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CAPÍTULO 4. DESENVOLVIMENTO E DIFUSÃO DE SOFTWARE LIVRE: POTENCIALIDADES E RESTRIÇÕES

4.1. A opinião de especialistas sobre desenvolvimento de software livre

4.1.3. Propriedade intelectual

Nesta seção, apresentamos os argumentos dos especialistas quanto a algumas questões de propriedade intelectual, quais sejam: (i) a relação entre hardware, software, regimes de propriedade intelectual e modelos de negócios no decorrer da evolução e consolidação da indústria de software; (ii) abertura do código-fonte; (iii) política de propriedade intelectual; (iv) licença GPL.

Relação entre hardware, software, regimes de propriedade intelectual e modelos de negócios

Um especialista opinou que um fator relevante na indústria de informática foi o advento dos padrões abertos, quando foi possível às indústrias – de hardware e software – se complementarem. Para ele, o padrão aberto é mais importante do que o sistema de propriedade intelectual, pois é resultante da evolução tecnológica, e o sistema de propriedade intelectual foi criado pra garantir o investimento e dar retorno ao investidor. Na década de 1980 caminhando para a de 1990, grandes empresas norte- americanas dominantes na área de informática, interessadas em exportar software para outros países, iniciaram uma pressão para a proteção do software, por isso o foco voltou-se para a proteção da propriedade intelectual para garantir o retorno aos investidores.

Outro entrevistado mencionou que, no início da indústria de hardware, a máquina era mais importante porque não havia produção de computadores em grande escala, mas, quando se passou a produzir a máquina em escala maior e a popularizá-la, foi necessário focar em software, o qual era livre nos primórdios de sua indústria, ou seja, o código-fonte era aberto. As máquinas continuaram a evoluir e os programas também, pois máquinas mais potentes exigem software mais robusto e vice-versa, o que demonstra uma sincronização entre as indústrias de software e hardware.

Para outro entrevistado, os regimes de propriedade intelectual acompanham os modelos de negócios e respondem à evolução da indústria de software. Para ele, há a

possibilidade de coexistência entre software proprietário, software livre e patente de software.

Na sua opinião, o software proprietário é necessário para banco de dados – fundamentais para modernização do parque produtivo, comercial, que moderniza o país – e para desenvolvimento de aplicativos para os mercados nacional e internacional, e até para exportação de serviços de software proprietário.

O software livre, por seu turno, tem amplo campo de aplicação para o governo nas áreas social, educacional e de saúde. Para este entrevistado, o governo não deveria focar na tentativa de ampliar a utilização de software livre junto aos órgãos da administração pública, mas sim na disseminação de seu uso para o povo brasileiro, como forma de massificação, iniciando-se nas atividades básicas. A Embrapa foi citada como uma instituição que pode gerar e difundir software livre para os produtores rurais, para aumentar a produtividade da agricultura. No entanto, o entrevistado adverte que a renda pode se concentrar ainda mais nas mãos de grandes produtores que têm melhores condições de se apropriar das tecnologias e conhecimentos do software livre e de utilizá-los em suas propriedades. No caso do pequeno proprietário, seria necessário capacitá-lo para também poder se apropriar da tecnologia.

Por último, a patente de software, para este entrevistado, é necessária quando o assunto é o software embarcado. Para ele, o Brasil precisa de um parque industrial moderno que envolve robôs, automatização, máquinas complexas que usam software embarcado, os quais precisam de proteção patentária. Assim, o entrevistado ressaltou que os três – software proprietário, software livre e patente de software – são complementares e não excludentes.

Abertura do código-fonte

Um entrevistado discorda em disponibilizar, ou abrir, o código-fonte do software que desenvolve. Para ele, o valor de uma empresa está vinculado ao seu segredo de negócio e na forma de transformar aquele segredo em propriedade intelectual, pois sem a propriedade intelectual o investidor não tem retorno, ou lucro, e acaba não investindo num projeto de software.

