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CAPÍTULO 2 – PERSONALIZAÇÃO DA POLÍTICA

3.1 O Twitter como ferramenta de comunicação política

3.1.2 Interação entre sociedade e campo político através do Twitter

A internet, com o potencial de contribuir para a troca de informações, bem como a abordagem de questões sociais, institucionais e pessoais, principalmente através de ferramentas como fóruns online e redes sociais. Essa nova configuração tem colaborado para o aumento do processo democrático e do civismo, agentes políticos e instituições têm adentrado nesses ambientes e construindo novos relacionamentos com a sociedade via computador.

Raquel Recuero (2009) lista quatro valores que podem ser construídos pelas redes sociais: a visibilidade; a reputação; a popularidade e; a autoridade. Tais valores estão, segundo a autora, diretamente conectados com o campo de interseção da política e da comunicação, bem como os aspirações dos atores políticos.

Através de mídias sociais digitais, como o Twitter, os usuários tem o potencial de acompanhar diariamente a atuação dos parlamentares, dialogando diretamente com eles – sem o intermédio de partidos ou de meios de comunicação – e expressando suas opiniões. A partir dessa aproximação entre a rotina do representante eleito com a sociedade através dos media digitais, tem o potencial de criar uma nova relação que vão além das eleições e beneficiar também a prestação de contas (accountability), que pode acontecer nas formas horizontal ou

vertical (CORTEZ, 2012). O’Donnell (1998, p. 64) define accountability vertical como uma ação entre desiguais, quando, mesmo ambos sendo usuários iguais perante o Twitter, mas o representante assume uma posição superior ao cidadão comum. Da mesma forma, ambos podem conversar como semelhantes e até mesmo debater assuntos que vão além da esfera política, configurando um accountability horizontal. Pode-se afirmar que a internet trouxe ao cidadão a maior possibilidade de colaboração.

Para agentes políticos, perfis pessoais são um canal mais direto de comunicação com os cidadãos do que perfis institucionais, pois pri- vilegiam a pessoa em detrimento da instituição. São também meios alternativos à imprensa, pelos quais os agentes podem comentar as notícias e apresentar sua visão dos fatos. Embora a utilização de mídias sociais por políticos não seja, em si mesma, uma iniciativa de e-democracia, é possível que os resultados dessa apropriação sejam positivos no sentido de aumentar as formas de accountability dos agentes políticos e possibilitar a participação e a influência dos cida- dãos através da interação (ROSSINI e LEAL, 2012, p 105).

O Twitter, com seu funcionamento de textos breves e dinâmicos, intensifica o clima de emissão de opinião entre os usuários. Diferente de um discurso político, a informação instantânea feita por frases curtas deve ser clara para que a mensagem e a intenção de quem escreve sejam efetivas e consigam uma boa disseminação na Rede.

Os autores Parlamee e Bichard (2012) vão listar que se destacam na vida política daqueles que seguem líderes ou atores políticos:

1. Trata-se de um modo de adquirir informação política de maneira rápida e sem filtros, comparado a meios como jornais, rádio e revistas;

2. Contempla o desejo dos usuários que desejam fazer parte do processo político e não só como receptores de informação política;

3. E é uma ferramenta de negócio para quem trabalha com política ou faz a cobertura de notícias políticas.

Ainda que existam diferentes maneiras de apropriação dessas ferramentas – por conta de diversos fatores que vão desde a familiaridade com a plataforma, até à própria disposição do político em se dispor a adentrar esse meio – o trabalho aqui desenvolvido busca verificar como essa interação entre político e sociedade civil está sendo estabelecida através do Twitter por meio de uma comunicação mais personalizada.

Em menos de duas décadas, a internet tem, sem dúvida, se tornado uma das ferramentas mais ativas da comunicação política moderna. Graças ao seu baixo custo de

acesso e seu maior progresso técnico, foi multiplicando as fontes de informação disponíveis e aumentando, assim, a necessidade dos políticos de estarem cientes do que está acontecendo neste meio e de estarem presentes.

A popularidade do Twitter como uma rede de conexões levanta a questão de se os políticos acham que o microblog é uma plataforma interessante para a comunicação política. Alternativamente, eles podem ver o Twitter como um canal de comunicação estratégica, uma maneira de atingir o público-chave de forma eficiente e eficaz. Mas estas não são questões novas, a adoção de ferramentas online e aplicações posteriores é um processo mais complexo, com uma série de motivos. Enquanto alguns políticos iniciaram pela adoção e-newsletters (JACKSON, 2006), weblogs (FRANCOLI e WARD, 2008) e sites de redes sociais (JACKSON e LILLEKER, 2009), outros têm um propósito estratégico e estão usando essas tecnologias para melhorar a sua capacidade para desempenhar o seu papel representativo. Alguns deputados pioneiros podem estar usando essas ferramentas online para criar um modelo discreto de e-representação; uma forma de representação que é inteiramente baseada em linha e é um complemento para o modelo interpessoal mais tradicional entre deputados e seus constituintes (JACKSON, 2008).

