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CAPÍTULO 6: Jogos Digitais e Aprendizagem

6.6 Jogos Digitais Cooperativos

Como apresentado anteriormente, o jogo digital produz situações que exigem a interação do jogador para a solução de desafios e, sendo um jogo, tem como componente essencial, um projeto educativo baseado em regras, sob as quais se busca resolução pacífica e ética dos desafios e conflitos.

Segundo BROWN (1994), em um jogo cooperativo, a busca para solucionar problemas parte da combinação de características individuais dos jogadores participantes (qualidades, habilidades, capacidades ou condições), implicando em um processo de exploração, escolha, e finalmente concordância para definir as ações que levam a um objetivo comum. Não significa necessariamente que os indivíduos que cooperam tenham os mesmos objetivos individuais, entretanto o alcance do objetivo comum deve proporcionar satisfação para todos os integrantes.Dessa forma, o processo

164 de participação no jogo pode resultar em um enriquecimento e crescimento tanto pessoal como do grupo e das próprias atividades propostas.

Ainda segundo BROWN (1994), nessa modalidade de jogo, o mais importante é a cooperação de cada indivíduo, ou seja, é o que cada um tem para oferecer naquele momento, para que o grupo possa agir com mais eficiência nas tarefas estabelecidas. Brown observa que o jogo cooperativo traz uma alternativa ao jogo de competição, em que um participante representa verdadeiro obstáculo a ser ultrapassado, a qualquer custo, para que o outro alcance seu objetivo.

Baseando-se na Teoria Construtivista122 de PIAGET (1978) e, em particular na Teoria Sócio-Interacionista123 de VYGOTSKY (1998), ARRUDA (2011) argumenta que os indivíduos não aprendem apenas com base em suas experiências com o meio, mas, sobretudo, dialogando com outros indivíduos que fazem parte do seu ambiente social. A aprendizagem ocorre nos espaços de diálogo, observação da atividade do outro, por meio de perguntas e interações. ARRUDA (2011) relata, ainda, que os jogos digitais cooperativos apresentam tais características, tanto na composição de grupos duradouros, formando comunidades virtuais, fóruns, clãs de jogos; quanto na forma temporária, em que a dinâmica do jogo permite trocar ideias e informações, desenvolvendo os indivíduos que compõem o grupo e, também, suas estratégias de jogo. Em sua pesquisa, SQUIRE (2008) observa que os jogos digitais em geral são espaços de socialização entre jogadores, por meio dos quais são estabelecidas interações fundamentadas em mecanismos de competição. Segundo o autor, a competição, nesse contexto, é uma forma de demonstrar as diferentes estratégias utilizadas pelos grupos de jogadores para alcançar seus objetivos dentro do jogo. Os níveis de cada jogador (do iniciante ao avançado) permitem que eles entendam o que lhes falta aprender para alcançarem determinados conhecimentos dentro do jogo.

Sobre o esse polêmico assunto “cooperação x competição”, ORLICK (1989) afirma tratar-se de um mito a ideia de que a competição seja elemento essencial na

122 Teoria que apresenta o aprendizado pela interação e uso de instrumentos simbólicos, abordada com

mais detalhes no Capítulo 2. 123

Teoria apoiada na concepção em um organismo ativo no qual o pensamento e o conhecimento é gerado essencialmente em um ambiente social, com a interação entre indivíduos, também abordada de forma mais completa no Capítulo 2.

165 educação, por preparar a vida em um mundo competitivo e por estimular o bom desempenho dos aprendizes. Essa afirmação decorre de estudos que obtiveram resultados semelhantes em classes cooperativas e competitivas.

Segundo BROTTO (1999), os jogos puramente cooperativos, ao contrário dos que estimulam a competição, propõem a busca de novas formas de jogar, com o intuito de diminuir as manifestações de agressividade dos participantes, promovendo atitudes de sensibilidade, cooperação, comunicação, alegria e solidariedade, sem desestimular os indivíduos ou grupos que não se saíram bem.

Portanto, observa-se que a esperança, a confiança e a comunicação são as características principais dos jogos cooperativos. O jogo cooperativo busca a integração de todos os envolvidos, a alegria, a valorização do indivíduo na construção do processo de participação. Os jogos cooperativos buscam incluir e não excluir (BROWN, 1994).

Segundo BROTTO (2001), os principais eixos da pedagogia cooperativa são: Convivência: vivência compartilhada como contexto principal a.

para a aprendizagem no processo de reconhecimento de si mesmo e dos outros.

Consciência: reflexão sobre a vivência e as possibilidades de b.

modificar atitudes, na perspectiva de melhorar a participação, o prazer e a aprendizagem.

Transcendência: auxiliando a sustentar a disposição para c.

dialogar, decidir em consenso, experimentar as mudanças propostas e integrar no jogo e na vida, as transformações desejadas.

Amaral (2004) cita como os principais valores educativos dos jogos cooperativos: Construção de uma relação social sustentável: os jogos a.

cooperativos mudam as atitudes das pessoas diante do jogo e delas mesmas, favorecendo a criação de um ambiente de apreço;

A empatia: é a capacidade de situar-se na posição do outro, b.

para compreender seu ponto de vista, suas preocupações, suas expectativas, suas necessidades e sua realidade;

166 A cooperação: valor e destreza necessários para resolver c.

tarefas e problemas em conjunto, desenvolvendo relações baseadas na reciprocidade e não no poder e controle. As experiências cooperativas são a melhor maneira de aprender a compartilhar, a socializar-se e a preocupar-se com os demais; A comunicação: desenvolvimento da capacidade para d.

expressar, deliberada e autenticamente, o estado de ânimo, percepções, conhecimentos, emoções e perspectivas;

A participação: gera um clima de confiança e de implicação e.

comuns;

O apreço e autoconceito: autoestima, autoconfiança e f.

segurança, desenvolver uma opinião positiva de si mesmo, reconhecer e apreciar a importância do outro. O jogo cooperativo oferece ao jogador a ocasião de apreciar-se, de valorizar-se, sentir-se respeitado em sua totalidade. Pouco importa as suas aptidões, o jogador é sempre ganhador e nunca eliminado. Respeitar-se envolve o respeito dos outros. A alegria: uma das metas do ensino-aprendizagem deve ser a g.

formação de pessoas felizes e o desaparecimento do medo ao fracasso e ao rechaço.