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Sociabilidades e territorialidades: Perus e Anhanguera na teia das

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2012 (páginas 179-200)

CAPÍTULO III TERRITÓRIOS, TRAJETÓRIAS URBANAS E

3.5 Sociabilidades e territorialidades: Perus e Anhanguera na teia das

“Não sei Se é a vida Que me escapa Ou me adentra Pela janela arrebatada A vida mesma (IASI, 2010)29”. Até agora este estudo buscou referenciar historicamente as tessituras do cenário urbano no processo de construção da urbanização, como modo de vida articulado às novas forças sociais de produção. Também foi possível caminhar sobre a construção dos territórios urbanos nas tramas da sociedade brasileira, problematizando as particularidades do processo de desenvolvimento do território no cenário nacional.

Como terceira parte constitutiva desse estudo, adentramos a discussão sobre territórios, trajetórias urbanas e sociabilidades, tomando por referência as experiências das sujeitas desta pesquisa: Marília Salmazo, Nadir Balbina e Josemary Menezes nos distritos de Perus e Anhanguera.

É com esse sentido que procuramos neste último item da dissertação trazer algumas pistas sobre os elementos e as dinâmicas constitutivas das sociabilidades e territorialidades nos territórios estudados.

Primeiro estabelecemos uma breve aproximação teórica e metodológica com as categorias sociabilidade e a territorialidade, recuperando seus sentidos originários, aquecendo nossa reflexão e os caminhos trilhados em nossas análises. Objetivamos também estabelecer alguns nexos entre essas duas categorias, enredando e costurando os pontos que constituem nossa trama reflexiva.

Isso significa dizer que consideramos a sociabilidade e a territorialidade como categorias complementares e protagonistas no processo do estudo territorial desta dissertação. Equivale expressar que a sociabilidade se constrói na base das relações e intercâmbios entre os sujeitos em dada esfera e momento histórico, e a territorialidade se movimenta e se estabelece neste processo de construção das sociabilidades, configurando um campo particular de mediações e relações entre os

29 Poema “Pela janela” da coletânea de poemas Meta Amor Fases de Mauro Luis Iasi, publicado pela

homens e seu espaço de vida, ou seja, seu espaço vivido, seu lugar de experiência, seu lócus cotidiano do aconchego, conflitos e das paixões.

Entendendo essa complementaridade entre Sociabilidade e Territorialidade, observando seu movimento dialético e flexível que trabalhamos, evidenciando algumas pistas reveladas por nossa pesquisa, expressas e dilatadas nas narrativas de nossas guerreiras pesquisadas. É por esse caminho que trazemos alguns elementos à baila. Costurando pontos, apertando nós e afrouxando tantos outros, de forma a articular o espaço vivido e as relações das práticas sociais das sujeitas de pesquisa.

Assim, para que possamos entender a sociabilidade como componente essencial no processo de produção e reprodução da vida social, primeiramente é necessário compreendermos os fundamentos do ser social. Isso significa que é imprescindível a compreensão, na perspectiva de Marx, de que a essência humana está no próprio homem, enquanto ser que se autoconstrói na relação com outros homens e com a natureza, delineando um processo histórico não linear de desenvolvimento e evolução.

Nesse sentido, a gênese da existência humana está na natureza, pois sem natureza não há possibilidade de vida. A natureza deve ser entendida como um conjunto de seres, que estão divididos em dois grupos: inorgânicos, aqueles que não dispõem de propriedade de se reproduzir e os orgânicos, os que dispõem da capacidade para se reproduzir (os seres vivos vegetais e animais).

Essa diferenciação entre natureza orgânica e inorgânica não pode resultar em compreensões polarizadas, pois a natureza é uma totalidade complexa, composta por diferentes processos que são articulados entre si (LESSA, 2007, p. 85).

Dessa forma, o surgimento da vida na natureza está ligado a complexos físico- químicos processados por longos períodos evolutivos, em cuja base inorgânica surge um novo tipo de ser com a capacidade de se reproduzir, dotado de uma estrutura completamente diferente e maior, gerando um salto qualitativo na dinâmica da matéria inorgânica.

