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R ELAÇÕES DE SOLIDARIEDADE

4.2. Apoio em Portugal

4.2.2. Lógicas de apoio

Com o intuito de analisar quais as espécies de recursos recebidos pelas famílias portuguesas com filhos por via da sua participação em redes sociais de apoio, foram diversificados os apoios sobre os quais indagámos (Quadro 4.5).

Quadro 4.5

Estrutura interna de todos os apoios

Apoios241 Estrutura interna (%) (N=12044) % pop. apoiada (N=1776) Média pop. apoiada apoiada N pop.

1. Material quotidiano 012,7 032,5 2,7 578

2. Doméstico quotidiano 009,7 033,7 2,0 598

3. Outros Serviços quotidianos 003,8 012,5 2,1 222

4. Moral quotidiano 023,2 048,1 3,3 855

5. Cuidados às Crianças quotidianos 011,3 049,4 1,6 877

6. Alojamento 004,4 027,1 1,1 482 7. Grandes Festas 011,2 047,9 1,6 850 8. Financeiro quotidiano 007,6 024,5 2,1 435 9. Financeiro avultado 002,5 012,8 1,3 227 10. Recheio de casa 003,6 017,6 1,4 312 11. Automóvel 000,9 0005,6 1,1 100 12. Empréstimo 002,2 012,2 1,2 217 13. Emprego 002,1 012,5 1,1 222 14. Herança 002,1 012,9 1,1 229 15. Negócio 000,6 0004,0 1,1 71 16. Imóvel 002,2 014,6 1,0 260 Total de Apoios 100,0 090,6 07,5 1597

Este procedimento, de análise pelo número de ocorrências de apoio (ou volume exacto de apoios), altera o número de casos estatísticos, já que deixamos de falar de casos enquanto famílias (num total de 1776 famílias), para falar de um total de 12044 apoios recebidos por essas famílias (com uma média por família apoiada de 7,5 apoios; sendo certo, como vimos

241

Todos os apoios com a menção de “quotidiano” (material, doméstico, outros serviços, moral, cuidados às crianças, financeiro) dizem respeito aos apoios recebidos nas três fases específicas do curso de vida familiar (início da conjugalidade, nascimento do primeiro filho, vida conjugal com filhos pequenos e adolescentes). Todos os restantes, sem a menção de “quotidiano” (alojamento, ajudas em grandes festas, financeiro avultado, recheio de casa, automóvel, empréstimo, emprego, herança, negócio, imóvel), referem-se a grandes apoios excepcionais em qualquer momento da história pessoal e familiar.

na anterior análise do volume de apoio, que se verifica uma forte diferenciação entre famílias consoante o apoio recebido, algumas tendo um fraco, outras médio, e outras ainda forte ou mesmo muito forte volume de apoio). Tal estratégia analítica, que será igualmente seguida em várias das análises estatísticas que se seguem, ao excluir as situações sem apoio, permite-nos ver quais as proporções exactas de apoios específicos e a sua variação social. Isso não seria possível com uma análise apenas dos casos na população, já que a um caso pode corresponder somente 1 apoio e a outro 20. Olhando apenas para os casos na população, devido à concomitância de apoios recebidos pelas famílias, não seria possível tratar os apoios como um total de componentes mutuamente exclusivos cujo total percentual fosse 100 %. De uma forma mais simples, esta estratégia de análise permite-nos responder a questões sobre quantos apoios foram recebidos e de quê, e não quantas famílias receberam que volume de apoio (o que foi visto acima).

. Olhando para a estrutura interna dos apoios recebidos, ou seja, analisando o número total de ocorrências de apoio pela sua distribuição segundo as espécies específicas de apoio, verificamos, como seria de esperar dada a sua maior recorrência e, podemos supor, menor valor, que são os apoios quotidianos (que ocorrem em qualquer uns dos três momentos específicos da vida familiar) que representam fatias mais relevantes do bolo total de apoios (numa percentagem de 68,2 %, contra 31,8 % dos grandes apoios excepcionais). As excepções e este panorama geral dizem respeito ao montante mais elevado das grandes ajudas para grandes festas familiares e ao montante menos elevado das ajudas noutros serviços quotidianos.

