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As regras alimentares servem como rituais instauradores de disciplinas, de técnicas de autocontrole que vigiam a mais insidiosa, diuturna e permanente tentação. Domá-la é domar a si mesmo, daí a importância da técnica religiosa dos jejuns, cujo resultado também permite a obtenção de estados de consciência alterada propícios ao êxtase. As regras disciplinares sobre alimentos podem ser anti-hedonistas, evitando o prazer produzido pelo alimento, tornando-o o mais insípido possível ou podem ser pragmáticas, ao evitar alimentos que sejam “demasiado quentes” ou “passionais”.210

É uma das práticas relacionadas à alimentação das mais comuns encontradas nas religiões. O Jejum pode ser total quando se trata da abstinência de quaisquer alimentos, por vezes até mesmo de água; ou parcial, quando há permissão para se comer determinados alimentos enquanto outros são temporariamente proibidos.

Os jejuns podem também ser praticados em ocasiões específicas de acordo com o calendário de celebrações da religião em questão, como forma de marcar um evento muito importante, geralmente ligado a divindades, mensageiros, profetas, líderes, fundadores e outras figuras de grande expressão.

Adventismo

Jejuns nesta religião podem ser praticados em casos particulares e individuais, com propósito de expiar a culpa, como técnica para auxiliar na meditação, como instrumento autodisciplinar, como

76 forma de purificação em caso de morte de alguém próximo ou como sacrifício pessoal para se ter um desejo concedido.

Na IASD o jejum não é coletivo, nem praticado numa data específica, mas quando necessário, podendo ser total ou parcial. Trata-se de um recurso para a autodisciplina e a purificação física e espiritual.

Devem por de parte dias de jejum e oração. Pode não ser requerida a completa abstinência de alimento, mas devem comer moderadamente, do alimento mais simples [...] um regime de frutas por alguns dias tem muitas vezes produzido grande benefício aos que trabalham com o cérebro. Muitas vezes um breve período de inteira abstinência de comida, seguido de alimento simples [...] Alguns há que seriam mais beneficiados pela abstinência de alimento por um dia ou dois cada semana, do que por qualquer quantidade de tratamento ou conselho médico.211

Para os Adventistas a temperança praticada através do controle alimentar, é uma forma de redenção, pois, por várias vezes, mostrou-se uma grande tentação através da qual o homem sucumbiu:

Para Cristo, como para o santo par no Éden, foi o apetite terreno a primeira grande tentação. Exatamente onde começara a ruína, deveria começar a obra de nossa redenção. Como, pela condescendência com o apetite, caíra Adão, assim, pela negação do mesmo, deveria Cristo vencer. “E tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; e, chegando-se a Ele o tentador, disse: se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem pães. Ele, porém, respondendo, disse: está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.”212

Budismo

No Budismo, o jejum é uma prática comum, especialmente entre os monges, que comem apenas duas vezes ao dia, uma pela manhã e outra por volta de meio dia, no resto do dia, jejua-se. Esta regra, proveniente do Vinaya Pitaka (textos canônicos budistas), só pode ser quebrada em caso de doença. O objetivo é a contenção dos próprios desejos. Tal prática sustenta proposições de

211 WHITE, E. G. Conselhos sobre o regime alimentar. Ellen. G. White Estate, Inc., 2013, p. 163. 212 Ibid, p. 167.

77 simplicidade, desapego e anti-hedonismo, o corpo deve ser apenas mantido funcionando como instrumento do caminho espiritual e não como fonte de prazer e distração.

Catolicismo

O Cristianismo, de forma geral, permanece hoje apenas com o jejum da Semana Santa, mas “no século VI, o ato de comer era visto como uma tentação que levava ao pecado da gula. Aos poucos, sob a égide da Igreja Católica, o jejum sistematizou-se.”213 Na Idade Média, haviam

mais de duzentos dias de jejum, restringindo especialmente o consumo de carne vermelha. Além do jejum da Quaresma e todas as quartas e sextas-feiras eram tidas como dias de jejum parcial. “Segundas e quintas eram tradicionalmente dias de jejum dos judeus, e, presumivelmente, usando-o como modelo, os primeiros Cristãos escolheram a quarta e sexta como dias de jejum.”214

Hinduísmo

No Hinduísmo as regras para o jejum são bastante complexas, variando segundo o mês do ano, a divindade de devoção do fiel,

a casta, a família, a idade, o gênero e o grau de ortodoxia. O jejum pode ser completado através do consumo de comidas “puras” adotando-se uma dieta completamente vegetariana ou abstendo-se de suas comidas favoritas. Jejuns comuns incluem os domingos, dias de lua nova, de lua cheia e o 10º. e 11º. dias de cada mês, o festival de Sivaratri, o 9º. dia do mês de Cheitra, o 8º. Dia de Sravana e os dias de eclipses, equinócios, solstícios e conjunções de planetas.215

213 STRONG, R. Banquete. Uma historia culinária, dos costumes e da fartura à mesa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

Editor, 2004, p. 49.

