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E, por fim, da importância de Hegel – via William Torrey Harris (1835-1909) “como, a partir dos fundamentos nominalistas (dos metafísicos de Cambridge) as leis da

1.2.2. Ciências Normativas

1.2.2.3. Lógica (ou Semiótica) 2 Crítica

1.2.2.3.3. Metodêutica

Ele define Gramática Especulativa201 como sendo “a teoria geral da natureza e significado dos signos, quer sejam eles ícones, índices ou símbolos”. (Ibid., ibidem) Ele

197 “Para Peirce, como para Kant, a lógica era a chave para a filosofia”. Houser & Kloesel em EP 1, Introdução,

xxix.

198“Então, nós apelamos para o esteta para nos dizer o que é que é admirável sem qualquer razão para ser

admirável além de seu caráter inerente. Ora, responderá ele, isso é belo”. Peirce. What Makes a Reasoning

Sound? (1903; “O que torna um raciocínio sólido?”) em EP 2, p. 253.

199 “A lógica é a crítica do pensamento consciente, totalmente análoga ao autocontrole moral”. Peirce. The Categories Defended (9/4/1903; “As categorias defendidas”) em EP 2, p. 169.

200 No ensaio What Makes a Reasoning Sound? (1903; “O que torna um raciocínio sólido?”), Peirce dirá que “o

propósito último do lógico é expor a teoria de como o conhecimento é promovido”. (EP 2, p. 256)

201 No ensaio What Makes a Reasoning Sound? (1903; “O que torna um raciocínio sólido?”) Peirce diz tê-la

assim chamado a partir de Duns Scotus (EP 2, p. 257) e depois afirma que “esta Gramática Especulativa não deve confinar seus estudos àqueles signos convencionais dos quais a linguagem é composta, mas fará bem se

define a Crítica como aquele ramo da lógica “que classifica os argumentos e determina a validade e grau de poder de cada tipo”. (Ibid., ibidem)202 Por fim, ele define a Metodêutica como o ramo “que estuda os métodos que devem ser perseguidos na investigação, na exposição, e na aplicação da verdade”. (Ibid., ibidem)203

No ensaio Sundry Logical Conceptions (1903; “Várias concepções lógicas”) Peirce explora este ramo da lógica - a Gramática Especulativa - que ele denomina de “departamento fisiológico” (EP 2, p. 272).204 Assim, a Gramática Especulativa estuda a Classificação dos Signos; a Crítica faz recurso da Abdução, Indução e Dedução, e a Metodêutica está relacionada ao Pragmatismo (o de viés peirceano, posto que “reflexivo”).

Debruçemo-nos, então, sobre a Classificação dos Signos, que faz parte da Gramática Especulativa (1.2.2.3.1.), e vejamos em que medida esses signos estão, por sua vez, relacionados às três Categorias da (sua) Fenomenologia – Primeiridade, Segundidade e

Terceiridade – e aos elementos que já vimos em sua Estética e Ética, posto que, para Peirce,

a Lógica está alicerçada nessas duas Ciências Normativas: (1º) Signo

(3º) Interpretante (2º) Objeto

Um Signo,205 ou Representamen, é um Primeiro que está em tal relação triádica genuína para um Segundo, chamado seu Objeto, de forma a ser capaz de determinar um Terceiro, chamado seu Interpretante”.206

alargar seu campo de visão ao levar em consideração todos os tipos de signos que, não sendo convencionais, não são da natureza da linguagem”. (Ibid., p. 257)

202 Ver também What Makes a Reasoning Sound? (1903; “O que torna um raciocínio sólido?”) em EP 2, p. 256. 203E alerta o leitor que “cada divisão depende daquela que a precede”. (Ibid., ibidem)

204 E define a Lógica Crítica com o sendo “o departamento classificatório, ajuizando especificamente que

raciocínios são bons e quais maus”. (Ibid., ibidem)

205 No mesmo ensaio Peirce explica que “um Signo é um Representamen com um Interpretante mental” (Ibid, p .

272) e que “o pensamento é o principal, senão o único modo de representação”. (Ibid., ibidem; nossa ênfase)

Ver também Of Reasoning in General (1895; “Sobre o raciocínio em geral”) em EP 2, p. 13.

