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2 TECENDO CONHECIMENTOS SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E O USO DAS MÍDIAS

6- Outras n=01 (3,2%) Não identificados a subcategorias-

2.3 Ir além ao quarteto fantástico: uma forma diferente de classificar os esportes

Nesta unidade se abordará sobre questões que permeiam os esportes, utilizando uma das classificações deste conteúdo, pois através do planejamento participativo foi escolhido o “esporte” como conteúdo a ser estudado no bimestre, seguindo as orientações da Matriz Curricular do Estado do Ceará. Vale destacar, que os alunos escolheram o conteúdo esporte e não uma classificação, os mesmos não conheciam nenhuma classificação dos esportes. A pedagogia do esporte traz diferentes metodologias para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

Os professores escolheram a classificação dos esportes baseadas em González e Bracht (2012), por considerarem a mais viável na ampliação da diversidade das práticas corporais na escola e por também estar presente na primeira versão da BNCC, onde considerava uma sistematização curricular para toda a Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), fato este não observado nas outras versões do documento, e principalmente na versão homologada.

O esporte tem se constituído como uma das manifestações culturais mais difundidas em todo o mundo, seja para a prática cotidiana das diversas comunidades e pessoas ou para o mundo do espetáculo. Os praticantes de esporte encontram diferentes significados na sua prática. Pode representar um trabalho para atletas profissionais, diversão e saúde para amigos, que se reúnem aos finais de semana e ainda um momento particular de aprender elementos essenciais sobre o mundo e a convivência humana. Por isso, o esporte é um fenômeno plural que pode ocorrer em diversos contextos de prática, com diferentes níveis de exigência, bem como diferentes sentidos e significados atribuídos por seus praticantes e apreciadores (GONZÁLEZ; DARIDO; OLIVEIRA, 2014).

Dessa forma, o desafio é equacionar a relação entre o tempo necessário para ensinar ‘todos’ os conhecimentos das mais diferentes práticas corporais e o tempo efetivamente disponível. Famosa relação entre o tempo necessário e tempo disponível, ou seja, não temos tempo suficiente para tratar de ‘todos’ os esportes durante a Educação Básica, consequentemente, devemos fazer a escolha (professor e aluno) por aqueles que

proporcionem uma aprendizagem significativa, levando em conta o tempo disponibilizado na matriz curricular (GONZÁLEZ; FRAGA, 2009, 2012).

Nesse sentido, é fundamental diferenciar os esportes de acordo com as expectativas que se tem em relação ao nível de aprendizagem que os alunos buscam e conseguem atingir em cada modalidade: ‘saber praticar’ e ‘saber conhecer’. Trabalha-se, desse modo, com duas categorias de práticas corporais (GONZÁLEZ; FRAGA, 2009, 2012).

A seleção das práticas corporais esportivas e respectivas modalidades para ‘saber praticar’ e para ‘conhecer’ na escola, também necessita de atenção especial por parte do professor, dos gestores e comunidade escolar. Na escolha deveriam ser levados em conta, tanto a tradição da região, como as possíveis desigualdades no acesso a essas práticas corporais por diferentes grupos sociais, avaliando a possibilidade de praticá-los fora do esporte da escola e estimulando assim o protagonismo comunitário (BRASIL, 2017).

O alcance do esporte no início do século XXI o coloca como um dos mais representativos fenômenos socioculturais, sustentando significados e finalidades plurais, uma vez que se insere em diferentes cenários e alcança personagens dos mais diversos grupos sociais (REVERDITO, SCAGLIA & MONTAGNER, 2013).

Segundo González e Bracht (2012) o esporte é o meio mais utilizado na atualidade para a difusão do movimento corporal na escola. De acordo com os autores, a utilização do esporte nas aulas de Educação Física é tão forte que do ponto de vista dos alunos percebe- se uma identificação do significado da disciplina com o esporte.

Muitos estudos confirmam que o esporte ainda é desenvolvido nas aulas de Educação Física com ênfase nos aspectos técnicos e mecânicos, tornando o ensino reducionista e limitado (FINK, 2002 apud FINK, 2009).

Fundamentando-se nos estudos de Mourão e Pereira citados por Votre (1995, p.48), a autora diz que apesar disso, fica constatado que a grande maioria das crianças e jovens sente satisfação na vivência do esporte nas aulas, tendo a Educação Física como a disciplina preferida na escola.

Dessa forma, se traz o seguinte questionamento: será que ser a mais preferida significa ser a mais importante também para os estudantes?

