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Visão de técnicos e gerentes sobre desenvolvimento e difusão de software livre na Embrapa

CAPÍTULO 4. DESENVOLVIMENTO E DIFUSÃO DE SOFTWARE LIVRE: POTENCIALIDADES E RESTRIÇÕES

4.2. Visão de técnicos e gerentes sobre desenvolvimento e difusão de software livre na Embrapa

A entrevista com o grupo de técnicos e gerentes a Embrapa objetiva saber quais são as suas percepções sobre a geração e difusão de software livre na Embrapa Informática Agropecuária. Os quesitos do instrumento90 foram distribuídos em quatro eixos temáticos – desenvolvimento de software livre, inovação tecnológica, propriedade intelectual e difusão de software livre.

Na seção 4.2.4., apresentamos as perguntas sobre difusão de software livre com o objetivo de discutir aspectos mais práticos que permeiam a disponibilização de software livre no âmbito da Rede AgroLivre. Por este motivo, é a seção mais extensa.

Reproduzimos, com a maior fidelidade possível, as palavras e considerações dos sujeitos, sem preocupação com a terminologia técnica adequada.

A seguir, relatamos a percepção dos técnicos e gerentes, de acordo com os eixos temáticos abordados na entrevista – desenvolvimento de software livre, inovação tecnológica, propriedade intelectual e difusão de software livre. Esclarecemos que há uma transversalidade dos eixos temáticos, de forma que determinadas questões aparecerem em mais de um tema.

4.2.1. Desenvolvimento de software livre

Apresentamos, nesta seção, os argumentos dos técnicos e gerentes da Embrapa quanto às potencialidades e restrições indicadas para desenvolvimento de software livre, as quais foram agrupadas em dois itens: (i) redução de custos de uso; e (ii) modelo de desenvolvimento colaborativo em rede.

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Redução de custos de uso

Uma das vantagens apontadas pelos entrevistados quanto à utilização de SL diz respeito à redução de custos com pagamento de licenças de uso. Esta vantagem ganha maior peso em um ambiente de desenvolvimento de software em empresas do governo, as quais dependem, prioritariamente, de recursos públicos, cujos orçamentos sofrem contingenciamentos por conta da política fiscal.

Foi citado um exemplo desta vantagem. Trata-se da ferramenta computacional Árvore Hiperbólica, desenvolvida em 2003, disponível na Rede AgroLivre e utilizada na construção de 15 agências de informação91. O custo da licença de uso de um software proprietário com a mesma função da Hiperbólica, na ocasião, era de US$ 25 mil por licença.

A partir da utilização de algoritmos de um determinado software livre, foi possível aos técnicos da Embrapa Informática Agropecuária desenvolverem a Árvore Hiperbólica, com funções similares ao software proprietário correspondente, o que possibilitou não apenas uma economia de recursos no importe de US$ 375 mil, como, e principalmente, viabilizou a execução do projeto, pois a empresa não teria como pagar quantia tão vultuosa.

Para um técnico, há uma pequena desvantagem em usar SL para produção de outros programas. Segundo ele, “uma pequena parcela de software livre requer um esforço maior de adaptação em comparação ao software proprietário”, no entanto ele acha que “este esforço maior na adaptação acaba sendo uma forma de capacitar mais a equipe e técnicos no aprendizado de configuração de sistemas.”

Modelo de desenvolvimento colaborativo em rede

Os entrevistados informaram que, até o momento, não é utilizado na empresa o modelo de desenvolvimento colaborativo em rede, principalmente porque, na concepção inicial dos projetos de pesquisa em software, não se pensou em

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Sites que disponibilizam na internet informações técnico-científicas, em diversas áreas do conhecimento, geradas na Embrapa desde sua criação.

licenciamento livre “posto que as políticas estruturantes do governo federal, que motivaram a criação da Rede AgroLivre, são recentes.” Somente a partir de tais políticas, que tratam de uso e desenvolvimento de SL, é que a empresa vislumbrou no SL uma ferramenta para disseminar tecnologias e conhecimentos gerados.

As opiniões divergem quanto à adoção, daqui para frente, do modelo de desenvolvimento colaborativo em rede no âmbito dos projetos de pesquisa da unidade para gerar novos programas livres.

A minoria dos entrevistados diz que o modelo “bazar” cabe só no caso de haver um cenário de parcerias que permita esta configuração e, em se tratando de empresas de software agropecuário, o modelo “catedral” é o mais adequado. A maioria, no entanto, opina que há necessidade de trabalhar em rede, com diversas organizações parceiras, com um objeto de trabalho bem definido para multiplicar o número de pessoas que hoje atuam no âmbito de software livre na unidade, havendo a necessidade de utilização do potencial do modelo de desenvolvimento em rede com a celebração de inúmeras parcerias neste sentido.

Concernente às vantagens e desvantagens de adoção do modelo “bazar”, a maioria dos entrevistados apontou que a vantagem mais relevante é a legibilidade do código-fonte, tendo como pressuposto que o código é escrito de forma mais organizada, sendo mais testado e documentado, o que é viável com outros parceiros institucionais.

Nesse sentido, um técnico citou o exemplo que ocorreu com o projeto desenvolvido com a Venezuela – o Sistema de Informação Gerencial do Instituto Nacional de Investigaciónes Agrícolas –, no qual os técnicos daquele país tiveram acesso ao código-fonte e atuaram como desenvolvedores, simultaneamente, com os pesquisadores da Embrapa Informática Agropecuária.

