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NÚCLEO DE AÇÕES AFIRMATIVAS

7 NÚCLEO DE AÇÕES AFIRMATIVAS E ANÁLISE DAS AÇÕES

7.1 NÚCLEO DE AÇÕES AFIRMATIVAS

O Núcleo de Ações Afirmativas (NAA) do Esporte Clube Bahia, conforme já citado neste trabalho, foi criado pela atual gestão do clube, presidida por Guilherme Bellintani, no ano de 2018. Segundo Nelson Barros Neto, um dos coordenadores do NAA, através de uma reunião presidencial, foi criado um projeto chamado “Repensando o Bahia”, que tinha, como objetivo, discutir temas relacionados ao clube com os torcedores, sócios e não-sócios, justamente para afirmar esse olhar popular.

A primeira reunião desse projeto ocorreu em janeiro de 2018 e tratou da relação do Bahia com a Arena Fonte Nova, estádio em que o clube costuma mandar os seus jogos. Nessa oportunidade, iniciou-se o nascimento do núcleo, onde foram identificadas algumas pessoas que demonstraram interesse na discussão de temas voltados à área social. A partir dessa seleção, essas pessoas foram convidadas para um bate-papo no Centro de Treinamento (CT) do clube, onde houve uma primeira reunião.

Depois dessa reunião, o clube lançou o núcleo no site e nas redes sociais, explicando as principais ideias de sua criação o olhar voltado às campanhas sociais, colocando-se à disposição das pessoas que se interessassem em fazer parte.

Com objetivo de consolidar o Bahia como o “clube mais democrático do Brasil” e de retomar a imagem de “clube do povo”, o Tricolor criou em janeiro deste ano o Núcleo de Ações Afirmativas (NAA).

O grupo, formado por sociólogos, filósofos, publicitários, um defensor público, professores e pesquisadores sobre a questão de gênero no esporte, dentre outros, tem a missão de enfrentar temas delicados e pouco debatidos dentro do mundo do futebol, como o combate à homofobia, ao machismo e à intolerância religiosa, além da promoção de medidas em prol de pessoas com deficiência e correlatas.

A intenção é transcender campanhas efêmeras e ir a fundo em busca de soluções para problemas sérios que atingem nossa sociedade, e não coincidentemente, também assolam o esporte.

Como primeiro ato, o NAA lançou um questionário sobre a vivência das mulheres em estádios, com itens como assédio, conforto e experiência cultural. O clube já obteve quase 1.000 respostas em apenas quatro dias no ar. O Bahia divulgará oportunamente o resultado da pesquisa e usará esses dados parar trabalhar ações efetivas em cima da realidade constatada. O grupo também participará do Fórum Social Mundial, a partir da próxima semana, em Salvador. A mesa “Mulheres e futebol: caminhos, experiências e propostas”, com participação do Bahia, acontecerá dia 14 na Universidade Federal da Bahia (Ufba).

O Núcleo de Ações Afirmativas do Esquadrão de Aço está aberto a novos interessados, além de solicitações e sugestões, e pode ser contactado pelo e-mail nelson.barros@esporteclubebahia.com.br. (ESPORTE CLUBE BAHIA, 2020, online)

A partir deste pontapé, começaram a ser elaboradas ações, comunicacionais e efetivas, pelo núcleo. O núcleo funciona através de um grupo no WhatsApp e o processo de criação das campanhas se baseia em duas grandes vertentes: o calendário, com a celebração de datas comemorativas, e os noticiários, abordando contextos atuais. Nelson Barros Neto comenta:

Nós não queremos ser reféns do óbvio. Falar da mulher em março, do negro em novembro. Trabalhamos com temas óbvios e não óbvios. Por isso, analisamos todos os contextos do cotidiano, do que está acontecendo nos noticiários. Dependendo, a gente se posiciona ou não. (NETO, 2020)

Figura 1 – Captura de tela do grupo de WhatsApp do núcleo de ações afirmativas do Bahia

Fonte: Acervo do autor

A primeira campanha criada pelo clube aconteceu em 21 de janeiro de 2018, no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, como pode se observar na figura 2. Essa foi a primeira vez que o clube se manifestou em um tema pouco pautado no âmbito esportivo, ainda de uma forma um pouco tímida.

Figura 2 – Publicação do Bahia no Twitter sobre a intolerância religiosa

Fonte: Conta do Esporte Clube Bahia no Twitter6

A estrutura de participantes do núcleo, hoje, abriga uma grande parcela de pessoas que não são funcionários do clube, sendo coordenado por Nelson Barros Neto e Thiago Cesar. Neto (2020) destaca que essa é uma das principais chaves para o sucesso do núcleo.

Ele é formado, em grande parte, por pessoas de fora do Bahia, e essa é a grande graça, pois tudo funciona de maneira muito orgânica. Eles não são funcionários do Bahia, não recebem salário por isso. Nós abrimos as inscrições e só pessoas interessadas de verdade participaram. Algo muito importante nisso tudo é a diversidade. Por exemplo, a maioria de participantes são mulheres, negros, temos também a participação de homossexuais, transsexuais, pessoas com deficiência, indígenas. Pessoas de várias naturezas, tudo muito multifacetado. (NETO, 2020)

Para Nelson, o Bahia não quer apenas fazer bonito nas redes sociais. Além das ações comunicacionais, o clube foca em produzir ações efetivas.

Nós sempre tivemos, como meta, que as nossas campanhas não podem ser só por likes e compartilhamentos. Não somos uma agência de publicidade, nós somos um clube de futebol que, de certa forma, tenta melhorar o mundo, com muita humildade. A ação do Dia dos Pais foi a que mais conseguimos promover, de fato, essa efetividade concreta. (NETO, 2020)

Nelson também comentou sobre a influência do Bahia para os outros clubes brasileiros, que criam campanhas similares a do tricolor baiano. Ele ressalta que o clube não criou o núcleo por protagonismo, mas que isso aconteceu de forma natural.

[...] a gente percebe que, com as ações do Bahia, os clubes foram meio que perdendo um pouco o medo de se manifestar. Um dado comprovado foi a campanha contra a homofobia. Em 2017, se eu não me engano, só três clubes da Série A se manifestaram. Em 2020, só três não se manifestaram. Então, isso foi crescendo e acabou fazendo os clubes terem mais coragem. (NETO, 2020)

No subcapítulo a seguir, iremos analisar três ações promovidas pelo clube a fim de ajudar-nos a resolver o problema de pesquisa deste presente trabalho.

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