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Existe um mundo antes das redes sociais e um mundo depois. Elas transformaram a forma de diálogo e conexão em e entre todos os cantos do planeta. Recuero (2009) reitera o que Boyd & Ellison (2007) definem como redes sociais: são aqueles sistemas que permitem “a construção de uma persona através de um perfil ou página pessoal, a interação através de comentários e a exposição pública da rede social de cada ator” (RECUERO, 2009, p. 102). Para Martino (2014), as redes sociais são definidas pelo seu caráter horizontal, desprovido de uma hierarquia rígida. Já Sampaio (2013) descreve que “a natureza das redes sociais vem da comunicação, do relacionamento entre os indivíduos, da necessidade de comunicação entre as pessoas, a tecnologia entra no momento em que esta pode beneficiar os relacionamentos sociais” (SAMPAIO 2013, p. 22).

Para que saibamos os processos de surgimento e funcionamento das redes sociais, precisamos conhecer os seus elementos característicos. Para Recuero (2009), entre os elementos característicos das redes sociais na internet, destacam-se os atores e a criação de conexões.

Os atores, primeiro elemento da rede social, são representados pelos nós, atuando no processo de moldar as estruturas sociais. Já as conexões em uma rede social são constituídas “dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da interação social entre os atores. De um certo modo, são as conexões o principal foco do estudo das redes sociais, pois é sua variação que altera as estruturas desses grupos” (RECUERO, 2009, p. 30).

Ampliando esse pensamento, a autora descreve que os atores podem ser representados por diferentes perfis em plataformas de redes sociais, como Twitter, Instagram e Facebook, por exemplo. Isto pode apresentar um único nó, que, inicialmente, não representam atores sociais, mas sim representações desses atores através de espaços de interação.

Na base das redes sociais, encontramos as interações. Segundo Primo (2000), há dois tipos de interações nas redes sociais: a interação de natureza reativa ou a interação de natureza mútua. Pereira (2015) define a interação reativa como a interação do ator por meio de um hiperlink ou de uma hashtag, ou seja, quando a interação é entre o ator e a plataforma de rede social. Em contrapartida, a interação mútua é definida pelas trocas de interação entre os próprios atores, seja através de

comentários, seja por meio de mensagens privadas. Primo (2000) estabelece esses dois conceitos de interações nas seguintes dimensões: sistema, processo, operação, fluxo, throughput, relação e interface.

sistema: um conjunto de objetos ou entidades que se inter-relacionam entre si formando um todo; b) processo: acontecimentos que apresentam mudanças no tempo; c) operação: a produção de um trabalho ou a relação entre a ação e a transformação; d) fluxo: curso ou sequência da relação; e) throughput: o que se passa entre a decodificação e a codificação, inputs e outputs (para usar termos comuns no jargão tecnicista); f) relação: o encontro, a conexão, as trocas entre elementos ou subsistemas; g) interface: superfície de contato, agenciamentos de articulação, interpretação e tradução. (PRIMO, 2000, p. 7)

Quanto aos sistemas, a interação mútua tem, como característica, um sistema aberto, ao contrário da interação reativa, que se caracteriza como um sistema fechado. Nos processos, a interação mútua se dá através da negociação, onde se engajam dois ou mais agentes, enquanto os sistemas interativos reativos se resumem ao par estímulo-resposta, onde as interações se baseiam em uma série de ações pré- definidas que afetam apenas um dos atores, um sistema de ação e reação.

Quanto à operação, a mútua se dá através de ações interdependentes, onde cada agente influencia o comportamento do outro e, consequentemente, também tem seu comportamento influenciado. Já as reativas se fecham na ação e reação, ou seja, um age e o outro reage.

Quanto ao throughput, ou seja, o que se passa entre a decodificação e a codificação na interação mútua, o processo afeta o input em uma forma que o output não pode ser totalmente previsto. Em contrapartida, em uma interação reativa, o

throughput é mero reflexo ou automatismo, onde tudo é pré-determinado.