214 ADAMSON, M. W. Food in Medieval Times. Westport: Greenwood Press Publishing, Inc., 2004, p. 213.

Tradução do autor.

215 SITA RAMA DAS. Faith and Food. The way to your heart.. www.faithandfood.com. Acesso em 04/04/2014.

78 Cada dia da semana é dedicado a determinados deuses. Costuma-se jejuar ao menos uma vez por semana de acordo com o deus ao qual se deseja comunicar. O jejum é parcial, evitando-se alguns alimentos neste dia, em geral: arroz, trigo, lentilhas, sal (jejum upvaas), ou cebola e alho (jejum

vrat). O jejum dura do nascer ao pôr do sol intercalado com uma refeição que segue as restrições citadas. Há inúmeros livros e sites com “receitas vrat”, isto é, sem cebola ou alho, próprias para os dias de jejum, bem como “receitas upvaas”, sem cereais ou sal. Alguns deuses, em seus respectivos dias, também não permitem o uso de outros ingredientes, além das dietas vrat e

upvaas, tais como o óleo no dia de Lord Surya, domingo. O objetivo do jejum é obter favores do deuses para quem se sacrifica, mulheres solteiras que desejam um bom noivo, por exemplo, praticam o jejum vrat às segundas-feiras em homenagem a Shiva Purana. 216 Outro objetivo do jejum é melhorar o controle de si mesmo, através do controle do domínio sentidos (Indryias), o que favorece o Sadhana (meditação).

Islamismo

No Islamismo o jejum é praticado durante o nono mês do calendário islâmico (lunar), o Ramadã, mês do jejum. Trata-se do mês em que Maomé teria recebido do anjo Gabriel o Corão.

Em respeito a este acontecimento, neste mês não se come, bebe, fuma ou tem relações sexuais, do nascer ao por do sol. Entretanto, o jejum é quebrado depois que o sol se põe com grandes banquetes em família.

O jejum no Islamismo é praticado também com finalidade de expiação, variando de acordo com a falta cometida. O jejum expiatório é previsto para algumas faltas, tais como, “homicídio de um correligionário (4, 92), juramento em vão (5, 89), caça em estado de consagração (5, 95), e repudiar a esposa (58, 4).”217

216 London Sri Murugan. www.londonsrimurugan.org, acesso em: 31/03/2014

217 EZQUIBELA, I. J. Prescripciones y tabúes alimentarios: el papel de las religiones. In: Distribuicion y

79 Judaísmo

O Judaísmo possui alguns jejuns em seu calendário litúrgico. Alguns são menores e menos praticados, nas seguintes datas:

O dia 10 do mês de Tevet, que marcou o cerco de Jerusalém pelos babilônios;

O Jejum de Ester, observado um dia antes do Purim, no dia 13 do mês de Adar, lembrando os dias de jejum solicitados por Ester.

O dia 17 do mês de Tamuz, que é a data em que as muralhas de Jerusalém foram rompidas, durante o cerco romano.

O jejum de Guedalia, no dia 3 do mês de Tishrei, um dia depois do Rosh Hashaná. Celebra o assassinato de Guedalia, governador dos judeus, nomeado por Nabucodonosor. Foi o ultimo golpe na destruição do primeiro reino.218

Há também o bastante praticado Jejum dos Primogênitos: é realizado um dia antes da Pessah (Páscoa Judaica), “em sinal de gratidão por ter poupado os primogênitos dos Filhos de Israel, quando Deus, na décima praga, matou os primogênitos egípcios.”219

O principal jejum, entretanto, é o do Yom Kippur, dia do perdão. Ele acontece no décimo dia do mês de Tshiri, ao final do ano judaico.