Ao pormenor, e olhando primeiro para os apoios quotidianos em momentos específicos do curso de vida familiar, vemos que quase 13 % dos apoios recebidos foram-no em ajudas materiais (dar roupa, objectos e alimentos para a família e para a casa, etc.; apoio recebido por quase 33 % da população, com uma média de 2,7 apoios por cada família apoiada), cerca de 10 % em serviços domésticos (fazer tarefas domésticas, dar comida feita para levar, etc.; quase 34 % das famílias, com uma média de 2 apoios), quase 4 % noutros serviços (não contando com os serviços às crianças – pequenas reparações na casa, transportar pessoas, dar recados, etc.; 12,5 % da população com média de 2,1 apoios), uns impressionantes 23 % em apoio moral242 (desabafar, conversar sobre problemas, etc.; recebido por quase metade da população, numa média de mais de 3 apoios), pouco mais de

242

Sobre a importância do apoio moral, nomeadamente para a resistência à adversidade, ver Walen & Lachman (2000).

11 % em cuidados às crianças (tomar conta de dia ou de noite, levar ao médico, à escola, etc.; cerca de metade da população, numa média de 1,6 ajudas) e quase 8 % em apoio financeiro no dia-a-dia (dar ou emprestar dinheiro, pagar contas ou despesas, etc.; cerca de um quarto da população, numa média de 2,1 apoios por família).

As percentagens do total de apoio apresentadas pelas grandes ajudas excepcionais em qualquer momento da história de vida familiar são globalmente mais baixas, com a já referida excepção dos apoios para grandes festas (casamentos, baptizados, etc.; quase metade das famílias apoiadas, numa média de 1,6 ajudas por família) com pouco mais de 11 %. A ajuda em alojamento (alojar por um período de tempo mais ou menos longo ou emprestar casa; cerca de um quarto da população apoiada, em média pouco mais de uma vez) representa pouco mais de 4 % das ajudas recebidas. O apoio financeiro avultado (dar grandes quantias de dinheiro; quase 13 % da população, com média de 1,3) fica-se pelos 2,5 % do total de ajudas. O apoio para o recheio de casa (oferecer ou ajudar na compra de móveis e electrodomésticos, etc., para casa e para o bebé; quase 18 % da população, média de 1,4) pelos 3,6 %. A dádiva de um automóvel é ligeiramente inferior a 1 % do total de apoio (quase 6 % das famílias, com apoio médio de 1,1). O empréstimo (emprestar dinheiro ou ter fiador de grandes compras; pouco mais de 12 % das famílias, em média 1,2 vezes) por pouco mais de 2 %. As ajudas para arranjar emprego (12,5 % da população, em média 1,1 vez) também, tal como ter recebido uma herança (quase 13 %, com média também de 1,1) ou um imóvel (receber uma casa, um andar, um terreno ou outros bens imóveis; 14,6 % da população, em média 1 vez por família). A oferta de sociedade ou de um negócio representa apenas 0,6 % do total de apoios recebidos (apenas 4 % das famílias apoiadas, em média 1,1 vezes).

Perscrutando mais longe do que a mera descrição de uma multiplicidade de apoios específicos, procurou-se alcançar as lógicas profundas de apoio. Ou seja, sabendo que os apoios constituem transferências de recursos consoante a rede social de apoio em que se participa, e sabendo que existem fortes diferenciações sociais nos volumes de apoio na população, procurou-se averiguar quais os tipos de apoio que tendem a ser dados conjuntamente, constituindo lógicas estratégicas de apoio, entendidas como modalidades mais englobantes de recursos, que podemos pressupor não se distribuírem de igual maneiro pelo espaço social das classes.

Assim (Quadro 4.6), uma análise de componentes principais produziu quatro factores que correspondem a diferentes associações empíricas entre tipos de apoio recebidos. A primeira lógica de apoio associa todos os apoios quotidianos (material, doméstico, outros serviços, moral, cuidados às crianças), com a excepção do financeiro, ao apoio excepcional de

dádiva de alojamento. A segunda lógica associa as modalidades de apoio directamente financeiro (quotidiano e excepcional) com modalidades variadas de apoio material não quotidiano (ajudas para grandes festas, para o recheio da casa, dádiva de automóvel). A terceira lógica diz respeito apenas a apoios excepcionais, associando os apoios em empréstimos a ajudas para a obtenção de emprego e colocação profissional.

