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Na análise dos resultados, os dados foram segmentados por coortes geracionais, de maneira a permitir uma análise sobre a influência da idade nos valores laborais. Os resultados não apresentaram diferença de predominância de valores relativos ao trabalho dos profissionais de TI em função da idade. Os coortes geracionais estabelecidos nesta pesquisa resultaram no mesmo valor predominante.

O propósito desta pesquisa envolveu a avaliação do perfil dos profissionais de TI em relação ao trabalho. Estudos anteriores avaliaram os valores relativos ao trabalho, mas nenhum deles abordou os profissionais de TI especificamente. Em

função do crescimento da demanda por “informatização” dos processos das organizações, houve também um aumento da procura desses profissionais no mercado. Todavia, o número de profissionais disponíveis no mercado é insuficiente para atender a demanda e, conforme previsão da SOFTEX (2012) até 2020 haverá um déficit de 280 mil profissionais no Brasil. Essa conjuntura em que se encontra a IBSS gera preocupações nos gestores sobre como gerir as pessoas para que elas permaneçam na empresa, dada a gama de oportunidades existentes no mercado e o risco de migração dos profissionais para outras empresas, gerando uma perda de capital intelectual (conhecimento, competência e experiência) sobre os processos e produtos da empresa.

Josko (2004) em sua revisão de literatura resume motivos pelos quais os profissionais de TI tendem a permanecer nas empresas. Dentre tais motivos destacam-se: 1) desenvolvimento de competências: treinamentos, mentoring, coaching para o desenvolvimento de carreira; 2) reconhecimento e compensação: boa remuneração e reconhecimento pelo trabalho; 3) potencialização: compartilhamento de informações e participação na tomada de decisão, ou seja, ser parte importante da empresa; 4) senso de comunidade: comunicação aberta e transparente entre a alta direção e os demais, envolve também o senso de pertencimento à comunidade.

Esses motivos podem ser associados aos valores laborais, em termos do conteúdo de cada fator. O primeiro seria relacionado ao Fator Realização Profissional. O segundo associado ao Prestígio, enquanto que o quarto poderia ser associado ao Fator Relações Sociais. Apenas o Fator Estabilidade não apresenta definição que compreenda os motivos pelos quais os profissionais de TI permanecem na empresa.

Os apontamentos de Josko (2004) contribuíram para a compreensão do perfil dos profissionais de TI, mas não apontaram nenhum relacionamento com o sistema de valores dos indivíduos em relação ao trabalho. Porto e Tamayo (2003) estabelecem que os valores relativos ao trabalho são os princípios que guiam o comportamento e a escolha de alternativas de trabalho.

Ao avaliar a predominância de valores em função das variáveis demográficas observou-se que os valores dos profissionais de TI não mudam em função de tais

variáveis. Em relação ao tempo de experiência, todas as categorias indicaram a mesma predominância, tendo em primeiro o fator a realização profissional, seguido de estabilidade, relações sociais e, por fim, prestígio.

Em relação à ocupação, a maioria apresentou predominância para o fator realização profissional, mas a hierarquia dos valores foi diferente nas diversas ocupações. Analistas de Sistemas, Analistas de Requisitos e Programadores indicaram a mesma hierarquia de valores: realização profissional, estabilidade, relações sociais e prestígio.

A ocupação Arquiteto de Software apresentou hierarquia diferente, sendo estabilidade, realização profissional, relações sociais e prestígio. Para os Engenheiros de Software e Gerentes de Projeto os valores são hierarquizados da mesma forma, realização profissional, estabilidade, relações sociais e prestígio. A ocupação Projetista apresentou comportamento distinto, sendo o fator relações sociais mais predominante, seguido de realização profissional e estabilidade igualmente importantes e, por fim, o fator prestígio. Já a ocupação Projetista de teste destaca mais importância para o fator estabilidade, depois indicam a mesma importância para relações sociais e prestígio e por último está o fator realização profissional. Para os Testadores a importância é igualmente distribuída entre os fatores realização profissional e estabilidade, seguido das relações sociais e prestígio ao final.

