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Fonte – Dimas Jayme Trindade, Supervisão de Assistência Social de Perus, 2008

A população total dos dois distritos é de 146.046 habitantes17, sendo proporcionalmente 80.187 em Perus e 65.859 em Anhanguera. Uma análise dos últimos censos revela que a área da subprefeitura de Perus teve o maior aumento populacional da cidade de São Paulo. Tal como aponta gráfico abaixo:

Gráfico 1 - Taxa de crescimento populacional do Município de São Paulo em comparação com área da Subprefeitura de Perus e seus distritos.

Com esses dados, é possível verificar que a área administrativa da subprefeitura de Perus teve significativo aumento populacional nas últimas décadas, representando na passagem dos anos 2000 para 2010 um aumento de 114% do seu contingente populacional.

Na comparação entre os dois distritos, Anhanguera apresenta maior índice de crescimento populacional, chegando à cifra de 231%, enquanto o distrito de Perus revela 51% de aumento. O aumento populacional de Anhanguera pode estar associado ao adensamento da venda de loteamentos regulares e irregulares distrito a dentro, invadindo inclusive espaços de encostas florestais/ambientais.

O crescimento de São Paulo é muito grande, e o daqui de nossa região também, porque o pessoal vem atrás de melhorias de vida, principalmente do norte e nordeste, e o pessoal vem para cá com esperança disso aí, vem atrás de melhoria, vem buscar essa melhoria. A cidade cresceu e continua a crescer, olha isso é bom e não é ao mesmo tempo.

São Paulo é uma mãe, e bairro aqui é a casa dessa mãe, porque abre os braços para todo o tipo de gente, vem gente de tudo quanto é país e estado, então é assim, São Paulo é uma mãe que acolhe todas as pessoas que precisa dela (Josemary Menezes, depoimento colhido em maio de 2012).

Perus, embora esteja com uma taxa de crescimento elevada, apresenta dinâmicas territoriais diferenciadas de Anhanguera, principalmente por estar

14% 41% 132% 28% 8% 86% 210% 53% 9% 114% 231% 51% 0% 50% 100% 150% 200% 250%

MSP Sub. Perus Dist. Anhanguera Dist. Perus

1980 - 1991 1991 - 2000 2000 - 2010

crescendo às margens do anel viário rodoanel, adensando os aglomerados urbanos subnormais. O Recanto Paraíso, apenas parte do Complexo Recanto, é a quinta maior favela do município de São Paulo. Como se pode verificar no mapa abaixo, as áreas circunscritas pela cor vermelha delineiam a extensão das favelas do distrito de Perus.

Mapa 5 - Renda média da população e localização de favelas no distrito de Perus.

Fonte - Documento de Caracterização Territorial da Supervisão de Assistência Social de Perus – Equipe de Monitoramento, 2012.

Com aspectos de apropriação e produção do espaço diferenciadas, o distrito de Anhanguera não conta com grande áreas de favelas, muito embora foi o distrito com maior taxa de crescimento da cidade. O mapa 5 apresenta o pequeno número de aglomerados subnormais e a variação da renda média desse distrito.

Mapa 6 - Renda média da população e localização de favelas no distrito de Anhanguera.

Fonte - Documento de Caracterização Territorial da Supervisão de Assistência Social de Perus – Equipe de Monitoramento, 2012.

Conforme os dados levantados pelo Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS)18, 9.509 pessoas vivem em situação de alta e muito alta vulnerabilidade social nos distritos de Perus e Anhanguera, representando 8,71% da população local dos territórios e 0,71% dos sujeitos em vulnerabilidade do município de São Paulo. Os mapas 7 e 8 permitem a visualização das vulnerabilidades por distritos territoriais.

18 Indicador produzido pela Fundação SEADE em 2004, pela dinâmica do tempo sobre o espaço.

Supomos que esse dado esteja atualmente alterado. Mas como representa uma fotografia importante da região e pela falta de uma nova atualização, compreendemos a necessidade de utilizá-lo nessa pesquisa.

Mapa 7 - Vulnerabilidades e ocupações territoriais no distrito de Perus.

Fonte - Documento de Caracterização Territorial da Supervisão de Assistência Social de Perus – Equipe de Monitoramento, 2012.

