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CAPÍTULO II - DAS MÍDIAS TRADICIONAIS AS AS REDES DIGITAIS: CORPOS

2.3 Representações negras nas mídias

2.3.5 Internet

O espaço virtual tem se mostrado um ambiente pulsante e emergente para a construção de novas redes sociais, para o cultivo de antigas relações e mais do que nunca, se tornar um lugar para se ter voz, para se ter outras narrativas de pessoas, grupos e movimentos que historicamente não tinham o alcance, a visibilidade e também as possibilidades que os veículos tradicionais até então promoviam. Por outro lado, também, como atesta o autor Tarcízio Silva em seu livro Racismo Algorítmico (2022) é preciso estarmos atentos às novas formas como as imagens, textos e discursos racistas se inserem e são inseridos na rede, e os meios pelos quais são produzidos:

[...] seja por meio de perfis “reais” ou pelo uso de “fakes”, é apenas parte das práticas e dinâmicas antinegritude em um mundo supremacista branco. Pensar e discutir tecnologias digitais, como plataformas, mídias e algoritmos, exige que se vá além da linguagem textual. Se há décadas as manifestações coordenadas ou espontâneas de racismo explícito na internet são uma constante e permanecem se intensificando de forma virulenta, nos últimos anos a abundância de sistemas algorítmicos que reproduzem e normalizam as agressões apresentam uma nova faceta pervasiva da ordenação de dados e representações racializadas online.

(SILVA, 2022, p.26)

Embora não façamos esse vínculo imediato entre o universo da internet e o racismo, os dois estão muito mais conectados do que supomos. Para começar, os meios e a tecnologia em si não são racistas, mas executadas por pessoas que podem ser e/ou reproduzir lógicas de cunhos racistas. Muitos são os exemplos dessa face do racismo online que queremos discutir.

Até pouco tempo atrás se fossem feitas pesquisas no Google com termos simples como

“pessoas bonitas”, os resultados das buscas em imagem, por exemplo, resultariam em pessoas brancas e com um perfil físico muito semelhante. Nessa mesma lógica com o uso de termos mais pesados e de estereótipos raciais de homens negros como vamos nos aprofundar melhor nesta dissertação, quando pesquisados termos como “ébano” ou “negão”, os resultados seriam de homens negros, possivelmente retintos, de tipo físico musculoso e com os corpos expostos de forma explícita e hipersexualizada. E para além de exemplos mais específicos e localizados como os que falamos, a questão que levantamos sobre o racismo online atinge uma esfera ainda maior quando vista pelo ângulo das desigualdades sociais, que por consequência afetam majoritariamente pessoas negras. Nesse sentido, queremos dizer que os próprios recursos digitais ainda não são produtos democraticamente acessíveis a todas as pessoas, afinal, vivemos em um país onde parcelas da população não têm acesso a esses meios, evidenciado, inclusive, por conta da Pandemia da Covid-19, mas que explodiu em todo o planeta em 2020, ano em que o mundo se viu em novas dinâmicas, inclusive de comunicação.

Entretanto, mesmo que de forma limitada, é através de novas mídias e redes sociais, aplicativos de relacionamentos, sites, blogs, canais de vídeos e tantas outras plataformas de

divulgação de informações e conhecimentos, que novas (e até antigas) gerações são impactadas com essas formas de comunicação e isso é uma forma de ampliar vozes e expressões culturais diversas, inclusive de artistas, cantores, produtores de conteúdo, influencers e tantas outras pessoas negras que veem na internet e nas novas tecnologias uma forma de potencializar seus trabalhos e representatividade.

2.3.5.2 Redes sociais e sua ressignificação universo digital

Já ouvimos termos como Redes Sociais ou Mídias Sociais, por exemplo, para se referir ao mesmo ambiente virtual onde podemos nos conectar com o mundo e a um mundo de coisas dentro do universo digital que estamos inseridos, mas é preciso compreender as diferenças dessas nomenclaturas para entendermos inclusive suas dinâmicas de comunicação e seus significados na vida social.

As redes sociais em seu sentido principal nada mais são que as conexões que já realizamos e firmamos cotidianamente uns com os outros em sociedade, onde podemos compartilhar nossos valores, opiniões, interesses e crenças políticas, religiosas, filosóficas, entre outras. As redes sociais32, para exemplificar, são a nossa família, nossos amigos, colegas de trabalho, igreja, comunidade onde interagimos, ainda que em níveis diferentes, mas com o propósito de criar conexões entre as pessoas envolvidas. É a nossa conversa sobre um assunto que está em destaque na televisão, o bate-papo na barbearia ou salão de beleza, aquele debate entre os amigos ou com os vizinhos do bairro sobre política, entre outras relações compartilhadas em grupos.

Aliás, são esses mesmos grupos e relações que já temos no mundo real, físico, desde sempre, mas que nas últimas décadas passaram a ser promovidas e estimuladas também através das plataformas de mídias sociais no ambiente virtual, algo que se tornou possível com o advento da internet ainda na década de 90. As mídias sociais em um sentido mais simplificado são os lugares onde construímos essas relações.

