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Jornalismo convergente, móvel e em redes

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CAPÍTULO 2 MODOS DE PENSAR

2.1 TECNOLOGIAS E MUDANÇAS NO JORNALISMO

2.1.3 Jornalismo convergente, móvel e em redes

Falamos de um contexto de mudanças no jornalismo, consideradas estruturais, impulsionadas sobretudo por aspectos tecnológicos. Neste cenário, do ponto de vista da produção jornalística, que é o que escolhemos enfocar, a questão da convergência e da mobilidade, tendo em vista a miniaturização e multimidialidade de dispositivos, ocupa um lugar central na pesquisa.

O jornalismo digital, como praticado na atualidade, é marcado pela comunicação convergente (do ponto de vista técnico e cultural), que acentua a mobilidade (com os telefones que ficaram móveis e, mais ainda, com os recursos multimídia no potente dispositivo moderno chamado smartphone) com novas possibilidades de leitura

6 Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2014/04/14/sociedad/1397504895_355193.html>.

(leitores/interatores móveis) e novas dinâmicas para o jornalista. Isso em contextos de redes (do ponto de vista da rede mundial de computadores, das redes sociais e da produção em redes). Temos, assim, uma produção a partir de dispositivos móveis para ser distribuída por dispositivos móveis, para leitura em dispositivos móveis. Com a convergência, a mobilidade se intensifica. A mobilidade, no que diz respeito ao nosso estudo, se aplica ainda, no caso das mídias independentes, ao fato de elas estarem em movimento no sentido de que são recentes e dinâmicas, muitas não possuem redação fixa e funcionam em redes, e na maioria das vezes propõem um tipo de cobertura que rompe com a linearidade das coberturas realizadas pelas mídias tradicionais, como iremos ver em maior profundidade com o avançar da análise empírica, no terceiro capítulo. Sobretudo, no que diz respeito à cobertura de eventos e acontecimentos em tempo real, a cobertura dessas mídias vai a campo em uma perspectiva de transmitir os fenômenos, e não somente os captar ou registrar.

Stephen Quinn (2002, p.139) aponta dois aspectos-chave da tecnologia móvel no universo do jornalismo. “O primeiro visa as ferramentas para ajudar os repórteres a passarem mais tempo em campo. O segundo considera a distribuição de conteúdo para os dispositivos móveis”. No primeiro caso, expõe o autor, temos a redação virtual, com os jornalistas “menos presos às suas mesas na redação”, o que significa que, potencialmente, “serão hábeis para trabalhar mais em equipe tendo em vista que a tecnologia permitirá a realização de alguns dos trabalhos necessários para sincronizar as pessoas no campo”. Já no segundo, “a distribuição móvel deverá ser um futuro para a distribuição da informação e da notícia” (QUINN, 2002, p. 139).

Esse futuro já é presente. Aliás, o texto citado no parágrafo anterior foi escrito mais de uma década e meia atrás. As mídias independentes, redes colaborativas de mídia em todo o mundo exploraram essa distribuição móvel em movimentos de grande impacto e repercussão social, como mostra Manuel Castells (2018), ainda que se discutam a nomenclatura do tipo de conteúdo que esses grupos produzem.

Importante estudioso do webjornalismo (termo que adota), João Canavilhas diz que ele se dá em condições particulares que o distinguem do que se faz em outros meios. “Com base na convergência entre texto, som e imagem em movimento, o webjornalismo pode explorar todas as potencialidades que a internet oferece, oferecendo um produto completamente novo: a webnotícia” (CANAVILHAS, 2001, p. 01).

O conceito de convergência midiática aparece nos estudos de jornalismo digital, da web notícia, fundamentalmente enquanto um fenômeno possibilitado pela internet e a sua característica de multimidialidade. “As primeiras análises teóricas sobre a convergência na mídia, formuladas há quase três décadas, identificaram no elemento tecnológico o principal fator desencadeante desse fenômeno” (SALAVERRÍA; GARCÍA AVILÉS; 2008, p. 33, tradução nossa). Henry Jenkins é considerado um dos primeiros e um dos principais autores a tratar a convergência em um sentido multidimensional, com enfoque para o seu aspecto cultural e superação da dimensão tecnológica, focada em um dispositivo, noção que ele chama de “caixa preta”, já em 2001, no artigo “Convergence? i Diverge”, da revista MIT Technology Review.7 A obra

Cultura da convergência viria a ser lançada em 2006, nos Estados Unidos. Retomaremos esta dimensão da cultura adiante, ainda neste ponto do capítulo 2, com Jenkins e outros autores.