Esse novo ser vivo, por meio de inúmeras e mútuas interações com a natureza inorgânica e também por processos evolutivos ao longo da história, foi metamorfoseando-se e constituindo organismos animais superiores na escala natural e de extrema complexidade. Através desses saltos qualitativos, surge a espécie humana.

A espécie humana desenvolve-se como um outro novo tipo de ser, até então inexistente, e cujas peculiaridades não se devem à herança biológica nem a condições geneticamente pré-determinadas: um modo de ser radicalmente inédito, o ser social, dotado de uma complexidade de novo tipo e exponencialmente maior que a verificável na natureza (inorgânica e orgânica) (NETTO, 2007, p. 36).

Através desses saltos, configura-se um novo fenômeno até então desconhecido no mundo natural: o trabalho, atividade que começa a movimentar e exercitar grupos primatas para dar respostas a suas necessidades primárias de sobrevivência, necessidades rudimentares de manutenção e reprodução física dos grupos e seus membros. Essa atividade passa fundamentalmente a distinguir e destacar a espécie humana de todas as outras formas de vida.

(...) O primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a história, é que os homens devem estar em condições de viver para poder fazer história. Mas para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje como há milhares de anos, deve ser cumprido todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos (MARX, 1979, p. 39).

É na relação com a natureza que o ser natural se humaniza. Ao passo que busca respostas às suas necessidades mais imediatas, vai construindo mediações para satisfazê-las e criando novas necessidades em um movimento contínuo.

Essa atividade pelos longos períodos de tempo foi desenvolvendo-se, adquirindo características. Assim, somente por via do trabalho os grupos primatas puderam desenvolver-se e transformar-se em grupos humanos, foi pelo trabalho que a humanidade se construiu. É pelo trabalho que o homem diferencia-se dos animais, ou seja, o trabalho é elemento primário e fundante na constituição do ser social.

A construção prática de um mundo objetivo, a manipulação da natureza inorgânica, é a confirmação do homem como ser genérico consciente, isto é, ser que considera a espécie como seu próprio ser ou se tem a si como ser genérico. Sem dúvida, o animal também produz. Faz um ninho, uma habitação, como as abelhas, os castores, as formigas etc. Mas só produz o que é estritamente necessário para si ou para as suas crias; produz apenas numa só direção, ao passo que o homem produz universalmente; produz unicamente sob a dominação da necessidade física imediata, enquanto o homem

produz verdadeiramente na liberdade de tal necessidade, o animal apenas se produz a si mesmo, ao passo que o homem produz toda a natureza, o seu produto pertence imediatamente ao seu corpo físico, enquanto o homem é livre perante o seu produto (MARX, 1993, p. 165).

Com isso queremos afirmar que o trabalho é atividade vital, e que toda atividade humana perpassa pela sociabilidade, consciência, liberdade e universalidade, que são categorias ontológico-sociais fundantes do ser social, construídas social e historicamente por mediações que se confluem de modo complexo e contraditório.

O trabalho como ato de criação e produção de algo novo estabelece mediações para o alcance desse objetivo, pois nesse processo, os homens passam a conhecer e transformar a natureza, a estabelecer formas de comunicação e linguagem entre si, projetar idealmente o que pretendem atingir, transformando a si mesmos nesse complexo articulado de mediações.

Nesse movimento de humanizar-se e tornar-se social, o homem não suprime sua relação com a natureza, ao contrário, vai se refinando com suas ações, diferenciando-se dos demais animais. Assim, o trabalho cria um produto concreto e histórico que responde às necessidades de acordo com determinadas condições históricas.

Trata-se do processo no qual, mediante o trabalho, os homens produziram-se a si mesmos (isto é, se autoproduziram como resultado de sua própria atividade), tornando-se – para além de seres naturais – seres sociais. Numa palavra, este é o processo da história: o processo pelo qual, sem perder sua base orgânico- natural, uma espécie da natureza constitui-se como espécie humana – assim, a história aparece como a história do desenvolvimento do ser social, como processo de humanização, como processo da produção da humanidade através da sua autoatividade, o desenvolvimento histórico é o desenvolvimento do ser social (NETTO, 2007, p. 38).