O foco do dia são as necessidades espirituais, portanto as físicas são temporariamente postas de lado para que se concentre no pedido de perdão por todas as maneiras pelas quais se tenha transgredido no ano que se passou [...] e assim se comece o ano de consciência limpa.220

218 DONIN, H. H. O Ser Judeu. Guia prático para a observância judaica na vida contemporânea. Jerusalém:

Organização Sionista Mundial. Departamento de Educação e Cultura Religiosa para a Diáspora, 1985, p.284.

219 Ibid., p. 246.

220 SHOESTECK, P. A Lexicon of Jewish Cooking. A collection of folklore, foodlore, history, customs and recipes.

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3.2 Dietas regulares

“O cumprimento das regulações alimentares tem sido parte fundamental do contrato que os fieis dos diferentes credos tem de cumprir para seguir sendo formalmente e não afastar-se de Deus nem de seus sacerdotes.”221

Classificamos como dietas regulares as práticas alimentares determinadas pela doutrina religiosa e que estabelecem os hábitos alimentares do cotidiano. Algumas religiões determinam o que comer e o que não comer e enquanto outras não estabelecem o que comer, mas determinam apenas o que não comer. Quando há, nestes casos, um grande número de proibições estas acabam por delinear uma dieta cotidiana, em contrapartida às religiões que possuem alguns poucos tabus que não chegam a estabelecer uma dieta propriamente dita.

Adventismo

A IASD propõe uma dieta regular. Esta dieta é o fruto da Reforma Alimentar proposta por Ellen G. White. A Reforma propõe o vegetarianismo:

Deus deu aos nossos primeiros pais o alimento que pretendia que a raça humana comesse. Era contrario ao Seu plano que se tirasse a vida de qualquer criatura. Não devia haver morte no Éden. Os frutos das árvores do jardim eram o alimento que as necessidades do homem requeriam [...] O estado da mente tem grandemente a ver com a saúde do corpo, e em especial com a saúde dos órgãos digestivos. Em geral, o Senhor não proveu carne a Seu povo no deserto, porque sabia que regime suscitaria doença e insubordinação. A fim de modificar a disposição e levar as mais altas faculdades do espírito a exercício ativo, deles tirou a carne de animais mortos. Deu-lhes o pão dos anjos, o maná do céu.222

Há também recomendações de uma alimentação frugal. Vegetais cozidos de maneira simples, sem extravagâncias:

221 EZQUIBELA, I. J. op. cit., p. 9. 222 WHITE, E. G. op. cit., p. 317-319.

81 Cereais, frutas, nozes e verduras constituem o regime dietético escolhido por nosso Criador. Estes alimentos, preparados da maneira mais simples possível são os mais saudáveis e nutritivos. Proporcionam uma força, uma resistência e vigor intelectual, que não são promovidos por uma alimentação mais complexa e estimulante.223

Talvez pela recente época em que foi proposta, se comparada às outras religiões, por volta de 1900, a Reforma Alimentar apresenta-se a partir de uma perspectiva nutricional. Entretanto, apesar do discurso científico, promover a saúde através da alimentação é valorizar o corpo dado por Deus e manter-se na melhor forma para servir a Deus. A rigidez dietética adventista também se apresenta como uma técnica instauradora de autodisciplina desembocando numa disciplina moral.

Budismo

No Budismo, com suas fortes raízes hinduístas o vegetarianismo prevalece, seguindo também o princípio ahimsa. A carne não é proibida, entretanto,

Buda aconselhou aos monges comer carne apenas quando o animal não tenha sido abatido para consumo. A carne tem sido consumida em pequenas quantidades em alguns países budistas, onde pode ser obtida de açougueiros muçulmanos. 224

Evitar o consumo de carne parece ser comum aos budistas em geral, mas podemos falar em “Budismos”, o que acarreta muitas vezes, diferenças dietéticas não apenas devido a um determinismo sócio-geográfico, mas referente às diferentes visões que estes “Budismos” adotarão. No Budismo Mahayana chinês e vietnamita, por exemplo, “evitarão alguns alimentos de aroma intenso tais como cebolas, alho, cebolinha verde e alho-poró, acreditando que seus sabores fortes excitem os sentidos e apresentem um obstáculo aos budistas em busca de controle dos próprios desejos.”225 No entanto, comem carne, peixes e ovos.226 É pouco provável que os

monges budistas tenham grandes restrições alimentares, já que é parte de sua prática pedir

223 WHITE, E. op. cit., p. 74.

224 SCHIMDT, A. e FIELDHOUSE, P. op. cit., p. 2. 225 Ibid.

82 comida e, sendo assim, não podem escolher o que lhes dão. Aceitam de bom grado qualquer alimento.

