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Capítulo I. D OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO

4. Dos princípios constitucionais do processo e reflexos no processo do trabalho

4.7 Princípio da publicidade

O princípio da publicidade está estampado no já referido art. 93, IX, da CF, que assim dispõe: “Todos os julgamentos dos órgãos do poder judiciário serão públicos e, fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”.

A publicidade é uma garantia preciosa da cidadania, de saber, com transparência, como são os julgamentos realizados pelo poder judiciário. A presença do público nas audiências e a possibilidade do exame dos autos por qualquer pessoa representam um seguro instrumento de fiscalização popular sobre a obra dos juízes. Conforme a expressão popular: “o povo é o juiz dos juízes”.

Dispõe o art. 770 da CLT: “Os atos processuais serão públicos salvo quando o contrário determinar o interesse social, e realizar-se-ão nos dias úteis das 6 às 20 horas”.

Com o mesmo espírito o art. 779 da CLT esclarece: “As partes, ou seus procuradores, poderão consultar, com ampla liberdade, os processos nos cartórios ou secretarias”.

Segundo Moacyr Amaral Santos, “na publicidade dos atos processuais está uma das garantias de ordem pública, pois que tem por finalidade permitir o controle da opinião pública nos serviços da justiça. Por isso, as audiências são públicas, as sentenças são publicadas, delas

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podendo-se pedir certidões. É a razão pela qual as sentenças podem ser publicadas em jornais e revistas”.74

O princípio da publicidade não é absoluto, pois quando a causa estiver discutindo questões que envolvem a intimidade das partes, o juiz poderá restringir a publicidade da audiência. Nesse sentido dispõe o art. 5º, LX, da CF: “A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”.

Este princípio não está expressamente previsto no art. 5º da CF, mas trata-se de um direito fundamental, pois decorre do princípio do devido processo legal.

No mesmo sentido, dispõe o art. 155 do CPC, que resta aplicável ao direito processual do trabalho: “Os atos processuais são públicos. Correm, todavia, em segredo de justiça os processos: I – em que o exigir o interesse público; II – que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores (redação dada pela Lei 6.515, de 1977). Parágrafo único. O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e a seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha resultante do desquite”.

4.7.1 A questão do protesto extrajudicial da sentença trabalhista não cumprida

Protesto, sob o aspecto notarial é, nas palavras de Maria Helena Diniz, “medida extrajudicial ou ato formal do oficial do Cartório de Protestos de Títulos, que visa a prevenir responsabilidade, prover a conservação e ressalva de direitos, ou manifestar qualquer intenção de modo formal (Othon Sidou), provando ter sido a cambial apresentada ao sacado ou ao aceitante, e a falta de aceite ou de pagamento (Waldemar Ferreira)”.75

A Lei 9.492/1997, em seu art. 1º, por meio de interpretação autêntica, nos dá o conceito de protesto, nos seguintes termos: “Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida”.

Atualmente, muitos tribunais regionais do trabalho firmaram convênios com cartórios extrajudiciais para viabilizar o protesto de sentença trabalhista não cumprida pelos reclamados como medida de forçar o devedor a quitar a obrigação trabalhista.

74 Primeiras linhas de direito processual civil. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 278. v. 1. 75 Dicionário jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 832. v. 3.

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Inegavelmente o protesto extrajudicial da sentença trabalhista não cumprida é um meio de coerção indireta ao devedor, pois com o protesto, há publicidade da dívida, e esta estará disponível aos órgãos de consulta de proteção ao crédito.

De outro lado, o protesto extrajudicial da sentença não cumprida propicia efetividade ao princípio da publicidade processual (utilizado não como meio de defesa do cidadão contra os abusos do Poder Judiciário, mas em colaboração para a efetividade processual), buscando, por meio da publicidade mais ampla do processo trabalhista, compelir o devedor a cumprir a obrigação consagrada no título executivo trabalhista.