Mapa 8 - Vulnerabilidades e ocupações territoriais no distrito de Anhanguera.

Fonte - Documento de Caracterização Territorial da Supervisão de Assistência Social de Perus – Equipe de Monitoramento, 2012.

O diagnóstico feito pela Secretaria Municipal de Assistência Social, presente no Plano de Assistência Social da Cidade de São Paulo (PLAS) 2009 – 2012, aponta as seguintes caracterizações para as áreas em tela:

Apresenta áreas com ligações irregulares de água e de energia, ausência de passeio público, calçamento e pavimentação, falta de transporte público e de coleta de lixo. Alta incidência de trabalho infantil. Três núcleos de favela, às margens da Rodovia Anhanguera. Parte do território abriga habitações construídas pelos moradores em terrenos íngremes e sujeitos a deslizamentos (São Paulo, 2010, p. 37).

Os territórios de ambos os distritos expõe alguns dados interessantes para um esboço mínimo de suas características. No ano de 2008, segundo o Observatório Cidadão,19 a taxa de desemprego no município de São Paulo

correspondia a 13,23 de sua população; os distritos de Perus e Anhanguera apresentaram taxa superior à média da cidade, evidenciando que 14,01% das pessoas acima de 16 anos estavam em situação de desemprego na área da subprefeitura de Perus.

A região, no ano de 2007, também de acordo com a pesquisa realizada pelo observatório Cidadão, detinha apenas 0,15% dos empregos do município de São Paulo. Isso significa que a população trabalhadora desse território deve buscar outros caminhos e lugares para conseguir emprego e trabalho, saindo de seu núcleo de vida para alcançar uma inserção no mercado de trabalho.

Ainda em conformidade com dados do Observatório Cidadão, é possível apontar que a renda média da população de Perus é de R$ 1.177,00, enquanto a renda média da cidade é de R$1.358,00. Sobre a violência urbana, essa mesma instituição de pesquisa aponta que os crimes violentos, considerados fatais no ano de 2006, tiveram na área da subprefeitura de Perus uma significativa expressão em relação à cidade, haja vista que esse índice chega a 25,82 homicídios para cada cem mil habitantes, enquanto a média da cidade é de 22,6 homicídios para a mesma mensuração.

A violência é uma trama que coloca ambos os distritos em evidência, que assombra a realidade vivida pela população, principalmente pelo circuito do tráfico

19 Observatório Cidadão Nossa São Paulo é um site que disponibiliza um conjunto de indicadores

sociais, ambientais, econômicos, políticos e culturais sobre a cidade de São Paulo, analisa as regiões das 31 subprefeituras e também os 96 distritos separadamente. O observatório cidadão tem contribuído significativamente para as análises sobre a cidade de São Paulo, sobretudo, porque analisa as capilaridades territoriais da maior metrópole da América Latina.

de drogas que é movimentado no bairro, e que está posto principalmente nas áreas mais periféricas e vulneráveis do território, em lugares sem muitas condições de acesso pela precária infraestrutura.

O tráfico de drogas, nessa região, aparece como uma alternativa aos adolescentes e jovens, que se veem sem outras opções para elaborar e construir seu desenho de vida. O crime aparece como uma única solução dentro do quadro das privações pelas quais passam com suas famílias. O tráfico aparece como sendo uma possibilidade rápida para se conseguir algum dinheiro, sem ter de passar pelas exigências formais e intermináveis a que os jovens trabalhadores são submetidos pelo mercado.

Os assassinatos de pessoas entre 15 e 29 anos no bairro de Perus atingem o alarmante número de 91,07 homicídios por cem mil habitantes, enquanto a média da cidade é de 50, 21. Esse dado alarmante revela que é na área da subprefeitura de Perus onde mais morrem jovens assassinados no município de São Paulo.

Mapa 9 - Assassinatos de pessoas entre 15 e 29 anos por cem mil habitantes na cidade de São Paulo.

É no meio dessa trama complexa que o bairro de Perus apresenta sua história de lutas e sucessivos redesenhos para acompanhar os fluxos econômicos, políticos, sociais e culturais da cidade de São Paulo e das nuances da sociedade brasileira, pois também é através do local que as mediações globais se fazem presentes e é nesse chão que as mulheres sujeitas de nossa pesquisa se encontram.

