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4. Mapeando Violências

4.4. Violência e juventude

4.4.3 Juventude e vulnerabilidade à violência

Como pudemos perceber através dos nossos resultados e a partir dos dados levantados no DATASUS, adolescentes e jovens são mais suscetíveis a sofrerem episódios violentos do que qualquer outra faixa etária, tanto no que diz respeito à violência cometida por terceiros como aquela que se dá no âmbito intrafamiliar. Na

compre

inâmica relacional entre os diversos aspecto

epção de que o jovem sofre mais com a violência porque freqüenta localidades ou faz parte de grupos

esses jovens? Como imaginar que esses jovens devem ficar cerceados ao âmbito ensão desta questão, lançaremos mão do conceito de vulnerabilidade utilizado por Ayres, França Jr, Calazans e Saletti Filho (2003).

De acordo com o pensamento desses autores, vulnerabilidade se refere a uma concepção ampliada dos problemas de saúde, envolvendo aspectos dinâmicos, que podem ir desde as “...suscetibilidades orgânicas à forma de estruturação de programas de saúde, passando por aspectos comportamentais, culturais, econômicos e políticos” (p.118). Vulnerabilidade, desta maneira, se constitui como a chance das pessoas estarem suscetíveis a problemas de saúde - no caso da violência, sofrerem episódios violentos – como resultado de uma gama de aspectos de ordens individual e coletiva, que envolve questões contextuais, podendo guardar uma d

s (Ayres e cols., 2003).

No campo da saúde coletiva, a proposta da vulnerabilidade já vem sendo utilizada desde o início da década de 1990 na compreensão da epidemia de AIDS, superando as noções de grupos de risco e comportamento de risco, que trabalham em um sistema de culpabilização.

No caso da violência, as ações baseadas na noção de risco não permitem o entendimento do problema como um todo e, o que é pior, prescrevem preconceitos e estigmas, tais como: a naturalização do binômio violência-juventude; ou a conc

perigosos que põem em risco sua saúde.

Neste último caso, para tentar demarcar a diferença existente entre as noções de rico e vulnerabilidade, podemos dar o exemplo dos bailes funks do Rio de Janeiro, que foi a atividade cultural mais freqüentada pelos jovens na pesquisa de Bangu. Como pensar que freqüentar tais eventos é um risco, já que são as únicas opções de lazer para

domiciliar para ficarem seguros, privando-se do divertimento, tendo em vista que ficar em casa desta maneira é uma negação da vida, é alijar-se da própria expressão subjetiva contra

ia vulnerabilidades gira em torno da interligação três eixos e

qual essas informações são processadas e manipuladas

seus entraves passa pelas condições de um sistema moderno-capitalista que aflige e coage? Além do mais, como já vimos, tal postura só favorece ao avanço da violência. Em Bom Pastor, constatamos que os jovens pesquisados gostam de freqüentar shows musicais, participar de passeios organizado e gincanas, fazem parte de vários grupos religiosos, juninos, de capoeira, de música, torcidas organizadas, etc. Como afirmar que sair de casa para esses encontros e fazer parte desses grupos se configuram como atividades perigosas ou de risco, sabendo que a freqüência a essas atividades funciona como contraponto da realidade difícil em que vivem e do âmbito familiar marcado pela presença da violência no cotidiano?

A proposta de análise v struturais:

x O componente individual – referente às informações dispostas pelas pessoas sobre os problemas de saúde que enfrentam ou vir a enfrentar, e a maneira pela

pela população em termos de articulação para a resolução dos problemas. x O componente social – correspondente aos recursos comunitários

disponíveis para os indivíduos que auxiliam no processo de informação sobre os problemas de saúde e na tarefa de enfrentá-los. Desta maneira, a ação das pessoas na resolução de

educação, economia, cultura, gênero, disposição de recursos materiais, agenciamento de redes sociais de apoio, enfim, perpassa pelas condições de vida das pessoas.

x O componente programático – diz respeito à existência, sustentação, acesso e eficácia de serviços e programas específicos para o enfretamento de problemas de saúde.

