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Intervenção e dinamização na praça do Martim Moniz pela NCS

Capítulo II Análise

3.3 Intervenção e dinamização na praça do Martim Moniz pela NCS

Como já referido, a intervenção que nos ocupa na presente tese, da responsabilidade da NCS, foi inaugurada em 9 de Junho de 2012. Num comunicado da EPUL (Construir, 2012), é salientado que a concessão da praça à NCS é realizada após a abertura de um concurso público, o qual teria sido vencido pela NCS. No entanto, tanto na entrevista realizada à NCS, como numa sessão no âmbito da Trienal de Lisboa em que foi convidada Isabel Raposo - umas das responsáveis na NCS pela intervenção -, foi referido que a ideia foi apresentada à câmara antes da realização do concurso público, tendo este sido realizado “com base na apresentação feita pela NCS” 117. Isabel

116 “O município tem um papel activo e dinamizador na estratégia de reabilitação urbana.

Este papel está assente em 5 pilares fundamentais:

-Investimento municipal deve centrar-se em acções de maior efeito de arrastamento na qualificação de espaço urbano;

-Criar condições para facilitar a transmissão da propriedade para o surgimento de uma nova geração de promotores e senhorios, que reabilitam e arrendam o edificado;

-Acelerar a recuperação de capital investido quer através da redução do tempo de actualização das rendas, quer pela introdução de subsídios a famílias mais carenciadas;

-Reduzir os custos de contexto, tornando mais célere a autorização administrativa para a realização das obras e a emissão da licença de utilização, removendo entraves regulamentares e apoiando realojamentos para a realização de obras;

-Diminuir as expectativas de mais-valias com a demolição do edificado existente.” (CML, Sem data d).

117 "Isto não é politicamente correto dizer, mas é a verdade. Nós apresentamos esta ideia à câmara municipal

de Lisboa, e a câmara amou o projeto. E lançou um concurso público. Lançou um concurso público, com base na apresentação que nós tínhamos feito. O que não tem mal nenhum, porque quer dizer que nós, enquanto pessoas... podemos construir a cidade, se tivermos ideias que sejam validadas.... ou que sejam mais valias." (Rádio Zero, 2013, pp. (34:22 - 34:44)).

Numa resposta na página do Facebook da NCS, José Filipe Rebelo Pinto refere algo no mesmo sentido, apenas sem referir que o concurso público foi realizado a partir da apresentação inicial da NCS: "Refiro

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Raposo refere ainda que se trata de um projeto privado, que é paga uma renda pela concessão, e que a NCS é responsável pela gestão da praça. É ainda referido que o contrato da concessão é de 16 anos, algo que foi confirmado em entrevista a Ana Nobre da NCS, tendo a responsável igualmente referido que a empresa paga uma renda mensal superior a 5000 euros pela exploração da praça, e que é responsável pela programação, manutenção, limpeza e segurança (em particular, em dia de eventos)118.

No comunicado da EPUL, anunciando o contrato com a NCS e a estratégia para o espaço119, são ainda referidas as seguintes obras:

A empresa está já a recuperar a praça, nomeadamente a recolocar as algumas lajes, a arranjar a casa das máquinas, mas o projeto de requalificação da praça implica a "readaptação dos dez quiosques, a criação de esplanadas, instalações sanitárias, a requalificação das fontes e dos lagos, do pavimento e de todo o mobiliário urbano" (…). (Construir, 2012; Visão, 2012; Público, 2012c).

Isabel Raposo refere que a ideia surge no sentido de “aproveitar o potencial da praça” (“sítio amplo, no centro de Lisboa, cosmopolita”), a qual consideravam encontrar-se “sem identidade” e “desaproveitado” (Rádio Zero, 2013). O projeto teve como conceito central o “multiculturalismo”, algo que se revelou desde logo no nome dado ao mesmo, “Mercado de Fusão”120, algo que foi

confirmado tanto na entrevista realizada a Ana Nobre, como nos diversos discursos e entrevistas por parte de outros responsáveis da NCS. O responsável pela empresa, José Rebelo Pinto, em

hoje mais uma vez que a NCS apresentou uma proposta concreta à CML para a dinamização da Praça do Martim Moniz. Passados cerca de dois anos a CML lançou o concurso público onde a NCS acabou por ser a única entidade a concorrer, ganhando por mérito próprio na forma como respondeu a todas as linhas do próprio concurso." (NCS, 2014a).

