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INTERNET E PROPAGABILIDADE

Desde o seu surgimento, a internet é responsável por diversas revoluções, seja em sua própria estrutura, seja no dia-a-dia das pessoas, até chegar à forma como a conhecemos hoje. Porém, no princípio, não era assim.

De acordo com Castells (2003), a internet se originou através da Arpanet, uma rede de computadores montada pela Advanced Research Projects Agency (ARPA) em setembro de 1969. Fundada em 1958 pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, a ARPA tinha, como missão, mobilizar recursos de pesquisa, sobretudo do mundo universitário, e buscava alcançar a superioridade tecnológica militar em relação à União Soviética na esteira do lançamento do primeiro Sputnik em 1957, o primeiro satélite a orbitar na Terra. Além disso, a ARPA foi responsável por permitir não só a troca de informações, como também a criação de um recurso que possibilitasse a sobrevivência dos canais de comunicação em caso de guerra.

O domínio dos centros acadêmicos e militares sobre a Arpanet perdurou dos anos 60 até o fim dos anos 80, quando, na década de 90, com a expansão dos computadores pessoais (PCs), a internet começou a se popularizar. De acordo com Castells (2003), houve o surgimento, em dezembro de 1990, da World Wide Web (WWW), o feito que permitiu à Internet abarcar o mundo todo. Desenvolvido por Tim Berners-Lee e Robert Cailliau, esse sistema projetava uma simplificação na navegação em rede. Mas engana-se quem pensa que, com isso, a internet passou a ser interativa tal como é atualmente.

Naquela oportunidade, a internet se baseava em um conjunto de páginas isoladas nas quais os internautas buscavam informações e trocavam mensagens via e-mails. Com o passar do tempo, além das modificações e melhorias que a internet sofreu, as estruturas computacionais também foram sendo aperfeiçoadas, e, hoje, aqueles tradicionais computadores de mesa já cabem na palma de nossa mão, estando presentes diariamente na rotina da maioria das pessoas e virando uma espécie de extensão do nosso corpo, como define McLuhan (1964).

Em 1990, o Brasil passou a integrar a lista de países que se conectavam com a rede mundial de computadores. Foi através da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), uma iniciativa do então Ministério da Ciência e Tecnologia, o qual objetivava implementar uma infraestrutura de serviços de internet com abrangência nacional, que a internet passou a se desenvolver no país.

Lançada oficialmente em 1989, contou com o apoio das Fundações de Pesquisa dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e foi executada sob coordenação política e orçamentária do Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq). (LEONARDI, 2005, p. 6)

De acordo com Pinho (2003), a comercialização da internet no País, que se iniciou em 1995, foi resultante deste progresso. Com a comercialização, a distribuição do serviço foi ampliada a diversos setores da sociedade, quebrando a restrição do serviço, que, até então, era pertencente ao meio acadêmico. Esse avanço fez com que a internet passasse a ser um processo de expansão e renovação das atividades profissionais da economia, deixando de ser, assim, apenas um processo de inovação.

Hoje, a internet está presente quase que na totalidade de nosso dia, tanto temporalmente quanto ativamente. Nos conectamos através de smartphones, notebooks e desktops, utilizando desde dados móveis até conexões sem fios de forma ágil e fácil. Na palma de nossa mão, temos acesso quando, onde e para o que quisermos.

As taxas de crescimento da internet aumentam de maneira contínua e quase exponencial, sendo até hoje o meio de comunicação com o menor período de aceitação entre a descoberta e a sua difusão mais maciça. Mas ainda permanece o fato de que muitas pessoas não estão conectadas com a rede mundial. (PINHO, 2003, p. 37)

Para Junior (2007), a finalidade com a qual a internet foi criada visava permitir o compartilhamento de pesquisas militares e a tecnologia, possibilitando a troca de informações e sendo realizada por servidores em locais distintos. Junior também destaca que, dentre as principais tecnologias produzidas nos últimos anos, nenhuma foi tão impactante para a humanidade como a internet. O autor traça, para esse avanço da internet, três conceitos fundamentais, que são o compartilhamento, a comunicação e a colaboração.

