• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL EM CONTEXTOS EDUCATIVOS INSTITUCIONAIS: A COMPREENSÃO DOS PROFESSORES COM FUNÇÃO DE

3.2 Contexto da família

3.2.2 Integração família/escola

As dificuldades encontradas nas escolas quanto à participação dos familiares na vida escolar da criança, são constatadas em publicações (FEVORINI, 2009), assim como pela preocupação manifestada nas instituições escolares, nas conversas com os professores, nas reuniões escolares ou eventos que discutem o tema em diversos fóruns nacionais e internacionais. Na maioria das escolas, os professores fazem uso das datas comemorativas para ter um contato mais próximo com a família, é o que afirmam CB1/EEB (2016) e CB4/EMB (2016), já que nas atividades de comemoração há uma participação um pouco maior. O ideal seria, de acordo com os coordenadores, que os pais pudessem ir regularmente à escola para acompanhar os processos de ensino e aprendizagem das crianças, pois têm clareza que a falta de atenção e o baixo nível de desempenho podem ter como causa a ausência da família na vida escolar.

Os coordenadores anunciam uma diferença significativa na colaboração das famílias, alegando haver um descaso por parte de alguns pais, em algumas situações, e são unânimes ao afirmar que nas escolas privadas os familiares estão mais presentes e participativos fazendo jus ao direito que lhes é assegurado no Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), que em seu artigo 53, parágrafo único, refere ser “direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais”.

Há pais que participam mais, outros participam menos, sendo essa conduta peculiar a cada um em todas as instituições escolares, uma vez que as famílias são diferentes entre si. No entanto, os coordenadores pedagógicos da rede privada,

tanto brasileira quanto portuguesa, apontam que, em relação às outras redes de ensino, há uma articulação maior com a família em suas escolas que possibilita à criança ter mais amparo em casa, no sentido de acompanhamento escolar, de ensinar e aprender juntos. Comentam, então, que

As escolas particulares acabam por trabalhar de um jeito diferente. O que fazemos aqui não é o mesmo que fazemos em todos os colégios. Do que conheço lá fora é diferente. Então, as escolas particulares acabam por trabalhar muito mais esse lado, tendo mais condição disso do que uma escola pública. (CP4/EPP, 2017).

CB1/EEB (2016), partindo da sua experiência em escolas públicas e privadas, confirma essas diferenças entre as instituições de ensino enfatizando que o comprometimento dos pais nas instituições particulares é muito maior do que nas públicas. Essa afirmação, implícita ou explicitamente, aparece no discurso de todos os coordenadores como pode ser observado nos comentários que seguem.

O comprometimento dos pais na escola particular é muito maior do que os nossos aqui. É outra realidade. Até porque as nossas famílias têm muitos problemas de desestruturação e outras dificuldades (CB1/EEB, 2016). Eu tenho uma experiência com essa escola, mas eu também estou trabalhando numa escola estadual. São públicos diferentes, obviamente, aqui nós temos um público seleto (CB2/EPB, 2016).

É raro a família procurar a escola para saber sobre o desempenho dos filhos. Geralmente somos nós que procuramos. Aqui é muito diferente da escola particular que as famílias vão sem precisar chamar (CB4/EMB, 2016).

Há uma margem de pais que não vêm à escola que nós vemos que há uma certa negligência aí temos que tomar uma providência. Então, não quer dizer que não há problema, todo lugar tem, não é? Até na escola particular. Mas a maioria vem, há uma abertura e é isso que nós valorizamos (CP3/EEP, 2017).

Tais afirmações condizem com os estudos apresentados por Fevorini (2009) que constata que, nas escolas particulares, os pais são mais participativos nas reuniões, eventos pedagógicos e procura pelos professores para saber dos filhos em questões específicas, com maior adesão às normas e exigências da escola. Porém, é importante lembrar que a ausência dos pais de camadas populares, cujos filhos estão na escola pública, por vezes, decorre de uma absoluta falta de condições de irem à escola, sejam pelos horários de trabalho, constrangimentos com a própria condição, autoestima baixa ou outras dificuldades, e, portanto, não convém generalizar tomando como condição que diferencia a escola pública da particular.

Os coordenadores reconhecem que, por trabalharem com sujeitos em formação, está em suas mãos integrar ações que promovam a participação dos pais na vida escolar das crianças visando seu pleno desenvolvimento e melhor qualidade na educação. Reforçam a importância de estabelecer uma parceria produtiva entre essas duas instituições, família e escola, sendo esse trabalho atribuído à função do coordenador pedagógico, como afirma um dos coordenadores: “Eu vejo que isso vem em um crescer, demorou até que hoje, nas escolas, a coordenação pedagógica procura fazer isso. A coordenação e a orientação procuram fazer essa ponte” (CB2/EPB, 2016).