118Na já referida resposta de José Filipe Rebelo Pinto, este refere que o investimento feita pela NCS, relativo

às “obras para corresponder ao concurso público”, foi de 500 000 euros + IVA; e que existe um “custo mensal de cerca de 15000 euros + IVA para corresponder a todas as necessidades que estão designadas no concurso público.” (NCS, 2014a).

119 A qual demonstra a existência de uma visão integrada para a praça: “(…) pretende-se proceder à

recuperação de diversos equipamentos existentes no local e, através disso, promover um conjunto de iniciativas que possibilitem a revitalização social, cultural e económica da Praça, valorizando-a enquanto espaço de lazer, de comércio, de turismo, de animação e de confraternização cultural” (Visão, 2012) (Público, 2012c).

120 Uma designação que não remete apenas para um conceito gastronómico, mas cuja leitura também é

alargada para uma potencial “fusão de culturas, cheiros e sabores” (Pensar Lisboa, 2012), uma fusão realizada através do mercado e materializada, em particular, nos quiosques.

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Novembro de 2012, em entrevista ao blogue “Pensar Lisboa”, referia o seguinte: “Acho que as várias culturas existentes no Martim Moniz são o principal factor de diferenciação deste espaço. Ao juntar a esta multiculturalidade algum sangue novo tenho a certeza de que a receita pode ser única e explosiva.” (Pensar Lisboa, 2012). Esta estratégia, referida em outras entrevistas e documentos121, demonstra o papel instrumental e comercial conferido ao ideal da multiculturalidade, a qual é tomada como diferenciadora deste espaço no contexto da cidade de Lisboa - como se, devido ao simples facto de as diferentes culturas para as quais remetem os quiosques se encontrarem territorializadas num mesmo local, se desse a possibilidade de “conhecer verdadeiramente o Outro e os outros países/culturas”, uma possibilidade que é tomada como distintiva do local. No entanto, a intervenção não se restringe a este aspeto multicultural, mas também pretendeu integrar outro tipo de oferta, com “chefs reputados” (Público, 2012c). Torna-se igualmente notória a dimensão comercial da intervenção, assumida pelo diretor da NCS122, a qual faz prevalecer uma lógica de gestão comercial em relação ao espaço público. Ainda sobre este ponto, Ana Nobre refere que a praça é pública e é em um espaço aberto, mas que se trata de um projeto de uma empresa privada, e que, em particular nos espaços das esplanadas, se pode aceitar a designação de espaço “público-privado”.

Foram estabelecidos “(…) contactos com mais de 60 associações e comunidades e falámos com várias embaixadas (…) Falámos com mais de 50 associações, embaixadas, a comunidade hindu, a Casa da América Latina, tivemos o cuidado de falar com todos", frisa.” (Público, 2012c). No entanto, pode-se considerar que o diálogo intercultural manteve-se numa

121 “Num documento entregue à Câmara Municipal de Lisboa e a potenciais parceiros, a NCS enquadra o

local da concessão:

“Todo o comércio local que desce da Av. Almirante Reis e dos becos da Mouraria, confere a esta zona o seu carácter tão eclético e etnográfico.”

“Torna-se imperativo o correcto aproveitamento das infra-estruturas já criadas e de todas as potencialdiades do espaço, enquanto pólo de permuta cultural e comercial.” (Guterres, 2012).

"A praça estava praticamente morta, embora fique próxima de zonas por onde os turistas circulam. Era preciso trazer sangue novo. Nunca entrámos aqui com a ideia de varrer quem cá estava, mas sim de manter o carácter multicultural", diz José Rebelo Pinto. "Mas achamos que só o público da Mouraria não é suficiente. Temos que cativar outros públicos." (Público, 2012c).

