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CAPÍTULO 1. INSTITUIÇÕES, CONCORRÊNCIA, INOVAÇÃO E PROPRIEDADE INTELECTUAL

1.4. Evolução histórica da propriedade intelectual: da Convenção da União de Paris ao Acordo TRIPs

1.4.1. Introdução histórica 22 ao “sistema de patentes”

Para Penrose (1974, p. 5), o sistema internacional de patentes é constituído por uma complexa estrutura de leis, costumes nacionais, acordos e práticas internacionais privadas e acordos governamentais internacionais, referentes às patentes dos inventos. A autora demonstra que os propósitos comuns nas leis de patentes buscam: (i) estimular a inovação e assegurar a propriedade da patente ao inventor por um período, para obter retorno do investimento realizado; (ii) impedir terceiros de usar seu invento, exceto para seus próprios fins; (iii) conceder um monopólio que permite, ao detentor

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Esta seção é baseada, principalmente, em Penrose (1974). 23

Penrose (1974, p. 5) esclarece que a acepção de “sistema de patentes” é usada em sua obra clássica como um “término común, que abarca uno complicado conjunto de acuerdos y costumbres legales.”

dos direitos da patente, controlar a produção e o preço dos produtos patenteados, dentro dos limites estabelecidos pela demanda.

A autora destaca que muitas características das patentes modernas já eram encontradas no final da Idade Média e início da Era Moderna. Ela relata que os privilégios para o inventor foram utilizados em algumas partes da Alemanha, em Veneza, na Holanda, Inglaterra e França, ao longo dos séculos XV a XVI, mostrando a rapidez com que se difundiram no século XIX, como demonstramos, brevemente, nos parágrafos seguintes.

Sherwood (1992) afirma que é muito antiga a disposição do público em atribuir o status de propriedade aos produtos da mente24 humana. Cita que, séculos atrás, os ceramistas e trabalhadores de pedra identificavam suas obras na comunidade com marcas individuais. Os segredos dos artesãos eram protegidos dentro do clã, no âmbito familiar, dentro do qual os detalhes do ofício eram passados de geração em geração. Durante a Idade Média, na Europa, as corporações de artesãos usavam mecanismos de defesa de seus métodos contra todas as demais. Em fins do século XV, após a invenção da imprensa, apareceu, ainda de forma rudimentar, o reconhecimento do copyright de uma pessoa. E foi em Florença e em Veneza, antes de 1500, que foram concedidos os direitos exclusivos de práticas de invenções.

Como expõe Penrose (1974), há muitos exemplos, no século XIV, de privilégios outorgados aos inventores. No século XV, a República de Veneza concedia privilégio aos inventores de novas artes e máquinas por dez anos, objetivando estimular a invenção. A novidade e a utilidade do invento eram consideradas importantes para outorgar o privilégio e exigia-se do inventor que colocasse em prática seu invento dentro do tempo determinado.

Na Alemanha, no século XVI, as patentes eram amplamente utilizadas. Os príncipes alemães recebiam altas rendas das minas e, para isso, outorgavam diversos privilégios de patentes.

Penrose (1974) afirma que a proteção alemã dos inventos, no século XVI e finais da Idade Média e início dos tempos modernos, aplica princípios modernos a respeito da

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Sherwood (1992, p. 23) aplica o termo “produtos da mente” ou “bens intelectuais” às idéias, invenções e expressões criativas como um todo.

proteção dos inventores, princípios que antes se supunha terem sido expressos pela primeira vez na Inglaterra, especialmente com a lei inglesa de patentes, de 1624.

Na Inglaterra, a organização comercial era baseada principalmente em privilégios, franquias e licenças especiais, não sendo fácil distinguir a patente de inovação de outros privilégios concedidos pela Coroa. Na década de 1570, os monopólios e patentes eram outorgados principalmente para estimular a inovação e a invenção, porém havia também outro motivo, pois a concessão era uma forma de recompensar e assegurar a lealdade de pessoas proeminentes para a Coroa. Em muitos casos, a concessão não buscava o bem estar público. Isso fez nascer um clamor público contra os privilégios monopolistas de bens de uso comum, tais como sal, azeite, vinagre, amido e nitrato. Em razão disso, foi editado o Estatuto de Monopólios, de 1623, que declarou nulos os monopólios que não visavam ao bem público e se dispôs a indenizar as pessoas prejudicadas. O Estatuto foi chamado de “a carta magna” dos direitos do inventor, porque pela primeira vez uma lei geral de um estado moderno estabelecia o princípio de que só o verdadeiro e primeiro inventor de uma nova manufatura deveria receber um monopólio de patente. O Estatuto de Monopólios foi a base da lei de patente britânica e o antecessor da lei semelhante dos Estados Unidos.

Penrose (1974) continua sua introdução histórica sobre o sistema de patentes em alguns países, discorrendo sobre a França. Neste país, no princípio, a patente de invenção era usada como favor real e arbitrário, o que, com o tempo, converteu-se num sistema regulado. Em 1762, um edito do rei estabeleceu as primeiras regulamentações referentes à concessão dos privilégios ao inventor, cujo prazo outorgado era de 15 anos. Em 1791, foram estabelecidas as bases estatutárias da patente de invenção, baseadas muito no Estatuto de Monopólios da Inglaterra, porém mais abrangentes que este, pois declaravam que existia um absoluto direto de propriedade sobre os descobrimentos industriais.

Ainda no século XVIII, foi criada a primeira lei de patentes nos Estados Unidos, a qual, para promover o progresso da ciência e das artes úteis, assegurava por tempo limitado, aos autores e inventores, direitos exclusivos sobre as suas obras e descobrimentos. A lei e a prática inglesas influenciaram a edição da lei norte-

americana, sendo que a conveniência de recompensar os inventores e inovadores por intermédio do monopólio era aceita nos Estados Unidos.

No Brasil, a primeira lei que outorgava proteção aos inventores foi promulgada em 1809. No entanto, desde 1752, o país havia concedido um privilégio por 10 anos para um projeto de uma descascadora de arroz.

Penrose (1974) aponta que, no século XIX, a partir de 1815, a atividade econômica do mundo ocidental se intensificou muito, quando houve grandes progressos no trabalho, no comércio e na indústria, e as relações entre as nações ficaram mais próximas e complexas, o que fez surgir a necessidade de uma cooperação internacional em matérias diversas, como finanças e sistema de patentes.

Com o crescimento do comércio internacional, muitos países procuraram assegurar a proteção de suas patentes e marcas, utilizando acordos bilaterais, os quais eram integrantes de tratados comerciais, de amizade ou de navegação. Os resultados destes acordos bilaterais não eram satisfatórios e a necessidade de um sistema mais eficaz para facilitar o comércio internacional levou à conclusão, em 1883, da Convenção Internacional para a Proteção da Propriedade Intelectual, também conhecida como Convenção da União de Paris (CUP), primeiro acordo internacional sobre a matéria, objeto da seção seguinte, a qual aborda, também, outros acordos.

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