Para Anderáos (2009, p. 188), “talvez o grande equívoco de muitos professores de Educação Física seja fazer com que o aluno vivencie a prática esportiva nos mesmos moldes do alto rendimento”. A autora diz que muitos professores de Educação Física se

preocupam, principalmente, com o ensino das técnicas dos esportes, visando uma execução perfeita dos movimentos.

Atualmente, os esportes têm sido praticados, de modo expressivo, em ambientes formais e não-formais de ensino, tanto com o caráter competitivo quanto com o caráter recreativo. Diante disso, sugere-se que os professores de Educação Física busquem uma construção contínua de novos conhecimentos e atitudes, frente às constantes alterações, tanto de ordem técnica e metodológica quanto das transformações sociais, que têm modificado significativamente o perfil das crianças e jovens praticantes dos esportes. Dessa maneira, parece oportuno que se apresente duas questões centrais para uma proposta de compreensão dos esportes: o sistema de classificação dos esportes e as metodologias que permeiam seu ensino (SOUZA, 2008).

Segundo o Caderno do Professor de Educação Física do Estado do Rio Grande do Sul (2009) é difícil afirmar a quantidade de modalidades esportivas existentes na atualidade.

[...] De vez em quando a mídia esportiva anuncia o surgimento de uma “novidade”, que se agrega tanto àquelas já conhecidas quanto àquelas cuja existência mal se suspeitava. Mais quais as referências usadas pela mídia para afirmar que determinada modalidade esportiva é ‘nova’? Quais características diferenciam uma prática esportiva das demais? Certamente não há um gabarito para tais questões, mas para começar a esboçar uma resposta minimamente consistente é preciso saber ler os critérios que permitem considerar uma modalidade semelhante ou diferente de outra no complexo mundo dos esportes. (CADERNO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 115).

Os esportes têm sido objeto de diversas classificações (PARLEBAS, 1988; FAMOSE, 1992; HERNÁNDEZ, 1994 e 1995; HERNÁNDEZ, 2000; SCHMIND; WRISBERG, 2001). As classificações citadas anteriormente seguem diferentes critérios e aspectos estruturais e/ou dinâmico dos esportes (GONZÁLEZ, 2012). Os critérios são divididos em dois grandes grupos, a saber: lógica interna e lógica externa. Segundo Parlebas (2001, p. 302) a lógica interna é um “[...] sistema de características próprias de uma situação motora e das consequências que esta situação demanda para a realização de uma ação motora correspondente”, se trata dos aspectos peculiares de uma modalidade que exigem aos jogadores atuarem de um jeito específico (desde o ponto de vista do movimento realizado) durante sua prática. Já a lógica externa, por sua vez, se refere às características e/ou significados sociais que uma prática esportiva apresenta ou adquire num determinado contexto histórico e cultural (GONZÁLEZ, 2012).

Segundo González; Bracht (2012, p. 19), “o conhecimento da lógica interna permite aos professores fazerem a leitura das características de diversas modalidades esportivas existentes com base nos desafios motores impostos aos participantes”.

Em seus estudos, González (2004), após um levantamento a respeito de diferentes propostas de classificação dos esportes, propôs um sistema fundamentado nos seguintes critérios: a) a existência ou não de relação com os companheiros; b) a existência ou não de interação direta com o adversário.

Com base no critério que trata da relação com os companheiros, os esportes podem ser classificados como individuais ou coletivos. Os individuais são aqueles onde a ação esportiva é realizada apenas por uma pessoa, sem a colaboração de um colega. Já os coletivos são aqueles onde as estruturas e dinâmicas das modalidades exigem a organização das ações de duas ou mais pessoas para o desenvolvimento da modalidade. Quando se utiliza como critério de classificação a relação com o adversário, tem-se que essa condição exige dos participantes constantes adaptações na ação motora em função da atuação e da antecipação da ação do adversário, sendo classificados em esportes com ou sem interação direta com o adversário (GONZÁLEZ, 2004).

É importante esclarecer que a interação com o adversário apresentada pelo autor está relacionada ao fato de a ação motora de um participante interferir ou não na ação motora do seu oponente. O quadro abaixo demonstra alguns tipos:

Quadro 5: Classificação em função da relação de cooperação e oposição

Esporte Com interação com adversário Sem interação com adversário

Coletivo Basquetebol Futebol Futsal Softbol Voleibol Acrosport

Ginástica rítmica desportiva (grupo) Nado sincronizado Remo Individual Badminton Judô Paddle Peteca Tênis

Atletismo (prova de campo) Ginástica olímpica

Natação

Fonte: González, 2004.