122 Em entrevista ao jornal Público refere que: “Isto funcionará como no Colombo ou em qualquer centro

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dimensão excessivamente institucional e vertical, restringida ao contacto com embaixadas123, ou,

como complementado na entrevista à NCS, com outras organizações (GABIP e Associação Renovar a Mouraria) que, apesar da sua presença e trabalho no território, apresentam dificuldades de contacto e representação dos imigrantes no território - algo que, em parte, se deve ao próprio facto de não existirem organizações autónomas ligadas às comunidades imigrantes nos territórios em causa, para além das organizações de cariz religioso. Ainda que se possa questionar se tal tentativa não é exclusivamente de natureza institucional e formal, podendo revelar dificuldades na relação com outras realidades e práticas económicas de natureza informal (Guterres, 2012).

É igualmente notória uma ideia de conjunto para a praça e para os espaços em volta124: “Não consigo pensar no Martim Moniz sem pensar na ligação entre estes três espaços. O projecto é comum a toda esta “nova” zona da cidade.” (Pensar Lisboa, 2012), ou, como refere numa outra vista, fazendo referência ao subtítulo do Programa de Ação Ai Mouraria: "A ideia não é só tornar

123 "Para lançar este projecto estabelecemos contactos com mais de 60 associações e comunidades e

falámos com várias embaixadas", salienta o gerente da NCS, frisando que o novo Martim Moniz "é para ficar virado para a Mouraria e não de costas para a Mouraria." (Público, 2012c).

“"Falámos com mais de 50 associações, embaixadas, a comunidade hindu, a Casa da América Latina, tivemos o cuidado de falar com todos", frisa.” (Público, 2012a)

124 ““É muito importante perceber a zona, falar com as pessoas. Há aqui um trabalho de pessoa a pessoa, de

ouvir as comunidades e perceber o que faz sentido aqui", continua Rebelo Pinto. "Estamos a conseguir, a pouco e pouco, limpar o tráfico de droga e os roubos". Para ele, o Martim Moniz representa também um projecto social, e quando, sentado numa das esplanadas, olha para a praça, sonha já com o que ela pode ser daqui a uns tempos. "Há aqui um potencial enorme, há muitos espaços em bruto", diz, percorrendo com os olhos as colinas em redor.

O que pretende é que, a partir da praça, haja uma espécie de contágio para os espaços em volta, e que estes comecem a ser ocupados por pessoas com projectos interessantes. "Não queremos aqui grandes marcas, queremos projectos de assinatura, diferenciados."” (Público, 2012c).

Numa outra entrevista, José Filipe Rebelo Pinto refere o seguinte: “Quero transformar a praça num pólo criativo. Trazer chefs, restaurantes, hostels, escritórios criativos...

Quero trazer gente jovem criativa da moda, do design, para abrir escritórios nos centros comerciais daqui. O Viriato, segundo lugar do Master Chefs, esta começando seu projeto gastronômico aqui. Eu tenho a "Preta", que ainda quero expandir para outras regiões. Acredito que essas habitações jovens novas vão trazer gente de energia nova que vai revitalizar esse lugar. Quero receber essa malta jovem e urbana, sangue novo, trazer quem está no Bairro Alto, no Chiado, no Cais Sodré. Agora temos o dragão simbolizando todo feito de material reciclado, e a chamamos de "The Dragon Square". Quero transformar o topo destes prédios em restaurantes giros. Olho pra essa praça e consigo vê-la daqui a 10 anos!” (Lux Good, 2012).

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a praça étnica nem misturar um pouco de toda a gente, mas juntar o projeto à requalificação do bairro e trazer-lhe sangue novo, um toque de modernidade. Não queremos trabalhar só a praça, queremos fazer crescer uma nova cidade dentro da cidade" (Dinheiro Vivo, 2012a). Por último, como contextualização da intervenção, e ainda sobre a ideia de futuro e de dinamização da praça, é de referir que a NCS já se encontra a preparar outros projetos na área, em particular um novo bar no topo do centro comercial Martim Moniz “(…) para «cativar aquele público que prefere o Príncipe Real, por ser mais chique».” (Notícias Magazine, 2014). Numa outra entrevista, José Filipe Rebelo Pinto refere que a sua estratégia futura para a praça passa por: “(…) transformar a praça num pólo criativo. Trazer chefs, restaurantes, hostels, escritórios criativos...” (Lux Good, 2012).