Traduzindo – a partir do que já vimos até aqui, e aludindo ao que virá, na Metafísica -, o “Signo” está relacionado – entre os três ramos de suas Ciências da Descoberta (Heurística) – Matemática, Filosofia, Ciências Especiais – à Matemática. Recordemos que, para Peirce, “o raciocínio matemático é diagramático” (Moore, xxx) e que, metafisicamente, Peirce é adepto do “Idealismo-Objetivo”, o que significa que, para ele, “aquilo que aparece para qualquer mente” (a phanera) é também mente, embora “envelhecida”, i.e., que “uma mente que adquiriu hábitos” (“effete mind”). Se assim não fosse, quer seja, se não houvesse um “parentesco” entre o “Objeto” (que aparece à Mente, Interpretante) e a própria Mente, “desesperaríamos”, disse ele em Carta a James, pois “não haveria Ciência”. Quando, na Metafísica, virmos que Peirce se define como “Realista”, devemos compreender que ele é um “Realista” em chave scotusiana, quer seja, para ele, “o Real é a Ideia”, em suma, o “Signo”, posto que é ele [o Signo] que é capaz de “determinar um Interpretante”. Mais adiante volveremos ao “Signo”, para enriquecer este elemento sofisticado da Lógica; ou, Semiótica, de Peirce.

Se o “Signo” (Primeiro) determina o “Interpretante” (Terceiro), ele, por sua vez, é determinado pelo “Objeto”. E é aqui que aparece o lado “Objetivo” de seu “Idealismo- Objetivo”, e podemos entender quando ele acentua o lado Empírico do Pragmatismo ao declarar que “a experiência é nossa única mestra”.207 É verdade que, para Peirce, o “Objeto” determina o “Signo” – que haverá de gerar um “Interpretante”; porém, não devemos esquecer que esse “Objeto” – referímo-nos, particularmente à Natureza -, é, em essência, da mesma natureza do “Signo” (Ideia), quer seja, é “mente envelhecida”. Senão vamos achar que Peirce é um “Dualista” ou Cartesiano, o que o faria revirar no túmulo.

Não há, a bem da verdade, qualquer separação entre “Signo”, “Objeto” e “Interpretante” no “Objeto Dinâmico”, i.e., no mundo como ele é – “independente do que possamos achar dele”, ou seja, das distinções que fazemos (como “Interpretantes” – pela “mediação dos Signos”) nesse “Contínuo” (por isso ele é “universal”; imagine-o, caro leitor, como uma esfera que se expande infinitamente e que, no entanto, permanece “una” – as dimensões que vemos – como “Interpretantes” nela, é sempre “falível”, porque “ilusória”, posto que, como veremos – com Hawking & Mlodinov na Física, Parte 2 da Tese (p. 124 em diante) -, “não podemos sair de dentro deste ‘nosso’ Universo para vê-lo de fora”), porque esse “Objeto Dinâmico” traz em si – é constituído por; é – em última análise - o “Inteligível” manifesto (para falarmos platonicamente).

207Vale recordar que Kant já dissera que “pensamentos sem conteúdo [empíricos] são vazios; intuições sem

Naturalmente que – e nisto a Lógica (ou Semiótica) peirceana é de uma sofisticação incomparável – quando o “Interpretante” olha (Peirce, na Fenomenologia, diz “atenta para” isso que lhe “aparece”) para esse “Objeto Dinâmico”, ele vê-o todo “fatiado” ou – porque esse “Interpretante” é, ele mesmo, parte do “Objeto Dinâmico” (faz parte do mesmo “Universo”) – vê-o como que em “espectro” (com diferentes comprimentos de onda).

A seguir vamos ver como Peirce, há mais de cem anos, mostrou todos os elementos que compõe esse fabuloso “espectro”.

