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CAPÍTULO 3. SOFTWARE LIVRE NA ECONOMIA DO CONHECIMENTO: APONTAMENTOS JURÍDICO-ECONÔMICOS RELEVANTES

3.4. Contexto do software livre na indústria de software: algumas questões econômicas

3.4.2. Modelos de negócios

Enquanto o modelo de negócios de software proprietário é centrado em licenças de propriedade, o do software livre é baseado em serviços. As relações entre modelos de negócios específicos para software livre e da indústria de software são apresentadas no quadro 4. E, no quadro 5, vemos alguns dos modelos de negócios baseados em software livre.

Quadro 4 – Relações entre modelos de negócios específicos para software livre e da indústria de software

Negócios com

Software Livre

Fonte de receita* Modelos de negócios da industria de software** Serviço integral*** Direta, indireta SBV; SAV; CUST; PAC

Criação de clientela Indireta PAC

Habilitando hardware Indireta BEM

Acessórios Indireta - Oferta on-line Direta, indireta -

Licenciamento de marcas Indireta -

Vender e liberar Indireta PAC; CUST

Fonte: SOFTEX (2005)

* Fonte de receita direta: rendimento provém da venda de software livre; fonte de receita indireta: rendimento provém da venda em serviços ou produtos relacionados ao SL/CA

** SBV - serviço de baixo valor; SAV - serviço de alto valor; CUST - produto customizável; PAC - pacote; EMB - embarcado

Quadro 5 – Modelos de negócios baseados em software livre Desenvolvimento

Reaproveitar conhecimento pré-existente e disponível (código-fonte, métodos e documentação)

Redução de custos

de produção

Financiado por Empresas:

Ex.: IBM, Intel, Oracle etc. que participam do desenvolvimento do Linux – têm interesse na utilização de seus produtos sobre essa plataforma (Linux).

Trabalho voluntário de pessoas físicas: doam seu tempo para desenvolvimento de software livre.

Ex.: comunidade desenvolvedora do OpenOffice.

Comercialização Serviços Alterar software para adequar às necessidades do cliente, oferecer

consultoria, treinamento e capacitação. Efetuar implementações de software já existente.

Ex.: Empresas distribuidoras do GNU/Linux existentes em vários países, tais como a Mandriva ( resultante da fusão da Madrakesoft, da França, com a Conectiva, do Brasil), a Red Hat (EUA), a SuSE (Alemanha).

Uso embarcado

Utilizar sistemas operacionais livres em dispositivos de hardware. Ex.: computador de mão Zaurus, da Sharp, usa o GNU/Linux. Base para

produto proprietário

Utilizar software livre como base para desenvolver um software proprietário.

Ex.: A Sun Microsystem usa as melhorias incorporadas no OpenOffice (software livre liberado e desenvolvido por ela) para aprimorar seu produto proprietário para escritório, o StarOffice.

Venda de acessórios

Vender produtos relacionados ao software livre, como manuais, livros e revistas especializadas.

Ex.: Periódicos especializados como a Revista do Linux (Brasil) e Linux Mall (EUA).

FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA

Sabe-se que o custo de produção de um software, geralmente, é alto. No entanto, o custo para reprodução é pequeno, ou seja, tendendo a apresentar um custo marginal próximo ao zero. No caso de desenvolvimento do software livre, o custo de produção tende a ser minimizado, como apresenta Raymond (2003), por 3 motivos: (i)

possibilidade de reaproveitar o conhecimento pré-existente e disponível por intermédio de outro software livre e sua documentação; (ii) há um grande número de desenvolvedores voluntários – cujas motivações são apresentadas na tabela 2 –, que colaboram com o desenvolvimento de inúmeros projetos de software livre; (iii) há financiamento de grandes empresas, tais como as apresentadas na seção 3.1 – IBM, HP. CA, Intel, NEC, distribuidoras Linux e outras –, as quais têm interesse na utilização de seus produtos sobre essa plataforma (Linux).

A Tabela 1 mostra um dos mais promissores mercados de desenvolvimento e também de comercialização de software livre, o Linux, que alcançou a cifra de 19,8 bilhões de dólares em 2005.

Tabela 1 – Vendas de Linux no mundo Ano Valor (em US$ bilhões) 2002 8,5 2003 11,2 2005 14,5 2005 19,8 2006 (1) 24,3 2007 (1) 29,4 2008 (1) 35,7

FONTE: IDC (CONSULTORIA AMERICANA)

(1)

Previsão

Vieira (2005, p. 2) aponta o crescimento da participação do Linux no mercado, em 2005, informando que “somente no Brasil, ele está presente em 15% dos computadores de grande porte instalados nas maiores companhias do país, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Há três anos, sua fatia de mercado era apenas 5%.” Para 2006, a previsão é de aumento de sua participação do mercado, o qual estará instalado em 23% dos servidores do mundo, como evidencia o gráfico 1.

Gráfico 1 – Servidores com Linux, no mundo e no Brasil 10 18 23 10 15 15 6 8 5 0 5 10 15 20 25 2002 2003 2004 2005 2006 (1) Mundo Brasil

FONTE: FGV/EAESP E GARTNER

(1)

Previsão

O modelo de negócios do software livre centrado em serviços representa, na prática, uma estratégia diferente voltada para romper, ou minimizar, as barreiras competitivas criadas pelas empresas líderes com base no regime do copyright.

A minimização de barreiras à entrada e outros aspectos econômicos do modelo de negócios de software livre são comparados com o software proprietário no quadro 6.

Quadro 6 – Aspectos econômicos: software proprietário e software livre

Aspectos econômicos Software Proprietário Software Livre

Custos de desenvolvimento (first copy costs) maior menor

Custo marginal de produção igual igual

Economias de escopo na produção menor maior

Efeitos de rede do lado da oferta igual igual

Depreciação igual igual

Efeitos de rede do lado da demanda igual igual Cumulatividade e efeitos de lock-in maior menor

Não rivalidade no consumo igual igual

Apropriabilidade maior menor

Barreiras à entrada maior menor

Ciclo do produto menor maior

Taxa de inovatividade igual igual

Criação de descontinuidades tecnológicas maior menor FONTE: SALLES-FILHO (2006)

Com base no quadro 6, Salles-Filho (2006, p. 1) afirma que o desenvolvimento de software livre gera economias de rede maiores que no software proprietário em decorrência das “externalidades positivas que surgem quando se desenvolve um produto com a participação de um conjunto maior (e aberto) de pessoas” sendo necessária uma coordenação eficaz para se “aproveitar o conhecimento novo que se gera da interação de grupos de especialistas.” Segundo o autor, o aproveitamento do conhecimento pode ter como resultado uma “maior inovatividade no processo produtivo.”

Os modelos de negócios do software livre, seus aspectos econômicos, seu novo modo de produção e suas formas de apropriação trazem alterações nas formas de concorrência na indústria de software, conforme expõe Salles-Filho (2006, p. 2). Como a concorrência se altera, segundo o autor, parte é respondida pelo já mencionado – modelos de negócio, modo de produção e apropriação do software livre –, mas a outra parte “só se saberá com o próprio desenvolvimento da indústria.”

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