E ao passo que o homem se humaniza, mais se torna ser social e menos fica refém das determinações imediatas do ser natural. A fome é um clássico exemplo para essa afirmação, é o sinal de que o organismo necessita de alimentos para seu funcionamento, a fome de um homem e de um lobo em nada se diferencia. Porém, a forma como satisfazê-la é radicalmente distinta, o modo de satisfação da fome humana pressupõe transformações dos alimentos, ritos, valores e interações. Já a satisfação da fome do lobo se dá de forma imediata com carne crua e sem preparo.

José Paulo Netto, discutindo sobre trabalho, natureza e ser social, nos expõe que o homem diferencia-se dos animais porque conta com algumas capacidades mediatizadas pelo trabalho, sendo elas:

1. realizar atividades teleologicamente orientadas; 2. objetivar-se material e idealmente;

3. comunicar-se e expressar-se pela linguagem;

4. tratar suas atividades e a si mesmo de modo reflexivo, consciente e autoconsciente;

5. escolher entre alternativas concretas; 6. universalizar-se; e

7. sociabilizar-se (NETTO, 2007, p.41).

Dessa forma, compreendemos que só o ser social consegue criar produtos, valores, símbolos e representações, projetar finalidades e agir teleologicamente. Criar mecanismos de linguagem expressando sua reflexão e consciência. Somente o homem é capaz de articular a linguagem na comunicação, expressar e viabilizar a troca de conhecimentos, operar o processo de intercâmbio com seus pares, construir e tecer relações em seus territórios de vida.

Para produzir e reproduzir esse movimento, o ser social tem a capacidade de se sociabilizar, movimentando a interação social com outros membros da sociedade. Isso permite a apropriação e socialização dos homens em meio a relações sociais, especialmente através dos processos de interação social (educativos formais e informais).

Portanto, o homem é natureza historicamente transformada, e o nódulo central dessa passagem é a transformação veiculada pelo trabalho humano. É a capacidade ineliminável do trabalho que se desenvolve e cria novas condições, transforma o real, a natureza e a sociedade em um contínuo processo de satisfação de necessidades materiais e espirituais de acordo com o desenvolvimento histórico.

Como podemos observar, o trabalho como atividade prático-social que transforma a realidade é uma modalidade de práxis – produtiva -, servindo de base para a construção da vida social, que também se enriquece com outras formas de objetivação humana.

A práxis não tem como objeto somente a matéria, mas também supõe formas de interação entre os homens, para transformar a realidade produzindo um mundo histórico-social, os homens interagem entre si e tendem a influir uns sobre os outros, buscando produzir finalidades coletivas. A práxis interativa emerge como necessidade posta pelo desenvolvimento da sociabilidade, sua

especificidade está no fato de objetivar uma transformação da realidade em sua dimensão consciente, valorativa, cognoscitiva, teleológica. Nesse sentido, a vida primária é dada pela práxis produtiva que se realiza pelo trabalho – principal forma de práxis (BARROCO, 1996, p.46).

Com isso, percebemos que o trabalho não se restringe à atividade econômica ou meramente para viabilizar a reprodução material, propicia outras mediações da práxis, refinando os processos de interação e sociabilização dos homens, desenvolvendo a capacidade do conhecimento, criando valores, alternativas, escolhas.

Dados esses múltiplos vetores engendrados pelo trabalho, é importante expressar que, com o desenvolvimento histórico, o ser social cria outras formas de práxis como a política, artística e revolucionária, abrindo novas significações humanas e enriquecendo seu processo de humanização.

Nesse sentido, o trabalho constitui uma atividade de automediação e autoconstrução do homem. Pelo trabalho o homem estabelece relações conscientes com a natureza, expressando suas finalidades, transformando a natureza e a si próprio. É nesse intercâmbio do desenvolvimento que o homem pode reconhecer-se como sujeito histórico, que opera modificações em sua realidade.

