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2.4   A tutoria na EaD 60

2.4.4   Interação e Diálogo na EaD 67

O diálogo aparece como aspecto fundamental em todo o processo educativo, como já discutimos brevemente na Seção 2.2.3. Mas na educação a distância, ele deve ser analisado de forma especial, devido às limitações de contato presencial.

Conforme cita Moore:

O termo diálogo é empregado para descrever uma interação ou uma série de interações tendo qualidades positivas que outras interações podem não ter [...]. Cada participante de um diálogo é um ouvinte respeitoso e ativo; cada um contribui e se baseia na contribuição de outro(s) participante(s) [...] (MOORE, 1993 apud MOORE & KEARSLEY, 2008, p. 241).

Vemos assim que o diálogo pressupõem uma postura ativa dos seus participantes. Logo, como o próprio Moore cita, diálogo não é o mesmo que interação, mas as interações são necessárias para se estabelecer um diálogo.

Dada a importância das interações ou da interatividade para que os membros de um curso a distância possam estabelecer um diálogo, vamos, então, discutir sobre tais assuntos.

Para Lévy (1999, p.79), “o termo “interatividade” em geral ressalta a participação ativa do beneficiário de uma transação de informação”. Porém, ele destaca que “um receptor de informação, a menos que esteja morto, nunca é passivo”. Logo, mesmo quando estamos

sentados à frente de uma televisão estamos decodificando, interpretando, mobilizando nosso sistema nervoso de várias formas. Mas, por outro lado, é claro que uma pessoa conversando ao telefone ou jogando um vídeo game terá um nível de interatividade muito maior. Ou seja, a questão não é identificar se há ou não interatividade e sim em se definir o seu grau.

E esse grau é, para Lévy (1999), função de alguns eixos, dos quais destaca: as possibilidades de apropriação e de personalização da mensagem; a reciprocidade da comunicação (“um-um”, “um-todos”, “todos-todos”); a virtualidade da informação (cálculo da mensagem em tempo real em função do modelo e dados de entrada); a implicação da imagem dos participantes nas mensagens e a telepresença.

Mattar (2009) elenca alguns autores e os significados atribuídos por eles para os termos “interatividade” e “interação”. Basicamente, há o grupo dos que tratam os dois termos de forma indiscriminada, sem diferenciar seus significados, e outro grupo que trás definições precisas e distintas para cada conceito. Por exemplo, alguns consideram a interação associada às pessoas enquanto a interatividade seria a relação do ser humano com as máquinas.

Nesse mesmo trabalho, Mattar (2009) ilustra alguns autores que também relacionam níveis de interatividade, mas para o caso específico da EaD. Por exemplo, o trabalho de Sims, que fez uma revisão das teorias sobre os níveis de interatividade, que vão desde níveis mais reativos (em que o aluno possui pouco controle sobre o conteúdo e a estrutura do curso) até níveis mais proativos (em que o aluno tem maior controle). O de Francis Kretz, que apresenta a gradação: grau zero (livros, rádio, televisão, que permitem apenas acesso), linear (mídias que permitem avanço ou retrocesso, menus), linguística (acesso por palavras-chave, formulários etc.), criação (permite que o usuário componha mensagens) e comando contínuo (o usuário pode modificar os objetos). Assim como outros: De Holz-Bonneau, Silva e Primo.

No presente trabalho, consideraremos interatividade e interação como sinônimos e denotando qualquer relação seja entre pessoas, seja entre pessoas e máquinas. Concordamos com Lévy que em qualquer relação sempre existe alguma interatividade e a questão é então o grau em que ela se apresenta. Na EaD queremos que esse grau seja maximizado, gerando um efetivo diálogo e visando diminuir a distância transacional e, assim, permitir que o aluno, mesmo distante física e temporalmente, esteja “próximo” da instituição, dos seus colegas, professores e tutores e se sinta pertencente a ela.

Tipos de interação

Um ponto crucial para se pensar na interação é definir os tipos existentes. Moore (1989) cita as três relações principais na EaD: aluno/professor, aluno/aluno, aluno/conteúdo.

Várias discussões surgiram com base neste artigo e novas interações foram identificadas. Citaremos aqui um resumo delas, oriundo do trabalho de Mattar (2009)10.

Aluno x Tutor

A interação com o tutor, de forma síncrona ou assíncrona, é uma das relações mais importantes na EaD e fornece motivação aos alunos, auxiliando seu aprendizado.

O tutor atua como mediador da Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky, auxiliando os alunos, por meio dessa interação, para que esses possam aprender conceitos que estavam com dificuldade de desenvolver sozinhos. Destacamos aqui a necessidade de

feedback rápido, preciso e que realmente tenha informações que auxiliem os alunos a

construírem seus conhecimentos, ao invés de respostas diretas que não levem os alunos a situações de desequilíbrio e tomada de consciência. Em outras palavras, dessa interação deve- se chegar a um efetivo diálogo entre aluno e tutor.

Aluno x Conteúdo

Com o apoio de tecnologias, é possível desenvolver conteúdos de diversas formas: som, texto, imagens, vídeo, realidade virtual etc. O aluno pode interagir com eles de várias maneiras: navegando, explorando, selecionado, personalizando, construindo, respondendo etc.

O professor deve, então, estar atento para criar conteúdos o máximo flexíveis, que possam, assim, permitir um nível maior de interação. Partindo de uma perspectiva construtivista, o conteúdo deve permitir a construção e não ser apenas expositivo. Além disso, deve favorecer à pergunta, à dúvida e possibilitarem ao aluno uma postura crítica e não passiva, perante sua presença.

