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Capítulo 4 Desenvolvimento da Pesquisa

4.4 Instrumentos utilizados na constituição dos dados

De acordo com Lüdke e André (1986), o desenvolvimento de um estudo de caso exige que os pesquisadores recorram a uma variedade de dados, coletados em momentos e situações diferentes. Segundo as autoras, esta variedade de informações permite um confronto desses dados que podem confirmar ou rejeitar pressupostos iniciais, descobrir novos dados ou ainda levantar novas hipóteses. No caso desta pesquisa, os dados foram coletados em dois espaços diferentes: nas aulas de estágio supervisionado, ocorridas na universidade ao longo do ano letivo e nas atividades de regência no contexto escolar, que aconteceram no segundo semestre.

15 Todos os nomes citados nesta pesquisa são fictícios a fim de preservar a integridade e o anonimato dos sujeitos.

Dessa forma, frente aos diversos instrumentos utilizados, consistiram fontes de dados para esta pesquisa:

x Respostas dos licenciandos para os questionários;

x Entrevista tipo grupo focal realizada com os licenciandos; x Observação e gravação em vídeo das aulas de regência; x Diário de campo.

O uso de questionários revelou-se um importante instrumento em nossa pesquisa, trazendo informações pertinentes de acordo com os objetivos da investigação. Segundo Gil (1987), a utilização de questionário como técnica de investigação tem por objetivo conhecer as opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc. dos sujeitos. Para o autor, as perguntas situadas no questionário devem traduzir os objetivos da pesquisa.

A pesquisadora elaborou dois questionários que foram aplicados no primeiro dia de aula dos licenciandos. No primeiro questionário tomou-se o cuidado de não citar o termo “Educação de Jovens e Adultos” ou outros termos relacionados, já que a ideia principal era investigar se os licenciandos trariam em seus imaginários considerações relevantes para a atuação nessas classes, e se em algum momento eles citariam em suas respostas algum conhecimento sobre a modalidade.

Essa preocupação se baseia no conceito de “defesa de fachada”, conforme apontado por Gil (1987). Nas palavras do autor (p.130): “quando o respondente acredita estar correndo o risco de ser julgado, reage oferecendo respostas defensivas, estereotipadas ou socialmente desejáveis, encobrindo sua percepção acerca do fato”. Para minimizar este efeito, o autor sugere que se evite a realização de questões que permitam provocar respostas fechadas, ou seja, respostas previamentes fixadas. Também sugere a elaboração de perguntas articuladas, a fim de que se possa verificar a autenticidade de uma resposta a partir de outra. Diante de tais considerações, buscamos evitar que os futuros professores se antecipassem frente ao termo “EJA” e pensassem em elaborar as “respostas que gostaríamos de ouvir”. Dessa forma, optamos pela utilização de questões abertas, aumentando as chances dos licenciandos exporem suas ideias e concepções. Também foi possível estabelecer uma relação entre as respostas dos dois questionários, de modo a verificar a coerência das mesmas.

Já a entrevista tipo grupo focal, realizada com os licenciandos, teve como objetivos investigar aspectos de seus imaginários, após um primeiro contato com as classes de jovens e

adultos, e verificar se suas falas contemplavam considerações específicas em relação à modalidade observada.

Este tipo de entrevista pode ser definido como uma entrevista realizada com um pequeno grupo de pessoas em torno de um tópico específico (PATTON, 2002 apud FLICK, 2009). De acordo com Giovinazzo (2001, p.04):

O uso do Focus Group é particularmente apropriado quando o objetivo é explicar como as pessoas consideram uma experiência, uma ideia ou um evento, visto que a discussão durante as reuniões é efetiva em fornecer informações sobre o que as pessoas pensam ou sentem ou, ainda, sobre a forma como agem.

Almeida (2007), ao assumir uma perspectiva discursiva, afirma que os discursos obtidos em situações de entrevistas nos permitem compreender algumas características do funcionamento das memórias discursivas dos sujeitos. Segundo a autora, a análise dos fragmentos de entrevistas examinados como discursos não buscam uma verdade oculta por detrás das falas, mas visam determinar as condições de produção dos dizeres e os efeitos de sentido produzidos.

Quanto à observação, esta tem sido considerada o principal método na investigação qualitativa, sendo utilizada de maneira exclusiva ou conjugada a outras técnicas (LÜDKE; ANDRÉ, 1986; GIL, 1987). Segundo Flick (2009), o uso desta técnica se justifica porque, diferentemente das entrevistas e narrativas que apenas relatam as práticas, a observação permite que o pesquisador descubra como funciona ou ocorre a prática de fato.

Lüdke e André (1986) afirmam que uma das vantagens da observação direta do objeto de pesquisa é o acompanhamento das experiências dos sujeitos em ambientes que são naturais para eles. Esta aproximação permite que o observador compreenda melhor as perspectivas dos sujeitos, isto é, “o significado que eles atribuem à realidade que os cerca e às suas próprias ações” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 26). Por outro lado, o principal inconveniente apontado à técnica de observação são as possíveis alterações no ambiente ou no comportamento das pessoas observadas, prejudicando a espontaneidade dos mesmos. Contudo, Guba e Lincoln (1981 apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986) argumentam que estas alterações provocadas no ambiente são menos relevantes do que se pensa, uma vez que os ambientes sociais são relativamente estáveis.

Por fim, a utilização de gravações em vídeo também foi uma técnica utilizada nesta pesquisa e teve como objetivo permitir uma melhor análise das interações discursivas entre os licenciandos e os alunos das classes da EJA, verificando em que momentos os futuros

professores demonstraram preocupações específicas ao lecionarem para sujeitos jovens e adultos. Apesar do uso da câmera de vídeo poder inibir os sujeitos participantes da pesquisa ou mesmo deslocar a atenção dos sujeitos para o equipamento, a impressão que a pesquisadora obteve foi que não houve maiores preocupações ou constrangimentos em relação às filmagens.