Em relação ao componente individual, os adolescentes e jovens de Bom Pastor convivem cotidianamente com o problema da violência, principalmente no seio familiar. De certa forma, eles conhecem o problema de perto. No entanto, o agenciamento de uma mudança deste quadro está longe de ser efetivada, pois observamos o quanto é comum a prática de atividades de caráter privatista, como atividades de lazer restritas ao âmbito domiciliar e a restrição dos espaços públicos de encontro. Além disso, são poucos os recursos disponíveis na comunidade, com os quais esses estudantes possam contar

cia. O que acaba por se configurar também como um entrave em relação ao m procuram as b No que são precárias e como em r ç culturais que violência intra item sobre v meninos devem casa; o precon

caso de Bom Pastor, contribuindo, principalmente, em relação à violência policial. Em relação aos recursos disponíveis no enfrentamento à violência, observamos que nenhum jovem declarou freqüentar qualquer programa de caráter educativo/preventivo que

para buscar proteção e pedir informação e aconselhamento para poderem enfrentar à violên

co ponente programático, pois vimos que os estudantes desta pesquisa não ases de apoio formal quando na ocorrência de episódios violentos.

diz respeito ao componente social, as condições de vida dessa população m todos os âmbitos tanto em relação aos aspectos sócio-econômicos, bem ela ão aos equipamentos sociais disponíveis. Também observamos barreiras sustentam a existência da violência no cotidiano: os altos índices de familiar parecem indicar o uso da mesma enquanto forma de educar; no alores, aproximadamente 50% dos pesquisados responderam que os

aprender desde cedo a se defender, pois homem não leva desaforo pra ceito e o estigma sofrido pelos jovens de bairros periféricos, como é o

tivesse com p de análise da

formal, haja vista que a violência é recorrente no bairro. Sendo considerado como um problem

tas na perspec

o auta este problema. O que também se constitui no âmbito programático vulnerabilidade, e é um problema grave de atuação das bases de apoio

a de saúde pública e um dos que mais aflige a população jovem em Bom Pastor, a violência merece uma atenção maior por parte do serviço de saúde do bairro, pois notamos que a maioria dos jovens procura tal serviço para tratamento de enfermidades físicas e mesmo assim com baixa freqüência; além disso, não declararam freqüentar as unidades de saúde para participar de ações específicas no tocante à violência. Desta forma, entendemos que as dificuldades vivenciadas pelos adolescentes e jovens participantes desta pesquisa apontam, também, para os limites das atuais políticas sociais do país voltadas para a infância e juventude, pois enfocam os problemas, os riscos e as carências, com as ações se instalando com caráter emergencial e quando os problemas já se encontram enraizados, com difícil estado reversibilidade.

Segundo Ayres e cols. (2003), as ações de promoção à saúde previs

tiva de vulnerabilidade propõem uma resposta social, uma mobilização no sentido de superação das suscetibilidades populacionais. Neste sentido, é necessária uma perspectiva política para além das mudanças individualizadas, uma radicalização das práticas cotidianas em termos de emancipação social, construindo papéis de sujeitos agentes da esfera pública. É uma proposta de ação em vários campos, tanto em relação aos problemas que requerem respostas em curto prazo, quanto no que tange aos entraves estruturais, que demandam transformações culturais, materiais, sociais, econômicas. “Intervenção estrutural, organização comunitária, construção de cidadania, ativismo político, ação jurídica, direitos humanos, tudo isso passa a ser entendido como parte indissociável das ações de prevenção e cuidado” (p.129).

Mais do que alertar as populações em relação aos problemas de saúde, característica das ações baseadas no risco, a proposta via vulnerabilidade prevê mudanças nos contextos intersubjetivos. Sabemos que o alerta e as informações são importantes. No entanto, construir, juntamente com as populações envolvidas, formas autônomas de enfrentar seus problemas, desconstruir e combater os vetores estruturais que as tornam suscetíveis, são tarefas mais eficazes e que proporcionam transformações de fato.

Nesse sentido, tentaremos realizar um exercício de reflexão em busca de uma estratégia de enfrentamento à violência entre jovens. Tomaremos como referência as relações de amizade, apontadas como a forma de apoio mais procurada pelos participantes desta pesquisa no tocante à violência.

Capí

enfrentamento à violência

(...) Se o importante é saber sobre coisas dispostas e relacionadas pelos seus contrários, a amizade assume a dimensão de eternidade enquanto jogo de crianças: inocência para desestabilizar, efeitos de jogo, completo movimento que reafirma individualidades pelo acontecer diferente, envoltas na imprevisibilidade da incontinência, uma guerra inevitável. O mar é puro para os peixes e impuro para os homens, duas coisas na mesma coisa. O mar é água como o rio: um mata de sede, o outro mata a sede. Não há idealizações possíveis sobre a amizade. Passetti

tulo 5 – Relações de amizade como suporte social no

5. Relações de amizade como suporte social no enfrentamento à