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2.1   Educação em uma escola reflexiva e participativa 29

2.1.3   Por uma escola participativa 37

Construir uma escola reflexiva não é tarefa fácil, não apenas pelas suas dificuldades intrínsecas, mas também pelas resistências que podem existir no grupo. Como cita Dalmás (2010), se de um lado se tem, com frequência, um grupo criativo e participativo, encontra-se de outro, pessoas ‘mornas’, nem a favor e nem contra. Há, ainda, as arraigadas em suas mentalidades centralizadoras e individualistas, fazendo constante resistência e o grupo dos que encaram a educação apenas como “bico”, que vendem seu trabalho em troca de salário, não considerando ser da sua responsabilidade a reflexão sobre sua ação e a busca de melhorias. Na EaD, como, por exemplo, nos programas atuais financiados pelo governo, isso se intensifica quando pensamos no baixo valor das bolsas de tutoria e na falta de vínculo da maioria dos tutores com a instituição.

Assim, Alarcão (2008) destaca que, para se construir uma escola reflexiva, essa tem de ser organizada de modo a criar condições de reflexividade individuais e coletivas. O professor não pode ser um sujeito isolado na sua escola, mas tem de construir, com seus colegas, a profissionalidade docente. Segundo ela, a supervisão pedagógica tem o papel de auxiliar e proporcionar essa autoconstrução. Visa o desenvolvimento profissional dos professores, no nosso caso dos tutores, na sua dimensão de conhecimento e de ação, desde uma situação pré- profissional até o acompanhamento no exercício da profissão e sua inserção na escola.

O supervisor pode ajudar a construir o conhecimento pedagógico “[...] pela sua presença e atuação, pelo diálogo propiciador da compreensão dos fenômenos educativos e das potencialidades dos professores, pela monitoração avaliativa de situações de desempenhos” (ALARCÃO, 2008, p. 66).

Apesar de não adotarmos aqui o termo supervisão, o papel descrito tem relação direta com a coordenação de tutoria, ao tratarmos do tutor reflexivo. Como já citado, tal função é exercita pela presente pesquisadora no curso analisado nesse projeto. A coordenadora de tutoria seria, então, essa facilitadora do processo de construção da identidade do tutor reflexivo. E a avaliação da tutoria pretende ser um caminho para se chegar a tal objetivo.

Não podemos esquecer, porém, que a coordenadora de tutoria é parte da equipe de coordenação e, dessa forma, tem função de gestão e liderança no grupo, que como cita Lück (2010, p. 17), “[...] se constitui na capacidade de influenciar positivamente pessoas, para que, em conjunto, aprendam, construam conhecimento, desenvolvam competências, realizem projetos, promovam melhoria em alguma condição [...]”.

Lück (2010) traz algumas dimensões de liderança que podem existir em uma instituição: transformacional (visão transformadora de processos sociais e da organização como um todo), transacional (focaliza as interações entre as pessoas como forma de realização dos objetivos), liderança compartilhada (no contexto da gestão democrática, em que a tomada de decisões é compartilhada pelos participantes da comunidade escolar), coliderança (exercida pelos profissionais da equipe de gestão da escola), liderança educativa (centrada na formação de organizações de aprendizagem) e liderança integradora (o trabalho educacional se realiza numa teia dinâmica de eventos inter-relacionados).

Para Dalmás (2010, p.28) a liderança deve ser exercida de forma participativa, onde todos têm sua palavra a dizer: “Será eficaz na medida em que for comunitário e criativo, aproveitando o conhecimento e o discernimento do grupo, bem como as soluções que o mesmo apresenta”. Sua visão, porém, é mais radical, pois considera que todas as decisões e o rumo da escola devem ser decididos em conjunto pela comunidade escolar.

Na PIE, estudo de caso desse trabalho, a equipe de coordenação atua em uma dimensão de coliderança e, parcialmente, com uma liderança compartilhada e participativa. As decisões são tomadas em conjunto pela equipe de coordenação, cuja coliderança permite, como bem cita Lück (2010), que os espaços vazios deixados por uma pessoa sejam legitimamente ocupados por outra a partir do princípio de gestão compartilhada e responsabilidade conjunta.

Porém, quando tratamos dos outros membros da equipe (professores, tutores etc.) e dos alunos, a abertura para participação, no sentido de escutá-los e compreender seus problemas e necessidades, se dá continuamente, mas para a tomada de decisões, ocorre apenas em alguns momentos. Em outros, as decisões são tomadas pela equipe de coordenação, especialmente quando há pontos de vista diferentes, conflitos de interesse ou quando as perspectivas vão de encontro aos objetivos do curso e da instituição. Concordamos com Lück: A liderança, portanto, não nega a necessidade de controle, uma vez que se reconhece que, na medida certa e sob a forma adequada, deve ser exercido, de preferência mediante a realização de autocontrole. Porém, a liderança se situa para além dele, garantindo que o mesmo seja exercido de forma aberta, sem diminuir o potencial criativo e participativo de todos que participam do processo educacional (LÜCK, 2010, p. 62).

E ela complementa: “Vale dizer que é possível haver liderança com controle quando os envolvidos na ação são também envolvidos na análise de desempenho e decisões a respeito dele, dessa forma, tornando-se capazes de manter o autocontrole” (LÜCK, 2010, p. 61).

Nesse projeto temos sempre em vista envolver equipe e alunos nas avaliações de tutoria, professor e disciplina, buscando, assim, a participação na melhoria e na tomada de decisões. Mas temos em vista, também, como desafio, que essa liderança possa se tornar uma “liderança educativa”, orientada não apenas para promover a aprendizagem dos profissionais, como, também, para acompanhar de perto o próprio processo de aprendizagem dos alunos, que se constitui no objetivo de todas as ações da escola. Como cita Lück (2010, p. 53): “[...] neste espaço ocorre o foco mais importante da ação dos gestores escolares, demandando, por conseguinte, deles a presença, a observação, o acompanhamento e o feedback aos processos pedagógicos que aí ocorrem”. Esperamos, com esse trabalho, dar um passo nessa direção.