A intervenção, num sentido mais “concreto”, corresponde à exploração de 10 quiosques, com esplanadas com capacidade para 300 pessoas (Público, 2012c), bem como outras estruturas e intervenções físicas na praça, e alguns eventos com o objetivo de dinamização do espaço. Relativamente aos quiosques, e tal como já referido, estes apresentam referências a várias “culturas/nacionalidades” - ainda que nem todos -, e correspondem a um conceito de “comida rápida/pronto-a-comer”. Na entrevista feita a Ana Nobre, esta referiu que os critérios para a escolha dos projetos passavam por 1)“conceitos diferenciadores”, 2)“que representem um país”, mas sem “cópias”, e 3) a imagem/dimensão estética. Os contratos de concessão de cada quiosque são de 1500 euros+IVA/mês, e têm a duração de um ano (Dinheiro Vivo, 2012b) - algo confirmado em entrevista à NCS. Desde o momento da inauguração até à atualidade (Outubro de 2014, pouco mais de 2 anos) já existiram algumas mudanças nas concessões dos quiosques125, e entre o início do projeto e a atualidade só se mantiveram 3 quiosques - “Kebab Ali House”, “BBQMM”, e “Erva” - , sendo que o Botequim do Moniz também se encontra quase desde o momento inicial. Na entrevista realizada, Ana Nobre aponta como principal razão para tal facto as dificuldades financeiras que surgem devido ao clima e à sazonalidade, dado que o período de Inverno e de chuva

125 Os quiosques inicias eram os seguintes: “(…) Camorra - Pizza Taglio (“Essência da comida italiana de

rua”), Chocolate Flavours (afro bar, “hambúrguers & cocktails & essências tropicais”), Kebab Ali House (Bangladesh), BBQMM (China), BBTMX (Bubble Tea - chás, sumos e outros refrescos naturais), Cantinho Africano (petiscos africanos), Sushi Spot (japonês), Erva (vegetariano e macrobiótico), Xico Esperto (petiscos portugueses), La Porota (latino).” (Guterres, 2012). Na página de facebook do Martim Moniz, em vez do “Camorra - Pizza Taglio” e do “Chocolate Flavours”, são referidos o “Botequim do Moniz” e “A Preta” (NCS, 2012a)

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causam bastantes dificuldades na praça e reduzem significativamente a procura. Inicialmente, dos 10 quiosques, 3 eram explorados por pessoas da área - algo que, segundo Isabel Raposo, representou um número inferior ao pretendido inicialmente pela NCS, o que levou a repensar a estratégia, como igualmente referiu o diretor da NCS em entrevista à RTP (RTP, 2014). Na entrevista feita a Ana Nobre, foi referido que, atualmente, apenas se mantém o Ali, do “Kebab Ali House”. Os quiosques atuais (NCS, Sem data i) são o “Dogtails” (uma “combinação entre Cocktails e Hot Dogs”), o “Pizza Fina” (“pizzas em forma de retângulo, feitas na hora”; Itália), o “BOLO DO CACO – Hamburgueria Gourmet” (hamburgueria), o “Botequim do Moniz” (“Inspirado nos “postos” de praia do Rio de Janeiro”; Brasil), o “Wasabi” (“temakeria, cones de sushi”; Japão), “El Cartel” (“sabores sul-americanos”; América do Sul), “Moules” (“diversos pratos de mexilhões acompanhados por batatas fritas”; Bélgica) e os já referidos “Kebab Ali House” (Bangladesh), “BBQMM” (China) e “Erva” (vegetariano). O “BOLO DO CACO – Hamburgueria Gourmet” e o “Botequim do Moniz” são concessionados e geridos por uma mesma pessoa, e o mesmo acontece relativamente ao “Dogtails” e ao “El Cartel”. Existe ainda um quiosque recente, o qual não entre neste conceito, e que diz respeito ao “Lisbon Tours”, com uma oferta de serviço turístico para a cidade de Lisboa. Nas esplanadas, junto aos quiosques, estão colocados avisos a salientar que apenas os clientes dos mesmos ali se podem sentar. Também se encontra disponibilizada WI-FI, por vezes aproveitada por algumas pessoas com portáteis, ou com telemóveis.