A prática esportiva pode sofrer ou não a interferência do ambiente físico. Esse fator consegue alterar o desempenho dos praticantes e acarretar um baixo rendimento nas práticas motoras, permitindo assim, classificar os esportes em duas categorias relacionadas

ao ambiente físico, a saber: 1- esportes com estabilidade ambiental; 2- esportes sem estabilidade ambiental. O quadro a seguir mostra alguns exemplos:

Quadro 6: Classificação em função das características do ambiente físico onde se realiza a prática esportiva

1- Esporte sem estabilidade ambiental 2- Esporte com estabilidade ambiental

Canoagem

Corrida de orientação Iatismo Mountain bike Surf

Montanhismo

Basquetebol

Ginástica rítmica desportiva Judô

Nado sincronizado Natação (em piscina) Fonte: González, 2004.

Dessa maneira, dentro do conjunto dos esportes SEM interação entre adversários, de acordo com González e Bracht (2012), podemos identificar três subcategorias dos esportes: os esportes de marca, os esportes técnico-combinatórios e os esportes de precisão. Os esportes de marca são aqueles onde há a comparação entre os índices alcançados em segundos, metros ou quilos. São exemplos de esportes de marca: o atletismo, a patinação de velocidade, o remo, o ciclismo e dentre outros. Nesses esportes, uma das características que mais se destaca é a quebra de recordes. Nessas provas os adversários “medem forças” para saber quem foi mais rápido (menor tempo em horas, segundos, milésimos de segundo), quem foi mais longe ou mais alto (em metros e centímetros), quem levantou mais peso (em quantidade de quilos) (GONZÁLEZ & BRACHT, 2012).

Os esportes técnico-combinatórios, também conhecidos como estéticos, são aqueles onde há uma comparação do desempenho centrada na beleza e no grau de dificuldade do movimento, respeitando padrões, códigos ou critérios estabelecidos nas regras. Nesses esportes são comparadas as execuções dos movimentos, bem como o grau de dificuldade com o qual os mesmos são realizados. São exemplos de esportes técnico- combinatórios as modalidades de ginástica, as provas de patinação artística, de nado sincronizado, de saltos ornamentais, entre outros. Os esportes de precisão são aqueles onde o principal objetivo é acertar um alvo específico que esteja fixo ou em movimento. Nesses esportes valoriza-se a boa pontaria. São exemplos de esportes de precisão: o golfe, a sinuca, tiro com arco, tiro esportivo entre outros (GONZÁLEZ & BRACHT, 2012).

No conjunto dos esportes com interação entre os adversários, o critério de classificação fundamenta-se nos princípios táticos da ação que o(s) atleta(s) deve(m) realizar para atingir a meta estabelecida pelo esporte. Nesse conjunto de esportes é necessário levar em consideração que os adversários estarão buscando, ao mesmo tempo, alcançar o mesmo objetivo. Ao considerar essa característica, pode-se perceber que existem traços comuns nas ações de ataque e defesa em modalidades esportivas que parecem ser bastante distintas (GONZÁLEZ & BRACHT, 2012).

O pólo aquático e o futebol, por exemplo, têm o mesmo princípio de organização tática, apesar do primeiro ser praticado dentro de uma piscina e o segundo num campo gramado. Tanto num quanto no noutro a defesa de uma equipe só funciona quando todos os jogadores adversários estiverem marcados e quando, ao mesmo tempo, cada defensor estiver de costas para seu próprio gol e de frente para o jogador marcado, tentando lhe tirar o espaço para o arremesso ou chute a gol. Nesses esportes é preciso estar o tempo todo com um olho na bola e outro no adversário (GONZÁLEZ & BRACHT, 2012).

Para Gonzaléz & Bracht (2012), de acordo com os princípios táticos do jogo, o conjunto de esportes que possuem interação com os adversários divide-se em quatro subcategorias: esportes de combate, esportes de campo e taco, esportes de rede divisória ou parede de rebote e esportes de invasão. Os esportes de combate caracterizam-se pela disputa onde os adversários tentam vencer, um ao outro, através do desequilíbrio, de imobilizações, da exclusão de determinados espaços e/ou contusões, combinando ações de ataque e defesa e por serem sempre modalidades individuais. São exemplos desses esportes o jiu-jitsu, o judô, o karatê e entre outros.

Os esportes de campo e taco têm por objetivo rebater a bola para a maior distância possível, buscando percorrer as bases o maior número de vezes, marcando, assim, mais pontos. Nesses esportes cada equipe tem sua vez de atacar e defender. São exemplos desse tipo de esporte: o beisebol, o críquete, o softbol e entre outros (GONZÁLEZ & BRACHT, 2012).