O jornalismo, com seus processos e suas narrativas, passa então a se orientar pela característica potencializadora da web: a hipertextualidade (PALÁCIOS, 2004). Neste cenário hipertextual, os recursos de áudio (da velha mídia rádio), de vídeo (da velha mídia TV), de texto (da velha mídia jornal impresso) e de imagens (do fotojornalismo e das velhas mídias jornais e revistas) podem ser utilizados nos processos e nas narrativas jornalísticas, de maneira convergente, multimídia. De acordo com Canavilhas (2014, p. 2), as características do webjornalismo são hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, memória, instantaneidade, personalização e ubiquidade.

Essas características são apontadas por vários autores, com poucas variações, desde os primeiros estudos sobre jornalismo online. No Brasil, por Marcos Palácios (1999), que ressalta que as características do jornalismo online não surgem com a internet, mas são potencializadas por ela, em um ambiente que agora permite uma convergência de mídias. E ressalta ainda a importância de “que se estabeleça uma premissa básica que afaste qualquer tentação de se considerar que a Internet, ou outros

7 No texto de Jenkins, ele afirma que “considerem este artigo uma cartilha sobre a convergência real da

mídia, porque ela está prestes a transformar nossa cultura tão profundamente quanto a Renascença”. O autor afirma: “O que é essa conversa sobre ‘convergência de mídia’, essa ideia idiota de que todas as mídias se fundirão em uma só e receberemos todas as notícias e entretenimento em uma caixa? Poucos termos contemporâneos geram mais buzz e menos mel. [...] A convergência de mídia é um processo contínuo, ocorrendo em várias intersecções de tecnologias de mídia, indústrias, conteúdo e audiências; não é um estado final. Nunca haverá uma caixa preta controlando todas as mídias” (JENKINS, 2001, p. 1, tradução nossa). Disponível em: <https://www.technologyreview.com/s/401042/convergence-i-diverge/>. Acesso em: 13 jul. 2019.

suportes telemáticos, estejam a se constituir em oposição e em um movimento de superação dos formatos mediáticos anteriores” (PALÁCIOS, 2004, p. 4).

Para Canavilhas (2010), o webjornalismo, é um “fenômeno que, em pouco mais de uma década, ganhou um espaço próprio no campo das ciências da comunicação”. A esse cenário, dá o nome de “novo ecossistema midiático”, no qual as pessoas teriam a internet como sua principal fonte de informação e nos seus dispositivos móveis a principal forma de acesso à internet. Com a terminologia “ecossistema midiático”, Canavilhas (2010) transpõe conceitos oriundos da biologia ecológica para o campo das mídias. Para isso, ele propõe que os fatores bióticos correspondem ao estudo das características dos próprios meios, mas também das relações intermidiáticas, a que poderíamos chamar fatores midiáticos. E os fatores abióticos, que são mais complexos, são divididos em dois grandes grupos: contextuais e tecnoambientais.

No que diz respeito ao campo dos fatores intermidiáticos, além da designação de remediação, em que a internet influencia as mídias já existentes, fazendo com que elas se renovem, Canavilhas (2010, p. 5) fala também em uma espécie de remediação inversa que teria contribuído para o início do processo de convergência. Segundo ele, trata-se da migração dos meios tradicionais para a web, atenuando fronteiras e dando início a um processo de convergência “que torna cada vez mais difícil distinguir onde acaba um meio e começa outro”. O autor afirma que “a imprensa ganhou distribuição global imediata, uma característica da rádio e da televisão [...]; a rádio ganhou imagem, característica típica da televisão; a televisão ganhou novos níveis de interação típicos da Internet”. A remediação, explica, se dá em medida semelhante, “em que os novos meios melhoram os meios anteriores, mas estes passam igualmente por um processo de transformação que os aproxima dos modelos comunicacionais do novo meio”.

