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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.2 O LÓCUS DA INFORMAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO

A evolução do próprio conhecimento da área da Administração coincide com a evolução vivida pela humanidade entre os períodos históricos entre as chamadas, Revoluções Urbana e a Revolução Digital. O período que transcorreu entre elas pode também ser avaliado na perspectiva da informação, levando alguns estudiosos a argumentar que esse processo de mudanças históricas em verdade pode ser compreendido como resultante de revoluções ligadas à informação.

Segundo Drucker (1998), a primeira revolução da informação teve início com a invenção da escrita, há cerca de 5 ou 6 mil anos na Mesopotâmia (hoje Iraque). A segunda revolução da informação se deu com a invenção do livro escrito, que teve início na China, por volta de 1300 e 500 a.C., ganhando maior projeção 800 anos mais tarde, na Grécia, quando Peisistratos, o tirano de Atenas, mandou registrar os versos de Homero em livros, quando até então, eram apenas recitados. Já a terceira revolução, na

ótica de Drucker (1998), ocorreu entre 1450 e 1455 d.C. com a invenção do tipo móvel e da imprensa por Gutenberg.

Em sua obra Inovação e espírito empreendedor, Drucker (1985) afirma que, na verdade, ainda estamos vivendo os estágios iniciais de uma das mais importantes e avassaladoras transformações tecnológicas que os mais arrebatados “futurólogos” poderiam imaginar. Esse autor ressalta, ainda, que, depois da Segunda Guerra Mundial, chegou ao fim um período de trezentos anos de tecnologias, com mudanças substanciais no conhecimento que gerou as tecnologias contemporâneas que se firmaram na segunda metade do Século XX.

Nos três séculos que antecederam o período histórico da Segunda Grande Guerra, o modelo de tecnologia vigente foi de natureza mecânica. Mas as transformações que preponderam no período dessa Guerra foram engendradas com ampliação do conhecimento científico que antecedeu e culminou com a Revolução Industrial. Se o marco tecnológico da Revolução Industrial é considerado como a invenção da máquina a vapor em 1780 na Inglaterra , não se pode desconhecer que esse importante invento teve como referência a invenção da panela de pressão pelo físico francês Denis Papin em 1690, na França, demonstrando que as mudanças marcantes das tecnologias resultam do registro, sistematização e reavaliação das informações científicas geradas anteriormente.

Contudo, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o “modelo” inspirador das novas invenções tecnológicas passou a ser o próprio processo biológico, o conhecimento sobre o funcionamento dos organismos, e sua “lógica” de organização passa a orientar as reflexões sustentadoras das novas descobertas científicas. Os cientistas observaram que, nos organismos vivos, os processos internos são regidos e organizados a partir da informação e não apenas da energia.

Para Drucker (1998 apud SWAIM p.143, 2011), a invenção dos computadores e do microchip, e a criação da internet e do comércio eletrônico representam os principais marcos da nova revolução da informação. A eliminação das distâncias, segundo Drucker, levou as empresas à necessidade de se tornarem competitivas globalmente, ainda que suas atuações se realizem em mercado local ou regional. A quarta revolução da informação fez com que a competição empresarial deixasse de ser apenas local, tendo, a partir de então, que conhecer e explorar outras fronteiras.

As TIC, a possibilidade de uso articulado do computador com a televisão e os recursos avançados das telecomunicações transformou a sociedade e introduziram a

necessidade das organizações alcançarem novas características funcionais e novos tipos de resultados como:

a) menor espaço (nascimento dos conceitos de escritório virtual ou não- territorial, miniaturização, portabilidade e virtualidade em função da nova dimensão espacial para realização das atividades das organizações);

b) menor tempo (comunicações móveis, rápidas¸ flexíveis e diretas fizeram com que as atividades ganhassem nova dimensão temporal);

c) maior contato (o microcomputador portátil, as multimídias, o trabalho em grupo, as estações de trabalho, os novos fluxos de trabalho permitiram que as pessoas passassem a desenvolver atividades coletivas embora, estivessem distantes fisicamente).

Nesse contexto, as TIC representam recursos poderosos para o trabalho nas organizações que passam a explorar as possibilidades da intranet e internet, redes essenciais a nova dinâmica de atuação no contexto da globalização da economia. Assim surgem as infovias para a circulação e acesso à informação. Conforme Chiavenato,

A informação torna-se a principal fonte de energia da organização, seu principal combustível, seu mais importante insumo. Ela direciona os esforços e aponta os rumos a seguir. Porém, a informação não pode ser confundida com qualquer tipo de matéria-prima. Ela tem propriedades mágicas que os outros recursos não possuem e nem sequer proporcionam. (2004, p. 34).