As principais plataformas de redes sociais atualmente no Brasil são Facebook, Instagram, WhatsApp (sendo todas parte do mesmo grupo, a empresa Meta, de Mark Zuckerberg), além do Youtube, TikTok e o Twitter, sendo esta última uma das mais antigas em atividade. Para termos uma melhor noção da quantidade de usuários e o potencial de

32 Tendo em vista que o uso do termo “Redes Sociais” se popularizou e se tornou algo usual entre os usuários dentro e fora da internet, utilizaremos nesta pesquisa tal nomenclatura para nos referirmos melhor dentro deste contexto.

conteúdos produzidos por eles é algo a ser pontuado e refletido com outro olhar, buscar entender principalmente os impactos dessas redes e dessas conexões.

De acordo com o site Resultados Digitais33 em um ranking feito em 2021, foram listadas as principais e maiores redes sociais usadas no Brasil naquele ano. Os resultados mostraram que: 1. Facebook (130 mi); 2. YouTube (127 mi); 3. WhatsApp (120 mi); 4.

Instagram (110 mi); 5. Facebook Messenger (77 mi); 6. LinkedIn (51 mi); 7. Pinterest (46 mi); 8. Twitter (17 mi), 9. TikTok (16 mi) e 10. Snapchat (8,8 mi). Embora surpreendentes pelos números, é importante também considerar que quando comparados e/ou analisados com anos anteriores esses dados apresentam algumas alterações, e é importante também verificar o público que essas redes sociais alcançam, bem como o uso feito por cada rede apresentada, já que YouTube e WhatsApp34, por exemplo, foram usadas por muitos professores como ferramentas inclusive de trabalho durante o período mais intenso da pandemia e foram alguns dos recursos mais usados e que angariam novos adeptos.

É importante considerar as significativas mudanças nos hábitos digitais das pessoas em todo o mundo nos anos de 2020 e 2021 com a pandemia de Covid-19, o consumo de informações – nos mais variados formatos – dentro das mídias sociais aumentou significativamente. O número mais recente – do começo de 2021 – indica que os brasileiros passam, em média, 3 horas e 42 minutos por dia conectados às redes sociais. Nesse quesito, perdemos apenas dos filipinos e dos colombianos, mas por poucos minutos. A tendência é que, no decorrer do ano, esse tempo tenha sido ainda maior. Tivemos novidades no cenário, como a consolidação do TikTok, que conquistou de vez celebridades e jovens no país.

Para se ter dimensão da nossa relação com esses meios, em 2019 foi investigado, através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), o módulo temático sobre Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) nos aspectos de acesso à Internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal. A pesquisa35 apresenta dados recentes e importantes sobre a situação do acesso à tecnologia e

33 Disponível em: https://resultadosdigitais.com.br/blog/redes-sociais-mais-usadas-no-brasil/. Acesso em:

10.jun.22

34 Entendemos aqui o WhatsApp enquanto rede social por sua função e utilização enquanto instrumento e trocas de informações e conteúdos multimodais entre as pessoas. Para algumas, talvez, seja o contato primário com atualizações e temáticas que em outras redes são compartilhadas e para outras pessoas essa é a única rede ou plataforma de entretenimento, embora reconheçamos que a proposta inicialmente desta ferramenta não seja para este fim, contudo, essa é uma das muitas possibilidades dentro desta ferramenta.

35 É importante considerar que a pesquisa mencionada acima foi num período pré-pandêmico já que os dados são dos anos de 2018 e 2019, certamente outras variantes e resultados seriam apresentado hoje, talvez alguns de maneira até mais expressivas em relação às necessidades impostas pela pandemia de COVID19, como o caso das aulas remotas e trabalhos em home office, não pode ser ignorado também que o fator econômico atingiu muitas famílias e isso pode ter diminuído ou mesmo impedido acesso de muitas pessoas a internet, sabemos que a maneira como a pandemia atingiu ou impactou as pessoas não ocorreu de maneira hegemônica e nem igualitária.

comunicação, bem como o público que a utiliza36. E no mesmo ano de 2019, a internet já era utilizada em 82,7% dos domicílios brasileiros.

O envio e recebimento de mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos (não e-mail) continua sendo o principal, indicado por 95,7% das pessoas com 10 anos ou mais de idade que utilizaram a rede em 2019. Além disso, as principais finalidades no acesso à internet no Brasil segundo a pesquisa são: Enviar e receber mensagens de texto, voz ou imagem – 95,7%; Conversa por voz ou vídeo – 91,2%, Assistir a vídeos (incluindo programas, filmes e séries) – 88,4% e Enviar e receber e-mail – 61,5%. Todos os dados coletados e analisados nos dão um breve panorama do comportamento do brasileiro com as mídias, as novas tecnologias e, inclusive, com a própria internet.

36 Disponível em:<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101794_informativo.pdf> Acesso 08 fev 2022