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2.4 VALORES HUMANOS

2.4.2 Teoria dos Valores Humanos de Schwartz

O modelo de Schwartz foi elaborado progressivamente e foi baseado naquele proposto por Rokeach. Todavia, o modelo de Schwartz enfatizava a base motivacional como explicação para a estrutura dos valores. A partir das necessidades básicas do ser humano: as necessidades biológicas básicas, as necessidades de coordenação social e os requisitos para o bom funcionamento dos grupos; o autor postulou 10 tipos motivacionais que abrangem o conjunto de valores identificados nas diversas culturas (TAMAYO, 2001,2002; PORTO;TAMAYO, 2003). Valores do tipo motivacional, segundo Tamayo (2007b), refere-se a “[...] um fator composto por diversos valores que apresentam similaridade do ponto de vista do conteúdo motivacional”.

Esses tipos motivacionais foram dispostos em uma estrutura circular (ver

relações de compatibilidade e conflito entre os tipos motivacionais. Assim, “[...] quanto mais próximos dois tipos motivacionais estão em qualquer uma das direções ao redor do círculo, mais semelhantes são suas motivações subjacentes. Quanto mais distantes, mais antagônicas são suas motivações subjacentes” (Schwartz, 2005b, p. 29). Quanto mais próximo um tipo motivacional estiver do outro, maior a probabilidade de compatibilidade entre eles, e vice-versa. O modelo postula ainda duas dimensões bipolares: Autotranscedência versus Autopromoção e Abertura à mudança versus Conservação. Os polos dessas duas dimensões constituem os chamados fatores de ordem superior.

Os 10 tipos motivacionais identificados por Schwartz foram são apresentados no Quadro 1.

Quadro 1. Tipos motivacionais de valores

Tipos Metas Exemplos de Valores

Hedonismo Prazer e gratificação sensual para si mesmo Prazer, auto-indulgência Realização Sucesso pessoal obtido por meio de

demonstração de competência

Bem-sucedido, capaz, influente, ambicioso

Poder social Controle sobre pessoas e recursos, prestígio Poder, riquezas, autoridade Autodeterminação Independência de pensamento, ação e opção Liberdade, criatividade,

curiosidade, independência Estimulação Excitação, novidade, mudança, desafio Vida variada, vida excitante Conformidade Controle de impulsos e ações que podem

violar normas sociais ou prejudicar os outros

Obediência, polidez, autodisciplina Tradição Respeito e aceitação dos ideais e costumes da

sociedade

Respeito à tradição, moderação, devoção

Benevolência Promoção do bem-estar das pessoas íntimas (pessoas mais próximas, como família e colegas de trabalho)

Prestativo, leal, que perdoa

Segurança Integridade pessoal, estabilidade da

sociedade, do relacionamento e de si mesmo

Ordem social, segurança familiar, limpeza

Universalismo Tolerância, compreensão e promoção do bem- estar de todos e da natureza

Igualdade, justiça social, sabedoria, respeito à natureza Fonte: Tamayo (2002).

Para validar o modelo, Schwartz (2005b)construiu dois instrumentos: o Schwatz Value Survey (SVS) e o Portrait Values Questionnaire (PVQ) baseados no modelo. O SVS é semelhante ao instrumento proposto por Rokeach. O instrumento contém 57 itens, distribuídos em dois conjuntos de valores, onde o sujeito deve

avaliar cada valor usando uma escala que varia de 1 a 7. O SVS foi validado por meio de pesquisa transcultural em 67 países, incluindo o Brasil, totalizando 64.271 participantes.

O SVS, segundo Tamayo (2007), supera as principais deficiências do RVS: 1) os valores que constituem o instrumento constituem uma amostra mais representativa dos valores humanos; a escala de avaliação dos valores é do tipo intervalar e representam mérito da avaliação; 3) o instrumento avalia os valores de acordo com os tipos motivacionais propostos na teoria, estabelecendo uma relação entre valores e tipos motivacionais, de maneira que os valores representam a estrutura de motivação humana.

Figura 4. Estrutura dos Valores Humanos

Fonte: Porto e Tamayo (2007, p. 65).

Embora Tamayo (2007) aponte as melhorias a que o estudo de Schwartz alcançou, este autor aponta, também, algumas deficiências, referindo-se como deficiências menores dos que as existentes no modelo de Rokeach. A primeira crítica aborda a estrutura do instrumento, que está dividido em dois conjuntos de valores, terminais e instrumentais, sendo que os primeiros são representados por substantivos e os segundos por adjetivos.

Essa divisão, segundo Tamayo (2007) não é percebida em países que não fazem a distinção entre substantivos e adjetivos. Assim, a divisão dos valores se mostra desnecessária. A segunda deficiência apontada por Tamayo (2007) critica a escala de avaliação do instrumento, que varia de 0 a 6, mas considera dois pontos extras na escala: - 1, que representa o oposto aos princípios que orientam a vida do indivíduo; e 7, que representa o valor de suprema importância como um princípio orientador em sua vida.

O problema observado se dá ao fato de que, normalmente, o indivíduo não possui mais que dois desses valores. Schwartz (1992), ao avaliar os resultados dos estudos, verificou que os questionários em que o número 7 é usado em mais de 21 itens, deveriam ser eliminados, indicando que a avaliação dos valores supremos não funciona.

O PVQ foi construído por Schwartz, Lehmann e Roccas (PORTO, 2005). Esse instrumento é composto por curtas descrições pessoais e não expressam diretamente valores, mas objetivos, desejos e aspirações de pessoas, em que o sujeito indica a importância de cada tipo motivacional. É um instrumento menos abstrato que o primeiro. As respostas não são apresentadas em escala numérica e sim uma escala verbal, permitindo a aplicação junto a crianças, adolescentes e pessoas de baixo nível de escolaridade.

A versão inicial do PVQ foi validada com amostras representativas de vários países (África do Sul, Itália e Uganda). Os resultados da SSA (Análise das Distâncias Mínimas) confirmaram, em todas as amostras, os 10 tipos motivacionais propostos no modelo de Schwartz. Posteriormente o instrumento foi revisado e passou a ser composto de 40 itens e foi validado com 14 amostras provenientes de sete países: Alemanha, Chile, Indonésia, Itália, Peru, Polônia e Ucrânia. Os resultados da SSA mostraram que cada um dos 10 tipos motivacionais de valores postulados formou uma região específica ou conjunta com um tipo motivacional adjacente, como prevê a teoria (SCHWARTZ, 2005a).