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investigação poder ser simultaneamente encarado de duas formas substancialmente distintas Por

um lado, ele pode ser encarado essencialmente

como um trabalho crítico, isto é, como um

trabalho de contestação, de problematização das

práticas sociais. Mas, por outro lado, ele pode

ser definido como um trabalho de investigação

na sua forma positiva, isto é, como um trabalho

que pretende enumerar verdades que se

admite poderem constituir instrumentos de

desenvolvimento e progresso”

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INTRODUÇÃO

Raquel Morais

complexo de abordagens e conceitos. Esta multidimensionalidade encerra em si conceitos de diversidade de factores externos e internos do investigador. A escola é um objecto complexo e não poderá ser analisado de uma forma simplista ou unidireccional. Teremos que o abordar por vários ângulos e caminhos, não deixando sempre de ser uma visão pessoal e crítica, um enumerar de situações que remetem à análise e ponderação.

Este duplo papel, o de ser professora e investigadora, obriga-me a um permanente questionar e um enumerar de hipóteses de compreensão da realidade. Sinto também que esta duplicação de perfis deverá ser o de mostrar, mas não só, o resultado da reflexão deverá funcionar como um mecanismo de construção, de intenção futura. As experiências do passado são analisadas no presente, para a construção de um futuro intencionalmente melhor. Ao contrário da investigação nas ciências chamadas de exactas (física, biologia, etc) e tal como no campo da investigação em arte, “a investigação nas ciências sociais não incide apenas nas metodologias utilizadas, mas fundamentalmente na relação que temos com estas ciências, ou melhor, na relação entre elas e a nossa experiência pessoal” (Berger, 2009 p. 177). A investigação é sempre uma matéria do sensível, é um resultado de um investigador impregnado da sua experiência, do seu conhecimento profissional, da sua acção e do que está a acontecer, das emoções e acções com os outros.

Esta tese que se assume também como um relato, é uma narrativa textual e visual própria, que “vem de dentro”, de alguém que está no centro da investigação e também faz parte do objecto de estudo. Na tentativa de entender a rotina educativa “há necessidade de compreender desde o interior - mais do que procurar extrair dados para analisar noutro lado qualquer, para a ler como se fosse um texto ou tentar lê-la a partir de textos” (Pink, 2012, p.12). Não me situo portanto como mera observadora, distante do objecto de estudo, a tirar notas do que está à minha volta como se tratasse de um ambiente controlado de laboratório. Situo-me dentro e em conflito: “(...) é através de uma teoria da prática e do lugar que podemos compreender os meios ambiente material, social, sensorial e mediatizado da vida diária, o activismo e subsequentes processos através dos quais a sustentabilidade pode ser alcançada, o todo forma a parte” (Pink, 2012, p. 13).

Segundo Judith Bell, “a investigação-acção não é um método nem uma técnica. Consiste numa abordagem que se revela particularmente atraente para os educadores devido à sua ênfase prática na resolução de problemas, por serem profissionais (...) que levam a cabo a pesquisa e esta visar um maior entendimento e aperfeiçoamento do desempenho durante um certo período” (Bell, 2010, p. 22). É assim, uma forma de enfrentar as possibilidades de investigação em determinado espaço de tempo, sem no entanto estar terminado quando o trabalho acaba propriamente. Dependendo do tipo de dados e da sua recolha, podem ser usadas e

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INTRODUÇÃO

Risco

&

Stroke

acrescentadas outras técnicas para a recolha de dados, dependendo da sua natureza e dos objectivos da investigação.

As narrativas das histórias ou episódios de vida são um recurso de

investigação comum nas Ciências Humanas, especialmente nos campos da Sociologia e da Educação. Elas oferecem um recurso rico para a melhor compreensão da multifacetada e subjectiva vida dos visados. As histórias de vida são hoje uma metodologia recorrente que “através da adequação de seus princípios epistemológicos e metodológicos a outra lógica de formação do adulto, a partir dos saberes tácitos e experienciais e da revelação das aprendizagens construídas ao longo da vida como uma metacognição ou metareflexão do conhecimento de si” (Souza, 2006, p. 138).

As histórias de vida conseguem comunicar a expressividade do narrador e a sua subjectividade, contadas na primeira pessoa, são histórias não verificáveis e com a visão da pessoa que a viveu. No meu estudo esta técnica foi utilizada apenas nas análises das situações, nos “episódios” e não como uma história de vida propriamente e estruturante da pesquisa. São um recurso que em certos casos “pode aumentar a nossa compreensão no contexto de um estudo de caso ou de um estudo etnográfico” (Bell, 2010, p. 31). Servem sobretudo de reforço e entendimento ao estudo de caso, conferindo uma voz activa no estudo e identidade a alguns dos intervenientes. Chamo então situação ou episódio pois considero que são relatos curtos e relativos a situações muito específicas. São relatos de uma situação específica em aula mas que poderá vir a ser um dia um episódio dentro da sua história maior. Situa-se no espaço curto de tempo relativo aos

projectos em causa, servindo de material de pesquisa e posterior exploração e divagação. Como apoio e impulso à pesquisa, o estudo de caso contribui, “de forma inigualável, para a compreensão que temos dos fenómenos individuais, organizacionais, sociais e políticos” (Yin, 2001, p. 21). Esta tese é constituída por uma investigação feita a partir de um conjunto de episódios vividos, de momentos e emoções da prática diária transformados em situações ou casos

elaborados nos últimos quatro anos. Interessava-me sobretudo estudar como determinadas propostas e contextos educativos actuavam sobre o processo de aprendizagem e dos artefactos produzidos, como poderia

“Trabalhar sobre relatos de «histórias de

vida» no campo das ciências humanas e na

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