Enquanto na era industrial a empresa de concreto e tijolo era o ambiente imprescindível, na era informacional a empresa também pode operar no ambiente virtual. Na era industrial as organizações focalizavam mais os recursos, o tamanho da organização e a perpetualidade. Já na era informacional, elas focalizam as competências, a conectividade e a agilidade, destacando o conhecimento e o trabalho intelectual e criativo.

Ao observar a presença da informação como um elemento que perpassou todos os contextos de transformações profundas da sociedade denominada, usualmente, de “revoluções”, nota-se que ela e toda a evolução científica e tecnológica estão pautadas no desejo humano de inovar e conquistar novas condições de vida, assegurando que o conhecimento seja acumulado para fazer avançar essas condições, como também garantir o encurtamento das distâncias e a transferência das informações para além de cada tempo histórico. Assim ocorreu todo desenvolvimento tecnológico que tanto se

discute na contemporaneidade e que permitiu ao homem ultrapassar as barreiras da tecnologia mecânica chegando até a Revolução Digital.

Conforme Choo (2006, p. 26),

A informação é um componente intrínseco de quase tudo que uma organização faz. Sem uma clara compreensão dos processos organizacionais e humanos pelos quais a informação se transforma em percepção, conhecimento e ação, as empresas não são capazes de perceber a importância das suas fontes e tecnologias de informação.

A teoria organizacional vigente destaca três circunstâncias em que a criação e o uso da informação desempenham um papel estratégico na vida de uma organização. A primeira está no uso da informação para se compreender as mudanças ocorridas ou em curso no ambiente externo da organização, que é dinâmico e carregado de incertezas, produzindo assim as condições para a vantagem competitiva.

A segunda circunstância é a da utilização estratégica da informação, para a qual a organização deve gerar informações, identificar, localizar, selecionar, organizar e usar a informação para a produção de novos conhecimentos, desenvolvendo novas capacidades e condições de criação de novos produtos e serviços.

Para Choo (2006), uma organização detém três tipos de conhecimento: o tácito, (insights que emergem da experiência de vida e profissional de difícil formalização); o explícito (expresso em números, fórmulas, especificações e codificado por normas, rotinas e procedimentos da organização) que pode ser compartilhado) e o cultural (expresso nas crenças, normas e pressupostos usados para dar valor e importância a novos conhecimentos e informações). O desafio posto às organizações é o de converter o conhecimento tácito existente entre seus membros em conhecimento explícito para apoiar o desenvolvimento de produtos e serviços que gerem novas soluções. Assim o conhecimento tácito é compartilhado favorecendo a construção de novos conceitos, o teste desse conhecimento, a sua avaliação e transferência para outros seguimentos da organização, desencadeando novos ciclos de criação de conhecimento.

Por fim, a terceira circunstância de uso estratégico da informação é aquela em que as informações são buscadas e avaliadas pelas organizações para subsidiar o processo de tomada de decisão. Assim, analisando essas três circunstâncias de utilização da informação na administração a partir de uma visão sistêmica, percebe-se que elas não são isoladas e radicalmente distintas. Como alerta Choo (2006, p. 31), embora essas circunstâncias de uso da informação na administração sejam compreendidas como

processos independentes, “[...] criar significado, construir conhecimento e tomar decisões – são, de fato, processos interligados, de modo que, analisando como essas três atividades se alimentam mutuamente, teremos uma visão holística do uso da informação.”

Para Choo (2006), o conhecimento organizacional resulta de um processo social ligado ao fazer e ao processo criativo que pode ser obtido junto a especialistas ou através de documentos e registros do conhecimento. O conhecimento de uma organização emerge dos processos de uso da informação, como também de compartilhamento dessas informações e parcerias na geração e aplicação de novos conhecimentos, o que coloca a informação na centralidade do trabalho de administrar.

Pode-se afirmar que na contemporaneidade a informação alcançou grande destaque em todas as esferas da sociedade. Frente à grande complexidade enfrentada hoje nos processos de tomada de decisão estratégica, as organizações, sejam elas públicas, privadas, empresariais, educacionais ou culturais, começam a se conscientizar do papel da informação na geração do conhecimento, no registro desse conhecimento, organização e recuperação desses registros para uso em novos processos de criação e inovação, o que passa a tornar cada vez mais evidente a necessidade da existência de uma competência em informação entre os gestores ou administradores.

Desse modo, crescem as pesquisas sobre o fenômeno informacional, dando evidência à área da Ciência da Informação e ampliando sua interface com o campo da Administração, permitindo um novo “olhar” mais complexo das interseções entre o desenvolvimento econômico e social, assim como da competência organizacional e informacional.