Ainda a um nível “físico” - ainda que igualmente com um carácter multicultural -, é de salientar a existência de intervenções como um “dragão chinês” no centro da praça (Figura 3.2); as fotografias dos comerciantes da área envolvente, no âmbito do projeto “All around us” de Gonçalo Gaioso (NCS, Sem data a) (Anexo R); as fotografias de Joel Santos (NCS, Sem data b)126 (Anexo S); a recente intervenção, no quadro do projeto “Enamorados por Lisboa”, dinamizada pela CML no dia de S.Valentim de 2014, e que teve como consequência a inscrição de poemas em algum mobiliário da praça (Público, 2014b) (Anexo S); a intervenção urbana, temporária (de 1 a 14 de Novembro de 2012), “Take a Walk” de Anthony Heywood(NCS, 2012b); a intervenção urbana “Ressurreição” de Rui Miragai, em forma de “galo” (Anexo T); ou, mais recentemente, as

126 Fotografias que apresentam uma forte dimensão estética, remetendo para uma imagem “exótica” do

“imigrante”, um “imigrante” que não é necessariamente o presente na Mouraria/Martim Moniz, mas aquele de uma certa geografia imaginada, de “paisagens exóticas”, as quais são, desse modo, passíveis de visitar e encontrar na praça do Martim Moniz.

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intervenções de street art no recente “Writer`s Delight” (Anexo U), as quais foram recentemente substituídas depois de uma nova intervenção artística, desta vez da responsabilidade da Plataforma Cafuka(NCS, 2014b).

(Figura 3.2 - “Dragão chinês” na praça do Martim Moniz. Fotografia do autor.)

Existem, ainda, outras estruturas em forma de tenda, nas quais se realiza o “mercado de fusão” aos fins-de-semana, bem como um espaço, no topo da praça, que funciona como palco para concertos, projeções de cinema, eventos musicais, entre outros. Também a música desempenha um papel na intervenção, dado que esta é uma presença constante na praça, seja através de alguns concertos, seja através de um sistema de som presente na praça. Existe uma tentativa de que a música seja referente a diferentes “culturas”, ajudando a criar uma “soundscape” multicultural. Sobre este aspeto, Iñigo Sanchez, num estudo sobre a transformação do ambiente sonoro na praça do Martim Moniz, refere que foi criado um “enclave acústico controlado” face aos sons e imagens exteriores à praça, um enclave “no qual os sons são cuidadosamente pré-selecionados” de forma a criar um “ambiente agradável”, algo que influencia e regula a própria apropriação do espaço público (Sánchez, (no prelo)). Além disso, a praça continua a ser vigiada através de câmaras de videovigilância (Anexo V), e também se verifica algum policiamento da mesma, em particular aquando dos principais eventos que nela ocorrem.

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(Figura 3.3 - “Mesa de misturas” The Dragon Square. Fotografia do autor.)

