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JP e o confundente no amor

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2 PIEPER, LEWIS E O VOLTAR-SE PARA A LINGUAGEM

2.3 JP e o confundente no amor

A análise de JP no capítulo inicial de seu livro sobre o amor constitui um notável exemplo da riqueza do pensamento confundente (CSL, como vimos, também endossa o confundente francês “aimer”).

Por seu caráter confundente, quanto ao substantivo amor, a língua alemã, mais do que qualquer outra, tem uma “oportunidade especial”: a de captar o que há de comum no amor, aquele nível fundamental em que se confundem todas as diferentes formas de amor, que as línguas grega, latina e neolatinas estão mais aptas a captar com seus amplos leques de distinção.

JP estende-se amplamente em suas análises de diversas línguas em suas distinções. Para o que nos interessa neste tópico, limitar-nos-emos a alguns aspectos da língua latina.

El latín, la lengua antigua que con mayor intensidad que cualquier otra ha inspirado el vocabulario de los pueblos europeos, tiene por lo menos media docena de palabras para designar el amor, todas las cuales eran empleadas por los romanos. Amor y caritas son dos vocablos de todos conocidos. Pero las obras de caridad cristiana que nosotros atribuimos boy con la mayor naturalidad a la «caritas», se llamaban en tiempos de San Agustín, como él mismo relata, obras de la pietas. La palabra dilectio, cuarto vocablo en uso para los latinos, la hemos ya mencionado más arriba, aunque incidentalmente.

A este grupo de palabras pertenece no sólo la affectio, sino también, y no sin cierta sorpresa, el studium. Se ha afirmado incluso que esta última palabra expresaba para los romanos un aspecto característico de la inclinación amorosa, es decir, la voluntad de servicio o de estar a disposición de alguien; con lo cual se llama, de hecho, por su nombre a algo que va siendo raro en el amor, pero que, sin embargo, es parte integrante del mismo según el común sentir.

También la palabra «pietas» dice relación, según parece, a un matiz del amor que no es considerado hoy como natural. No sería exacto afirmar que a la esencia del amor pertenezca, en todos los casos, una especie de compasión, pity (que viene de pietas) o misericordia como ha pretendido defender Arthur Schopenhauer falsificando, evidentemente, el sentido del amor con su radicalismo al afirmar que «todo amor puro y verdadero es compasión». Pero ese nombre latino nos hace pensar, y no sin motivo, que el amor real «no es posible sin algo de miramiento, deferencia y comprensión»

La palabra affectio pone de manifiesto un nuevo elemento significativo del «amor»; el vocablo, como tal, ha pasado sin cambios apreciables de sentido al francés y al inglés. Es el elemento de la passio, que en este contexto no quiere decir pasión dolorosa o gozosa, sino la pasión que se nos impone, en cierto modo fatalmente, cuando amamos. A pesar de que la affectio, entendida como integrante o equivalente del amor, sea una forma gramatical activa, todo el mundo sabe que al amar no somos en exclusiva, ni quizá primariamente, sujetos activos. El amor es, y quizá más que nada, algo que nos sobreviene. [Etc.]. (PIEPER 2010, p. 410-412).

E estabelece o contraste com a língua alemã. Neste caso, em vez de resumirmos o extenso capítulo de JP, recorremos à síntese que ele mesmo faz na conferência “Amor”:

Precisamente a língua alemã - pelo menos esta é a impressão que se tem à primeira vista -, parece acentuar infinitamente essa dificuldade. Os gregos, os romanos e mesmo as línguas modernas derivadas do latim dispõem de um grande número de substantivos para designar as múltiplas facetas do fenômeno amor, ao passo que a nossa própria língua alemã é carente: vê-se obrigada a

designar realidades diversas pela palavra Liebe. Assim, usamos

Liebe para expressar a preferência por uma determinada

qualidade de vinho ("eu amo o Borgonha"); como também para designar o solícito amor por uma pessoa que está passando dificuldades; a atração mútua entre homem e mulher; ou ainda, a dedicação do coração a Deus. Para tudo isto dispomos de um único substantivo: Liebe. Além do mais, esta manifesta, ou simplesmente aparente, pobreza do vocabulário alemão oferece- nos uma oportunidade especial: a de enfrentar o desafio, imposto pela própria linguagem, de, apesar de tudo, não perder de vista aquilo que há de comum, de coincidente, entre todas as formas de amor. (PIEPER 1999).

E a partir desse confundente (sempre a experiência acumulada na linguagem) pode chegar à genial conclusão, que sustenta toda sua reflexão sobre o amor:

E qual poderia ser este elo de ligação comum? Em outras palavras: o que há de comum entre os amores, o que significa em

geral "amar": amar o vinho, a música, o amigo, a pessoa amada ou

o próprio Deus?

Estou convencido de que há, de fato, uma resposta para esta questão. E a resposta é a seguinte: amar, em qualquer caso, denota aprovação. Amar algo ou amar alguém sempre significa afirmar: "Que bom que isto existe!", "Que bom, que maravilha que você está no mundo!".

Cabe aqui uma observação importante: Segundo JP, o primeiro sentido clássico do “querer”, ao contrário do uso contemporâneo, não é obter ou conquistar algo – como na famosa propaganda da Mercedes Benz: “ou você tem ou você quer”, mas sim o de aprovação do que já se tem. Como nas encantadoras formas, hoje tendendo ao desuso, “bem querer”, “querer bem” ou nas declarações de amor em espanhol ou italiano: “te quiero”, “ti voglio bene”...

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