção das condições de trabalho)

Fonte: Porto e Tamayo (2003) e Schwartz (1992)

Porto e Tamayo (2003) associam também os resultados encontrados na EVT com os resultados apontados por Borges (1999) no ISV. Os resultados indicaram que o fator Prestígio da EVT não apresenta relação com nenhum dos fatores identificados por Borges (1999) e, em contrapartida, o fator Esforço Corporal e Desumanização (IST) não foi relacionado a nenhum fator da EVT (ver Quadro 5).

Quadro 5. Relação entre os valores da EVT de Porto e Tamayo (2003) e os valores do ISV de Borges (1999).

Escala de Valores Relativos ao

Trabalho Inventário de Significado do Trabalho

Realização no trabalho Realização Pessoal

Relações Sociais Exigências Sociais

Prestígio ---

Estabilidade Sobrevivência Pessoal e Familiar

--- Esforço Corporal e Desumanização

Fonte: Porto e Tamayo (2003) e Borges (1999)

Dada a necessidade de validação da EVT, a escala foi utilizada em outros estudos (PORTO; TAMAYO, 2003). Paschoal e Tamayo (2005) ao avaliarem o impacto dos valores laborais no estresse ocupacional utilizaram três instrumentos: Escala de Estresse no Trabalho, Escala de Interação Trabalho-Família e Escala de Valores Relativos ao Trabalho. A pesquisa foi realizada com 237 funcionários de uma instituição bancária. A análise fatorial confirmou a estrutura de quatro fatores da

EVT, mas o estudo não confirmou a possível influência dos valores do trabalho sobre o estresse ocupacional.

Porto e Tamayo (2007), em outro trabalho, testaram a relação entre as estruturas de valores gerais e laborais. Nessa pesquisa foram usados os instrumentos Escala de Valores relativos ao Trabalho e o Inventário de Valores de Schwartz, tendo sido aplicada a 995 estudantes universitários. A análise fatorial confirmou a estrutura de valores proposta por Porto e Tamayo (2003), com bons índices de confiabilidade. Os resultados apontaram ainda para a aceitação do modelo proposto. Foram encontradas covariâncias positivas e altas entre os pólos Abertura à mudança e Realização profissional, Conservação e Estabilidade, Autotranscendência e Relações sociais, e Autopromoção e Prestígio. As covariâncias entre as dimensões opostas foram baixas, praticamente nulas, entretanto, entre os polos de Autopromoção x Relações sociais e Autotranscendência x Prestígio elas seguiram a direção negativa, indicando oposição entre os polos, como previsto teoricamente.

Campos (2008) aplicou a EVT com objetivo de conhecer os valores relativos ao trabalho de alunos que atuam em Empresas Juniores. A pesquisa foi aplicada a 130 alunos atuantes em sete Empresas Juniores do Núcleo Jr. de São Paulo e os resultados apontam para a predominância do valor “Realização no Trabalho” e o valor “Prestígio” como o menos importante. Não foram relatados resultados de análise fatorial que validassem a EVT.

Barrella (2008), por sua vez, aplicou a EVT num estudo com objetivo de relacionar os valores do trabalho às competências gerenciais. A pesquisa foi aplicada junto a 234 gestores nos cargos de presidência, diretoria ou alta gerência, de empresas no Brasil, de capital nacional, estrangeiro ou misto, de pequeno, médio e grande porte. O estudo apresentou correlações positivas entre os valores relativos ao trabalho e as competências gerenciais. Todavia, a estrutura fatorial da EVT não foi validada.

Outra contribuição para validação da EVT foi o estudo de Rodrigues (2008), que avaliou os aspectos que interferem na mudança dos valores ao longo da carreira do indivíduo. Esse autor aplicou a Escala de Valores Relativos ao Trabalho numa amostra de 175 profissionais com mais de cinco anos de atuação, residentes

da grande São Paulo. A EVT foi adaptada para os objetivos da pesquisa, tendo sido incluídas duas colunas para que os participantes respondessem os valores no início da carreira e no momento atual (aplicação da pesquisa). A estrutura fatorial da EVT, novamente, não foi validada. Os resultados da pesquisa apontaram para alteração da importância dos valores relativos ao trabalho ao longo da carreira. Todavia, os motivos que levaram a essa mudança não foram abordados no estudo.

Diante das teorias apresentadas, relembramos que nesta pesquisa foi adotada a Teoria de Schwartz (1999) sobre valores laborais, por meio da escala EVT desenvolvida por Porto e Tamayo (2003), uma vez que essa foi criada com base nos resultados satisfatórios, favorecendo o estudo de valores laborais. Essa escala também foi direcionada ao contexto brasileiro.

3 MÉTODO DE PESQUISA