Começemos pelas divisões dos “Signos”, primeiro em relação ao “Objeto”. Diz Peirce:

Os Representamens estão divididos em duas tricotomias. A primeira e mais fundamental é aquela que qualquer Representamen é ou um Ícone, um Índice, ou um Símbolo. Quer seja, nenhum Representamen funciona de fato como tal até que ele na verdade determine um Interpretante. (Ibid., p. 273)

O que isto significa? Que qualquer (pseudo) “Objeto Dinâmico” que apareça (phanera) para um “Interpretante” (“mente”, por ele determinado, através da mediação de “Signos”), tornado “Objeto Imediato”,208 esta mediação é como um raio de luz que passa por um prisma (para usar uma analogia), quer seja, ele se fracciona em três elementos principais: Ícone (azul), Índice (vermelho), Símbolo (amarelo).

O “Ícone”, naturalmente, está relacionado à “Mônada” (Matemática), à Primeiridade (Fenomenológica) e à Estética (Ciência Normativa), como estará à Ontologia (Metafísica). Como Peirce o define?

Um Ìcone é um Representamen cuja Qualidade Representativa é uma Primeiridade dela como um Primeiro. Isto é, uma qualidade que ele possui enquanto coisa torna-o capaz de ser um Representamen. Assim, qualquer coisa é capaz de ser um substituto para algo que é semelhante. (Ibid., ibidem)209

Para um Poeta (com letra maiúscula, Blake, Whitman, Pessoa, Tranströmer) o “Objeto Dinâmico” é sempre “Icônico”, quer seja, uma phanera espantosa, ou para nos expressarmos em chave schilleriana, “sublime”, i.e., desmedido, abismal, posto que o “Objeto Dinâmico” é o Universo (inteiro; incluindo ‘nós’; ver Nota 352 de Planck).

208 Metaforicamente, o “Objeto Dinâmico” é Devir (filme), ao passo que o “Objeto Imediato” é Ser (foto). 209E é por isso, diz Peirce no mesmo ensaio e página, que “[A]penas um Representamen por Primeiridade pode

ter apenas um Objeto semelhante” (...) quer seja, “[U]m signo por Primeiridade é uma imagem de seu objeto e, mais estritamente, pode apenas ser uma ideia”. O resultado é um “Ícone”. (Ibid., ibidem)

Peirce fala da “Qualidade” do “Ícone”, posto que ele está ligado ao “Sentimento”. Quando chegamos a qualquer ambiente, “primeiro” “senti-mo-lo” (através das entranhas), se nos concedemos essa “Liberdade”. Essa “primeira impressão” (global) não é “fatiada”, “de- finida” (pensada) senão a posteriori. Quando amamos e somos amados – e isso tem sido cantado em prosa e verso há milênios -, sentimos essa “semelhança”; não é por acaso que Plotino diz, em termos de “União Mística” – totalmente comprovada iconicamente (leia-se Mestre Eckhart) -, que (só) “semelhante (se) reconhece (como) semelhante” (nesse “Gründ”).

E Peirce refina sua definição de Ícone,

Um hipoícone é um Representamen icônico. Qualquer imagem material, como um quadro, é bastante convencional em seu modo de representação; mas em si, sem legenda ou rótulo, ele pode ser chamado de hipoícone. Hipoícones podem ser grosseiramente divididos de acordo com o modo de Primeiridade de que fazem parte. Aqueles que fazem parte de qualidades simples, ou Primeiridades Primeiras, são imagens; aqueles que representam as relações, principalmente diádicas, (...) são diagramas; aqueles que representam o caráter representativo de um representamen ao representar um paralelismo em outra coisa, são metáforas. (Ibid., 274)210

Não podemos deixar de perceber o extraordinário poder da imagem, do diagrama e da metáfora – para impressionar, emocionar, mas também ensinar – e, portanto, de transformar os indivíduos e o mundo – através das obras-primas artísticas e nas próprias investigações científicas, em que devemos associar o hipoícone à lógica abdutiva e a um

instinto– ou “faro” – que Peirce não se cansou de louvar – incluindo-o na mente.211

E quanto aos Índices? Para Peirce, um Índice - “ou Seme é um Representamen cujo caráter Representativo consiste em ele ser um Segundo individual”. (Ibid., p. 274)212 O “Índice”, naturalmente, está relacionado à “Díade” (Matemática), à Segundidade