Este especialista opina que a tendência é o software se transformar em commoditie e que as indústrias de hardware estão se aproveitando disso. Segundo ele, tudo isso faz parte da lógica do capitalismo de transformar produtos em commoditie, sem fugir ao “padrão de dominação dos países do norte para os países do sul.”

Política de Propriedade Intelectual

Na definição de direitos autorais das várias pessoas que participam do desenvolvimento de um software, para um dos entrevistados, existe uma “região de conflito”, entre, pelo menos, dois atores, o programador (ou desenvolvedor do software) e o mentor. Normalmente, o primeiro quer disponibilizar o software sob o licenciamento livre, mas o segundo – que detém a inteligência e a experiência do software –, às vezes, não quer.

Para este especialista falta nas universidades uma política institucional de propriedade intelectual que norteie as diretrizes quanto a esta questão, pois atualmente é verbal a decisão de difundir um software sob o licenciamento livre. No entanto, ele julga que futuramente seria necessário haver um termo assinado pelas partes, neste sentido.

Licença GPL

Outra questão tratada no âmbito da propriedade intelectual foi a adoção da licença GPL em alguns repositórios de software livre coordenados por um dos especialistas. Ele informou que a escolha da GPL se deve ao fato de ser uma licença que apresenta, além dos critérios técnicos, uma filosofia de compartilhamento e solidariedade. Ademais, ele mencionou que “não houve problemas de apropriação e uso indevido de seus programas” nos repositórios que coordena.

Este entrevistado pondera, no entanto, que existe uma interpretação errônea da GPL, pois ela permite que o software seja vendido, desde que a outra pessoa mantenha os termos da licença de redistribuição aberta e cite a autoria.

Quadro 10 – Propriedade intelectual e software livre: pontos indicados pelos especialistas

Relação entre hardware, software, modelo de negócio e propriedade intelectual

o padrão aberto é mais importante do que o sistema de propriedade intelectual, pois ele é resultante da evolução tecnológica, e o sistema de propriedade intelectual foi criado pra garantir o investimento e dar retorno ao investidor;

no início da indústria de hardware, a máquina era mais importante porque não havia produção de computadores em grande escala, mas, quando se passou a produzir a máquina em escala maior e a popularizá-la, foi necessário focar em software, o qual era livre nos primórdios de sua indústria;

os regimes de propriedade intelectual acompanham os modelos de negócios e respondem à evolução da indústria de software;

coexistência entre software proprietário, software livre e patente de software.

Importância da propriedade intelectual para a Indústria de software

A propriedade intelectual do software se valoriza com o código fonte fechado.

O valor de uma empresa está vinculado ao seu segredo de negócio e na forma de transformar aquele segredo em propriedade intelectual, pois, sem a propriedade intelectual, o investidor não tem retorno ou lucro.

Licença GPL

licença GPL: apresenta, além dos critérios técnicos, uma filosofia de compartilhamento e solidariedade; reconhece a autoria;

não vê problema de apropriação indevida de software livre.

Direitos autorais região de conflito, entre, pelo menos, dois atores, o

programador (ou desenvolvedor do software) e o mentor, pois o primeiro quer disponibilizar como livre, mas o segundo – que detém a inteligência e a experiência do software –, às vezes não quer

FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA A PARTIR DAS ENTREVISTAS COM ESPECIALISTAS

Após relatar as entrevistas com especialistas, nossa tarefa é apresentar, na seção 4.2, os argumentos de técnicos e gerentes da Embrapa sobre o desenvolvimento originário e difusão de software livre por uma empresa pública de P&D. Em seguida, na seção 4.3, efetuamos nossa leitura entre a teoria, a prática, a lei e as opiniões dos grupos de especialistas e de técnicos e gerentes.

4.2. Visão de técnicos e gerentes sobre desenvolvimento e difusão de software

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