Quadro 4.6 Lógicas de apoio

Análise factorial de componentes principais (rotação varimax)

Factor 1 Factor 2 Factor 3 Factor 4

Apoios Quotidiano e Alojamento Financeiro e Material Emprego e Empréstimo Herança, Imóvel e Negócio 1. Material quotidiano ,415 2. Doméstica quotidiano ,761 3. Outros Serviços quotidianos ,624

4. Moral quotidiano ,567

5. Cuidados às Crianças quotidianos ,640

6. Alojamento ,394 7. Grandes Festas ,481 8. Financeiro quotidiano ,440 9. Financeiro avultado ,598 10. Recheio de casa ,672 11. Automóvel ,558 12. Empréstimo ,660 13. Emprego ,568 14. Herança ,614 15. Negócio ,434 16. Imóvel ,646 Eingenvalues 2,198 1,874 1,402 1,211 Variância explicada 13,734 11,712 8,760 7,571

A quarta e última lógica de apoio identificada, também referente apenas a apoios excepcionais em qualquer momento do curso de vida familiar, apresenta um carácter mais patrimonial, associando a herança com a dádiva de sociedade ou negócio, bem como de bens imóveis.

Partindo da descoberta destas associações, é então fundamentadamente que se podem agregar os tipos específicos de apoio associados, constituindo quatro grandes conjuntos de apoio que correspondem às quatro lógicas identificadas (Quadro 4.7). Cada uma destas quatro lógicas representa, assim, uma fatia do total de apoios recebidos pelas famílias portuguesas com filhos. A lógica de apoio em quotidiano e alojamento, de longe a mais comum e frequente, diz respeito a pouco mais de 65 % do total de apoios, com uma média para a população apoiada de 5,6 apoios por família. A lógica de apoio financeiro e material não quotidiano, a segunda mais importante, representa quase 26 % de toda a ajuda, com uma média de quase 3 apoios por família apoiada. A de apoios para o emprego e de empréstimo representa pouco mais de 4 %, em média pouco superior a 1 apoio por caso. Finalmente a lógica mais patrimonial, de herança, imóvel e negócio fica ligeiramente abaixo dos 5 % do total de apoios, igualmente com uma média de pouco mais de 1 apoio por família.

Quadro 4.7

Lógicas de apoio e classe social do casal

Classe Social do Casal Quotidiano e Alojamento Financeiro e Material Emprego e Empréstimo Herança, Imóvel e Negócio Total % 52,6 34,2 1,8 11,4 100,0