210 Recomendamos três obras relacionadas à questão da metáfora em Peirce: (1) Carl R. Hausman. Metaphor and Art (“Metáfora e arte”). Cambridge: Cambridge University Press, 198 [em que dialoga, entre outros, com Paul Ricouer. A metáfora viva. São Paulo: Loyola, 2000]; (2) Douglas R. Anderson. Creativity and the Philosophy of

C. S. Peirce (“Criatividade e a filosofia de C. S. Peirce”). Boston: Martinus Nijhoff Publishers, 1987 [tese de doutoramento, sob orientação de Carl R. Hausman; Anderson participou de nosso 9º Encontro Internacional sobre Pragmatismo (Nov. 2006)]; e, (3) The Semeiosis of Poetic Metaphor (“A semiose da metáfora poética”). Bloomington & Indianapolis: Indiana University Press, 1988 [em que cita Peirce: “Tudo no universo é, pelo menos potencialmente, um signo de outra coisa (CP 5.448n). Eu sugeriria que os poetas são, entre nós, aqueles que são mais sensíveis a esta potencialidade em geral, e em particular àquelas correspondências possíveis entre o signo e o objeto, que raramente são percebidas pelo resto de nós até que os poetas as hajam desCoberto ou sugerido” (Introdução, p. 4]

211 Pragmatism as the Logic of Abduction (14/5/1903; “Pragmatismo como a lógica da abdução”) em EP 2, p.

241. Já no ensaio Philosophy and the Conduct of Life (1898; “A filosofia e a conduta da vida”) Peirce diz: “[M]as em questões de importância vital (...) o princípio sobre o qual nós queremos agir é uma crença”. (EP 2, p. 33). E crença, para Peirce é “sentimento, isto é, o instinto”. (Ibid., ibidem)

212 Para Peirce, “se a Segundidade é uma relação existencial, o Índice é genuíno. Se a Segundidade é uma

(Fenomenológica) e à Ética (Ciência Normativa), como estará à Cosmologia (Metafísica). Como Peirce o define?

Um Político – ou qualquer Dualista – vê, sempre, o “Objeto Dinâmico” como encarnando uma “Dualidade”: i.e., vê “oposições” por toda a parte. Tudo o que lhe “aparece” (phanera), aparece-lhe como “Quantidade”, relacionada – como vimos na Fenomenologia – à “Ação” & “Reação”. Estamos, assim, no reino da Vontade & Impotência, quer seja, para falar em chave nietszcheana, da “Vontade de Poder”. Veja, Marx (1818-83), por exemplo. Para onde ele olhava via uma “Luta” de Classes e em seu “Manifesto” (1848) propôs que, para dar fim a essa “Luta de Classes”, que se eliminasse a “Burguesia” (o “coração” e o “estômago”; que já havia “eliminado” a Aristocracia; o “cérebro”) para que sósobrasse (assim mesmo, junto) o Proletariado (os “braços”). Todo Gênio tem, como um carro (pobre), um “ponto cego”. Na religião (exterior) temos o “genial” “olho-por-olho; dente-por-dente” que, segundo Gandhi (1869-1948), se levado a cabo, faria com que “metade do mundo ficasse cega e a outra metade desdentada”.

Depois que chegamos a qualquer ambiente, depois de tê-lo “sentido” (“primeiro”; através das entranhas) – após a “primeira impressão” (global) – “decidimos” ficar ou partir. Algo que vemos no ambiente é “sinal” (“Índice”) de que esse local é “legal” ou “não combina com a gente”. É claro, do mesmo modo que o “Segundo” faz oposição ao “Primeiro” – é preciso se alçar ao “Terceiro” para vê-los (amiúde) como “complementares” -, assim, o “Índice” (fumaça) é indício de “fogo”. Aqui, em suma, ainda não há Civilização, apenas aquele mundo de que falava Thomas Hobbes (1588-1679): “é preciso eleger um Rei” -, ou uma “Constituição” (Contrato Social), como queria Jean-Jacques Rousseau (1712-78) - que será visto – entre os “Objetos” como “Símbolo” (Token),213 um “Terceiro” (civilizado, posto que media (diplomaticamente) entre o Primeiro (Emocional) e o Segundo (Volicional).