Quanto ao fluxo, os sistemas de característica mútua têm, por característica, um fluxo dinâmico e em desenvolvimento. Já o fluxo reativo se caracteriza de forma linear e pré-determinada, em eventos isolados.

Quanto à relação, a interação de natureza mútua se baseia na construção negociada, enquanto, na interação reativa, ela é casual. Isto é, nos sistemas reativos, a base é o objetivismo, enquanto os sistemas de interação mútua se fundamentam no relativismo.

Por último, quanto à interface, os sistemas de interação mútua se apresentam virtualmente, como um complexo problemático, enquanto os sistemas de interação

reativas apresentam uma interface potencial, um conjunto de possíveis que aguardam por sua realização.

Partindo desses princípios, Recuero (2009) define dois tipos de redes sociais na internet: as redes emergentes e as redes de filiação ou associativas. As redes sociais do tipo emergente decorrem da interação entre os atores sociais e têm, por característica, as interações mútuas. Além disso, são pequenas e dependem do tempo disponível dos atores sociais, bem como o seu comprometimento e investimento de manter um perfil. A autora finaliza da seguinte forma: “dizemos que é uma rede emergente porque ela é constantemente construída e reconstruída através das trocas sociais” (RECUERO, 2009 p. 95).

Na contramão das redes emergentes, estão as redes sociais de filiação ou associativas, que são maiores e têm, como características, as interações reativas.

As redes sociais de filiação ou associativas na Internet são aquelas derivadas das conexões “estáticas” entre os atores, ou seja, das interações reativas (Primo, 2003), que possuem um impacto na rede social. São redes cujas conexões são forjadas através dos mecanismos de associação ou de filiação dos sites de redes sociais. É o caso, por exemplo, das listas de “amigos” no Orkut, da lista de pessoas que alguém segue no Twitter, etc. (RECUERO, 2009, p. 98)

Baseado nesse pensamento de Recuero (2009), o Twitter, objeto de estudo deste trabalho, pode ser considerado como uma rede social de filiação ou associativa. No Twitter, um usuário seguir um perfil não depende de uma interação e, ademais, nem sempre o perfil seguirá de volta, pois, “uma vez adicionado um indivíduo, ele ali permanece independentemente da interação para manter o laço social” (RECUERO, 2009, p. 98).

A experiência do usuário na plataforma de rede social é definida pelos algoritmos. Para Nogueira (2019) “os algoritmos servem como uma programação para se obter alguma resposta ou até promover o engajamento em redes sociais, por isso é possível dizer que a tecnologia do algoritmo é uma sequência lógica para se alcançar um resultado esperado” (NOGUEIRA, 2019, p. 5).

Ou seja, os algoritmos são como padrões de comportamento da plataforma, que definem o que, quando, quanto, como e para quem tal conteúdo será imposto. “Os algoritmos são responsáveis por entregar os conteúdos em diversas mídias, servindo como um filtro, selecionando o conteúdo entregue e, principalmente a propaganda” (NOGUEIRA, 2019, p. 6).

Em certas redes sociais, o usuário não tem controle quanto ao algoritmo imposto pela plataforma, como é o caso, por exemplo, do Instagram. Quanto ao Twitter, o usuário tem, de certa forma, influência sobe o algoritmo. Isso se dá pois é dele a opção em visualizar os conteúdos de forma cronológica ou por relevância, por exemplo.

5.1 TWITTER

Conforme referenciado na introdução deste presente trabalho, o Twitter é uma plataforma de rede social criada em 2006 por Jack Dorsey, Evan Williams e Biz Stone, nos Estados Unidos. Atualmente, o Brasil está em 5º lugar dos países com maior número de usuários da rede social, com 12 milhões de usuários (STATISTA, 2020). Segundo Recuero e Zago (2010), o Twitter funciona através da criação de uma conta pelo usuário, dando-lhe acesso a uma página onde ele poderá publicar as suas mensagens. Em seu perfil, cada usuário determina quem deseja seguir e, também, se poderá ser seguido por outros usuários.

