• Nenhum resultado encontrado

Parecer prévio sobre as contas do Presidente

1.3 Controle da Administração Pública

2.4.1 Parecer prévio sobre as contas do Presidente

Conforme institui o artigo 71, inciso I, ao Tribunal de Contas assiste apreciar e emitir parecer prévio sobre as contas anuais do Presidente da República dentro de sessenta dias de seu recebimento, para encaminhá-las ao julgamento do Congresso Nacional.

No mesmo sentido, reza o artigo 221 do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União:

Art. 221. O Tribunal de Contas da União apreciará as Contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio a ser elaborado em sessenta dias a contar da data de seu recebimento.

Celso Antônio Bandeira de Mello (2010) explica que as contas do presidente são documentos, tais como balanços e demonstrativos, relativos à gestão anual, que ele é obrigado a exibir por força do artigo 101, da lei 4.320/64 - que estatui as normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal -, para análise dos aspectos meramente formais. São contas do presidente também aquelas inerentes aos atos ou indevidas omissões próprios e específicos do Chefe do Poder Executivo, de VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;

VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;

IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal; XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.

§ 1º - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.

§ 2º - Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.

§ 3º - As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo. § 4º - O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.

responsabilidade pessoal dele, isto é, que lhe sejam direta e pessoalmente imputáveis. Estas sim passam por um crivo substancial do Tribunal de Contas, o que faz presumir que o prazo de sessenta dias é bastante exíguo.

Em complemento, o autor assinala que tal competência

tem sido tradicionalmente e erroneamente confundida com a apreciação substancial das contas do Governo, em geral, de tal sorte que, absurdamente nas órbitas estaduais ou municipais, Tribunais de Contas destas esferas têm rejeitado contas de Governador ou Prefeito, por atos que, muitas vezes, não lhes podem ser diretamente imputáveis, pois não se faz a devida acepção entre o que é de responsabilidade direta das autoridades em questão e o que é de responsabilidade de subordinados seus. Com efeito, possivelmente não há e jamais venha a haver alguma Administração, considerada em seu todo, livre de falha ou irregularidade na gestão de recursos públicos. Sempre existirá algum servidor da Administração direta ou indireta que cometerá deslizes, faltas ou mesmo incorreções graves em detrimento do bom e honesto manejo dos recursos público (...). É um contra-senso absoluto considerar a aprovação das contas do Chefe do Poder Executivo dependente da miríade de atos praticados por terceiros, conquanto agentes da Administração direta ou indireta: atos que, nos respectivos escalões, o Presidente, Governadores e Prefeitos centenas de milhares de vezes sequer poderão saber que foram praticados ou como o foram (...). Sem embargo, a sanção pela rejeição de contas do Chefe do Poder Executivo é politicamente grave. (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, 2010, p. 944-945)

Desde a Lei Complementar Federal 64/90, consoante o artigo 1º, alínea “g”, a consequência da rejeição, pelo Congresso, das contas do Chefe do Poder Executivo é a inelegibilidade deste para as eleições que se realizarem nos cinco anos seguintes à decisão. O questionamento judicial da rejeição, enquanto pendente, suspende, todavia, a aludida consequência. Entretanto, fica evidente que, caso o Congresso acolha o parecer do Tribunal de Contas no sentido de rejeição das contas do Chefe do Poder Executivo, a sanção imposta é politicamente grave. (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, 2010)

Em relação às contas do Governo, a formação do parecer prévio bem como do relatório requer três mecanismos institucionais para sua conclusão, segundo ressalta Claramunt (2009). Primeiro, faz-se mister que o Governo, por seu órgão de controle interno, apresente um balanço financeiro e patrimonial de sua administração no exercício a ser analisado. Malgrado soar como óbvio, a Constituição de 1891 não fazia tal referência, o que impediu a execução desta atividade até o advento da Constituição

de 1934, quando foi fixada a obrigação de apresentação do balanço. Segundo, é necessário que uma instituição externa, o Tribunal de Contas, com capacidade técnica para analisar as informações disponibilizadas pelo Executivo, receba esses dados, elabore um relatório e emita um parecer. Por fim, é preciso que os órgãos legislativos, receptores da análise dos Tribunais de Contas, desenvolvam mecanismos de avaliação e julgamento político das contas do Governo.

Celso Antônio Bandeira de Mello (2010), encerrando sua crítica, aponta que o prazo de sessenta dias, estabelecido pela Constituição para apreciação das contas do Presidente se mostra inexequível, eis que a apuração substancial da legalidade do conjunto de atos praticados durante o exercício demanda mais tempo. Ainda mais por que haverá de ser facultada, conforme é devido, ampla defesa àqueles que ordenam as despesas, pois as contas destes são, como se verá a seguir, “julgadas” pelo Tribunal de Contas, no exercício da competência que lhe confere o inciso II do artigo 71.

Mesmo no controle legislativo, existindo litígio, deve ser observada a garantia da defesa e do contraditório. Em razão disso, a Casa Legislativa, para aprovar a rejeição de contas, deve, antes da aprovação do parecer para rejeição, assegurar aquelas garantias constitucionais. (HELY LOPES MEIRELLES, 2010, p. 743)