É no trânsito da composição de suas vidas que esse território é vivido, “experienciado” e sentido. É com a realidade muito maior e mais intensa do que as proporcionadas pelas fotografias das estatísticas e dos indicadores que o bairro movimenta sua força, expressão e sentido.

3.4 Pesquisa e Processos: trajetórias urbanas na construção de territorialidades.

“Riobaldo que tem a sabedoria dos grandes contadores de história, sabe do que fala quando diz que a vida é um rodamoinho e que o demo está nas ruas. Ele sabe do que fala quando diz que o real não está no começo, nem no final, mas está no meio da travessia. Digo: o real não está na saída nem na chegada, ele se dispõe para a gente é no meio da travessia. São as veredas que fazem o Grande Sertão.” - Grande Sertões:veredas, Guimarães Rosa.

Nosso estudo optou pela metodologia da história oral, como escolha ética e política de movimentar e fazer pesquisa, centrando nossas atenções em sujeitos reais que vivem, tecem e constroem suas vidas nos territórios de Perus e Anhanguera da cidade de São Paulo. Elegeu-se de forma consciente os sujeitos, que, nesta pesquisa, são mulheres líderes comunitárias de ambos os distritos com ampla vivência no bairro, porque residem no território e conhecem suas capilaridades, relevos geográficos, sociais, culturais, políticos e econômicos.

Mulheres que têm muito a dizer, que carregam um conhecimento imenso sobre a história e a dinâmica relacional dos territórios estudados. Sujeitos importantes que nas formas tradicionais de pesquisa não são revelados pelos índices numéricos. Por isso, a captação de depoimentos com esses sujeitos qualifica o lugar, qualifica nossas aventuras analíticas, qualifica nossa perspectiva teórica,

pois traz o que é quente, o que é pulsante, o que é vida nos territórios de Perus e Anhanguera.

Portanto, a escolha dos sujeitos dessa pesquisa não se deu de modo aleatório e sem sentido e significado político, ao contrário, objetivou-se justamente pela metodologia da história oral, que tem como mote ouvir o significado social e histórico daqueles que ficam subsumidos da história oficial, restritos ao rodapé da história (MATOS, 2009, p.), mas que, por escolha metodológica, aqui se tornam os principais interlocutores do lugar, tornam-se fonte ativa de conhecimento e significado.

É com esse sentido que esta pesquisa escolheu três mulheres que se consideram guerreiras pela luta que realizam em Perus e Anhanguera, sendo apresentadas na sequência desta seção: Nadir Balbina da Rocha, Marília Cristina Piloto da Silva Salmazo e Josemary Menezes. A pesquisa teve como metodologia a história oral e os depoimentos. Essa técnica de pesquisa proporcionou a captação das oralidades das sujeitas pesquisadas.

Esta pesquisa movimentou-se de forma mais próxima das sujeitas, respeitando as datas, horários e locais indicados por elas para o diálogo. As captações de depoimentos foram realizadas durante o mês de maio de 2012, sendo registradas por gravador de voz digital e fotografadas com câmera fotográfica digital. Outro recurso importante no processo na captação de depoimentos foi o diário de pesquisa, caderno no qual o pesquisador teve a oportunidade de registrar suas impressões, análises e o movimento engendrado pelo encontro com as pesquisadas.

O processo da pesquisa seguiu um instrumental de matriz de análise previamente elaborado, que descreve o objeto de pesquisa, o objetivo geral, os objetivos específicos e uma matriz que indica a direção dos depoimentos20.

Os encontros sempre aconteceram no período da tarde, seguindo a dinâmica de apresentação da pesquisa para as sujeitas, mostrando os objetivos, os propósitos e os caminhos percorridos pelo projeto de pesquisa. Foram explicitados os critérios de escolha dos sujeitos e as escolhas metodológicas. Também foi apresentada a matriz de análise para que pudessem conhecer os caminhos pretendidos com os depoimentos, em seguida foi realizada a leitura do termo de consentimento livre e esclarecido de pesquisa, tal como recomenda a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). É importante expressar que todas as sujeitas aceitaram e concordaram em participar deste estudo.