Para Suzana Barbosa (2013), a cultura contemporânea em si é a da convergência, na medida em que ela “modifica as relações não apenas entre tecnologias existentes, mas entre indústrias, mercados, gêneros, audiências e consumo dos meios. [...] a convergência promove a reconfiguração dos meios, o redesenho da sua estética e da sua economia” (BARBOSA, 2013, p. 35). Nesse contexto, o jornalismo vive em um momento de interseção com as mídias móveis, que é de atuação conjunta, integrada, entre os meios, “marcado pela horizontalidade nos fluxos de produção, edição, e distribuição dos conteúdos, o que resulta num continuum multimídia de cariz dinâmico” (BARBOSA, 2013, p. 33). A autora prossegue, afirmando que:

Com isso, já não se tem uma oposição entre meios antigos/tradicionais e os news media. Sendo assim, medialidade explica melhor esse panorama, quebrando a retórica do ‘novo’ e, acrescentamos, dissipando a equivocada ideia de concorrência entre meios que compõem um mesmo grupo jornalístico multimídia (BARBOSA, 2013, p. 34).

A noção de “continuum multimídia”, apresentada por Barbosa (2013) – uma noção que assumimos nesta pesquisa, como apontado já na introdução e, depois, no primeiro capítulo da tese –, diz respeito a uma nova fase na produção, edição e distribuição de conteúdos calcada na horizontalidade e, principalmente, nos dispositivos móveis de modo a vislumbrar uma quinta geração para o jornalismo praticado em redes digitais em um cenário multiplataforma nas empresas jornalísticas. Neste sentido, a autora também identificou que, em algum nível, estaria ocorrendo uma “transposição 2.0” porque a produção para tablets estaria quebrando a transposição vinda do impresso, sendo que agora ocorre o contrário: primeiro se produz para tablet e depois se distribui para outras plataformas (web e impresso). O conceito abrange aspectos relacionados aos desenvolvimentos tecnológicos, à absorção de novos procedimentos para realizar os processos e rotinas de produção do jornalismo, como também os avanços já empreendidos nos estudos para o melhor entendimento do fenômeno da convergência jornalística, suas particularidades, consequências e também divergências. Ademais, continuum multimídia compõe um dos traços característicos para o que se depreende como novo estágio de evolução para o jornalismo em redes digitais (BARBOSA, 2013, p. 38).

Das pesquisas de Mielniczuk, (2001; 2003), entre outros, decorrem as primeiras noções acerca das gerações do jornalismo online no Brasil. A primeira delas ganhou o nome de “transpositiva” justamente por referir-se à transposição do conteúdo produzido para o veículo impresso integralmente para a página na web, sem nenhuma adequação do texto para a mídia. “Com o aperfeiçoamento e desenvolvimento da estrutura técnica da Internet”, a segunda geração emerge e é chamada pela autora de “metáfora” (Mielniczuk, 2001, p. 2). Nela, ainda se percebe o atrelamento ao processo de produção do impresso, no entanto, é dado um passo à frente com a produção de conteúdo exclusivo para a mídia e uma tímida exploração ainda que rudimentar do universo hipertextual. Já a terceira geração nasce quando elementos potenciais da Internet se conjugam, fazendo surgir produtos jornalísticos multimidiáticos e interativos, enriquecendo toda a cadeia jornalística. Mielniczuk (2003, p. 9 e 10) explica que neste

estágio temos “a utilização do hipertexto não apenas como um recurso de organização das informações da edição, mas também como uma possibilidade na narrativa jornalística de fatos; – atualização contínua no webjornal e não apenas na seção ‘últimas notícias’”. Canavilhas e Baccin (2015) consideram que Barbosa apontou, com o passar dos anos, a quarta (BARBOSA, 2008, p. 11-12) e quinta (BARBOSA, 2013) gerações do webjornalismo, que seriam, respectivamente, o jornalismo de base de dados (servem apenas de sustentação para as práticas jornalísticas, desde a pré-produção até a pós- produção) e o paradigma do jornalismo de base de dados (reúne características de medialidade, horizontalidade, continuum multimídia, mídias móveis, aplicativos e produtos autóctones). Os autores ressaltam, apoiados em Barbosa, que a sistematização em gerações não se refere a processos datados e estanques, mas coexistem, convivem simultaneamente num mesmo site jornalístico, portal ou aplicativo de notícias.