Por fim, a ocupação Técnico de Desenvolvimento de Sistema atribui maior importância para estabilidade, em segundo lugar estão realização profissional e relações sociais e por último o fator prestígio (vide Gráfico 6).

Gráfico 6. A hierarquia de valores por ocupação

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

Em relação à idade, tem-se uma suposição por parte dos autores sobre uma diferença de preferências e comportamentos da suposta Geração Y em relação às gerações anteriores (Geração X e Baby Boomers). Como não há consenso sobre os limites dessas gerações, esse estudo estabeleceu coortes geracionais em função da idade, criando quatro grupos de faixa etária: 18 a 30 anos, 31 a 40 anos, 41 a 50 anos e mais de 50 anos.

Foram realizados cruzamentos entre tais faixas etárias e observou-se que não existe distinção entre as idades e a predominância dos fatores. Ou seja, os comportamentos dos profissionais de TI não divergem em função da idade. Desta forma, não foram achados resultados que confirmem os apontamentos de estudos em relação às diferenças comportamentais dos profissionais mais jovens no contexto das organizações de TI. Com relação à influência da idade sobre os valores dos profissionais observou-se também um comportamento comum. A predominância permaneceu no fator realização profissional, seguido de estabilidade, relações sociais e prestígio.

De modo geral, os profissionais de TI caracterizam-se por priorizarem, em seu perfil motivacional, os valores de estabilidade e realização profissional. Tais valores prezam a segurança e estabilidade financeira, o prazer com o trabalho, a autonomia intelectual e a criatividade. Conclui-se, então, que os profissionais de TI são, em sua maioria, profissionais que buscam desafios, liberdade de criação, satisfação pessoal e boa remuneração. Esse resultado pode explicar o alto índice de rotatividade no setor, uma vez que os profissionais mudam de emprego na tentativa de estabelecer situações de conforto material através do aumento de salário.

Os valores de estabilidade e realização profissional estariam, segundo Porto e Tamayo (2003) associados às dimensões de segunda ordem Abertura à Mudança e Conservação, que de acordo com a Teoria de Schwartz (1999), são dimensões antagônicas. Entretanto, Porto e Pilati (2009) identificaram que a estrutura de quatro fatores da EVT é adequada, mas que a composição de cada fator não reflete a o conteúdo dos tipos motivacionais propostos por Schwartz (1999).

Analisando-se teoricamente o conteúdo dos itens do fator Realização Profissional pode-se inferir que este representa melhor o tipo motivacional Hedonismo, mas não contempla Estimulação e Autodeterminação. Por sua vez, o fator Prestígio não contempla Realização. Já o fator Estabilidade contempla Segurança, mas não Conformidade e Tradição. Apenas o fator Relações Sociais parece adequado (PORTO e PILATI, 2010, p. 77).

Nesse sentido, os autores (PORTO e PILATI, 2010) indicam que a composição do fator estabilidade da EVT está focada na estabilidade financeira e não na estabilidade do trabalho propriamente dita, pois “[...] refere-se à busca de segurança e ordem na vida por meio do trabalho, possibilitando suprir materialmente as necessidades pessoais” (PORTO e PILATI, 2010).

Desta forma, o resultado apontado por esta pesquisa não reflete um antagonismo. O fator Realização Profissional indica a busca de prazer e realização pessoal, o que não exclui a busca pela segurança financeira e material, encontrado no fator Estabilidade.

Pesquisas anteriores apontam para resultados semelhantes, onde os fatores predominantes são Realização Profissional e Estabilidade. Campos (2008) identificou que o fator predominante dos profissionais de empresas juniores é o

Fator Realização Profissional, seguido do Fator Estabilidade e do Fator Relações Sociais. O Fator Prestígio foi o fator de menor importância entre esses profissionais.

Rodrigues (2008) ao estudar a mudança de valores a longo da carreira identificou uma predominância dos valores Realização Profissional e Estabilidade. Os resultados da pesquisa apontam que no início da carreira os profissionais o fator Estabilidade tinha maior predominância e o fator Realização Profissional apareceu em segundo lugar. Já no momento atual (momento em que a pesquisa foi aplicada) o fator Estabilidade deu lugar e importância ao fator Realização Profissional.