As atividades e eventos na praça do Martim Moniz são vários, e esta é programada mensalmente. Aos fim-de-semanas, geralmente dois fim-de-semanas em cada mês, ocorre o “KoolMarket” ou o “Mercado de Fusão” (NCS, Sem data j), trazendo diversas empresas e atividades, muitas delas ligadas às indústrias criativas (Guterres, 2012), e que vai desde a produtos na área do artesanato ou vestuário, a presença pontual de algumas associações e/ou empresas, dinamização cultural (em geral, música), e pode ainda refletir uma determinada temática. Existe o aluguer de Karts e Rickshaws, através da empresa RICKSHAWS PORTUGAL (NCS, Sem data k) (Rent a Kart, 2014). Entre a programação, destaca-se o facto de a praça do Martim Moniz acolher o Out Jazz, às sextas-feiras e alguns sábados(NCS, Sem data l). Durante o período do Out Jazz, é colocado um “mini-relvado” artificial à frente do palco, onde as pessoas se sentem para assistir aos concertos, bem como para outros eventos (como sessões de cinema). A praça é igualmente palco de outras atividades e eventos, alguns de carácter pontual - é o caso das sessões de cinema, o Open Air Cinema, geralmente ocorrendo nas noites de quarta-feira, no verão; algumas “aulas abertas”, em formato workshop, com vários temas. Já foi igualmente palco de festivais como o Bal Moderne (NCS, 2012d), da autora de Anne Teresa De Keersmaeker, e que decorreu na Praça do Martim Moniz nos dias 8 e 9 de Setembro; o festival Holi (NCS, Sem data c); o festival Xamanita

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(FESTIVAL XAMANITA, s.d.); o festival “Lisboa Mistura - Festival de Músicas do Mundo” que decorreu na Praça entre 13 a 22 de Junho de 2013(CML, 2013); uma Feira de S. Martinho(NCS, Sem data d); duas edições de uma Feira de Natal (NCS, Sem data e) (NCS, Sem data f); um Mercado da Tradição(NCS, Sem data g); o evento de street art Writer`s Delight(Dedicated Store Lisboa, s.d.); ou alguns concertos, como foi o caso do concerto de Mariza no início do projecto (NCS, Sem data h), no dia de 5 de Outubro de 2012. Alguns destes eventos remetem igualmente para atividades, temas e/ou para uma imagem multicultural. A praça continua, contudo, a ser palco de alguns eventos não diretamente associados à dimensão comercial da intervenção, como seja o facto de continuar a ser o ponto inicial da manifestação do Dia do Trabalhador, ou alguns eventos de cariz religioso e/ou multicultural. Entre estes últimos, é destacar o concerto de Baul Bangla Band(Festival Imigrarte, 2013), que decorreu no dia 7 de Setembro de 2013 no âmbito do “Torneio Intercultural de Cricket”; a Festa do Sacrifício (Eid al-Adha), ligado à comunidade islâmica, que decorreu no dia 15 de Outubro de 2013 na Praça do Martim Moniz e teve cobertura internacional através do canal turco TRT Haber(Rosa Maria, 2013); e, no dia de 1 de Fevereiro de 2014, em conjunto com a embaixada da República Popular da China e com a CML, foi celebrado o "Ano Novo Chinês"(CML, 2014). Na entrevista realizada à NCS, Ana Nobre referiu que a programação também é realizada pensando nas comunidades imigrantes127, o que se reflete em alguns dos

concertos e eventos programados com temáticas específicas, por vezes em colaboração com outras organizações (como foi o caso do “Ano Novo Chinês”, com a embaixada), e as aulas abertas (Bollywood, capoeira e quizomba128), sendo que algumas destas aulas abertas também são

frequentadas por imigrantes, segundo a responsável da NCS.

127 Numa publicação recente da NCS, na sua página de Facebook, são referidos outros eventos, tais como:

“(…) a Festa do Eid – Celebração do Fim do Ramadão pela comunidade Islâmica; a Celebração Anual das Vítimas de Holomodor, pela Associação de Ucranianos em Portugal e o Torneio Intercultural de Críquete, pelo Grupo Desportivo da Mouraria. As novas iniciativas entretanto desenvolvidas de raíz, constituem ilustrações de uma dinâmica de abertura: o Festival da Primavera – Celebração do Ano Novo Chinês pelas Associações Luso Chinesas de Comércio e Embaixada da China e o Festival dos Ovos da Páscoa – Tradição Romena e Moldava, pelo Centro Cultural e Arte "Trei Culari".” (NCS, 2014a)

128 Sendo de questionar, contudo, se capoeira e quizomba correspondem a práticas culturais que não só

possam corresponder aos países de origem das comunidades imigrantes dos territórios envolventes, como se dizem respeito a práticas culturais que tais comunidades pratiquem atualmente.

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