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13 Gato, 11 meses Piretróides Permetrina

4.2. Interpretação dos resultados

4.2.2.3 Intoxicação por piretróides

Num total de 14 casos clínicos, a intoxicação por permetrina foi em menor número, sendo que os únicos dois casos relatados envolvendo este tóxico foram a nível dos felinos. Os gatos são a espécie animal mais afetada devido à sua deficiência ao nível da enzima glucoronil-tranferase, o que resulta numa taxa de metabolismo lenta deste piretróide (permetrina). A idade do animal e a quantidade do tóxico a que ocorre exposição também determinam a gravidade deste fenómeno de toxicidade (Haworth, M., 2012), (Draper, W., 2013), (Kuo, K., 2013), (Anadón, A., 2009).

Os dois casos de intoxicação por esta substância envolvem gatos e possuíram carácter não intencional, uma vez que a intoxicação resultou do desconhecimento por parte dos donos relativamente à utilização de um desparasitante externo para cães, que continha permetrina na sua composição. A exposição a este composto pode ocorrer tanto por via tópica como por via oral mas geralmente a via tópica é mais prevalente. A permetrina está presente em champôs, coleiras e pipetas utilizados na desparasitação externa e, como são de fácil acesso a toda a população e são de baixo custo e de fácil aplicação, a população acaba por a utilizar de forma mais independente e não recorra nem ao veterinário, nem ao farmacêutico para realizar a desparasitação, o que poderá resultar num elevado número intoxicações em gatos

(Sutton, N., 2007), (Malik, R., 2010). Em estudos realizados, verificou-se que os hipermercados, as lojas de animais e as clínicas veterinárias são os locais onde a aquisição destes produtos é bastante elevada e que, mesmo com informação e símbolos referentes à não utilização destes produtos em gatos nas embalagens, essa informação não tem sido suficiente para prevenir estas intoxicações (Sutton, N., 2007), (Malik, R., 2010).

Nos 2 casos clínicos neste âmbito no presente trabalho, a intoxicação por permetrina resultou da exposição tópica por estes animais e, dado que os piretróides são bastante lipofílicos, quando os animais foram expostos a este composto durante o banho, o tóxico foi rapidamente absorvido pela pele, pelo que chegou facilmente à corrente sanguínea (Grave, T., 2010). Como tal, a primeira recomendação terapêutica nestes casos é a descontaminação tópica, que foi realizada em ambas as situações e que consiste na lavagem do animal com água morna (uma vez a água quente iria favorecer a absorção do composto) e com um detergente aniónico para tentar a remoção do tóxico de modo a minimizar a sua absorção pela pele (Brückner, M., 2012). Nestes casos, a descontaminação tópica não foi suficiente para o tratamento da intoxicação e foi necessário recorrer à terapia farmacológica para tratar a sintomatologia apresentada pelos animais.

Os piretróides atuam a nível periférico e no SNC, o que resulta em alterações, nomeadamente ao nível da temperatura do animal (Grave, T., 2010). De facto, em alguns casos, pode ocorrer hipertermia e, como consequência, surge um aumento da atividade muscular, o que foi verificado em ambos os casos de intoxicação (Sutton, N., 2007), (Draper, W., 2013).

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Daniela Rodrigues Fernandes

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas|2013-2014

O diagnóstico de intoxicação por permetrina foi obtido através da sintomatologia apresentada pelos animais e da informação dada pelos donos, que referiram que os animais apresentaram tremores pouco tempo depois do banho. No caso clínico nº 13, o animal apresentou fasciculações, tremores, midríase, hipertermia, convulsões e taquicardia, enquanto no caso nº 14 apresentou tremores, sialorreira, convulsões e midríase (tabela 2).

No geral, a terapêutica nos casos de intoxicação por permetrina depende da severidade dos sinais clínicos apresentados, da resposta à terapia inicial, assim como da escolha e experiência do veterinário (Boland, L., 2010). Geralmente, o tratamento engloba a estabilização do animal, a descontaminação tópica e terapêutica de suporte e, como atualmente não existe nenhum antídoto para os casos de intoxicações por permetrina, o tratamento farmacológico tem como objetivo principal resolver as convulsões e tremores apresentados pelos animais (Dymond, N., 2008), (Brückner, M., 2012), (Draper, W., 2013), (Grave, T., 2010).

A primeira linha de tratamento nestas intoxicações envolve a administração de diazepam para o controlo de fasciculações musculares e de convulsões (Dymond, N., 2008), (Sutton, N., 2007). A permetrina, como é bastante lipofílica, atravessa a barreira hematoencefálica e atua ao nível do SNC como antagonista dos recetores GABA, o que provoca uma hiperestimulação e pode ocorrer exacerbação dos sinais clínicos apresentados pelo animal. O diazepam, ao favorecer a acção do neurotransmissor GABA, pode, assim, inibir a ação dos piretróides, diminuindo os tremores e fasciculações causados pela exposição à permetrina e tendo também ação no controlo das convulsões (Arnót, L., 2011), (Brückner, M., 2012). Esta benzodiazepina também apresenta efeito sedativo, sendo que pode ser administrada por via IV e por via intra-retal (Grave, T., 2010), (Brückner, M., 2012).

As convulsões resultantes da exposição à permetrina são uma das causas principais de morte dos animais expostos a piretróides e, em casos mais graves, o diazepam pode não ser efetivo no seu controlo e, como tal, é necessário considerar outras opções terapêuticas (Draper, W., 2013), (Sutton, N., 2007). Como alternativa, pode recorrer-se à administração de barbitúricos, os quais atuam directamente nos recetores GABA-A, estimulando-os (Plumb, D., 2008), (Sutton, N., 2007). No caso clínico nº 13, foi administrado tiopental e foi possível observar-se um efeito hipnótico e anestésico, diminuindo-se assim a ação tóxica do piretróide (Brückner, M., 2012), (Plumb, D., 2008). Como terapêutica associada, foi administrada amoxicilina com ácido clavulânico ao gato, de modo a evitar infeções secundárias (Boland, L., 2010). Em ambos os casos clínicos, foi administrada furosemida novamente com o objetivo de acelerar a eliminação do tóxico a nível renal e fez-se a reposição dos fluidos corporais, assim como a administração de multivitamínicos, uma vez que também apresentam um efeito benéfico para o animal como terapêutica de suporte (Brückner, M., 2012). A fluidoterapia é essencial para repor os níveis de hidratação e tem um papel importante na proteção renal (Brückner, M., 2012). No caso nº 14 observou-se sialorreia, tendo sido administrada atropina,

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um antimuscarínico, com o objetivo de controlar essa sintomatologia (Brückner, M., 2012), (Gupta, R., 2012).

Estes dois casos clínicos apresentaram uma resposta positiva à terapêutica o que permitiu a recuperação total dos dois animais.

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