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7 NÚCLEO DE AÇÕES AFIRMATIVAS E ANÁLISE DAS AÇÕES

7.2 EM NOME DO PAI

A campanha “Em nome do pai” foi lançada pelo Bahia em 3 de agosto de 2019, na semana que antecedeu a celebração do Dia dos Pais no Brasil, comemorado no segundo domingo de agosto. Diferente da ação anteriormente apresentada, essa campanha foi realizada através de uma publicidade audiovisual e em parceria com a Defensoria Pública da Bahia.

Foram separados, na figura 3, 12 frames do vídeo para representação da campanha neste trabalho. As imagens são representadas pelas letras A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K e L. Na campanha, uma criança, menino, dita o que está escrevendo em uma carta direcionada a seu pai.

Figura 3 – Frames da campanha “Em nome do pai”

Fonte: Compilação do autor7

Na imagem A, temos um garoto escrevendo uma carta. Ele está escrevendo para o seu pai. O garoto começa dizendo: “pai, seu dia está chegando”. Ele está sentado e escreve em um caderno apoiado na mesa.

Na imagem B, o garoto está de pé descalços, fazendo embaixadinhas com a bola de futebol em um campo de terra. No chão, podemos avistar o seu caderno e um par de chuteiras. Ele comenta que está “brocando no pontinho”, um ditado local que significa que está mandando bem nas famosas embaixadinhas, e finaliza afirmando que já conseguiu repetir o movimento 31 vezes sem deixar a bola cair.

Na imagem C, no mesmo campo do frame anterior, o garoto está feliz, celebrando com os punhos para o alto, como se comemorasse um gol, através de um gesto comum no meio do futebol. Ele fala: “Tá vendo?! Ninguém nos vence em vibração”, afirmando no imaginário de que a torcida do Bahia é a que mais vibra.

7 Montagem a partir da captura de telas do vídeo da campanha “em nome do pai”. Vídeo disponível em:

<www.youtube.com/watch?time_continue=3&v=w0ZPNer-T5g&feature=emb_logo>. Acesso em: 5 nov. 2020.

Na imagem D, o garoto esfrega o seu rosto com as mãos e, ao se olhar no espelho, questiona-se se ele está mais parecido com o pai ou com a mãe.

Na imagem E, o garoto aparece sentado em um muro, em alguma praia de Salvador, usando a camisa do Bahia. Novamente, ele está com o seu caderno. Escrevendo, questiona se o pai viu a defesa linda de Douglas Friedrich, goleiro do Bahia.

Na imagem F, o menino está sentado em uma escadaria de alguma viela. Ele conta que sua mãe o colocou na aula de inglês e, rindo, afirma que, na carta seguinte, vai utilizar todo o inglês que aprendeu nela.

Na imagem G, o garoto finaliza a carta se despedindo, dizendo que sua mãe está lhe chamando. Ele dobra a folha, coloca em um envelope, lacra-o com cola e afirma que, depois, irá escrever mais para o seu pai.

Na imagem H, o garoto puxa uma caixa lotada de cartas. Com a voz um pouco triste, ele torce pelo dia em que poderá entregar todas as cartas que escreveu ao seu pai.

Na imagem I, são apresentados os dados, já referenciados na introdução deste trabalho, de que, no Brasil, aproximadamente 5,5 milhões de crianças não possuem o nome do pai em seu registro. É neste momento que ocorre a virada de chave do vídeo, que coloca o assunto para a reflexão do telespectador, já que, enquanto víamos o garoto escrever, o imaginário criava uma narrativa em que o pai poderia estar viajando, separado da mãe ou morando em outro lugar, mas não em que ele não existia para a criança.

Na imagem J, o garoto está sentado em um muro novamente, desta vez próximo ao estádio Fonte Nova, onde o Bahia costuma mandar os seus jogos em Salvador. A partir deste momento do vídeo, a narração não é feita mais pela criança. Uma voz feminina anuncia que, na semana do dia dos pais, será possível tirar dúvidas sobre registro de paternidade e realizar exames de DNA de forma gratuita na loja do clube.

Nas imagens K e L, o vídeo termina com uma mensagem, finalizando o assunto e deixando a marca do clube. Na imagem K, podemos ver a mensagem “se o Bahia é amor, que o amor vença”. Já na imagem L, aparecem os provedores da ação: o Esporte Clube Bahia e a Defensoria Pública da Bahia.

O vídeo publicado no perfil do clube no Twitter alcançou a marca de 1,1 milhão de visualizações e 9,7 mil retweets, divididos entre 5,1 mil retweets automáticos e 4,6 mil retweets com comentários. Além disso, a publicação teve 1,2 mil respostas ao tweet e 19 mil likes. Ao todo, o tweet teve 1,3 milhão de impressões, ou seja, número de vezes que as pessoas viram este tweet na plataforma, gerando 108,4 mil interações.