Na plataforma, os usuários são convidados a responder à pergunta “o que está acontecendo?” em até 280 caracteres e publicar. Essas publicações, que privilegiam o texto, são conhecidas por tweets. Por definição padrão da plataforma, essas publicações são públicas, porém, os usuários podem configurar as suas contas para que elas se tornem de acesso restrito aos seus seguidores.

As trocas comunicativas em até 280 caracteres propiciadas na plataforma se utilizam de recursos do próprio sistema, de acordo com Recuero e Zago (2010), como o direcionamento de uma mensagem a um usuário: através do símbolo @ seguido do nome de um usuário, o destinatário receberá uma notificação em seu perfil e poderá responder, estabelecendo, assim, uma conversação.

Zago (2012) afirma que, apesar de não ter sido criado com esse fim, o Twitter virou um valoroso espaço para a circulação de materiais jornalísticos, abrangendo desde os veículos de comunicação tradicionais até os perfis de usuários comuns. Isso se deve muito ao formato da plataforma, que, por priorizar o texto em relação às outras mídias, acaba entregando mais facilmente o conteúdo.

Os usuários podem usar a ferramenta tanto para reportar algo que estejam presenciando como para repassar ou comentar informações recebidas de outras fontes. Ao repassar essas informações, eles estariam atuando como um filtro, contribuindo para a circulação do acontecimento. (ZAGO, 2012, p. 255)

5.2 DIFUSÃO DE CONTEÚDO NO TWITTER

Recuero e Zago (2010) apontam que o Twitter é a plataforma de rede social propícia para o estudo da difusão de informações, visto que, na medida em que as informações são distribuídas para os seguidores, estes podem se apropriar dessas informações, respondê-las ou “retweetá-las” e, com isso, repassá-las para os seus perfis. Outro ponto de destaque é que as conexões entre os usuários são públicas e, portanto, é possível acompanhar as trocas de informações entre os usuários. Além disso, as publicações trazem informações como a hora e a data de postagem e podem ser facilmente repassadas de uma rede a outra. No Twitter, também é comum a utilização de hashtags nos tweets a fim de etiquetar informações.

Assim, no Twitter, acontecimentos jornalísticos costumam circular pela ferramenta de forma bastante rápida pelos comentários e mensagens direcionados a outros usuários por retweets. Um acontecimento pode ser recuperado de diversas formas no Twitter, como na busca por determinada palavra-chave, por hashtags, ou ainda por uma observação da Public Timeline do Twitter (espaço em que são exibidas as últimas atualizações em tempo real dos usuários da ferramenta). Muitos são os exemplos de acontecimentos que emergiram primeiro no Twitter, passaram pelo processo de produção jornalística e, posteriormente, voltaram a ser discutidos no Twitter na forma de uma circulação jornalística. (ZAGO, 2012, p. 255)

Segundo Recuero e Zago (2010), a estrutura e a composição das redes sociais que estão estabelecidas nas plataformas de redes sociais influenciam também os processos de propagação de informações e conteúdo. Um dos principais diferenciais destas plataformas é permitir que um número muito maior de conexões sociais possa ser estabelecido (RECUERO, 2009).

Com isso, potencializam essas redes para a circulação das informações, dando mais poder aos atores e aos grupos sociais para espalhar mensagens e mobilizar agentes. Contudo, indaga-se sobre como se pode estudar a difusão de informações na Internet. (RECUERO; ZAGO, 2010, p. 3)

É por meio das diferentes relações sociais e dos processos de interação e conversação entre os indivíduos em redes sociais na Internet que são disseminadas as informações e os conteúdos que circulam nessas redes.

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