O conceito de convergência tende a ser visto como fluido e polissêmico na literatura, possuindo múltiplas dimensões, da técnica até a cultural. Fernando Firmino da Silva (2013b), acerca da reconfiguração das rotinas produtivas em grandes jornais, diz que:

o processo de convergência nas redações aparece com nomenclaturas as mais diversas como ‘jornalismo integrado’ (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008), ‘jornalismo multimídia’ (DEUZE, 2004), ‘jornalismo cross media’ (ERDAL, 2009), ‘jornalismo convergente’ (SALAVERRÍA; AVILÉS, 2008) ‘multiplataforma’ (PUIJK, 2008) ou ‘narrativas transmidiáticas’ (JENKINS, 2006), entre outros significados distintos que aparecem na literatura (SILVA, 2013b, p. 102).

“Além da nova estrutura física, que implica a reorganização do espaço e as posições dos jornalistas na redação, a convergência das redações implica uma mudança de mentalidade em diferentes níveis da produção jornalística” (SALAVERRÍA; AVILÉS; 2008, p. 39, tradução nossa). Charo Sádaba et al. (2008, p. 13, tradução nossa), faz referência a uma explicação de “convergência jornalística” de Salaverría, García Avilés e Masip, de 2006, que os autores consideram que ilumina conceitual e terminologicamente o tema.

A convergência jornalística é um processo multidimensional que, beneficiada pela implementação generalizada de tecnologias digitais de telecomunicações, afeta ao âmbito tecnológico, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação, propiciando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente separadas, de forma que os jornalistas elaboram conteúdos que são distribuídos via múltiplas plataformas, considerando as linguagens específicas de cada uma.

Sádaba et al. (2008) aponta que não existe um conceito único muito menos unânime de convergência, tanto na literatura acadêmica (com definições mais sistêmicas, mais amplas e multidimensionais) quanto no mundo profissional (com definições mais reducionistas e limitadas a aspectos logísticos, e sobre os funcionamentos dos processos). No jornalismo se dá em quatro dimensões principais: tecnológica, empresarial, profissional e de conteúdo.

[...] o conceito de “convergência jornalística” refere-se a um processo de integração de modos de comunicação tradicionalmente separados que afeta as empresas, tecnologias, profissionais e audiência em todas as fases de produção, distribuição e consumo de conteúdos de qualquer tipo. Este processo acarreta profundas implicações para as estratégias empresariais, as mudanças tecnológicas, a elaboração e distribuição de conteúdos em distintas plataformas, no perfil profissional dos jornalistas e nas formas de acesso a conteúdos (SÁDABA et al., 2008, p. 12, tradução nossa).

O tecnológico diz respeito à capacidade das infraestruturas de redes digitais de trafegar dados; o empresarial indica as criações de alianças, fusões de empresas ou aquisição de outras; o aspecto de convergência profissional refere-se às estratégias de aproveitar os materiais informativos para os diversos meios, as cooperações entre redações a criação de redações multimídia e a polivalência dos jornalistas que produzem para vários suportes; e a convergência de conteúdos empreende uma modificação dos conteúdos, de modo a personalizá- los, com modelos narrativos diferentes, multimídia, buscando interação com os públicos.

Dentro deste contexto de convergência, como mostrou Castells (2011), tem importância não somente a internet, que alavancou a convergência midiática, mas também ganha relevância a comunicação móvel, os aparatos tecnológicos – celulares, smartphones, câmeras e gravadores digitais, tablets e similares, dentre outros – que dependem da world wide web para funcionar.

A internet já transformou a televisão. Os adolescentes entrevistados por pesquisadores do Annenberg Center for the Digital Future da University of Southern California (USC) nem entendem o conceito de assistir a televisão no horário determinado por outra pessoa. Eles assistem a programas inteiros de televisão na tela de seu computador e, cada vez mais, em dispositivos portáteis. Portanto, a televisão continua sendo o principal meio de comunicação de massa, por enquanto, mas sua difusão e seu formato estão sendo transformados à medida que sua recepção vai se tornando individualizada (CASTELLS, 2011, p. 11).

Barbosa (2013, p. 42) reforça essa premissa, com base no uso das mídias móveis, que segundo ela, “especialmente smartphones e tablets, são os novos agentes que reconfiguram a produção, a publicação, a distribuição, a circulação, a recirculação, o consumo e a recepção de conteúdos jornalísticos em multiplataformas”, alterando assim a forma de consumir, a exemplo dos jovens da pesquisa da USC.

