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Irrecorribilidade das decisões interlocutórias

Capítulo III. D OS PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

3. Princípios específicos do direito processual do trabalho

3.4 Oralidade

3.4.5 Irrecorribilidade das decisões interlocutórias

30 O principio da oralidade: procedimento por audiência no direito processual civil brasileiro. São Paulo: RT,

2003, p. 63.

31 Direito... cit., p. 69. 32 Ob. cit., p. 62.

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Esta característica do princípio da oralidade tem por objetivo imprimir maior celeridade ao processo e prestigiar a autoridade do juiz na condução do processo, impedindo que as decisões interlocutórias, quais sejam: as que decidem questões incidentes, sem encerrar o processo, sejam irrecorríveis de imediato, podendo ser questionadas quando do recurso cabível em face da decisão definitiva.

A Consolidação das Leis do Trabalho não define o conceito de decisão interlocutória, desse modo, por força do art. 769 da CLT, aplica-se o conceito disciplinado no Código de Processo Civil.

Diz o art. 162, § 2º, do CPC: “Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente”.

À luz do referido dispositivo legal e da melhor técnica processual, decisão interlocutória é a proferida no curso do processo, que resolve questão incidente, causando gravame a uma ou a ambas as partes, sem pôr fim ao processo. O que diferencia a decisão interlocutória do despacho é a lesividade da decisão que se encontra ausente no despacho.

O princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias no processo do trabalho decorre do princípio da oralidade, a fim de atribuir maior agilidade ao procedimento, bem como propiciar maior celeridade processual.

De outro lado, não é bem verdade que as decisões interlocutórias são irrecorríveis, uma vez que não o são de imediato, mas podem ser questionadas quando do recurso interposto na decisão final.

A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho tem fixado entendimento de que, se a decisão interlocutória dos tribunais regionais do trabalho contrariarem súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho, ou for terminativa do feito na justiça do trabalho ou encaminhar o processo para tribunal diverso do que prolatou a decisão em exceção de incompetência em razão do lugar, tal decisão, embora tenha natureza interlocutória, poderá ser recorrível.

Nesse sentido é a Súmula 214 do TST, in verbis: “Decisão interlocutória. Irrecorribilidade. Na justiça do trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: (a) de tribunal regional do trabalho contrária à súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; (b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo tribunal; (c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para tribunal regional

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distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT”.

Quanto à alínea a do referido verbete sumular, em que pese o respeito que merece a referida súmula, com ela não concordamos, pois mesmo quando a decisão do tribunal regional do trabalho contrarie súmula do Tribunal Superior do Trabalho, ela não deixa de ser interlocutória. Além disso, desafia recurso de revista para o Tribunal Superior do Trabalho, provocando demora demasiada na tramitação do processo.

Quanto à alínea b, da Súmula 214 do TST, quando houver possibilidade de interposição de recurso para o mesmo tribunal em regimentos internos, a decisão interlocutória será recorrível. É o que acontece com as liminares concedidas ou denegadas por relatores em tutelas de emergência ou em mandados de segurança ou nas hipóteses do art. 557 do CPC. Nessas hipóteses, será cabível o agravo regimental.

No que tange à alínea c, da Súmula 214 do TST, o fundamento é o art. 799, § 2º, da CLT, que assim dispõe: “Nas causas da jurisdição da justiça do trabalho, somente podem ser opostas, com suspensão do feito, as exceções de suspeição ou incompetência. [...] § 2º Das decisões sobre exceções de suspeição e incompetência, salvo, quanto a estas, se terminativas do feito, não caberá recurso, podendo, no entanto, as partes alegá-las novamente no recurso que couber da decisão final”.

Em que pese não se amoldar o verbete sumular à hipótese legal, o Tribunal Superior do Trabalho, dando interpretação corretiva ao art. 799, § 2º, da CLT, fixou entendimento no sentido de que, se a decisão proferida na exceção de incompetência em razão do lugar for extintiva do processo no âmbito do regional que a prolatou, encaminhando o processo para tribunal diverso, a decisão poderá ser impugnável por meio de recurso ordinário.

Tecnicamente, não concordamos com a alínea c, da Súmula 214, pois efetivamente, tal decisão não é extintiva do processo, já que ele continuará em outro tribunal regional. Entretanto, tal argumento fica vencido pelo entendimento do Tribunal Superior do Trabalho, pois a decisão é potencialmente apta a gerar grandes prejuízos ao trabalhador que poderá ter de se deslocar para outro Estado, podendo inviabilizar, muitas vezes, seu acesso à justiça.

Grande parte da doutrina, e também parte significativa da jurisprudência, tem exigido que a parte tenha feito lançar os protestos no processo ou na ata de audiência, a fim de demonstrar sua irresignação quanto à decisão interlocutória para que possa questionar o merecimento da decisão quando do recurso em face da decisão definitiva.

