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3. Bases de Apoio em Natal/RN

3.2 Resultados

3.2.3 Lazer e esportes

Questionamos os jovens sobre atividades de lazer e culturais. Dos participantes, 84,3% declararam ter realizado/freqüentado algum tipo no último ano. Destes, 62,73% foram a passeios organizados, 57,76% foram a pelo menos um espetáculo musical, 47,83% participaram de gincanas, 32% assistiram a pelo menos um espetáculo de dança, 19,87% foram ao cinema pelo menos uma vez, 19,25% assistiram espetáculos teatrais, e 5,6% declararam outras atividades.

Apenas 37,2% dos participantes conhecem algum grupo ou pessoa que desenvolve atividades culturais, esportivas ou de lazer na comunidade. Destes, somente 38% têm oportunidade de participar dessas atividades, sendo dança, futebol e capoeira as mais praticadas.

Podemos perceber como são escassas as opções de lazer para esses jovens. Em Bom Pastor não há cinemas, teatros ou espaços para apresentações culturais. As praças e os brinquedos públicos estão depredados, muitas vezes pelos próprios moradores. Os

shows musicais freqüentados são geralmente no período eleitoral, quando há apresentações gratuitas promovidas pelos candidatos. Não podemos deixar de considerar as dificuldades financeiras que os jovens do bairro devem enfrentar para se deslocarem para os locais da cidade onde as opções de lazer e cultura são maiores; por exemplo, o jovem de Bom Pastor precisa tomar duas conduções para ir ao cinema mais próximo do bairro; não podemos esquecer também dos gastos com alimentação quando esses jovens se deslocam para freqüentar tais atividades.

Dos participantes, 52,61% praticam esportes. Os esportes praticados por estes estudantes são (figura 04):

67,80% 13,90% 13,40% 4,30% 0,60% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Futebol Vôlei Capoeira Atletismo Basquete

Figura. 04. Esportes Praticados

Dentre os que praticam esportes, 42,45% fazem parte de algum clube ou grupo organizado. De forma geral, independente de fazerem parte ou não de um grupo organizado, 41,88% dos que praticam esportes o fazem na própria comunidade. Estas atividades, em sua maioria, são realizadas na escola, coordenadas pelos seus

funcionários ou por pessoas do bairro que desenvolvem projetos por iniciativa própria e/ou com o apoio do colégio, como é o caso também da capoeira.

Constatamos que a prática de esporte é maior entre os participantes do sexo masculino, aproximadamente 76% dos meninos praticam esportes, ao passo que as participantes somam 30%. Esse dado pode estar ligado ao fato das meninas terem um encargo maior com os afazeres domésticos: das 134 meninas que não praticam esportes, 99 realizam tarefas domésticas diariamente. Além disso, o futebol, que é o esporte mais praticado por esses estudantes, é uma prática predominantemente masculina, e é, geralmente, o único esporte oferecido de forma organizada nas comunidades do Brasil; o Vôlei, por exemplo, é praticado por apenas 18 participantes desta pesquisa, sendo 15 do sexo feminino, ao passo que o futebol por 103 participantes, 84 do sexo masculino.

Esses dados mostram que a prática de esportes apresenta-se como uma atividade importante no contexto local, podendo ser pensada como uma base de apoio. No entanto, são poucas as opções formais no bairro para a prática de esporte, pois 57,55% daqueles que praticam esportes o fazem de maneira informal, ficando as atividades esportivas quase restritas ao âmbito escolar, o que dificulta a continuidade da prática esportiva quando os jovens terminam seus estudos, mas, de certa forma, reforça a escola enquanto uma base de apoio formal importante. Além disso, são escassas as opções esportivas formais em que há uma maior participação do sexo feminino, tais como, vôlei, natação, atletismo; assim, além de não puderem praticar esporte em função do trabalho doméstico, as meninas não têm muita opção para a prática esportiva.

As atividades realizadas pelos jovens quando estão fora da escola se configuram da seguinte maneira (figura 05):

7,59% 17,01% 42,67% 61,25% 67,80% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Nada Outro Esportes Ouvir Música Batepapo com amigos

Figura 05. Atividades realizadas quando não estão na escola

Para se divertir, os adolescentes e jovens desta pesquisa costumam realizar as seguintes atividades (tabela 01):

Tabela 02. Diversão Ver TV 72,50% Bater papo 68,60% Ouvir música 64,60% Passear 52,30% Ficar em casa 44,50% Jogar bola 42,10% Dançar 32,90% Ficar na rua 28,80% Casa de amigos 26,00% Outros 9,42%

Acerca dos dados sobre atividades extra-escolares e diversão, podemos refletir sobre o quanto essas estão praticamente circunscritas ao espaço doméstico e são escassas de uma forma geral, revelando a falta de iniciativas públicas no sentido de construir espaços sócio-recreativos em comunidades de baixa renda, o que pode ser compreendido como uma estratégia de controle e exclusão de tais moradores, limitando sua circulação na cidade. Essas atividades são realizadas na própria comunidade – até mesmo em casa – e com os amigos. Por um lado isso reforça o papel do grupo de amigos enquanto base de apoio informal, mas por outro lado demonstra uma possível restrição no que diz respeito à oferta de opções de lazer a que essas pessoas têm tido acesso. Essa restrição pode ser uma conseqüência do pouco conhecimento que esses jovens têm acerca de serviços, grupos ou pessoas na comunidade que oferecem atividades culturais ou esportivas, pois constatamos que 62% dos participantes não conhecem quaisquer atividades dessa natureza, o que indica também a possibilidade da escassez dessas iniciativas. O que podemos perceber nessas atividades é um certo esvaziamento do espaço público.

Tal esvaziamento dificulta o desenvolvimento dos laços informais. Enfraquece as linhas de solidariedade e reciprocidade. Revela também uma cultura intimista, própria das classes altas. Preocupa-nos as implicações de tal condição nas redes de suporte social, nas bases de apoio existentes na maioria das pequenas comunidades. Observa-se atualmente a expansão e naturalização do discurso que valoriza o fechamento paulatino dos espaços de convivência. Além disso, essa perda ou diminuição de laços sociais vem sendo produzida e vendida como modo de subjetivação por excelência na contemporaneidade. Sabemos também que a violência desempenha um papel nesse cerceamento da circulação das pessoas nas comunidades, esta é uma questão que abordaremos mais adiante.

Diante disso, podemos inferir que, apesar de se configurarem como bases de apoio em potencial, o esporte e o lazer ainda precisam de bastante investimento por parte da comunidade e dos órgãos competentes, além do reconhecimento do seu valor no desenvolvimento integral desses jovens e adolescentes, principalmente no incremento das bases informais de apoio.