Sobre a utilização da internet como meio de interação, Jackson e Lilleker (2004) vão afirmar que, quando um deputado está comunicando um projeto (se aplicável) ou uma mensagem do partido, eles estão agindo principalmente como porta-vozes e isso só vão usar uma forma de comunicação top-down. Enquanto eles querem o apoio dos eleitores, estão mais interessados em se mostrar como competente ou que merece adesão e, portanto, não encorajam o feedback. Quando eles estão representando seu círculo eleitoral, eles só estão interessados em comunicar o que seus eleitores sentem sobre uma determinada questão, em vez de se engajar em um diálogo com o público. No entanto, quando eles estão expressando opiniões pessoais ou aspectos do seu cotidiano como parlamentar, eles vão usar as comunicações bidirecionais, encorajando o feedback. Isto é em parte porque querem maximizar o apoio pessoal, mas também é o seu trabalho para representar seus eleitores e, para fazer isso de forma eficaz, requer diálogo (JACKSON e LILLEKER, 2004).

O Twitter foi criado para promover uma atualização das atividades diárias das pessoas para aproximá-los dentro de redes de interesse (STEVENS, 2008). De longe, o uso mais popular do Twitter é para a autopromoção. Um estudo de 300.000 usuários do Twitter por Heal e Piskorski (2009) observa que 90 por cento das mensagens são uma maneira, broadcast comunicação “um para muitos”, em vez de nos dois sentidos, a interação de “muitos para

muitos”. Portanto, a maioria dos usuários segue a noção de autopromoção, falando sobre si, um comportamento que pode se encaixar bem com as normas de comunicação política e também oferece a possibilidade para os agentes políticos de construção de redes de comunicação.

Assim, enquanto argumenta-se que o Twitter pode ter um impacto negativo sobre a imagem por conta do risco de receber críticas dos usuários, ele também pode ser encarado com uma visão estratégica para promover papel do deputado e matendo ele na cena pública para uma possível reeleição.

Da mesma forma, estar presente nessas redes pode fazer o deputado parecer ser mais acessível, especialmente aqueles que não aparecem em noticiários com frequência, mas também aqueles que respondem a outros usuários através do Twitter. Enquanto na fase de início de utilização, pode haver algumas vantagens eleitorais, mas, em longo prazo, pode haver benefícios democráticos se os deputados e o público começam a ouvir uns aos outros, correspondem, e assim adaptar a plataforma de microblog para incorporar uma plataforma mais participativa de engajamento.

No Brasil, em pesquisa realizada em 2013 (época dos tweets analisados), a Medialogue15 contabilizou os seguintes números sobre o uso parlamentar do Twitter na Câmara dos Deputados: a ferramenta está entre os canais mais utilizados por 84% dos deputados federais16; 51% deles respondem a questionamentos; 45% dialogam com o eleitor; 55% não utilizam linguagem informal. A pesquisa mostra que alguns parlamentares já possuem tantos fãs nas redes sociais quanto eleitores. Outro dado sobre o assunto ajuda a estimar o interesse dos internautas pela política: mais de 10% dos frequentadores das redes sociais acompanham um deputado federal ou um senador pelo Twitter ou Facebook. Juntos, congressistas têm 5 milhões de seguidores no Twitter, incluindo deputados e senadores.

Boa parte dos trabalhos desenvolvidos sobre essa temática abrange, especialmente, a utilização do Twitter em campanhas políticas majoritárias. Esses trabalhos analisam os padrões de uso por parte do candidato e dimensionar as estratégias de comunicação utilizadas e a interação entre candidatos e eleitores (AGGIO, 2011, 2013; DRUCKMAN et al., 2009; CERVI e MASSUCHIN, 2011; GIBSON e MCALLISTER, 2011; MARQUES et al., 2011; ROSSETTO et al., 2012; MARQUES et al., 2013).

15 Medialogue Digital. Disponpivel em: http://medialogue.com.br/. Acesso em 23 de setembro de 2014

16 Segundo esses dados, o Twitter é o campeão na preferência dos deputados federais, à frente do Facebook (69%) e do Youtube (63%). 432 são considerados ativos no Twitter, sendo que 62% publicaram mais de 10 tuítes nos 30 dias anteriores à pesquisa.

Porém, as campanhas eleitorais compreendem apenas um período da atuação política desses agentes políticos. A utilização da plataforma em períodos fora das eleições demanda uma atenção específica. A preocupação torna-se perceber como os políticos que optam por investir nessa ferramenta de comunicação com os cidadãos ao longo do período de mandato.

As campanhas eleitorais constituem períodos de breve duração e direcionados a um objetivo de curto prazo. Por isso, a comunicação regular entre eleitos e cidadãos (aquela que abrange os mandatos) demanda uma atenção específica por parte dos estudiosos. Observam- se, inclusive, oportunidades em que há um progressivo abandono dessas redes de comunicação digital uma vez que o candidato é eleito (MARQUES et al., 2014, p. 182).

Tendo em vista que alguns políticos ainda se utilizam desses recursos durante o cumprimento do mandato, a preocupação recai sobre as motivações que levam esses representantes em adotar tais mecanismos de comunicação digital para manter contato com o cidadão ao longo do cargo para o qual o político foi eleito.