Quadro 11 - Desenvolvimento de software livre: potencialidades e restrições indicadas pelos técnicos e gerentes

Potencialidades Restrições Redução de custos com pagamento de licenças de uso é uma

vantagem maior em órgãos públicos.

Pequena parcela de software livre que requer um esforço maior de adaptação em comparação ao software proprietário.

Vantagens do modelo de desenvolvimento colaborativo em rede ou “bazar”

Atende à necessidade de trabalhar em rede e potencializa a celebração de parceiras, o que pode multiplicar o número de pessoas que atuam no âmbito de software livre.

Legibilidade do código-fonte, pois o código é escrito de forma mais organizada, sendo mais testado e documentado, o que é viável com outros parceiros institucionais.

Desvantagens

O modelo “bazar” cabe só no caso de haver um cenário de parcerias que permita esta configuração e, em se tratando de empresas de software agropecuário, o modelo “catedral” é o mais adequado. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA A PARTIR DAS ENTREVISTAS COM TÉCNICOS E GERENTES

4.2.2. Inovação tecnológica

Apresentamos, nesta seção, as percepções dos técnicos e gerentes da Embrapa quanto às potencialidades para o software livre gerar inovação tecnológica, as quais estão agrupadas em dois itens: (i) inovação incremental; e (ii) características do processo inovativo.

Inovação incremental

Para a maioria dos técnicos e gerentes, o software livre tem potencial para gerar inovação tecnológica, principalmente a incremental.

Um exemplo de inovação, no âmbito da Rede AgroLivre, citado por dois entrevistados, é o do Lactus, sistema de controle de gado leiteiro. Após ter sido disponibilizado como software livre, um agrônomo de Fortaleza (CE) tem trabalhado na adaptação do aplicativo para criações de cabras. O objetivo da Embrapa Informática Agropecuária é de que essa nova versão também fique disponível no repositório da

Rede AgroLivre, conforme estabelece a licença GPL, para que outros pecuaristas possam usá-la.

Características do processo inovativo

Para a maioria dos entrevistados, as características do processo inovativo – oportunidade, cumulatividade e apropriação –, são vantagens competitivas que podem facilitar a inovação tecnológica de software livre.

Como elas facilitam, para os entrevistados, é da seguinte maneira:

A oportunidade tecnológica é vista, principalmente, pela oportunidade da Embrapa em incubar empresas a partir de software livre gerado, possibilitando o ingresso de algumas empresas no mercado ou ajudando outras a ampliar sua área de atuação por intermédio do oferecimento de treinamentos, formação de pessoal, desenvolvimento de software e diversos serviços relacionados aos programas gerados pela Embrapa.

A incubação também é vista, por alguns entrevistados, como uma das formas de apropriação ou captação de recursos, principalmente pela prestação de serviços a partir de software livre, sendo que a criação de empresas vinculadas à unidade, via incubadora, é vista por eles como uma forma de a Embrapa participar societariamente das mesmas, para prestar ou vender serviços de treinamento e desenvolvimento.

A incubação de empresas aparece, de novo, mais adiante, quando perguntamos sobre as oportunidades imanentes ao desenvolvimento de software livre.

A cumulatividade do progresso técnico, para a maioria dos entrevistados, é proporcionada pela legibilidade do código-fonte e sua documentação bem feita, que codifica o conhecimento tácito, possibilitando eficaz compartilhamento de conhecimento. A cumulatividade de conhecimentos pode facilitar o surgimento de inovações tecnológicas.

Quadro 12 – Inovação tecnológica e software livre: oportunidades e restrições levantadas por técnicos e gerentes

Potencialidades Estímulo à inovação incremental

Lactus - sistema de controle de gado leiteiro - foi adaptado para a criação de cabras. Características do processo inovativo

oportunidade: incubar empresas para fornecerem serviços relacionados ao software livre, possibilitando o ingresso de mais empresas no mercado e/ou ampliação de atividades de outras.

apropriação: também pela incubação como uma forma de captação de recursos e pela participação societária das mesmas, e pela prestação de serviços relacionados ao SL.

cumulatividade: pela legibilidade do código-fonte e sua documentação que codifica o conhecimento tácito, possibilitando compartilhar conhecimento.

FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA A PARTIR DAS ENTREVISTAS COM TÉCNICOS E GERENTES

4.2.3. Propriedade intelectual

Os argumentos dos técnicos apresentados nesta seção referem-se aos seguintes assuntos relacionados à propriedade intelectual: (i) necessidade ou não de adequação da política institucional de gestão de propriedade intelectual da Embrapa à realidade do software livre; (ii) autorização prévia e escrita do desenvolvedor do software para sua difusão sob o licenciamento livre; (iii) definição de direitos autorais de software livre desenvolvido em parceria com outras organizações; (iv) necessidade de registro do software junto ao INPI; (v) patente de software.

Adequação da política institucional de gestão de propriedade intelectual

A maioria dos entrevistados informou que não tem conhecimento aprofundado sobre a política institucional de gestão de propriedade intelectual da Embrapa.

No entanto, para a eles, é necessário adequar a referida política à realidade do software livre pelos seguintes motivos: (i) não há entendimento claro sobre como se posicionar, quando ocorre uma melhoria de processo; ou, quando o trabalho é feito em conjunto, sobre quem deve registrar e como pagar o percentual do inventor e ainda sobre a definição de quem é o inventor; (ii) a política de propriedade intelectual não foi

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