Compartilhamento: compartilhando recursos (hardware ou software), a internet oferece aos usuários aplicações com grande economia de recursos; Comunicação: uma das primeiras aplicações desenvolvidas para a internet foi o e-mail (correio eletrônico), o qual permite uma comunicação plena entre os usuários da rede. Outras tecnologias tornaram-se tão populares quanto o e-mail e permitem uma comunicação instantânea, tais como o Messenger (MSN). Colaboração: é esse o princípio que confere à internet a característica principal de ser uma ferramenta indicada para a execução de trabalhos em equipe, propiciando o fomento da criatividade no desenvolvimento de projetos colaborativos. (JUNIOR, 2007, p. 133)

Essa característica fez, da internet, o reduto para as plataformas de redes sociais. Pinho (2003) destaca que, através desse tipo de tecnologia de comunicação, a sociedade passa por periódicas transformações, as quais resultam em mudanças de hábitos e costumes. As enormes filas nas agências bancárias foram substituídas, por exemplo, pelos aplicativos do banco, onde você pode resolver remotamente suas demandas.

Com a ascensão das plataformas de redes sociais, a internet proporcionou aos usuários serem produtores de conteúdo, e não meros espectadores como nas mídias tradicionais, numa espécie de “cultura participativa”, como define Jenkins (2009).

A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes agindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo. (JENKINS, 2009, p. 30)

Em 2004, com o surgimento da Web 2.0, o processo de troca, produção e a distribuição das informações na rede foi modificado. A partir de então, passou a prevalecer, na internet, um sistema de cooperação entre os usuários. Enquanto os veículos de massa, como o rádio, o jornal impresso e a televisão, priorizam grandes grupos de audiência, a Web 2.0 propõe o contrário, onde a proposta é ceder espaço aos pequenos grupos para expressarem as suas ideias, como sugere Primo (2007). Já Blattmann e Silva conceituam a web 2.0 da seguinte forma:

[...] uma nova concepção, pois passa agora a ser descentralizada e na qual o sujeito torna-se um ser ativo e participante sobre a criação, seleção e troca de conteúdo postado em um determinado site por meio de plataformas abertas. Nesses ambientes, os arquivos ficam disponíveis online, e podem ser acessados em qualquer lugar e momento, ou seja, não existe a necessidade de gravar em um determinado computador os registros de uma produção ou alteração na estrutura de um texto. As alterações são realizadas automaticamente na própria web. (BLATTMANN; SILVA, 2007, p. 198)

É nessa troca de ideias e produção de conteúdo que entra o conceito de propagabilidade, proposto por Jenkins, Ford e Green (2014). Os autores são categóricos e objetivos ao falarem de propagabilidade: “Se algo não se propaga, está morto” (JENKINS; FORD; GREEN, 2014). A propagabilidade se refere ao potencial técnico e cultural de os públicos compartilharem conteúdos por motivos próprios. Ou

seja, a propagabilidade nada mais é do que a disseminação e circulação dos conteúdos da mídia.

Nessa cultura conectada em rede, não podemos identificar uma causa isolada que leve as pessoas a propagar informações. As pessoas tomam uma série de decisões de base social quando escolhem difundir algum texto na mídia: vale a pena se engajar nesse conteúdo? Vale a pena compartilhar? É de interesse para algumas pessoas específicas? Comunica algo sobre mim ou sobre meu relacionamento com essas pessoas? Qual é a melhor plataforma para espalhar essa informação? Será que deve circular com uma mensagem especial anexada? Mas, se nenhum comentário adicional é anexado, simplesmente receber uma história ou um vídeo de alguém insere todo um leque de novos e possíveis significados ao texto. Quando uma pessoa ouve, lê ou vê conteúdos compartilhados, ela pensa não apenas – e muitas vezes nem principalmente – no que os produtores podem ter desejado dizer com aquele material, mas no que estava tentando lhe comunicar quem o compartilhou com ela. (JENKINS; FORD; GREEN, 2014, p. 469)