O coordenador do Núcleo de Ações Afirmativas, Nelson Barros Neto, comenta que, muito mais do o mero engajamento nas redes sociais, as ações idealizadas pelo clube vêm acompanhadas de ações efetivas para que o assunto não fique só nas redes sociais.

Quando chegou em agosto, teve a campanha de Dia dos Pais, que foi fortíssima. E eu digo que ela é fortíssima, também, pelo fato de ela ter sido a campanha que chegou a concorrer a prêmios, inclusive internacionais. Além disso, ela é a campanha mais efetiva que a gente conseguiu fazer. [...] Então, na campanha do Dia dos Pais, a gente conseguiu cerca de 100 testes de paternidade. Isso quer dizer que 100 pessoas, crianças ou não, passaram a ter o nome do pai no registro. Isso é intangível, não tem explicação da importância e do tamanho. (NETO, 2020)

Dias após a publicação do primeiro vídeo, da realização dos testes DNA e das orientações jurídicas, o clube lançou um outro vídeo prestando contadas dos resultados da ação. Foram separados, na figura 4, 7 frames deste vídeo. As imagens são representadas pelas letras A, B, C, D, E, F e G. O vídeo, dessa vez, é todo em preto e branco e a locução é feita por uma voz feminina.

Figura 4 – Frames da campanha “Em nome do pai”

Fonte: Compilação do autor8

Na imagem A, temos um garoto colocando um papel dentro de um envelope. A narradora do vídeo comenta que, dentro de um envelope, cabem sentimentos e algumas respostas. Nas imagens B e C, o garoto aparece escrevendo em seu caderno. Na imagem B, ele está sentado sozinho em uma gangorra e a narradora do vídeo comenta que, durante a semana do dia dos pais, foram realizados 90 exames de DNA. Na imagem C, o garoto está sentado em um ônibus, e a narradora do vídeo comenta que também foram realizados 291 atendimentos de orientação jurídica.

Na imagem D, o garoto continua no ônibus, escrevendo em seu caderno. A narradora comenta que ainda há muito a ser feito, mas que essas ações foram os primeiros passos diante de um número tão alarmante no Brasil.

Na imagem E, o garoto aparece na praia olhando para o horizonte. A narradora comenta que esses serviços continuam disponíveis para toda a população através da Defensoria Pública.

Nas imagens F e G, o vídeo termina com uma mensagem, finalizando o assunto e deixando a marca do clube. Na imagem F, podemos ver a mensagem: se o Bahia é amor, que o amor vença.

8 Montagem a partir da captura de telas do vídeo da campanha “em nome do pai”. Vídeo disponível em:

O grande mérito reflexivo do primeiro vídeo passa pelo momento em que descobrimos que as cartas redigidas pelo garoto não são enviadas. Em uma caixa, ele guarda todas as cartas que já escreveu e espera pelo dia em que poderá entregá- las ao seu pai, isso porque ele é uma das 5,5 milhões de crianças que crescem sem pai no registro.

A pauta rendeu ao clube manchete em diversos portais da internet, como o UOL e Terra, além de ser veiculado no SBT Brasil. A ação foi extremamente saudada no perfil do clube no Twitter. Destacam-se elogios por parte da torcida baiana e de adversários, que esquecem o embate dentro de campo para reverenciar ações como essa.

Figura 5 – Respostas ao tweet do Bahia elogiando a campanha

Fonte: Compilação do autor9

9 Montagem a partir da captura de telas da publicação da campanha “em nome do pai” no Twitter.

Nessa ação, o conceito de propagabilidade é visto de maneira muito presente. Conforme referenciado no capítulo de internet e propagabilidade, Jenkins, Ford e Green (2014) atrelam a propagabilidade ao ato do público presente nas plataformas das redes sociais de compartilhar conteúdos por motivos próprios. Nesse episódio em específico, isso se encaixa muito bem, pois o tema família e paternidade gera um sentimento muito íntimo em quem assiste. Quando descobrimos que a criança não conhece o pai, que ele não tem uma figura paterna em seu registro, por mais que este possa não ser o cenário de quem assiste, há um abalo emocional. Isso se dá pelo fato de que a ausência de um pai é algo constante na sociedade, visto o ciclo natural da vida e também aqueles que abandonam os seus filhos. Se este não é o caso da pessoa que está assistindo, presume-se que ela conhece alguém que já perdeu o pai ou que, até mesmo, nunca o conheceu, o que podemos relacionar com o fato de que a propagabilidade se dá através de uma identificação entre o usuário e o tema/conteúdo em questão.

Quando analisamos os números de engajamento desta ação no Twitter, percebemos o conceito já apresentado por Maia e Quadros (2016), quando afirmam que a criação de um fluxo não controlável ocorre através da propagação da mensagem no meio digital, em forma de interação entre o meio produtor da mensagem, o intermediário (que a consome e a compartilha) e o grupo que recebe a mensagem compartilhada, sendo que isso se potencializa na medida em que os públicos estão engajados e o engajamento é motivado pela propagação.

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