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3. Bases de Apoio em Natal/RN

3.2 Resultados

3.2.1 Perfil dos participantes

Foram aplicados 382 questionários distribuídos da seguinte forma:

x Ensino Fundamental: 5ª Série (67), 6ª série (53), 7ª série (39), 8ª série (53).

x Ensino Médio: 1º ano (79), 2º ano (41) e 3º ano (26). x Educação de Jovens e Adultos: EJA 3 (16) e EJA 4 (8)

Esses estudantes estão distribuídos nos turnos vespertino e noturno, perfazendo um total de 51,69% de alunos na faixa etária de 13 a 24 anos. Dos participantes, 271 possuem idade entre 13 e 18 anos, 100 entre 19 e 24 anos e 11 não informaram. Quanto ao sexo a distribuição foi a seguinte (Figura 01):

191 184 7 0 50 100 150 200 250

Feminino Masculino Não informaram

Figura 01. Sexo.

A maioria dos participantes reside no bairro Bom Pastor (76,17%), os demais residem em bairros da própria Zona Oeste; além disso, 71,47% desses jovens nasceram em Natal/RN. Os moradores entre 15 e 24 do bairro somam 21,28% da população, segundo dados do IBGE (2000), sendo 51,47% do sexo feminino e 48,53% do masculino.

Quanto à raça, 37,43% declararam ser da raça branca, 18,56% da raça negra e 33,76% pertencerem à raça parda. O censo demográfico de 2000 (IBGE) aponta que 52% da população de Natal é parda ou negra.

No que diz respeito ao estado civil, 87,69% são solteiros, 3,66% são casados, 6,02% estão em união consensual e 2,63% não responderam.

A maior parte desses jovens, 36,12%, nunca exerceu qualquer atividade remunerada; 33,76% deles estão trabalhando atualmente (44,96% dos participantes deste grupo são menores de idade) e 24,08% já o fizeram em outro momento. Apenas 14,73%, daqueles que estão trabalhando no momento, têm carteira assinada de trabalho. Dos 220 participantes que declararam trabalhar ou já terem trabalhado, 134 revelaram as atividades desenvolvidas. Na figura 02 podemos visualizar a distribuição dessas atividades. 1 1 3 20 22 25 26 36 Jogador de futebol Prostituição Professores Prestação de Serviços Func. Privados Comerciários Ativ. Domésticas Ativ. Autônomas

Figura 02.Atividades Remuneradas

As atividades autônomas são aquelas realizadas por conta própria e sem vinculação com qualquer estabelecimento empregatício. Encontramos na nossa pesquisa os seguintes trabalhos dessa natureza: costureira, doceira, artesão, pipoqueiro, panfleteiro, feirante, pedreiro, pintor, revendedores de cosméticos, sorveteiro, etc. As atividades domésticas correspondem àquelas realizadas no âmbito do lar, tais como,

empregadas domésticas e babás. Os comerciários se referem aos embaladores, vendedores, padeiros, enfim, empregados de estabelecimentos comerciais. No setor de prestação de serviços, encontramos manicure, garçom, mecânico, guia turístico, capoteiro e serviços de frete. Chamamos funcionários privados aqueles que mantêm vínculo com estabelecimentos específicos, com exceção da área comercial, tais como, operador de máquinas, auxiliar de serviços gerais (ASG’s), auxiliar de topografia, telefonista, secretária.

A situação de trabalho desses jovens é marcada pela informalidade e pela ilegalidade. Em primeiro lugar, constatamos um número muito alto de atividades informais, principalmente realizadas no âmbito doméstico, geralmente de forma esporádica, que não oferecem remuneração fixa nem demanda de trabalho. Existem muitos menores de idade trabalhando e um percentual muito alto de trabalhadores sem carteira assinada (85,27%), o que não garante segurança em relação a acidentes de trabalho nem aposentadoria. Na Região Metropolitana de Natal, apenas 50,2% dos trabalhadores acima de 10 anos de idade têm carteira de trabalho assinada ou são funcionários públicos estatutários (IBGE, 2000).

