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CAPÍTULO 2 – PERSONALIZAÇÃO DA POLÍTICA

3.2 Personalização da política e Twitter

Personalização pode ocorrer especialmente nos media digitais: os atributos específicos usados nessas plataformas “são projetados para facilitar uma ligação direta entre o emissor (político) e o receptor (cidadão), e vice-versa” (VAN SANTEN e VAN ZOONEN, 2010, p. 65).

Torna-se interessante estudar tal fenômeno na internet. Primeiro, pelo fato de a maioria dos trabalhos sobre a comunicação política online tem sido dedicada ao efeito do uso de Internet político em geral (KENSKI e STROUD, 2006; SHAH et al., 2005) e não para os efeitos das características específicas de novas mídias. Em segundo lugar, por conta da literatura sobre personalização da política raramente abordar as consequências da personalização, sobretudo na comunicação online.

A escolha do Twitter também foi motivada pela facilidade de coleta de dados para a realização da pesquisa e pela peculiaridade de que é necessária uma participação ativa do agente político para a obtenção de visibilidade na rede do microblog. Se não há uma constante atualização do perfil, o usuário é esquecido e “some” da timeline de seus seguidores. Exige- se, então, uma manutenção constante para continuar com visibilidade.

A escolha dos deputados se deu, principalmente, por conta do alto grau de visibilidade que esses parlamentares já possuem no Twitter, Marco Feliciano possui 349.000 e Jean Wyllys possui 298.000 seguidores17. Os dois apresentam uma alta média de tweets por dia, o que indica uma quantidade considerável de material a ser analisado. Estar mais visível também implica em consequências, como, por exemplo, qualquer deslize no Twitter desses parlamentares pode ser visualizado por milhares de pessoas em poucos segundos demandando cautela para a manutenção de uma imagem pública favorável (MARQUES et al., 2013). Ambos os deputados têm bastante exposição midiática, tratando sempre de temas polêmicos e são conhecidos pelo posicionamento convicto em assuntos como religião, saúde e direitos humanos. Outro fator relevante para a escolha desses políticos foi que ambos representam uma característica da política brasileira que também pode ser vista como um aspecto personalista (WATTENBERG, 2002): os dois parlamentares já possuíam uma carreira com grande impacto de visibilidade (muitas vezes relacionadas ao showbiz) antes de se tornarem políticos, ou seja, o capital social que esses indivíduos possuíam em outros foi transferido para a política. No caso de Marco Feliciano, pastor evangélico e escritor; e Jean Wyllys, ex- participante do reality show Big Brother Brasil, jornalista e professor universitário.

Em pesquisa realizada pela Medialogue em 2011, logo no início do mandato ao qual Jean Wyllys e Feliciano foram eleitos, ambos os deputados já apareciam como uns dos deputados federais mais seguidos no Twitter:

Tabela 2 – Ranking dos deputados federais mais seguidos no Twitter

Ter maior número de seguidores indica que as mensagens publicadas no perfil atingem mais usuários, aumentando a visibilidade do deputado e, consequentemente, deixando-o familiar perante os internautas que fazem parte da sua rede de conexões.

Pierre Bourdieu (1996) vai trazer em suas obras o conceito de capital político. Ele aponta que é o “reconhecimento social que permite que alguns indivíduos, mais do que outros, sejam aceitos como atores políticos e, portanto, capazes de agir politicamente” (BOURDIEU, 1996). Miguel (2003) se utiliza desse conceito de Bourdieu para afirmar que, na política contemporânea, é necessário esse capital para avançar na carreira, como também ocupar cargos de liderança representa uma ampliação do capital dentro do campo.

O próprio Bourdieu (1996) também aponta a presença constante dos meios de comunicação como fonte desse prestígio político. “A visibilidade nos meios é uma condição importante para o reconhecimento público, em qualquer área de atividade, nas sociedades contemporâneas” (MIGUEL, 2003, p. 116). Fazer uso dos media noticiosos aem seu benefício também contribui para construir os alicerces da carreira política do indivíduo. Até mesmo na hora de angariar diferentes cargos governamentais não se deve apenas atentar para o poder efetivo que cada um possui, mas também leva em conta à visibilidade que tal posição atrai. Cargos importantes ganham mais destaques e chamam mais atenção dos jornalistas.

Como a disputa por visibilidade é acirrada, os agentes procuram construir canais próprios para atingir o eleitorado de forma mais contínua, de preferência de forma rápida e eficaz. A internet aparece como um ambiente conveniente para os agentes políticos no sentido

A análise de dois perfis individuais/pessoais no Twitter já supõe, em alguma medida, a existência de uma comunicação personalizada nas mensagens ali trocadas. Porém, como afirmado anteriormente, a personalização pode tender para uma mudança de foco do partido político para o agente, mas também pode ocorrer é a mudança do foco para traços não- políticos e até mesmo a vida privada e interesses pessoais desses parlamentares. Toma-se aqui também a tarefa de perceber que características estão sendo focalizadas para a composição da imagem pública dos parlamentares no Twitter.

O período de análise foi selecionado a partir de um conjunto de fatores. O primeiro deles, foram as limitações da ferramenta online TwimeMachin18, que possui um limite de resgate de até 3200 tweets, porque o Twitter tem uma restrição de API19 que não permite mais do que isso em um só lugar, a menos que se tenha a senha do usuário. Tal fato limita a escolha do recorte temporal, logo, não era possível recuperar tweets muito antigos, já que a coleta foi realizada em dezembro de 2013. No caso de Jean Wyllys, por exemplo, que tem uma alta frequência de postagens, só eram recuperados tweets até 28 de agosto de 2013. Tendo isso em mente, tomou-se como recorte os meses de setembro, outubro e novembro de 2013 para ambos os parlamentares, pois devido o limite de tweets do TwimeMachin, era o único período em que era possível realizar a coleta dos dois parlamentares no mesmo espaço de tempo. Decidiu-se ainda não incluir os meses de dezembro e janeiro por conta do recesso parlamentar e das festas de fim de ano, que poderiam alterar a quantidade de postagens dos deputados, já que entende-se aqui que tais meses não configurariam um período de rotina “normal” para exercer do mandado de deputado.