A práxis realiza-se pelo trabalho dentro de condições históricas, que podem ser favoráveis - a práxis positiva – e/ou desfavorável, configurando a atividade prática negativa. Essas determinações sócio-históricas evidenciam as contradições presentes na realidade social e sinalizam o movimento mutável das relações sociais. O homem não pode existir enquanto ser social sócio-histórico, sem que estabeleça relação com os outros homens; o processo de interação social é essencial para a atividade humana. Assim, a sociabilidade é fundamental e imanente à objetivação da práxis.

A atividade social e o espírito social não existem apenas na forma de uma atividade diretamente comunitária e de um espírito comunal, embora a atividade e o espírito imediatamente comunais, isto é, a atividade e o espírito que se exprimem e confirmam diretamente na associação real com outros homens, ocorrem em toda a parte onde a imediata expressão da sociabilidade dimana do conteúdo da atividade ou corresponde à natureza do espírito (MARX, 1993, p. 195).

Essa reflexão nos permite aprender que em toda e qualquer atividade humana existe o movimento da práxis interativa, ou seja, em toda objetivação humana existe

a relação com outros homens, sendo a sociabilidade inerente ao processo de construção do ser social. Nesse sentido, Marx nos lembra:

Mesmo quando eu sozinho desenvolvo uma atividade científica, etc., uma atividade que raramente posso levar a cabo em direta associação com os outros, sou social, porque é enquanto homem que realizo tal atividade. Não é só o material da minha atividade – como também a própria linguagem que o pensador emprega – que me foi dado como produto social. A minha própria existência é atividade social. Por conseguinte, o que eu próprio produzo é para a sociedade que produzo e com a consciência de agir como ser social (MARX, 1993, p. 195).

Nesse trecho, fica evidente o quanto o homem é um ser social. Mesmo que esteja em uma atividade particular e isolado do contato imediato com outros, toda sua criação, expressão e manipulação evidencia o conhecimento acumulado e o processo de humanização desenvolvido historicamente pelo gênero humano.

A sociabilidade está imbricada nas relações dos sujeitos, justamente pela práxis interativa e por relações de cooperação (formas de intercâmbio entre os sujeitos). Também se presentifica na relação do homem com a natureza, uma vez que a partir dessa intervenção, o homem se humaniza, construindo sentidos às suas objetivações.

Sob tais relações, mesmo quando os homens lutam pela sobrevivência física, pela sua reprodução mais imediata, estão desenvolvendo atividades e objetivações sociais.

Em todos esses casos, estamos diante de tendências importantes, decisivas, da transformação tanto externa quanto interna do ser social, através do ser social, através das quais esse último chega à forma que lhe é própria, ou seja, o homem deixa a condição de ser natural para tornar-se pessoa humana, transforma-se de espécie animal que alcançou um certo grau de desenvolvimento relativamente elevado em gênero humano, em humanidade (LUKÁCS, 1997, p.34).

Dessa forma, a sociabilidade pressupõe em seu desenvolvimento a construção de necessidades e modos de satisfação cada vez mais humanizados e sociais, ocasionando a transformação, tanto do ser social como da natureza.

(...) em outras palavras, todos os momentos decisivos da reprodução humana (basta pensar em aspectos naturais como a nutrição ou sexualidade) acolhem com intensidade cada vez maior, momentos

sociais, pelos quais são constante e essencialmente transformados (LUKÁCS, 1997, p. 32 -33).

Em suma, a sociabilidade é a capacidade ontológica do ser social e ineliminável da atividade vital. Queremos, com isso, pontuar que os processos interativos objetivam-se de forma social e histórica através do trabalho humano, que constrói e constitui a vida social.

Desse modo, a sociabilidade é inerente à totalidade das objetivações humanas, está presente em todas as suas expressões e relações, sinaliza a necessidade de cooperação e reciprocidade entre os homens, desvendando o reconhecimento da genericidade humana enquanto consciência; partilha a responsabilidade com os outros sujeitos, no sentido de que dependem uns dos outros para o desenvolvimento individual e coletivo.

A sociabilidade não se objetiva de forma isolada das demais capacidades humanas, está imbricada em todas as formas de atividade do ser social. É movimentada pelo trabalho e relaciona-se intimamente com a liberdade, consciência e universalidade, objetivando-se em necessidades diferentes em cada período histórico.