No Brasil há uma má distribuição de renda. Segundo dados do Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003 da Unesco (2004), 10% das famílias brasileiras concentram aproximadamente 44% da renda nacional. Ao passo que 50% das famílias pobres dividem 13,8%. Esta má distribuição atinge Bom Pastor de maneira contundente, pois verificamos que 75,12% das famílias dos jovens desta pesquisa têm uma renda que se concentra entre menos de um a quatro salários mínimos. Além disso, não podemos deixar de indicar que estas famílias são numerosas.

As famílias dos participantes são compostas, em sua maioria, por 4 a 6 membros (59,24%), sendo formadas por pai, mãe e irmãos (48,69%), perfazendo uma média de

4,93 pessoas por família. É importante destacar que 21,72% são chefiadas por mulheres. Constatamos que 36 participantes declaram ter filhos, grupo composto por 24 do sexo feminino e 05 participantes menores de idade. A renda dessas famílias se configura da seguinte maneira (figura 03):

24,34% 28,27% 22,51% 9,42% 15,46% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

Até 1 1 a 2 2 a 4 Mais de 4 Não

informaram

Figura 03. Renda Familiar (em salários-mínimos)

A renda média é de R$ 494,00. Bom Pastor, de acordo com o IBGE (2000), apresenta um rendimento médio, para a pessoa responsável pelo domicílio, de R$ 336,00 e uma média de 4,06 moradores por domicílio; além disso, aproximadamente, 60% da população do bairro vive em domicílios que têm renda de até dois salários- mínimos da pessoa responsável pelo domicílio.

O cotidiano de pobreza vivido pelo jovem de Bom Pastor reflete a condição do país. Com a dificuldade financeira, muitos jovens brasileiros, principalmente na região Nordeste, são obrigados a abandonar os estudos e procurar realizar atividades remuneradas, ou realizar as duas atividades concomitantemente. De acordo com dados do IBGE (2003), a média de anos de estudo para a população nordestina acima de 10

anos de idade é de 4,7, a pior do Brasil, perdendo para a Região Norte com 6,0 e a Região Centro-Oeste com 6,2. Nesta pesquisa, aproximadamente 64% realiza ou já realizou alguma atividade remunerada e 58 participantes menores de idade se encontravam exercendo atividades remuneradas.

A maioria dos participantes, 90,04%, realiza ou já realizou algum tipo de trabalho doméstico. As tarefas mais citadas são: limpar a casa (69,63%), fazer compras (43,19%) e cozinhar (41,36%); além disso, 31,93% declararam cuidar dos irmãos e 25,65% a realização de outras tarefas, tais como, manutenção da casa, ajuda financeira, lavar roupa, cuidar de pais ou avós.

Destacamos que 86,91% dos adolescentes do sexo feminino e 60,87% do sexo masculino realizam tarefas domésticas. Contudo, esta diferença se torna maior quando observamos a freqüência dos trabalhos domésticos: 76,44% dos participantes do sexo feminino declararam realizar tarefas domésticas diariamente, ao passo que os do sexo masculino compõem 32,07%. Há também uma diferença entre as atividades as quais os dois sexos se dedicam: em relação à limpeza da casa, 167 meninas fazem esse tipo de trabalho, enquanto apenas 94 meninos realizam esse tipo de atividade; na atividade de cuidar dos irmãos, 81 meninas a executam, enquanto apenas 38 meninos realizam esse tipo de trabalho; quando indagados sobre a atividade de cozinhar, 110 meninas declararam realizar tal atividade em suas casas, enquanto apenas 46 meninos disseram realizar este tipo de serviço; o item “fazer compras” foi o que o número de jovens do sexo masculino (71) mais se assemelhou ao número de jovens do sexo feminino (89). Podemos perceber uma questão de gênero, apontando para uma exploração maior das meninas no trabalho doméstico. Não podemos esquecer que este trabalho não é remunerado e dificulta a conciliação com as atividades escolares, pois mais de três quartos das meninas realizam tarefas domésticas diariamente.

Quanto à moradia, 76,96% moram em casa própria e 17,27% em casa alugada. Segundo os dados do Censo Demográfico de 2000, dos 4416 domicílios de Bom Pastor, 3087 são próprios (69,18%), sejam quitados ou em aquisição.

Em termos gerais, os dados desta seção indicam que as famílias de Bom Pastor lidam cotidianamente com a pobreza. São numerosas, de maioria negra/parda, com baixa renda e sofrem problemas financeiros.