Após esse primeiro ponto, o pesquisador solicitava que as pesquisadas contassem um pouco de sua história, livremente, para que pudéssemos conhecer a totalidade de suas experiências e trajetórias. Esse processo foi muito interessante, pois propiciou a possibilidade de dialogar com elas, fazer-lhes perguntas, conhecer e entender suas trajetórias individuais, contribuindo para identificar as mediações das trajetórias individuais no processo de construção da história coletiva das pessoas naquele território, indicando elementos das práticas urbanas em Perus e Anhanguera.

Essa primeira parte da pesquisa foi importante para conhecer os traços comuns de vivência que aproximam as sujeitas e os pontos que as distanciam no processo de construção de sociabilidade nos seus territórios de vida. É importante salientar que este estudo não pretendeu trabalhar com histórias de vida individuais,

mas sim com a percepção das sujeitas sobre a construção e edificação do lugar, o que sem dúvida perpassa pela história individual de cada sujeita pesquisada, mas ressignificada coletivamente na perspectiva da territorialidade do lugar. Entendendo que:

É por essa via que se deixam ver como pontos de condensação de tramas sociais que articulam histórias singulares e destinações coletivas. Tempos biográficos organizam trajetórias que individualizam histórias de vida, e estão inscritos em práticas situadas em espaços e nos circuitos urbanos que as colocam em fase com tempos sociais e temporalidades urbanas (TELLES, 2006, p. 66- 116).

Em seguida, passávamos a construir diálogo sobre as especificidades da matriz de análise, dirigindo os depoimentos, a saber: sobre o que significa viver em uma cidade como São Paulo; como as sujeitas percebem a construção e o crescimento da cidade; como percebem a contradição entre o signo da cidade mais rica do país e as desigualdades presentes na tessitura urbana de São Paulo, como percebem o consumo nas tramas da organização da vida nas cidades e como essa questão se reflete em suas vidas.

Também objetivamos registrar o significado que as sujeitas atribuem à organização da vida em Perus e Anhanguera, onde vivem, trabalham e tocam suas vidas, como percebem a relação do lugar com sua história de vida; como compreendem a relação com outras pessoas do bairro e como isso foi sendo formado ao longo do tempo. Também foram questionadas sobre do que mais gostam e menos gostam naquele local, qual o significado de viver ali e qual a esperança para o futuro daquele território.

Todas essas linhas de análise nos ajudaram a captar os depoimentos das sujeitas que, em média, duraram cerca de três horas a três horas e meia cada, totalizando cerca de dez horas de gravações de áudio.

Após as entrevistas, os depoimentos foram longamente transcritos pelo pesquisador, momento este de suma importância para o registro das oralidades, e para a apreensão dos significados atribuídos pelas pesquisadas na vivência sobre o local, tendo a possibilidade de registrar as emoções, sentimentos e silêncios expressos nas falas dos depoimentos. A transcrição dos depoimentos também favoreceu o processo de apreensão das mediações que envolvem a sociabilidade

produzida e reproduzida nos territórios estudados; trouxe à tona através do signo da palavra os marcos e marcas da vivência das desigualdades nos locais estudados.

O processo de transcrição ocorreu simultaneamente ao diálogo e captação dos depoimentos, mas se estendeu por quatro semanas consecutivas, em razão das as particularidades e do cuidado no processo de codificação da oralidade para a escrita, uma vez que a velocidade da narração é muito maior do que a do processo da construção e sistematização da escrita. É importante salientar que a transcrição foi fidedigna às expressões, sentidos, palavras e a tudo que foi pronunciado e expressado pelas sujeitas pesquisadas.

O diário de pesquisa foi um importante recurso para o processo de transcrição dos depoimentos, articulando as oralidades registradas e as percepções que o pesquisador obteve nos encontros, movimentando a troca de percepções e sentidos expressos nas falas das sujeitas e as percepções do pesquisador.

O material de pesquisa produzido pelas transcrições foi amplamente trabalhado em consonância com as análises teóricas sobre o território urbano e sociabilidade, adensando a sistematização deste estudo de mestrado.