E o que dizer do Símbolo? Peirce diz que:

[U]m Símbolo é um Representamen cujo caráter Representativo consiste precisamente em ele ser uma regra que determinará seu Interpretante. Todas as palavras, frases, livros, e outros signos convencionais são Símbolos. (Ibid., ibidem)214

213 Como sugerimos na Fenomenologia, melhor usar o termo “Token” (do que “Símbolo”), posto que este último

pode ser confundido com o que Peirce denomina “Ícone”. “A cruz é um ícone do cristianismo”, diria Peirce (pois representa-o por “semelhança”), e não um “símbolo”, que, para Peirce, é uma ideia, pensamento ou palavra.

214 Por isso, diz Peirce, “a palavra ‘homem’ é apenas uma réplica”. (Ibid., ibidem) O que é importante aqui,

também, não é apenas o fato de que “um Símbolo é uma lei ou regularidade de um futuro interminável”, (Ibid.,

ibidem) mas que “um Símbolo genuíno é um símbolo que tem um significado geral”. (Ibid., 275) E mais. “Há dois tipos de Símbolos degenerados, o Símbolo Singular cujo Objeto é um existente individual, e que significa apenas tais caracteres que esse indivíduo possa realizar se se der conta disso (“realize”); e o Símbolo Abstrato,

O “Símbolo” (Token) está relacionado à “Tríada” (Matemática), à Terceiridade (Fenomenológica) e à Lógica (Ciência Normativa), como estará à Metafísica Religiosa (Metafísica).

Um Filósofo – como Peirce – vê, sempre, o “Objeto Dinâmico” como encarnando uma “Trindade”: i.e., vê a possibilidade de resolver todas as “oposições” naquilo que lhe “aparece” (phanera), quer seja, vê tudo em “Relação”, quer seja, subsumindo os diversos “particulares” em um “universal”, que é patente em um “diagrama”, que é – como disse Kant (sobre o “esquema”), “um monograma de todo o sistema”. (CRP A 141/ B 181)

Para Peirce,

O Universo é um vasto representamen, um grande símbolo do propósito de Deus, realizando suas conclusões em realidades vivas. [...] Pois bem, quanto à economia do Universo – o Universo como um argumento é necessariamente uma grande obra de arte, um grande poema – pois cada argumento refinado é um poema e uma sinfonia -, assim como cada poema verdadeiro é um argumento sólido. Peirce. The Seven Systems of Metaphysics(16/4/1903; “Os sete sistemas de metafísica”) IN EP 2, pp. 193- 94.

E, não nos cansamos de repetir,

Aquilo que é lógico é o que é necessário admitir de modo a tornar o universo inteligível. E o primeiro dos princípios lógicos é que o indeterminado deva se determinar da melhor maneira possível. Um caos de reações totalmente destituído de qualquer abordagem à lei é absolutamente nada; e, portanto, um puro nada foi tal caos. Então, o puro indeterminismo tendo desenvolvido determinadas possibilidades, a criação consistiu em mediar entre as reações sem lei e as possibilidades gerais através do influxo de um símbolo. Este

símbolo foi o propósito da criação. Seu objeto foi a enteléquia do ser, que é

a última representação. Agora já podemos saber o que o juízo e a asserção são. O homem é um símbolo. Peirce. New Elements (1904; “Novos elementos”) IN The Essential Peirce. Volume 2, p. 324.

Estamos, aqui, no reino da Inteligência. Naturalmente, a maioria das pessoas não é bem educada e não é capaz de “ver”, por exemplo, a “Inteligência” encarnada na “Tabela Períodica dos Elementos”. Veremos essa cegueira generalizada – entre a grande maioria dos cientistas (materialistas, céticos, irônicos, ateus) – na Parte 2 de nossa Tese, na Psicologia,

cujo único Objeto é um caráter (“character”). (Ibid., ibidem) Na página 276 Peirce irá dizer algo muito importante: “Um Símbolo não pode nem mesmo ter-se como seu Objeto; pois é uma lei governando seu Objeto” (...) “portanto, a fortiori, é impossível que um Símbolo deva ter seu Objeto como seu Interpretante. Um Índice pode muito bem se representar”. (Ibid., p. 276) Mais importante, “[O]s símbolos são as únicas coisas no

universo que têm qualquer importância”. Peirce. Sundry Logical Conceptions (1903; “Várias concepções

com Kahneman – e não só nas Ciências da Natureza -, mas, o que é mais desastroso – nas

Ciências Psíquicas.

