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1. PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO BRASIL DEMOCRÁTICO: A CONSTRUÇÃO

1.3 AS ARENAS PARTICIPATIVAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

1.3.3 Conferências Nacionais

1.3.3.4 IV Conferência Nacional do Meio Ambiente

A IV CNMA foi realizada dos dias 24 a 27 de outubro de 2013, convocada por meio da Portaria nº 185, de 04 de junho de 2012 e teve como foco a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Seus eixos temáticos foram a produção e consumo sustentáveis, a redução dos impactos ambientais, a geração de emprego e renda e a educação ambiental desses temas.

Foram objetivos da 4ª CNMA: i) divulgar a PNRS para cada ente da federação; ii) contribuir para a implementação da PNRS, com foco nos eixos: produção e consumo sustentável; iii) redução de impactos ambientais e geração de emprego, trabalho e renda; iv) conhecer e incentivar as parcerias entre governo, setor privado e sociedade civil; v) contribuir para que os estados e municípios solucionem os entraves e superem os desafios na implementação da gestão dos resíduos sólidos; vi) difundir práticas exitosas que possam contribuir para desenhos de políticas públicas locais e regionais.

Além das etapas preparatórias (conferências municipais, regionais e estaduais), a 4ª CNMA trouxe três novidades: as Conferências Livres, a Conferência Virtual e os painéis temáticos. Foram 224 Conferências Livres (organizadas por pessoas interessadas no tema, que enviaram propostas direto para a etapa nacional), as quais reuniram 25 mil pessoas em 26 estados. Já a Conferência Virtual, que aconteceu de 26 de agosto a 10 de setembro de 2013 por meio do Portal e-Democracia da Câmara dos Deputados, contou com a participação de 2.854 pessoas. Quanto aos painéis temáticos, segundo o MMA (2013), esta inovação favoreceu a dinâmica da Conferência e evidenciou os principais entraves e avanços de cada setor para a implementação da PNRS. Num exemplo de democracia participativa, especialistas governamentais,

professores universitários e representantes de vários segmentos sociais e econômicos dividiram a audiência com os delegados estaduais, ampliando e qualificando as discussões.

Na etapa nacional, foram credenciadas 1.981 pessoas, sendo 1.130 delegados, 408 convidados, 68 profissionais de imprensa, além de 375 servidores e consultores distribuídos como equipe técnica, coordenação, expositores, mediação, organização e apoio.

A IV CNMA foi a maior já realizada, mobilizando mais de 200 mil pessoas em 3.652 municípios, o que representa 65,61% dos municípios brasileiros. Todos os 26 estados e o Distrito Federal realizaram as etapas estaduais, enviando para Brasília as propostas dos quatro eixos temáticos do encontro. Esta conferência resultou em 3.585 deliberações.

Cabe ressaltar que, no marco de cada edição da CNMA foram realizadas, em parceria com o Ministério da Educação, as Conferências Nacionais Infanto-Juvenis pelo Meio Ambiente. Mais de 11 milhões de estudantes entre 11 e 14 anos participaram do processo, que envolveu mais de 27 mil escolas em todo Brasil. Como resultado, elas aprovaram as “Cartas de Responsabilidades” que foram entregues pelas crianças ao Presidente da República e aos ministros de estado da Educação e do Meio Ambiente.

A Tabela 03 apresenta um panorama das 04 CNMAs realizadas, com o tema e número de pessoas mobilizadas em todo país, delegados na etapa nacional e deliberações resultantes destes encontros:

Tabela 03 – Panorama das Conferências Nacionais de Meio Ambiente

I CNMA II CNMA III CNMA IV CNMA

Tema Fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente Gestão Integrada das Políticas Ambientais e Uso dos Recursos Naturais Mudanças Climáticas Resíduos Sólidos Número de pessoas mobilizadas em todo o país

65 mil 85 mil 115 mil 200 mil

Número de delegados na etapa nacional 912 1.269 1.269 1.352 Número de deliberações resultantes 659 827 1.137 3.585 Fonte: MMA (2003, 2005, 2008, 2013).

Os dados da tabela 03 demonstram a importância da ação continuada de espaços participativos como as conferências. Comparando-se o número de pessoas que participaram da I e IV Conferência, houve um incremento de mais de 300%, crescendo de 65 mil para 200 mil participantes. Ao todo, cerca de 475 mil pessoas tomaram parte destes encontros deliberativos.

O número de deliberações resultantes das conferências também expressa o crescimento com esta ação continuada. As diretrizes apresentadas passaram de 659 na I CNMA para 3.585 na IV CNMA, um aumento de mais de 500% de propostas feitas.

Losekann (2012) problematiza as deliberações das CNMAs quanto à sua efetivação. Segundo a pesquisadora, a dificuldade de efetivar as deliberações da I e da II CNMA encontra três explicações: a primeira diz respeito à dificuldade que as reivindicações ambientais têm, de um modo geral, de serem atendidas quando contrariam interesses econômicos. A segunda diz respeito ao caráter consultivo e não vinculante das decisões, ou seja, não há nenhum instrumento legal que obrigue o governo a implementar aquilo que foi decidido. O terceiro aspecto diz respeito à percepção dos atores em relação à qualidade das deliberações, a qual indica uma baixa qualidade nas deliberações relacionada ao desconhecimento dos delegados em relação àquilo que já existe na política ambiental.

No entanto, Klein (2013) noticia que cerca de 70% (setenta por cento) das deliberações aprovadas na I CNMA e 85% (oitenta e cinco por cento) das deliberações da II CNMA foram executadas, e que as diretrizes da III CNMA subsidiaram a elaboração do Plano Nacional de Mudanças do Clima – PNMC, contrariando a argumentação de baixa efetividade das conferências indicadas por Losekann (2012). Infelizmente, não se pode avançar mais na discussão de efetividade das CNMAs por não se encontrar outras pesquisas que ratificassem a conclusão de Losekann (2012) sobre a dificuldade de implementação das deliberação ou arrematasse a visão de Klein (2013) sobre a efetividade dessas deliberações. O Ministério do Meio Ambiente tampouco contempla esse tema na sua página na internet.

De qualquer modo, as conferências nacionais são oportunidades de envolvimento na formulação, no acompanhamento, na avaliação de políticas públicas e, quando não atingem esses objetivos, pelo menos, suscitam ou iniciam discussões pontuais acerca de interesses da sociedade, além de reforçar conceitos e práticas democráticas, como assegurar a participação popular durante todo o processo. Em que

pese a importância desse arranjo participativo, este avanço foi ameaçado na medida em que: i) a derrubada do decreto que instituía a Política Nacional de Participação Social desestimulou a participação das pessoas do povo – individualmente ou organizadas – de participar do processo político e decisório nacional; ii) não há legislação específica que garanta a realização das Conferências sobre Meio Ambiente, ficando a própria ocorrência do evento dependente da iniciativa do MMA.

Como resultado, desde 2013 não houve mais a realização de nenhuma CNMA. Ressalta-se a importância da realização não apenas de conferências de meio ambiente, mas de conferências nacionais de vários temas não mais ocorridas. Além do aspecto quantitativo de participação da sociedade – que nas CNMAs contabilizou a participação de cerca de 475 mil cidadãos, fica também prejudicada a sua continuação, o que acarretaria o melhoramento qualitativo do engajamento social na discussão de políticas públicas, envolvimento esse primordial para o amadurecimento da democracia e da nação brasileira.