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Capítulo 3 METODOLOGIA PARA A ANÁLISE E ATUAÇÃO NO ENTORNO DE JARDINS DE INTERESSE HISTÓRICO

3.1 Jardins de Interesse Histórico: os casos escolhidos

O jardim é uma composição artística, mas diferente das demais artes que unem o natural com o artificial, quando esquecido (sem manutenção, mas ainda assim preservado) acaba retornando ao seu "status natural". Os entornos urbanizados que cercam esses recintos urbanos verdes interferem ecologicamente, visualmente e psicologicamente. O jardim é um ecossistema em equilíbrio no qual intervenções sem critério podem causar impactos imprevisíveis ao conjunto. Assim, os reais perigos que envolvem o jardim de interesse histórico estão relacionados com a urbanização de sua vizinhança.

Para auxiliar na proposição de uma metodologia para a atuação no entorno de jardins de interesse histórico foram selecionados três exemplares de dimensões distintas e localizados na cidade do Rio de Janeiro: a Praça da República (1880), o Parque Brigadeiro Eduardo Gomes (1962-1965), e a Praça Nossa Senhora da Glória (1965). Esses espaços verdes estão localizados no centro da cidade do Rio de Janeiro e têm semelhanças entre si. A pesquisa identificou que, ao longo da sua existência, os jardins selecionados passaram por diversas reformas que alteraram a sua composição e ambiência, contribuindo para a formação de sua imagem atual.

Além do aspecto da proximidade física entre eles, os jardins escolhidos se assemelham por serem conseqüência de iniciativas públicas de renovação urbana e por sua importância enquanto espaços verdes que apresentam qualidades e representatividade no quadro da arquitetura paisagística nacional. Tais jardins compreendem composições paisagísticas munidas de significação cultural, sejam classificados como bens integrados a um monumento edificado ou tombados individualmente pelas esferas públicas. Tanto o Parque Brigadeiro Eduardo Gomes como a Praça da República são reconhecidos como parques urbanos (categoria de Unidade de Conservação), sendo que têm representatividade por apresentarem programas paisagísticos pioneiros que, em seu tempo, repercutiram na produção

regional e nacional. Por suas modestas dimensões e pela restrita variedade de flora, a Praça Nossa Senhora da Glória é considerada enquanto praça ajardinada, mas representa uma das primeiras soluções paisagísticas que uniram a preservação patrimonial e o desenho urbano.

Um fator que motivou a escolha dos exemplares foi a co-gestão, muitas vezes turbulenta e conflituosa, entre o poder municipal e federal ilustradas nas intervenções nesses jardins. As divergências ideológicas dessas duas esferas, cujo posicionamento com a moderna mentalidade de preservação nem sempre era seguido, chegaram a embargar as obras de impacto no jardim e seu entorno (Parque Brigadeiro Eduardo Gomes), a atribuir novo reconhecimento do valor patrimonial de jardim destombado (Praça da República) e a propor intervenções audaciosas para proteger a visibilidade de edificação histórica, possibilitando o surgimento de novo jardim (Praça Nossa Senhora da Glória).

Os exemplares escolhidos também possuem padrões de freqüência distintos, sendo que a Praça da República recebe um público diário - composto por moradores e comerciantes da região imediata - e o Parque Brigadeiro Eduardo Gomes recebe uma intensa quantidade de freqüentadores nos finais de semana - moradores da região imediata ou de bairros próximos. Já o público da Praça Nossa Senhora da Glória, devido à configuração enquanto recinto, pela falta de uma sinalização adequada e pela falta de acessibilidade (portões fechados) acaba por receber grupos restritos e eventuais de freqüentadores que visitam a Igreja do Outeiro da Glória.

O método de investigação do impacto e de suas causas restringiu-se aos levantamentos histórico, morfológico e de percepção sensorial (solo e relevo, ventos e clima, vegetação e fauna, luz, som e água) aliados à identificação de patologias que comprometessem a identidade e integridade do jardim de interesse histórico. Assim, foram produzidas três fichas de inventário de caracterização dos jardins de interesse histórico inspiradas no “Estudo de evaluacíon ambiental de los edificios ya

construidos em la parte sur de tres cantos”, apresentado no trabalho de Ester

inspiração o modelo de ficha de inventário de bens tombados do Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Arquivo INEPAC) e dados das fichas do Inventário Nacional de Bens Imóveis (IPHAN, 2000). A partir do estudo da prática e da comprovação dos problemas para a delimitação e atuação no entorno em jardins de interesse históricos cariocas, pretende-se ponderar sobre a dimensão ambiental do bem e propor a criação de uma nova delimitação baseada em premissas de interesse para a proteção do ambiente do bem cultural.

A medição e a utilização de indicadores quantitativos foram descartadas, pois não existem ainda estudos voltados para a investigação de indicadores de impacto relacionados às pré-existências (ROMERO, 2005), sendo necessário produzi-los. Os dados oficiais disponíveis restringem-se à temperatura e à velocidade dos ventos medidas nas estações da área central.

Grande parte do território da cidade do Rio de Janeiro está em uma zona de conforto térmico - com condições térmicas de clima quente, com alta taxa de umidade do ar e com nível de ventilação de razoável a bom. Para a análise dos sítios em estudo foram adotadas as estações de medição do Flamengo e do Maracanã. Mesmo não possuindo exatamente características idênticas de todos os sítios em estudo, as medições das duas estações, estabelecem um comportamento médio aproximado para a localidade em questão.

A rosa dos ventos, fornecida pela Empresa de Infra-Estrutura Aeroportuária – INFRAERO, Superintendência Regional do Leste, localizada na Estação Aeroporto Santos Dumont, mostra a hierarquia dos ventos: como vento primeiro predominante à direção Sul (freqüência média anual de 18,73%, com velocidades entre 5,6 e 6,1 m/s) e segundo predominante à direção Sul-sudoeste (freqüência média anual de 13,66%, com velocidades entre 6,6 e 7,1 m/s), e como ventos secundários à direção Norte (freqüência média anual de 9,30%, com velocidades entre 11,8 e 12,3 m/s) e a direção Norte-nordeste (freqüência média anual de 8,44%, com velocidades entre 1,5 e 2,0 m/s). Devido à presença do Morro de Santa Teresa, o vento dominante Sul sofre um desvio, fazendo com que os ventos secundários passem a ser considerados dominantes na área de estudo.