Considerando, então, a ação da família como complementar a escola, para que possam trazê-las a essa parceria, os professores e gestores buscam desenvolver ações que articulem a integração e promovam maior participação da família na vida escolar do aluno. Não se trata de responsabilizá-la, mas, comprometê-la no acompanhamento escolar dos filhos, o que pode se revelar como mais uma das possibilidades de melhoria da qualidade de ensino (FEVORINI e LOMONACO, 2009). Nas instituições brasileiras, como mencionam os coordenadores nesta pesquisa, estão investindo na formação para os pais, e explicam:

Nós fazemos reuniões com os pais, reuniões de formação para os pais; assistimos filmes e fazemos uma reflexão sobre esses filmes; palestras também, eles pedem e vêm. Tem uma boa demanda, mais de 50%, vêm 60% a 70% (CB1/EEB, 2016).

O que fazemos no coletivo são formações, também, com as famílias, com palestras. [...]. Da melhor forma possível o que fazemos é para que essa família saia compreendendo o máximo a função da escola e que participe (CB4/EMB, 2016).

Nas instituições portuguesas desenvolvem ações/projetos que mantêm essa colaboração integrando as famílias aos trabalhos da escola em contexto de sala de aula, esclarecendo:

Nós temos projeto de escola e família em que os pais vêm falar de suas profissões. E é muito interessante porque os filhos adoram ver a figura dos seus pais no contexto da sala de aula a falar das suas profissões. Para eles isso é muito importante e para os pais, também, isso é importante. Estão no contexto de sala, estão no contexto de escola, ver o clima que há na sala de aula, isso é muito importante, portanto, há aqui uma série de fatores muito importantes em termos de ligação escola/família (CP4/EPP, 2017).

O projeto dos pais virem falar sobre sua profissão é muito interessante, enriquece muito o contexto das aprendizagens porque se um pai for médico

vem a falar sobre sistemas, vem falar sobre algo que tem a ver com a disciplina de estudo do meio, se o pai for da informática vem ao encontro desse tipo. Estamos a falar com a excelência do primeiro ciclo em que há tanta transversalidade nas aprendizagens, tanta interdisciplinaridade (CP2/EPP, 2017).

Essa participação na vida escolar dos filhos não só enriquece os processos de aprendizagem, como influencia, também, no comportamento das crianças. De acordo com os coordenadores, estas são mais tranquilas, participativas e demonstram melhor relacionamento com os colegas e professores, assim como, no rendimento escolar. “Com as crianças que têm os pais presentes a aprendizagem flui de uma forma mais tranquila” (CB4/EMB, 2016).

Mesmo as crianças que apresentam dificuldades escolares conseguem ter melhor desempenho. Além disso, observa-se um bom relacionamento com os colegas e professores. Ainda que apareçam alguns atritos, estes são trabalhados com mais tranquilidade. Constata-se, novamente, que o indivíduo emocionalmente motivado modifica sua relação com o outro e com seu o processo de aprendizagem.

Percebe-se, assim, que as escolas em questão, sejam brasileiras ou portuguesas, propõem-se a desenvolver diferentes atividades em âmbito institucional para integrar as famílias nos trabalhos da escola, reconhecendo que a participação dos pais no universo escolar dos filhos influencia, significativamente, o processo de aprendizagem e a prática pedagógica. Contudo, observa-se que não são os problemas familiares que interferem na aprendizagem, mas a forma como os pais, responsáveis ou encarregados da educação34 se comprometem e participam da vida escolar da criança. “Como eles se posicionam perante a criança e a escola é que faz a diferença”, salienta CB4/EMB (2016). Essa afirmação é apoiada por Bergamashi (2012), gerente de projetos do movimento Todos Pela Educação, que enfatiza: “o que faz os jovens valorizarem ou não o estudo é a maneira como os pais encaram a escola”.

Escola e Família resgatando valores tem sido o mote trabalhado desde 2007 pelos professores da EEB que vêm privilegiando a responsabilidade, solidariedade, honestidade e respeito, aspectos que compõem o conjunto de habilidades

34

Expressão utilizada em Portugal para se referir às pessoas responsáveis pela educação e cuidado da criança, além dos pais.

socioemocionais. De acordo com a coordenadora “isso é um ponto muito forte, inclusive está no nosso PPP35 há quatro anos”, e dada à importância em manter a parceria entre os pais e a escola, acrescenta, “esse ano nossa preocupação está sendo melhorar e ampliar a integração das famílias na escola” (CB1/EEB, 2016).

Fortalecer os vínculos familiares, os laços de solidariedade humana e tolerância recíproca em que se convenciona a vida social, corresponde a um dos objetivos da educação escolar que tem por finalidade a formação básica do cidadão, assim como preconiza a LDBEN (1996, art. 32, inciso IV). Reconduzir uma escola pautada nos valores humanos tem sido a meta dos educadores que entendem ser necessário congregar esforços para essa ação e, desse modo, a participação da família se revela de fundamental importância sendo, para além do que propõe a LDBEN/96, uma questão estimada pelos professores.