Entre os monges zen budistas que vivem em mosteiros,

a alimentação é vegetariana [...] na maneira mais tradicional, também não se usa nem cebola, nem alho. E as cores e os sabores dos alimentos também devem ser levados em conta para que exista um perfeito equilíbrio. Por isso, não podem faltar, em uma refeição, amarelo, branco, verde, vermelho, preto ou roxo e marrom; e os sabores ácido, picante, amargo, salgado e doce.227

Hinduísmo

A dieta Hinduísta é predominantemente baseada no conceito ahimsa, isto é, a não violência. Por este principio, a dieta é em grande parte lacto vegetariana, em especial a carne bovina é rejeitada, uma vez que a vaca é considerado o animal sagrado por excelência. O consumo de carne não é proibido, mas bastante desencorajado.228 Também o consumo de bebidas alcoólicas é quase nulo. O que não se consome em proteína de carne, consome-se em proteína de leite e seus derivados, sendo esta, a principal fonte de proteína. Se a vaca é sagrada, o leite é considerado um produto de origem divina altamente recomendado. Entre as principais fontes de gordura encontra-se o

Ghee, manteiga clarificada, extraída do leite de vaca. Além de alimento o Ghee é usado em cerimônias religiosas para untar estátuas de entidades.

Bastante influenciado pelo Vedismo, o Hinduísmo herda algumas práticas alimentares da culinária Ayurveda. Um sistema bastante complexo classificará os alimentos segundo qualidades da natureza (PraKruti): “Sattva é estabilidade, aspecto puro, percepção, essência e luz. Rajas é movimento dinâmico. Tamas é estática.”229 Os alimentos, submetidos a cada uma destas

qualidades provocarão respectivamente tais disposições, naqueles que os consomem. Assim, os alimentos sattvicos seriam equilibrados, leves, fáceis de digerir, facilitando a percepção, a pureza, etc. Já alimentos rajasticos causariam, euforia, irritação e encorajamento dos prazeres

227 HOLANDA, A. Meditar e cozinhar, uma boa dupla. Vida Simples, Julho, 2013, p. 54.

228 SCHIMDT, A. e FIELDHOUSE, P. The World Religions cookbook. Westport: Greenwood Publishing Group,

Inc., 2007, p. 98-99. Tradução do autor.

83 sensuais tais como alho e cebola. As carnes de mamíferos e uma lista de outros alimentos são classificados como tamasicos e, portanto fornecem uma energia que causa estagnação (outra forte razão pela qual não se come carne).

Islamismo

O Islamismo também possui regras alimentares que acabam por determinar uma dieta regular. Observa-se uma dicotomia próprio/impróprio, identificada sob os termos Halal/Haram. A dieta islâmica considera Halal (permitido) o leite de vacas, ovelhas, camelas e cabras, também, peixes em geral, mel, plantas não intoxicantes, vegetais, hortaliças e frutas frescas ou congeladas, legumes e grãos, bem como carnes de animais que tenham sido abatidos segundo os preceitos islâmicos (Zabihah). São considerados alimentos Haram (proibidos): cachorros, burros, anfíbios, repteis, animais carnívoros, aves de rapina e noturnas, insetos, porcos e seus derivados, também animais Halal que não tenham sido abatidos segundo o procedimento Zabihah; sangue e derivados de sangue de qualquer procedência animal; plantas, bebidas venenosas e intoxicantes em geral; colágeno, hormônios sexuais, etileno, insulina, pepsina, extrato de baunilha. Há ainda uma categoria, Mashbooh, para designar que não chega a ser proibida, mas que não é recomendada, pois contém alimentos ditos duvidosos, são eles: gelatinas, vinagres, diuréticos, ácido fólico, disódio, queratina, glicerol, monoglicerídeos, niacina, dextrina, nitrato, nitrito, ácido oleico, fenilalanina, fosfolipídios, ácido fosfórico.230

Todos estes preceitos dão origem a uma complexa prática alimentar, são necessário órgãos regulamentadores, bem como certificações de procedência e fornecedores especializados, criando até mesmo fora do mundo árabe um grande mercado consumidor destes produtos.