Volvendo à estória que vimos contando para “traduzir” esta primeira tricotomia de “Signos” relacionados ao “Objeto” - Ícone, Índice e Símbolo (Token) -, devemos dizer que depois que chegamos a qualquer ambiente, depois de tê-lo “sentido” em uma “primeira impressão” (global) – quando “decidimos” ficar ou partir, tendo visto algo no ambiente como “sinal” (“Índice”) de que esse local é “legal” ou “não combina com a gente” – após deixar o local – assim que chegamos – ou após a ocorrência de algum “fato bruto” – vamos, a

posteriori, justificar nossa atitude: e esta fala é o “Terceiro” - “Símbolo” (Token) que media entre o Primeiro (Emoção) e o Segundo (Ação-Reação; Volição).

***

Se acima vimos os “Signos” relacionados ao “Objeto”, agora cabe-nos ver os Signos relacionados ao próprio Signo -, Qualisigno, Sinsigno e Legisigno - que Peirce denominou de Primeira Tricotomia no ensaio Nomenclatura and Divisions of Triadic Relations (1903; “Nomenclatura e divisões de relações triádicas”) em EP 2, p. 291.

Quanto ao Qualisigno, ele “é uma qualidade que é um signo” e o que é interessante em relação a ele é que “não pode de fato agir como um signo até que esteja encarnado”. (Ibid.,

ibidem) Mas é fácil de perceber que ele está relacionado à Mônada (matemática), à

Primeiridade (fenomenológica), à Estética (entre as Ciências Normativas), assim como ao

Ícone (entre os “Signos” relacionados ao “Objeto”) e estará à Ontologia (Metafísica). Por isso é um “Signo” prenhe de Sentimento (daí as “Qualidades”) e de Possibilidades.

No que tange ao Sinsigno, ele “é uma coisa ou evento realmente existente, que é um signo (apenas através de suas qualidades)”. (Ibid., ibidem) É fácil nos darmos conta de que ele está relacionado à Díade (matemática), à Segundidade (fenomenológica), à Ética (entre as Ciências Normativas), ao Índice (entre os “Signos” relacionados ao “Objeto”), assim como estará à Cosmologia (metafísica), portanto, à Vontade, à Existência e à Necessidade.

No que se refere ao Legisigno, ele “é uma lei – geralmente estabelecida pelo homem. Todo o signo convencional é um legisigno, que é um geral”. (Ibid., ibidem) Não é difícil perceber que ele está relacionado ao elemento Triádico (matemática), à Terceiridade (fenomenológica), à Lógica (entre as Ciências Normativas), ao Símbolo (entre os “Signos” relacionados ao “Objeto”), cmo estará à Metafísica Religiosa (Metafísica).

Estes três elementos -, Qualisigno, Sinsigno, Legisigno -, caro leitor, são “veículos” (glóbulos vermelhos, por assim dizer), que são responsáveis por levar aqueles “Signos” relacionados ao “Objeto” - Ícone, Índice, Símbolo - até aos “Signos” relacionados ao “Interpretante” – Rema, Dicente, Argumento -, que veremos a seguir.

***

Vejamos como Peirce definiu os Signos relacionados ao Interpretante -, Rema, Dicente, Argumento -, que ele denominou de Terceira Tricotomia no ensaio Nomenclatura

and Divisions of Triadic Relations (1903; “Nomenclatura e divisões de relações triádicas”) em EP 2, p. 292.

Que diz Peirce sobre o Rema?