Dispõe o art. 29, da Lei 9.492/1997, in verbis:

“Os cartórios fornecerão às entidades representativas da indústria e do comércio ou àquelas vinculadas à proteção do crédito, quando solicitada, certidão diária, em forma de relação, dos protestos tirados e dos cancelamentos efetuados, com a nota de se cuidar de informação reservada, da qual não se poderá dar publicidade pela imprensa, nem mesmo parcialmente. § 1º. O fornecimento da certidão será suspenso caso se desatenda ao disposto no caput ou se forneçam informações de protestos cancelados. § 2º. Dos cadastros ou bancos de dados das entidades referidas no caput somente serão prestadas informações restritivas de crédito oriundas de títulos ou documentos de dívidas regularmente protestados cujos registros não foram cancelados.”

Com a publicidade do inadimplemento da sentença trabalhista, o devedor terá dificuldades em realizar transações comerciais e em obter crédito, o que pode contribuir para a quitação da dívida trabalhista.

Como bem adverte Maria Inês Corrêa de Cerqueira César Targa:

“Na prática, entretanto, aqueles que têm dívidas na justiça do trabalho, e não têm intenção de quitá-las, só as pagam quando não há outra forma. E esta distorção do sistema ocorre porque ainda não há um hábito dos adquirentes de bens de verificar se os vendedores são devedores na justiça do trabalho – o que deveriam realizar sob pena de se verem colhidos pela desconsideração do negócio, porque realizado em fraude à execução e porque os débitos, conquanto originários de dívidas cujo pagamento deveria ser procedido, reprise-se, em preferência a qualquer outro, não é noticiado a serviços de proteção ao crédito, fazendo com que devedores costumeiros prefiram pagar valores para que não tenham seus nomes em tais listas inseridos, a adimplir o crédito preferencial.”76

76 O protesto extrajudicial de sentença trabalhista determinado pelo magistrado ex officio. Um contrassenso?

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O protesto extrajudicial da sentença trabalhista é medida que se encaixa ao processo do trabalho, sendo a Lei 9.492/1997, aplicável à execução trabalhista por força dos arts. 769 e 889, da CLT.

Nesse sentido o Enunciado 14 da 1ª Jornada Nacional de Execução Trabalhista da Anamatra, realizada em novembro de 2010, in verbis: “Protesto notarial. Frustrada a execução, poderá ser efetuado o protesto notarial do crédito exequendo, tanto em relação ao devedor principal quanto aos devedores corresponsáveis”.

A realização do protesto extrajudicial pode ser determinado de ofício pelo juiz do trabalho (art. 878 da CLT) no momento em que o devedor, instado a pagar, não o faz, tampouco garante a execução indicando bens à penhora. No nosso sentir, não há necessidade de se esgotarem os meios de execução para levar o título executivo judicial a protesto, basta que tenha havido o inadimplemento por parte do devedor.

A jurisprudência trabalhista já começa a se pronunciar sobre o tema. Nesse sentido decidiu o TRT – 3ª Reg., AP 01676-2004-077-03-00-1, 7ª T., j. 11.02.2010, rel. Juiz Jesse Claudio Franco de Alencar, cuja ementa vale ser transcrita:

“Protesto extrajudicial. Título judicial trabalhista em execução. A Lei 9.492/1997 não restringe o protesto extrajudicial em face do devedor, reconhecido como tal em título judicial, já tendo sido, inclusive, celebrado convênio entre este egrégio tribunal regional do trabalho e os tabeliães de protesto do Estado de Minas Gerais visando à implementação de protestos decorrentes de decisões proferidas pela justiça do trabalho da terceira região, com expressa permissão para a inclusão de nomes de devedores em listas de proteção ao crédito. A medida constitui importante instrumento de coerção indireta do executado ao pagamento da dívida, em face da publicidade de que se reveste e da sua repercussão nas relações sociais, civis e comerciais do devedor. Agravo de petição provido para determinar o protesto extrajudicial do título, verificada a tentativa frustrada de localização do devedor e de bens passíveis de penhora.”77