Judaísmo

Algumas religiões estabelecem um verdadeiro sistema nutricional, onde até mesmo a mais simples refeição é permeada por sua visão de mundo. Trata-se da alimentação Kasher. De

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Kasher, que significa apto, apropriado ou de acordo com a lei religiosa, derivará Kashrut, palavra hebraica que se refere às leis dietéticas judaicas. Não há meio termo, um alimento é

kasher (próprio) ou trêfá (impróprio) e, portanto inadequado para consumo.231

As práticas alimentares estabelecidas pela Kashrut não preocupam-se apenas benefícios físicos, nem tampouco tem pretensões higiênicas, mas “são destinadas mais ao bem-estar espiritual do que ao físico.”232 “Os alimentos impuros prejudicam a alma, afetando suas virtudes morais e

espirituais.”233

A maioria das normas da Kashrut são extraídas do Levítico, na Torá. Com relação ao consumo de carnes, são permitidos apenas os animais que possuem as duas características simultaneamente: patas fendidas e que são ruminantes, sendo eles: ovelha, boi, cabra e veado. Qualquer outra carne está proibida. Dos peixes, apenas os que tem nadadeiras e escamas, qualquer outro animal marinho é proibido. São proibidas todas as aves de rapina ou as que tratam sua comida como aves de rapina, sendo permitidos apenas: a galinha, o peru, ganso, pato e pombo. Todos os anfíbios e insetos são proibidos, bem como todas as criaturas que se arrastam sobre seu ventre.234 Os animais também devem ser abatidos de forma específica (Sehitá) para que sejam considerados Kasher, detalharemos o procedimentos no item sacrifício animal.

Outra importante e destacada regra da Kashrut encontra-se na proibição do consumo de carne (fleishig) e leite (milchig) na mesma refeição. Na Torá, por três vezes é mencionado: “não cozerás o cabrito no leite de sua mãe” (Ex. 23, 19; 34, 26; Deut. 14, 21).235 Nem mesmo

derivados dos produtos podem ser consumidos ou armazenados juntos. É necessário um intervalo de três horas para que se consuma um ou outro. Há também a categoria Parve (neutro), estes sim podem acompanhar carne ou leite. São cereais, vegetais, pães, etc... Desde que não contenham nenhum traço de carne ou leite. Por convenção, carnes de aves também não podem ser misturadas a alimentos michig.

Estas são as regras básicas da dieta kasher e devem ser obedecidas dentro e fora de casa. Restaurantes Judaicos ortodoxos só podem fleishig ou milchig, e nunca os dois. Há também uma

231 DONIN, H. H. op. cit., p. 113. 232 Ibid., p. 114.

233 Ibid., p. 119. 234 Ibid., p. 121-122. 235 Ibid., p. 129.

85 serie de produtos com o selo kasher, indicando a procedência e garantindo os procedimentos adequados. Nas comunidades judaicas espalhadas pelo mundo encontram-se, além de restaurantes, estabelecimentos especializados, entretanto, é possível realizar procedimentos de “kasherização” de alguns alimentos em casa.

3.3 Interdições alimentares

As interdições alimentares referem-se aos tabus e proibições de alimentos ou práticas alimentares presentes nas religiões.

Pureza e penitência [...] Não há dúvida de que ambas noções reclamam-se mutuamente e são complementares. Gozar de pureza significa reencontrar-se com Deus, recuperar a unidade original e o estado prístino de que, supostamente desfrutamos alguma vez in illo

tempore. O único procedimento conhecido para se alcançar tal estado consiste em contar com a graça e o favor divino, para os quais é necessário contribuir com a vontade e o esforço humano.236

Não obstante já termos falado num grande número de interdições alimentares no item anterior

Dietas regulares, enumeramos um item específico para interdições alimentares para que pudéssemos mencionar as interdições que não se relacionam com as dietas regulares e também, nas religiões onde não existem dietas regulares.

Adventismo

A IASD possui possivelmente uma das dietas mais restritivas. Para os que seguem rigorosamente os princípios propostos pela reforma alimentar de Ellen White, a alimentação cotidiana é repleta de interdições, a começar pela carne, em especial a de porco. Que não é apenas completamente desaconselhável, como também qualquer produto de origem animal:

86 Seja progressiva a reforma alimentar. Sejam as pessoas ensinadas a preparar o alimento sem uso de leite ou manteiga. Diga -se-lhes que em breve virá o tempo em que não haverá segurança no uso de ovos, leite, creme ou manteiga, por motivo de as doenças nos animais estarem aumentando na mesma proporção do aumento da impiedade entre os homens. Aproxima -se o tempo em que, por motivo da iniquidade da raça caída, toda criação animal gemerá