Um Rema é um signo que, para seu Interpretante, é um signo de possibilidade qualitativa, quer seja, é compreendido como representando tal e tal tipo de Objeto possível. Qualquer rema talvez forneça alguma informação; mas não é interpretado como fazendo-o. (Ibid., ibidem)

Qualisigno (Signo)

(Interpretante Imediato) Rema Ícone (Objeto Imediato) Signo

Interpretante Dinâmico Objeto Dinâmico

Podemos perceber a relação triádica entre o Rema (Signo-Interpretante) o Ícone (Signo-Objeto Imediato) e o Qualisigno (Signo-Signo) e, evidentemente, com a Primeiridade (Categoria Fenomenológica) e a primeira das divisões das Ciências Normativas (Estética), como está com o elemento Monádico na Matemática e estará com a Ontologia na Metafísica, para a qual servirão de fundamento, já que estão todos relacionados a um universo prenhe de

E o Dicente? Ele “é um signo que, para seu Interpretante, é um signo de existência verdadeira”. (Ibid., ibidem)

Podemos perceber a relação triádica entre o Dicente (Signo-Interpretante) com o Índice (Signo-Objeto Imediato) e com o Sinsigno (Signo-Signo) e, evidentemente, com a Segundidade (categoria fenomenológica) e a segunda das divisões das Ciências Normativas (Ética), como está com a Díade na Matemática e estará com a Cosmologia na Metafísica, para a qual servirão todos de fundamento, já que estão relacionados ao universo (existente) da Necessidade.

Dicisigno (Signo)

(Interpretante Imediato) Dicente Índice (Objeto Imediato) Signo

Interpretante Dinâmico Objeto Dinâmico

E quanto ao Argumento? Ele “é um signo que, para seu Interpretante, é um signo da lei”. (Ibid., ibidem) Este é um elemento importante, pois está relacionado ao Juízo. Diz Peirce: “Um juízo é ato mental através do qual o juiz busca impressionar sobre si a verdade de uma proposição”. (Ibid., ibidem)215 Ora, como diz Peirce mais adiante, “[O] Argumento deve,

215 Digno de nota, aqui, é que Peirce diz que “é muito parecido como um ato de assseverar a proposição, ou ir a

um tabelião e assumir responsabilidade formal por sua verdade, exceto que esses atos são intencionados para afetar outros, ao passo que o juízo tem apenas a intenção de nos afetar”. (Ibid, ibidem) “Entretanto”, diz Peirce, sempre temeroso de sair do eixo lógico e enveredar pelo psicológico, “o lógico, como tal, não se preocupa com qual possa ser a natureza psicológica do ato de julgamentor. A pergunta para ele é, ‘Qual é a natureza do tipo de signo do qual uma variedade principal é denominada uma proposição, que é o assunto sobre o qual o ato de julgar é exercido?’”. (Ibid., ibidem) E arremata: “A proposição não precisa ser asseverada ou julgada. Ela pode ser contemplada como um signo capaz de ser asseverado ou negado. Este signo em si retém seu significado completo quer ele seja de fato asseverado ou não. A peculiaridade reside em sua relação a seu Interpretante. A proposição professa ser realmente afetada por seu real existente ou lei real à qual ele se refere. O argumento tem a mesma pretensão, mas isso não é a principal pretensão do argumento. O rema cumpre tal pretensão”. (Ibid., pp. 292-293)

portanto, ser um Símbolo, ou [um] signo cujo Objeto seja uma lei geral ou tipo. Ele deve envolver um Símbolo Dicente, ou Proposição, que é denominado sua Premissa”. (Ibid., 293)

Vejamos agora como este elemento pode ser expresso diagramaticamente.

Legisigno (Signo)

(Interpretante Imediato) Argumento Símbolo (Objeto Imediato) Signo

Interpretante Dinâmico Objeto Dinâmico

Podemos perceber a relação triádica entre o Argumento (Signo-Interpretante) o Símbolo (Signo-Objeto Imediato) e o Legisigno (Signo-Signo) e, evidentemente, com a Terceiridade (categoria fenomenológica) e a terceira das divisões das Ciências Normativas (Lógica), como está com o elemento Triádico (Matemático) e estará com a Metafísica Religiosa na Metafísica, para a qual todos eles servirão de fundamento.