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“1. Nulidade. Protesto. Inexistência. Se as partes não tinham outras provas, tanto que sob tal calor a instrução foi encerrada, sem protestos, a nulidade em nada aproveitaria a reclamada, posto que nenhuma das partes têm mais provas a produzir. Tenho sempre dito que na justiça do trabalho o respectivo processo também se subsume aos princípios de sua utilidade e finalidade, por isso que não se pronuncia nulidade senão havendo prejuízo e mediante provocação das partes na primeira oportunidade (CLT, arts. 794 e 795). Encerrada a instrução processual sem qualquer reserva da reclamada consignada na audiência, não há nulidade a ser declarada. Por outro lado, tampouco se repete o ato se se pode supri-lo (CLT, art. 796). 2. Testemunha. Demanda com o mesmo objeto. Quando não há suspeição. Emprestando melhor temperamento ao Enunciado do TST 357, precedentes há segundo os quais ‘as testemunhas arroladas pelos autores que demandam contra o réu, considerado o objeto do processo, têm interesse no desfecho desta última devendo serem tidas como suspeitas’ (STF, RE 220.329-1/MT, rel. Min. Marco Aurélio, DJU 20.04.2001); ‘O mundo do direito não pode dissociar-se do que realmente ocorre na vida prática. Se a testemunha do reclamante move ação contra a empresa, é evidente que tem animus contendor’ (TST, RR 145.392/94, rel. Min. Rider Nogueira de Brito, DJU 27.09.1996). Tudo, não obstante, julgado o processo em que a testemunha era parte, e transitada em julgado a sentença, antes mesmo da data em que o testemunho foi prestado, desapareceu qualquer interesse pessoal que pudesse ter a testemunha no desate desta causa” (TRT – 10ª Reg., RO 723.2003.007.10.00-0, 3ª T., rel. Bertholdo Satyro, DJDF 19.03.2004, p. 35. RDT 4 abr. 2004).

O protesto, na verdade, não existe nem na legislação processual trabalhista, tampouco na processual civil, entretanto, a praxe e a jurisprudência o admitem por força de interpretação sistemática dos arts. 794 e 795, da CLT, a fim de evitar eventual preclusão em face das nulidades, pois exige o art. 795 consolidado que as nulidades sejam invocadas no primeiro momento em que a parte tiver de falar nos autos.

Não obstante, pensamos que, diante da clareza do art. 893, § 1º, da CLT, não há necessidade de a parte fazer lançar os protestos na ata de audiência ou em qualquer outra peça processual para poder questionar o merecimento da decisão interlocutória no recurso em face da decisão principal, uma vez que a própria lei determina que o merecimento das decisões interlocutórias será apreciado quando do julgamento do recurso da decisão definitiva. Portanto, o momento de se impugnarem as decisões interlocutórias é no recurso cabível em face da decisão definitiva, independentemente de manifestação de qualquer irresignação anterior.

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Diante da inexistência de remédio específico, no processo do trabalho, para se impugnar as decisões interlocutórias, de imediato, a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho tem admitido o manejo do mandado de segurança para tal finalidade, quando houver na decisão ilegalidade ou abuso de poder.

O princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias também se aplica à fase de execução, mas de forma mitigada, admitindo-se algumas exceções.

Com efeito, dispõe o art. 897, a, da CLT: “Cabe agravo, no prazo de 8 (oito) dias: a) de petição, das decisões do juiz ou presidente, nas execuções”.

Para saber se uma decisão é recorrível na execução, por primeiro temos que compatibilizar a decisão com a sistemática recursal trabalhista. Os despachos (art. 504 do CPC) e as decisões interlocutórias (art. 893, § 1º, da CLT) não são recorríveis no processo do trabalho e, como regra geral, não o serão na fase executiva.

De outro lado, na execução, há decisões que somente são impugnadas pelo remédio processual específico previsto na lei, como o caso da sentença de liquidação, que somente pode ser impugnada quando dos embargos à penhora (§ 3º do art. 884 da CLT) e, após a garantia do juízo, a parte pode invocar as matérias previstas no § 1º do art. 884 da CLT nos embargos à execução. Desse modo, até a fase processual em que será praticável a oposição de embargos à execução, não será possível o manejo do agravo de petição.

A doutrina e jurisprudência têm admitido a interposição do agravo de petição, mesmo antes da fase dos embargos quando o juiz do trabalho acolhe a exceção de pré-executividade, extinguindo a execução, uma vez que se trata de decisão terminativa da execução.

Efetivamente, o agravo de petição é cabível para impugnar as decisões proferidas nos embargos, tanto à execução, à penhora, à arrematação, à adjudicação e de terceiro.

Pensamos que a expressão decisões do juiz na execução engloba tanto as decisões de mérito proferidas nos embargos à execução, à adjudicação, à arrematação, e à penhora, como nas terminativas, por exemplo, que extinguem a fase de execução. Dos despachos e das decisões interlocutórias proferidos na execução, como regra geral, não cabe o agravo de petição. Não obstante, acreditamos que, atualmente, diante do grande número de mandados de segurança impetrados na fase de execução, buscando, de certa forma inadequada, fazer às vezes de mais um recurso na execução, o agravo de petição possa ser utilizado, para impugnar decisões interlocutórias na fase de execução que não podem ser objeto de impugnação pelos embargos e, que causam gravame imediato à parte, como a liberação de valores depositados, a

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decisão que não homologa acordo na fase de execução, a decisão que determina o levantamento de penhora etc.

Desse modo, pensamos ser cabível o agravo de petição em face das seguintes decisões do juiz do trabalho nas execuções: (a) decisão que aprecia os embargos à execução; (b) decisões terminativas na execução que não são impugnáveis pelos embargos à execução, como a decisão que acolhe a exceção de pré-executividade; (c) decisões interlocutórias que não encerram o processo executivo, mas trazem gravame à parte, não impugnáveis pelos embargos à execução.