Para Maia e Quadros (2016), o conceito de propagabilidade “muda a percepção sobre o emissor da mensagem, cujas ações interativas foram potencializadas nos meios digitais. Assim, o consumidor é considerado um agente ativo da produção, da circulação e do consumo da mensagem” (MAIA; QUADROS, 2016, p. 5). Para as autoras, a propagação da mensagem no meio digital nada mais é do que uma forma de interação entre o meio produtor da mensagem, o intermediário (que a consome e a compartilha) e o grupo que recebe a mensagem compartilhada, o qual, por sua vez, cria um fluxo não controlável.

Conforme Jenkins, Ford, Green (2014) explicam a “mídia viral” como aqueles conteúdos que circulam nas plataformas de redes sociais e conquistam rapidamente o público que obteve acesso ao mesmo. Para os autores, quando um conteúdo se torna de fato um viral, os usuários das plataformas de redes sociais não possuem opção de escolha, ou seja, estão suscetíveis à exposição mesmo que involuntariamente, tornando-se “hospedeiros” de informação.

Diferentemente do que referenciamos acima a respeito da viralização, o ato de propagar é um ato racional e intencional, e, por isso, é necessário que os usuários queiram compartilhar tal conteúdo. A propagabilidade se dá através de uma identificação entre o usuário e o tema/conteúdo em questão. Contudo, caso essa identificação não seja plenamente significativa, o usuário pode ressignificá-la no momento de propagar este conteúdo, podendo até mesmo contrapor a discussão. Ilustrando tal ato, podemos citar a ferramenta “Retweetar com comentário”, presente na plataforma de rede social do Twitter, onde, além de o usuário repassar o tweet de

outro perfil adiante, ele também pode comentar sobre a sua percepção daquele determinado o assunto.

Essa mudança – de distribuição para circulação – sinaliza um movimento na direção de um modelo mais participativo de cultura, em que o público não é mais visto como simplesmente um grupo de consumidores de mensagens pré-construídas, mas como pessoas que estão moldando, compartilhando, reconfigurando e remixando conteúdos de mídia de maneiras que não poderiam ter sido imaginadas antes. (JENKINS; GREEN; FORD, 2014, p. 24)

Além de fazer com que os seus conteúdos gerem circulação, as instituições presentes nos meios digitais devem procurar produzir materiais que priorizem o engajamento com o seu público receptor. Com a propagabilidade, os usuários, ao interagirem com o conteúdo através de comentários, curtidas ou compartilhamentos, acabam, de certa forma, construindo experiências a partir destas interações e agregando valores junto à instituição. Ou seja, a propagação é potencializada quando públicos estão engajados, e o engajamento é motivado pela propagação. “Audiências engajadas são mais propensas a recomendar, discutir, pesquisar, repassar e até gerar material novo em resposta (JENKINS; FORD; GREEN, 2014, p. 2451)”.

Quanto às vantagens da propagabilidade no jornalismo, Dall’Agnese, Barichello e Belochio (2018) destacam

a visibilidade obtida por meio das recomendações, no compartilhamento dos conteúdos e links que servem como recomendações e/ou direcionam outros usuários aos ambientes “oficiais” da organização, podendo ampliar o tráfego nesses espaços. Já as vantagens do engajamento, além de propulsionar a propagabilidade, encontram-se, de maneira mais imediata, nas contribuições para a expansão. (DALL’AGNESE; BARICHELLO; BELOCHIO, 2018, p. 44)

Para as autoras, o advento da popularização das plataformas de redes sociais, ambientes propícios para a mídia propagável, demandam, das instituições, planejamentos estratégicos para a circulação e propagação de seus respectivos conteúdos.

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