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Mapa 6 Identificação dos equipamentos culturais na região Centro-Oeste da cidade de São Paulo

4.4 DEMANDAS JUVENIS: REVERBERAÇÕES E RESSIGNIFICAÇÃO DOS CONTEXTOS

4.4.3 Intensos cenários em palcos diversificados

29 Aulas livres, feira de livro usado, brechó e encontros de leitura coletiva.

30 Grupo de Teatro “A Cia. Perifa XXIII”. Grupo de jovens secundaristas que organizam estudos e

experimentações artísticas com os jovens da comunidade.

31 O expressivo apoio às ocupações ficou evidente no programa “Doe uma aula”. Por meio de um formulário

online, era possível oferecer aulas e oficinas para diversas escolas ocupadas, tendo sido totalizadas 2.500 propostas

Os debates recentes sobre a participação juvenil no Brasil são bastante diversificados. Múltiplas concepções contêm abordagens diferenciadas quando se trata de participação das juventudes. Os atores juvenis participam de diferentes modos no que se refere às mobilizações e manifestações coletivas no decorrer na história da participação juvenil no território brasileiro. Reconhece-se, por outro lado, que a juventude no contexto social contemporâneo brasileiro é marcada por profundas mudanças em diferentes esferas da vida que estão diretamente vinculadas aos impactos dos processos sociais em curso.

Nesse sentido, o meio social dos agrupamentos juvenis de periferia, por vezes, torna-se limitado pelas dificuldades fronteiriças e de acesso aos bens públicos de qualidade. Observou- se nesses territórios marginalizados que os corpos juvenis se constituem frente às realidades de pobreza, exclusão e marginalidade que, demarcam seus percursos de vida.

Ao contrário do que usualmente se supõe, a pesquisa revelou que os jovens conseguem construir diferentes alternativas para a ressignificação do espaço urbano, apesar de suas realidades precárias. Essas vivências extraescolares apresentam uma influência positiva na constituição da condição juvenil. Na mesma direção, Abramo (2005, p. 27) considera que os grupos juvenis, principalmente de setores populares, se fazem ver e ouvir por meio de suas atuações em espaços de lazer, cultura e esporte na comunidade local ou em grupos estudantis. Desse modo, é possível pensar a juventude estudantil das camadas populares na esfera pública como construtores ativos (DAYRELL, 2001) atrelada aos circuitos juvenis (MAGNANI, 2005), aos processos de sociabilidade e à participação em eventos na cidade. Além disso, a interação com jovens de outros grupos e regiões garante meios de potencializar visibilidade para fora do meio em que se vivem.

É manifesto que, para esses jovens, o lugar em que se vive não aparece apenas como espaço funcional de residência ou de socialização, mas principalmente como espaço de interações afetivas e simbólicas, carregado de sentidos. Pode-se ver isso no sentido que atribuem à rua, às praças, que, muitas vezes, aparecem como palco para a expressão da cultura que elaboram, numa reinvenção do espaço (DAYRELL, 2002, p. 24).

Os diálogos ocorridos nos circuitos sociais dos jovens durante as deambulações etnográficas evidenciaram a importância dos equipamentos urbanos e os modos de apropriação do espaço na visão dos jovens em seus agrupamentos culturais. Além disso, angariou-se à experiência urbana, viabilizada pela circulação e usufruto do espaço público, novas

representações e sentidos que os jovens atribuem aos lugares vividos, por vezes, concebidos e apropriados diante das mobilizações pelos espaços públicos na cidade de São Paulo.

Figura 23 - Engajamentos em projetos sociais

Fonte: Elaboração própria, baseada no questionário respondido pelos então estudantes das 36 escolas da zona oeste da cidade de São Paulo (2018).

Ficou evidente, ainda, que os circuitos juvenis, ligados às mobilizações e circulações pelo espaço urbano, apropriando-se dos equipamentos culturais e suas intensas experimentações urbanas na periferia da cidade de São Paulo, são compostos pelas diversidades socioculturais, pelas dimensões espaciais e temporais atreladas às múltiplas relações que os jovens sujeitos estabelecem no e com o espaço urbano.