A sociedade enquanto modos de existência do ser social apresenta várias dimensões, donde a sociabilidade se desenvolve e objetiva. Esse processo de intercâmbio só se dinamiza por meio de indivíduos sociais, como sujeitos que são sempre históricos e sociais. Pois, como afirma Marx:

O indivíduo é o ser social30. A manifestação da sua vida – mesmo quando não surge diretamente na forma de uma manifestação comunitária, realizada conjuntamente com outros homens – constitui, pois, uma expressão e uma confirmação da vida social. A vida individual e a vida genérica do homem não são diferentes, por muito que – isto é necessário – o modo de existência da vida individual seja um modo mais específico ou mais geral da vida genérica, ou por mais que a vida genérica constitua uma vida individual mais específica ou mais geral (MARX, 1993, p. 98 -99).

Com isso, podemos refletir que a individualidade que compõe o sujeito aparece conectada ao gênero, revelando que o homem é simultaneamente ser genérico e particular, tornando-se ser social em meio a complexas interações sociais.

30 Os grifos são nossos.

O homem constitui-se como ser social no processo formativo (interativo e educativo), no decorrer do amadurecimento e desenvolvimento do gênero humano, tornando-se indivíduo social pela socialização dos conhecimentos adquiridos conforme as condições sociais que lhes são oferecidas em seu tempohistórico.

É com essa perspectiva histórica-crítica que os caminhos percorridos por esta pesquisa buscou evidenciar o caráter histórico das relações entre os sujeitos, modos de constituição das relações sociais e o espaço como lócus de dinamização da vida em todos os seus vetores.

Nesse sentido, movimentamos os esforços para sinalizar que o território, aqui, é entendido como objeto material, mas que é determinado por relações históricas, sociais, políticas, culturais e econômicas. É construído socialmente por sujeitos em constante movimento de transformação, pelo intercâmbio entre os indivíduos, por suas interações e intervenções nos lugares.

É nessa perspectiva relacional que o espaço ganha o sentido de processo contínuo de articulação entre as determinações sociais mais amplas e as formas cotidianas de reprodução da vida, como o espaço social, espaço vivido e espaço imaginado. Assim, o território, na base do cotidiano, envolve as relações, interações entre os sujeitos e também entre as instituições presentes nas dinâmicas de produção do espaço (HEIDRICH, 2010, p.26).

Os territórios são construídos historicamente no movimento do curso e das transições da história social dos homens, sendo dinâmicos e relacionais. Sua produção está imbricada por componentes naturais e sociais em interações definidas ao longo tempo e das mudanças ocorridas, na medida em que o homem através do trabalho transforma a natureza, transformando também o espaço natural em meio socialmente mediado e modificado por seus interesses.

Dito de outra forma, trata-se de compreender as determinações no tempo e no espaço, o processo histórico e suas manifestações territoriais no tempo e espaço, o processo histórico e suas manifestações territoriais (materiais e imateriais), pois o território resulta das relações espaço-temporais sendo, assim, geo-histórico, isto é, formado por acontecimentos históricos relacionais (transcalares) articulados à natureza exterior ao homem. O território é, numa concepção materialista social, sem desconsiderar as relações sociedade-natureza, o que indica a necessidade de uma abordagem múltipla que reconheça e explique os processos econômicos, políticos, culturais (memória, imaginário,

representações, identidades, símbolos) e naturais de sua formação (SAQUET et.al., 2010, p. 57).

Desse modo, o território é construído na base do espaço que, movimentado e transformado por meio do trabalho humano, o torna relacional, dando-lhe sentido e significados que criam sistemas de objetos e signos vinculados à trama da existência da vida cotidiana. Afinal, a vida de todos os homens está alicerçada no chão de um espaço que, mediatizado pelo trabalho e pelas suas relações, produz e reproduz o território em um contínuo movimento de construção/reconstrução entre território e espaço.

Em outras palavras, o território é resultado do processo de produção do e no espaço [...] Para nós, espaço e território se confundem e se

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