Aluno x Aluno

Assim como ocorre na relação dos alunos com os tutores, a relação entre os próprios alunos, seja ela presencial ou não, gera motivação e diminui a sensação de isolamento da educação a distância. Essa interação, também, desenvolve o senso crítico, a capacidade de trabalhar em equipe e cria a sensação de pertencimento a uma comunidade.

É importante destacar que essa relação coloca os próprios alunos como possíveis mediadores do processo de aprendizagem, atuando também na Zona de Desenvolvimento Proximal. Além disso, favorece ao aprendizado colaborativo e cooperativo.

Tutor x Tutor

10 No trabalho de Mattar (2009) não é feita distinção entre o papel do professor e do tutor. Assim, ele usa sempre

o termo “professor”. Porém, como essa distinção é importante para o presente trabalho, utilizaremos as duas nomenclaturas nos locais adequados.

As tecnologias são úteis não apenas para as comunicações que envolvem os alunos, mas para interações entre outros membros da equipe de EaD, tais como entre os próprios tutores. Eles encontram nos colegas fontes de assistência e insights pedagógicos, constituindo comunidades físicas e virtuais. Assim, os tutores, também, são mediadores, na ZDP, de seus colegas tutores em seu processo de aprendizado a respeito das suas funções, dos conteúdos abordados ou referentes à metodologia do curso e específicas da modalidade a distância. Tutor x Conteúdo

Apesar de ser o professor o responsável pela elaboração do material instrucional na EaD, o tutor também deve interagir com tal material. Ele deve conhecer o que os alunos estarão estudando, pode fazer sugestões ao professor com base na sua experiência ou em decorrência do contato com os alunos, pode sugerir fontes de consulta adicionais, propor atividades, sugerir a adição de recursos, a modificação do currículo entre outros.

Conteúdo x Conteúdo

Esse modelo de interação sugerido por Anderson (2003 apud MATTAR, 2009) se refere a programas semiautônomos, proativos e adaptativos, que utilizam recursos de inteligência artificial. Eles podem recuperar informações, operar outros programas, tomar decisões e monitorar recursos na rede, como os recursos de feeds e RSS, bastante utilizados hoje em dia.

Aluno x Interface

Na EaD, maior parte da comunicação dos alunos, seja com os tutores, colegas ou material didático, se dá pela tecnologia. Dessa forma, a interação aluno/interface diz respeito às interações que ocorrem entre o aluno e a tecnologia para permitir tal comunicação.

É importante destacar que a tecnologia gera, também, a necessidade de um aprendizado. Dessa forma, os cursos devem preparar os alunos o seu uso. Os referenciais de qualidade de EaD do MEC/SEED (2007), por exemplo, sugerem que seja criado um módulo introdutório antes de iniciar as disciplinas de qualquer curso, justamente para atender a esta questão.

Outro ponto é que aprender tecnologia é algo altamente valorizado no mercado. Dessa forma, esse aprendizado que a EaD proporciona é, também, uma forma de inclusão digital. Outras interações

Citamos aqui apenas alguns tipos de interações existentes na EaD. Vários outros podem ser identificados, como: a interação do aluno consigo próprio, o que Mattar (2009) chama de “autointeração”, o que está relacionado a reflexões sobre o conteúdo e seu próprio

processo de aprendizado; a “interação vicária”, que se trata de uma interação passiva, onde o aluno observa os debates sem deles participar; as interações de imersão em mundos virtuais, por meio de avatares, como acontece no Second Life; a interação entre alunos e demais membros da instituição, assim como desses membros com todos os outros.

Outros tipos de interação particulares da PIE e que envolvem mais diretamente a tutoria serão citados posteriormente, no Capítulo 4.

Da interação ao diálogo

Se estabelecer mecanismos de interação é fundamental para o diálogo, por outro lado não é suficiente. Vários aspectos estão envolvidos, como a filosofia educacional dos indivíduos envolvidos, do grupo que elaborou o curso, da instituição entre outros. Moore e Kearsley (2008) citam, ainda, os fatores ambientais. Por exemplo, pessoas que utilizam uma língua estrangeira costumam interagir menos com os tutores e colegas.

Outro fator fundamental para o sucesso do diálogo é, obviamente, ter meios de comunicação que o facilitem, de preferência pela utilização de recursos variados. Ainda assim, alguns alunos podem, por exemplo, residir em áreas muito remotas e não ter acesso a esses recursos (como computador e Internet de alta velocidade) regularmente.

Mas se uma instituição se empenha em fornecer os meios e os recursos adequados de comunicação e em estabelecer as formas de interação, um passo muito importante terá sido dado. A partir daí, é buscar envolver essas pessoas e conscientiza-las da importância do diálogo para o aprendizado do aluno e para o desenvolvimento pessoal dos que atuam na EaD, como é o caso particular dos tutores. Obviamente, isso não é algo trivial. Nas palavras do grande educador Paulo Freire,

Se a educação é dialógica, é óbvio que o papel do professor, em qualquer situação, é importante. Na medida em que ele dialoga com os educandos, deve chamar a atenção destes para um ou outro ponto menos claro, mais ingênuo, problematizando- os sempre (FREIRE, 1983, p.35).

O processo de avaliação pode, também, ser um mecanismo que favoreça ao diálogo, uma vez que pode fornecer subsídios, por meio de seus feedbacks, para que falhas na comunicação sejam detectadas, alertadas e corrigidas.

Por outro lado, é sabido que alguns alunos necessitarão menos desse diálogo, por serem suficientemente autônomos, nosso próximo tópico de discussão.