Essa combinação imprescindível entre a participação social dos jovens e as organizações das microculturas juvenis na mobilização das demandas são também uma forma de resistência. Afinal, se organizam, apropriando-se e ressignificando diversos meios, entre eles os espaços públicos da educação para além dos muros das escolas.

É oportuno evidenciar as importantesabordagens de Magnani (2005):

Em vez da ênfase na condição de ‘jovens’, que supostamente remete à diversidade de manifestações a um denominador comum, a ideia é privilegiar sua inserção na paisagem urbana por meio da etnografia dos espaços por onde circulam, onde estão seus pontos de encontro e ocasiões de conflito, e os parceiros com quem estabelecem relações de troca (MAGNANI, 2005, p. 177).

É valioso destacar nesta discussão a coexistência de realidades paradoxais nos espaços urbanos, em lugares cada vez mais imbricados de possibilidades e significados atribuídos pelos jovens estudantes, evidenciando situações com desafios e demandas sociais que clamam por soluções.

Em sua grande maioria, os respondentes afirmaram que gostam de estudar em suas escolas. Atrelam ao espaço escolar um lugar de produção de saberes necessários para a constituição de si, exercícios e práticas que permeiam a formação política, nos grêmios, visando futuros engajamentos em atividades políticas. Além disso, buscam aprofundar seus conhecimentos em Direitos Humanos, participação política e cidadania. Entretanto, instigados a manifestar suas percepções acerca do significado e importância de diferentes esferas de atividade e sociabilidade, os jovens entrevistados reivindicam uma participação social e política na sociedade de modo mais efetivo.

Em razão das diferenciadas experimentações juvenis nos modos de organização e representações, os “Secundaristas em Luta de São Paulo”, especialmente da região Centro- Oeste da cidade, ainda expressam a necessidade de reconhecimento de condições específicas da categoria em suas múltiplas realidades, espaços de diálogo e participação nos processos de engajamento social e decisórios na busca por um espaço público da educação.

Assim, apesar da ampla mobilização e articulação dos “Secundaristas em Luta de São Paulo”, ainda são perceptíveis as necessidades de alternativas para a produção dos saberes, espaços diferenciados de discussões e debates acerca de temáticas atreladas às suas demandas.

Percebeu-se, então, um novo panorama, novas perspectivas que possibilitam visibilidades e interações e, consequentemente, novos olhares para as esferas participativas das juventudes. Finalmente, vislumbrou-se, através dos discursos, uma repulsa aos moldes determinantes das práticas da política tradicional, questionada pelo intenso movimento de engajamentos sociopolítico dos jovens.

A ocupação de outros espaços fora do bairro, como revelaram os participantes, significa uma ampliação do horizonte social dos jovens que acaba por integrá-los à cidade. Essas incursões parecem fortalecer a identidade pessoal e social. Eles podem, assim, conquistar a autoestima, a autoconfiança, neutralizar as imagens estigmatizantes com respeito a eles próprios e a seu bairro, apoiado nas iniciativas culturais (ESPINHEIRA, 2003; ROULLEAU-BERGER, 1993; SPOSITO, 2000).

Com relação aos dados produzidos na pesquisa de campo, verificou-se que, em termos globais, a palavra “política”, no contexto das representações juvenis extrapola o conceito instituído pela “política tradicional”.

Os jovens que participaram desta pesquisa demonstraram uma consciência crítica com relação aos mecanismos institucionalizados da vida política nas sociedades democráticas. A atual estrutura de representação política, questionada pelos estudantes, vem sendo apontada como incapaz de responder às demandas concretas dos estudantes de escolas públicas.

No que se refere à participação dos jovens, constatou-se que os estudantes se agrupam em ações coletivas, visando a reconstrução de seus percursos de vida atrelados ao exercício de ação polícia como protagonistas na esfera pública. Esse dado parece apontar para o fato de que estudantes apresentam um elevado nível de reflexão na percepção, reconhecimento e grau de pertencimento nas discussões e decisões que os incluem.

Atendendo às concepções e reverberações estudantis dos jovens das camadas populares, verificou-se que o conceito de democracia adquire diferentes nuances de acordo com o tempo e a sociedade em que ocorre, conservando como aspecto fundamental a igualdade entre aqueles que fazem parte das referidas esferas participativas das juventudes contemporâneas.