Os esportes de rede divisória ou parede de rebote são as modalidades onde se arremessa, lança ou se bate na bola ou na peteca, sobre a rede ou contra a parede, em direção à quadra adversária, de maneira que o adversário não consiga ou tenha dificuldades em devolver a bola. Esses esportes são caracterizados pela ação de defender a bola ou a peteca e ao mesmo tempo tentar atacá-la. São exemplos desse tipo de esporte: o voleibol, o vôlei de praia, o tênis, o badminton, a peteca e dentre outros (GONZÁLEZ & BRACHT, 2012).

Com relação aos esportes de invasão, Sadi (2010) afirma que para que as equipes tenham êxito em sua empreitada, devem movimentar a bola (ou outro objeto) dentro do território da equipe adversária, atacando em um alvo fixo (no gol ou na cesta). São exemplos dos esportes de invasão o futebol, o futsal, o basquetebol, o handebol, o futebol americano, o pólo aquático, o rúgbi entre outros (GONZÁLEZ & BRACHT, 2012).

Neste sentido, se apresenta um quadro que sintetiza um conjunto de sistema da classificação dos esportes que leva em consideração as funções de quatro categorias distintas, tais como: 1- a relação com o adversário; 2- a lógica de comparação de desempenho; 3- as possibilidades de cooperação; 4- as características do ambiente físico onde se realiza a prática esportiva. Veja logo abaixo:

Quadro 7: Sistema de classificação dos esportes em função: da relação com o adversário, lógica de comparação de desempenho, as possibilidades de cooperação e

as características do ambiente físico onde se realiza a prática esportiva.

Fonte: González (2004).

Para finalizar o sistema de classificação utilizado no presente estudo, temos os esportes de invasão. Esse tipo de esporte caracteriza-se pela ação de invadir, ocupar o setor da quadra/campo de defesa do adversário para marcar pontos e, ao mesmo tempo, proteger sua meta do ataque do adversário. Esses esportes possuem muitas semelhanças, entre elas o formato do campo ou quadra que, em geral, são retangulares e a posição da meta a ser atacada que, geralmente, estão localizadas nas linhas de fundo (GONZÁLEZ & BRACHT, 2012).

Considerando a escola como um ambiente plural de diversas manifestações culturais de uma função social importante para a educação, um grande desafio a ser superado, é estimular os interesses dos estudantes na busca de práticas corporais que sejam motivante para a prática esportiva dentro e fora da escola. Nessa perspectiva, a utilização das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) é cada vez mais crescente nas instituições de ensino, tornando-a necessária no ambiente escolar, devido a sociedade em geral está cada vez mais “tecnológica”.

Se pode fazer um diálogo com o uso das mídias com a concepção ampliada do esporte, seja ela educacional e/ou de alto rendimento, notado na compreensão a seguir:

[...] por meio do legado esportivo educacional, apostamos em uma possibilidade de utilização do esporte como ferramenta educacional [...]. Desta forma, o conteúdo esporte pode ganhar amplas possibilidades de intervenção, relacionadas à cultura corporal do movimento do esporte com subtemas em destaque pela realização de megaevento esportivo, como por exemplo, a relação da mídia com o esporte e neste sentido o esporte telespetáculo; o corpo; a saúde; e os padrões de beleza; sedentarismo e doenças relacionadas à falta de prática esportiva e atividades físicas; discussões sobre ética e valores no esporte; apresentar aos alunos esportes que não fazem parte do cotidiano deles; entre inúmeras possibilidades [...] (BARNABÉ; STAREPRAVO, 2013, p. 4).

Neste sentido, é inegável o consumo da mídia pela sociedade, em particular os alunos, que nos faz pensar, enquanto professores, sobre como é o processo de apropriação das informações difundidas pelos meios de comunicação diante do alunado. É neste cenário que configura a real necessidade da aproximação da Educação Física com as Mídias, promovendo um consumo mais crítico das informações veiculadas nos megaeventos esportivos, práticas corporais educativas ou simplesmente nas práticas esportivas do lazer (ARAÚJO, 2016).

Estudos mostram que as vivências pré-universitárias e a própria formação universitária colaboram para a manutenção dessas práticas (COUTINHO; SILVA, 2009; RAMOS; GRAÇA; NASCIMENTO, 2006). Mas, pouco se sabe sobre quais os caminhos e dificuldades para ajudar os professores a mudarem sua forma de trabalho no que se refere ao ensino dos conteúdos procedimentais dos esportes (GONZÁLEZ-VÍLLORA et al., 2008).

Diante do exposto, se tem como intuito, desenvolver a unidade temática esporte, com o auxílio das mídias como ferramenta pedagógica. Na próxima unidade se aprofundará conceitos e suas relações com a Educação Física, em especial, os esportes.

2.4 Mídias na educação física escolar: compartilhando, comentando e curtindo ideias