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Julgamento das contas dos administradores públicos

1.3 Controle da Administração Pública

2.4.2 Julgamento das contas dos administradores públicos

Ao Tribunal de Contas compete, nos termos do inciso II do artigo 71, julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da Administração direta (Poder Legislativo e Poder Judiciário) e indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público) e, ainda, as contas de todo aquele que der causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário. (HELY LOPES MEIRELLES, 2010)

O julgamento das contas é a expressão máxima do poder fiscalizatório do Tribunal de Contas da União. O sistema de controle externo, que toca ao Tribunal de Contas, encontra aqui a sua mais completa dimensão e o seu mais eficaz modo de controle da máquina pública, ante a complexidade dos procedimentos e a abrangência dessa atuação. (CLARAMUNT, 2009)

É em relação a essa competência, e mormente ao fato de a Constituição Federal ter empregado o termo “julgar”, que surge grande discussão acerca da possibilidade de atividade jurisdicional exercida pelos Tribunais de Contas. Tal temática será devidamente tratada no próximo capítulo.

Claramunt (2009) explica que o julgamento da contas dos responsáveis por recursos públicos segue um encadeamento de atos isomorfo ao do processo judicial. O Tribunal de Contas da União recebe, em períodos certos de tempo, os documentos contábeis e demais demonstrativos oriundos das unidades da Administração Pública Federal subordinadas a sua fiscalização. A partir daí, tais documentos são analisados sob a forma de prestações de contas e tomadas de contas. O artigo 1º da Instrução Normativa 47/TCU, elucida:

Art. 1º As tomadas e prestações de contas dos administradores e demais responsáveis abrangidos pelos incisos I, III, IV, V e VI do art. 5º da Lei n. 8.443, de 1992, serão organizadas e apresentadas ao Tribunal de Contas da União de acordo com as disposições desta Instrução Normativa.

Parágrafo único. Para os fins do disposto nesta Instrução Normativa, considera- se:

IV - processo de tomada de contas: processo de contas relativo à gestão dos responsáveis por unidades jurisdicionadas da administração federal direta; V - processo de prestação de contas: processo de contas relativo à gestão dos responsáveis por unidades jurisdicionadas da administração federal indireta e daquelas não classificadas como integrantes da administração direta federal.

Segue explicando Claramunt (2009) que, analisados os documentos contábeis, as contas são examinadas sob os aspectos de legitimidade, legalidade, eficiência, economicidade e eficácia, podendo, ao final, serem julgadas regulares, regulares com ressalvas, irregulares ou iliquidáveis.

As contas são julgadas regulares quando prestadas de forma clara e em consonância com os critérios de legalidade, legitimidade e economicidade. Por sua vez,

são julgadas regulares com ressalvas quando se constata a existência de impropriedades ou falhas de natureza formal, problemas dos quais não resultem danos ao patrimônio público. As contas são iliquidáveis quando, por caso fortuito ou força maior, for materialmente impossível o julgamento sobre seu mérito. São, contudo, consideradas irregulares quando:

*há omissão no dever de prestá-las;

*advindas de ato de gestão ilegal, antieconômico, ilegítimo ou em desrespeito à norma legal ou regulamentar de natureza financeira, contábil, operacional, orçamentária, ou patrimonial;

*ocorrer dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico; *há desvio de dinheiros, bens ou valores públicos;

*ocorrer reincidência no descumprimento de determinações do Tribunal.

Cumpre ressaltar que nos processos administrativos perante o Tribunal de Contas da União são resguardados os direitos constitucionais ao contraditório e ampla defesa. Marçal Justen Filho (2009) alude que no julgamento do Mandado de Segurança 23.550/DF, o Supremo Tribunal Federal deixou patente a aplicação da garantia constitucional do artigo 5º, incisos LIV e LV na esfera dos processos do Tribunal de Contas da União.

Ademais, a Súmula Vinculante n. 3, do Supremo Tribunal Federal dita que:

Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

Em relação às sanções que o Tribunal de Contas da União pode aplicar, isolada ou cumulativamente, nos casos de contas julgadas irregulares, tem-se o rol a seguir, conforme informações do sítio oficial do Tribunal:

*a condenação ao recolhimento do débito eventualmente apurado;

*a aplicação ao agente público de multa proporcional ao valor de prejuízo causado ao erário, sendo o montante do dano o limite máximo da penalidade; *a aplicação de multa ao responsável por contas julgadas irregulares, por ato irregular, ilegítimo ou antieconômico, por não atendimento de diligência ou

determinação do Tribunal, por obstrução ao livre exercício de inspeções ou auditorias e por sonegação de processo, documento ou informação;

*o afastamento provisório de seu cargo, do dirigente responsável por cerceamentos a inspeções e auditorias enquanto durarem os respectivos trabalhos;

*a decretação, no curso de qualquer apuração de irregularidade, da indisponibilidade, por prazo não superior a um ano, dos bens do responsável considerados bastantes para garantir o ressarcimento do prejuízo;

*a declaração de inabilitação, pelo período de cinco a oito anos, para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da administração pública;

*a declaração de inidoneidade do responsável por fraude em licitação para participar, por até cinco anos, de certames licitatórios promovidos pela administração pública;

*a determinação à Advocacia-Geral da União, ou ao dirigente de entidade jurisdicionada, de adoção de providências para arresto dos bens de responsáveis julgados em débito.

Cabe destacar, ainda, que as penalidades aplicadas pelo Tribunal de Contas não excluem a aplicação de sanções penais e de outras sanções administrativas, estas últimas pelas autoridades competentes.

Insta salientar que não cabe ao Tribunal de Contas investigar o mérito dos atos administrativos. O mérito da atuação discricionária não se sujeita a revisão, nem mesmo pelo Poder Judiciário. Se o mérito do ato administrativo pudesse ser revisto pelo Congresso Nacional e pelo Tribunal de Contas, desapareceria a discricionariedade. Eis o motivo da ausência da referência constitucional à fiscalização quanto ao mérito, à conveniência ou à discricionariedade. A Constituição menciona a legitimidade e economicidade, ângulos complementares da liberdade de atuação do gestor da coisa pública. Cabe aos órgãos de fiscalização examinar se inexistiu desvio de finalidade, abuso de poder ou se, diante das circunstâncias, a decisão adotada não era a mais adequada. (MARÇAL JUSTEN FILHO, 2009)