As guerreiras em cena: as sujeitas de pesquisa

Estamos trazendo à tona três trajetórias urbanas que são diferentes e particulares do ponto de vista individual, mas com traços e aspectos que se entrelaçam na busca pela qualidade de vida de um lugar, traços esses que edificam as tramas da luta pela proteção social. Em outras palavras, trazemos histórias de mulheres que lutam por melhores condições e qualidade de vida nos lugares onde vivem, trabalham e lutam.

A luta é uma marca forte, inesgotável de suas sociabilidades, pois envolve o caráter político de suas práticas sociais, as formas de resistência e estratégias para superar os entraves gerados por uma “democracia socialmente fissurada” (CABANES, 2011, p. 466). Suas histórias de vida ganham sentido social quando passam a reconhecer no outro e no lugar em que vivem a possibilidade de saídas; tentam diversas e sucessivas vezes conquistar a melhoria da vida nos territórios de Perus e Anhanguera.

É no exercício pela busca pela cidadania, pela proteção, pelo respeito, por um olhar afiançado nos seus territórios, que essas mulheres forjam alternativas e “saídas de emergência” (CABANES, 2011). Que transitam entre as privações singulares e as dimensões da pobreza econômica e financeira que as cerca, dimensionando-as no sentido coletivo de viver em distritos pobres e vulneráveis da cidade de São Paulo.

As sujeitas de nossa pesquisa são guerreiras, como elas mesmas se consideram. Leoas em busca da proteção social para os seus espaços de vida, gente que faz a luta social acontecer na toada da vida cotidiana, que movimenta as possibilidades de transformação por meio da mediação do trabalho, que reconhecem o trabalho como categoria fundamente e central nas formas de organização de suas práticas sociais.

Mulheres que são líderes comunitárias, que conhecem bem o que é “viver em risco, sobre a vulnerabilidade socioeconômica e civil” (KOWARICK, 2009), que vão traçando suas trajetórias em meio às sociabilidades de lutas e resistência, movimentando o que chamam de trabalho social, tecendo a perspectiva do trabalho como meio ontológico de socialização do homem.

Sujeitas que transitam diariamente em meio às pobrezas, privações, vulnerabilidades, permanente crise no mundo do trabalho e desemprego estruturante, que marcam as dinâmicas da dobradura dos seus territórios de vida. Que movimentam as “lógicas da viração tão própria do mundo popular (TELLES, 2006, p. 66 – 116)”.

As vulnerabilidades não são somente individuais e pessoais de alguns sujeitos dos distritos de Perus e Anhanguera, mas se fazem presentes na dura realidade concreta da dinâmica urbana da sociedade capitalista, que marca nos territórios pobres das periferias das grandes cidades as ausências de qualidade de vida, de intervenções e serviços públicos de qualidade, que restringem a vida dos lugares a ausências e precariedades.

[...] a existência da nova pobreza urbana decorre não mais da ausência de desenvolvimento, mas justamente do dinamismo econômico do capitalismo contemporâneo em suas versões mais avançadas. Além disso, está associada a um novo fenômeno nas grandes cidades de todo o mundo – hipergueto -, que por sua vez está relacionado ao aumento das desigualdades e à dualização do mercado de trabalho, pela retração do estado do bem-estar, a crescente concentração da pobreza e associação dos seus espaços

a estigmas territoriais ligados especialmente à violência, enquadrada pelo Estado sob a lógica da penalização (MARQUES, 2010, p. 32).

São pobrezas e vulnerabilidades engendradas por um processo “desigual e combinado” (IANNI, 2004) da sociedade brasileira, um produto combinado das transformações econômicas, sociais, políticas, econômicas e culturais dos rumos do desenvolvimento nacional atrelado aos ditames e ciclos do capital. E no que tange à proteção do Estado às políticas públicas e sociais, estas se inserem em uma regulação tardia, fragmentada e individualizante.

No quadro da sociedade urbana, isso é sentido no adensamento e concentração das cidades metropolitanas, que não conseguem atender às condições de urbanização necessárias à qualidade de vida dos seus habitantes. Existe a mediação incompleta de serviços públicos relativos a transporte, saúde, assistência social, educação, lazer, cultura, dentre outros. Nas periferias e franjas

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2012 (páginas 130-149)