O aspecto cultural da convergência, como chamamos a atenção páginas atrás, é enfocado por Henry Jenkins, em Cultura da convergência (JENKINS, 2009), em uma compreensão da convergência midiática enquanto fenômeno social e cultural, um modo de vida. O autor se diz contra a ideia de convergência em uma dimensão apenas tecnológica. Mais que isso, “a convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos” (JENKINS, 2009, p. 30).

O autor afirma que “a convergência também ocorre quando as pessoas assumem o controle das mídias” (JENKINS, 2009, p. 45). Novo paradigma do processo comunicacional, na cultura de convergência, velhas e novas mídias se cruzam, as mídias tradicionais, corporativas, independentes, interagem, em processos de troca e compõem o cenário comunicacional e ou jornalístico. Produtores e receptores interagem, de maneiras imprevisíveis. Jenkins (2009, p. 27) descreve a convergência como:

Fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, a cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca de experiência de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando (JENKINS, 2009, p. 29).

Muito além de uma mudança tecnológica, a convergência representa uma mudança no modo como encaramos nossas relações com as mídias, tendo implicações no modo como aprendemos, trabalhamos, participamos do processo político e nos relacionamos com as outras pessoas. Como indica Jenkins, estamos vendo a emergência de um novo paradigma, que afetará profundamente nossas relações sociais, políticas e culturais. Mesmo a velha mídia está́ se tornando mais rápida, mais transparente e mais interativa.

A convergência não depende de qualquer mecanismo de distribuição específico. A convergência representa uma mudança de paradigma – um deslocamento de conteúdo midiático específico em direção a um conteúdo que flui por vários canais, em relação a uma elevada interdependência de sistemas de comunicação, em direção a múltiplos modos de acesso a conteúdos midiáticos e em direção a relações cada

vez mais complexas entre a mídia corporativa, de cima para baixo, e da cultura participativa, de baixo para cima (JENKINS, 2009, p. 310).

Ao defender que a velha mídia ou mídia corporativa não é substituída por novas mídias, e que, portanto, esse fenômeno de confluência entre ambas na construção de uma cultura no ciberespaço constitui a cultura da convergência das mídias, Jenkins (2009) avalia que, mais do que a tecnologia em si, o jornalismo presente nas redes advém, sobretudo, da mudança que acontece na mente das pessoas: “A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros” (JENKINS, 2009, p. 30). Ainda segundo esse autor, “entretenimento não é a única coisa que flui pelos múltiplos suportes midiáticos. Nossas vidas, relacionamentos, memórias, fantasias e desejos também fluem pelos canais de mídia. Ser amante, mãe ou professor ocorre em suportes múltiplos” (JENKINS, 2009, p. 43).

Na mídia tradicional, Silva (2013b) mostra que a convergência na produção jornalística tem início no processo de criação das redações integradas, unindo locais distantes fisicamente em escalas midiáticas e, até, geográficas. Ele afirma ainda que, do conceito de convergência, passamos para os modelos que as organizações adotam para lidar com a questão das multiplataformas, o que tem resultado em redações ditas integradas. Em sua tese de doutorado sobre o tema, ele argumenta:

Na descrição da convergência do modelo de redação integrada, o grau de multitarefa aparece como requisito com os níveis se relacionando com a apuração, produção e distribuição dialogando diretamente com o jornalismo móvel digital. Logo, o somatório desses níveis implementados conduzem (sic) para um complexo mapa de práticas e de possibilidades que a convergência abre em termos de relacionamento entre as plataformas, os níveis de multitarefa, as estratégias e o comportamento da estrutura física (SILVA, 2013, p. 72).

Vale assinalar que a convergência na prática das mídias independentes incorpora a divergência, tendo em vista sua própria natureza, de confronto e oposição maior ou menor às práticas tradicionais da grande mídia. Denis Renó e Andressa Kikuti Dancosky (2014) apontam este outro aspecto da nova ecologia dos meios, a divergência, no caso das práticas das mídias independentes, em particular a Mídia Ninja. Eles consideram que há convergência, já que as informações chegam de todos os lados e por múltiplas telas, e “divergência, no momento em que as próprias testemunhas dos fatos

realizam a difusão dos mesmos, tornando-se independentes dos tradicionais meios de comunicação” (RENÓ; DANCOSKY, 2014, p. 175). Eles apontam que a “diversidade de opinião agora é difundida com igualdade de poder a ponto de conseguir pautar os tradicionais meios de comunicação, ou desmenti-los”. O que aconteceu várias vezes

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