ED Média pop. total 03,6 02,3 0,1 00,8 006,7

Média pop. apoiada 04,5 02,8 1,0 01,7 007,9

% 60,2 32,3 3,2 04,3 100,0

PIC Média pop. total 05,6 03,0 0,3 00,4 009,2

Média pop. apoiada 06,7 03,8 1,2 01,4 009,9

% 58,3 32,3 5,9 03,5 100,0

PTEI Média pop. total 05,0 02,8 0,5 00,3 008,6

Média pop. apoiada 06,0 03,5 1,5 01,1 009,1

% 64,3 24,3 4,4 07,0 100,0

IPP Média pop. total 04,1 01,5 0,3 00,4 006,4

Média pop. apoiada 05,3 02,7 1,3 01,3 007,2

% 67,2 21,7 2,3 08,8 100,0

C Média pop. total 04,5 01,4 0,2 00,6 006,6

Média pop. apoiada 05,6 02,6 1,1 01,5 007,4

% 65,6 26,6 4,3 03,5 100,0

EE Média pop. total 04,6 01,9 0,3 00,3 007,0

Média pop. apoiada 05,8 02,8 1,3 01,3 007,9

% 66,5 24,0 5,3 04,2 100,0

EEI Média pop. total 04,5 01,6 0,4 00,3 006,8

Média pop. apoiada 05,2 02,8 1,4 01,2 007,4

% 71,0 20,9 3,9 04,2 100,0

OI Média pop. total 04,2 01,2 0,2 00,2 005,9

Média pop. apoiada 05,6 02,3 1,3 01,2 006,6

% 66,9 26,3 2,7 04,1 100,0

AAI Média pop. total 03,7 01,5 0,1 00,3 005,6

Média pop. apoiada 04,8 02,4 1,5 01,0 006,4

Total

% (N=12044) 65,1 25,7 4,3 04,9 100,0

Média pop. total

(N=1776) 4,4 1,8 0,3 0,4 6,8

η2

0,01* 0,07*** 0,03*** 0,04*** 0,03*** Média pop. apoiada

(N=1597) 5,6 2,8 1,3 1,3 7,5

η2 0,01* 0,05*** 0,04* 0,06*** 0,03***

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p <0,001

É claro que se deve notar que todas as categorias sociais apresentam estas lógicas de apoio, que são assim transversais, ainda que com pesos muito diferentes, ao todo da população. Mas, mesmo tendo em consideração esta transversalidade social e a manutenção da proporcionalidade relativa de cada lógica, certo é que diferentes classes sociais apresentam diferentes perfis de apoio (Quadro 4.7). Tal já tinha sido constatado em relação ao volume de apoio, embora não sem complexidades advindas da própria multidimensionalidade dos processos de diferenciação classista. Ao analisarmos as espécies específicas de apoio, ainda que se mantenha um quadro globalmente não linear, verificamos que certas condições sociais

de existência características de certas posições de classe se associam sistematicamente a desvios, para cima ou para baixo das médias e totais populacionais, nas proporções relativas de cada lógica de apoio. Ou seja, mais do que com o volume, podemos associar de forma mais clara certas classes sociais e perfis globais de lógicas estratégicas de apoio.

Verificamos, desta maneira, que a lógica de apoio quotidiano e em alojamento, que é sempre a maioritária em todas as classes sociais, tem um peso menor nos empresários e dirigentes (menos de 53 %, com média inferior à da população apoiada), nas profissões intelectuais e científicas (pouco mais de 60 %, embora com média superior à total), nas profissões técnicas e de enquadramento intermédio (pouco mais de 58 %, também com média superior, ainda que por pouco, à da população apoiada). Estas três categorias sócio-profissionais são as que apresentam uma fatia desta lógica estratégica de apoio claramente inferior ao peso que tal lógica assume nas restantes, onde varia sempre, com ligeiras oscilações para baixo ou para cima, em torno da percentagem global (bem como as médias de apoio por família apoiada, também com pequenas variações).

A lógica de apoio financeiro e material, por sua vez, tem mais peso nos mesmos empresários e dirigentes (pouco mais de 34 %, com uma média igual ao total apoiado), profissões intelectuais e científicas e nas técnicas e de enquadramento intermédio (ambos com pouco mais de 32 %, embora já com médias de ocorrência de apoio superiores à total). Mais uma vez, as classes sociais, quer as ligadas à pequena propriedade e trabalho independente, quer as ligadas ao salariato pouco ou não qualificado, apresentam tanto proporções desta lógica de apoio, como valores médios de apoio por família, perto dos valores populacionais globais.

A lógica de emprego e empréstimo, em seu turno, encontra-se mais representada nas famílias com condições de classe ligadas ao trabalho intermédio ou pouco qualificado nos serviços, ou então ao trabalho independente e pequeno patronato. Assim, nas famílias com profissões técnicas e de enquadramento intermédio (com quase 6 % e média superior ao total), de empregados executantes (com 4,3 %, com média igual à total) ou de empregados executantes e industriais (5,3 %, com média ligeiramente superior à total), bem como nos independentes e pequenos patrões (4,4 % e média igual à total), temos uma proporção desta lógica de apoio que é superior ou igual ao perfil populacional ou é igual. Em todas as restantes classes sociais tal proporção é menor. Quer nos operários industriais (que mesmo assim são, destes restantes, quem mais se aproxima dos valores globais, com 3,9 % e média igual), nos assalariados agrícolas e industriais (2,5 %, embora com média de ligeiramente superior ao total), quer nos camponeses (2,3 % e média de 1,1 apoios, ambos inferiores ao

total), quer ainda nas profissões intelectuais e científicas (3,2 %, com média de 1,2) bem como nos empresários e dirigentes (com os valores mais baixos, respectivamente 1,8 % e média de 1).

A lógica de herança, imóvel e negócio está associada às situações de classe cuja condição é definida pelo património ou actividade empresarial (pequenos ou grandes), nomeadamente e por ordem crescente, os independentes e pequenos patrões (com 7 % e média igual ao total), os camponeses (com quase 9 % e média superior ao total) e, particularmente, os empresários e dirigentes (com uns impressionantes mais de 11 % e média superior ao total).

Podemos assim ver que, em cada condição de classe, se verificam diferentes perfis em termos das proporções das diferentes lógicas de apoio.

Nos empresários e dirigentes encontramos um perfil de menor importância do apoio em ajudas quotidianas e em alojamento, bem como das ajudas em empréstimos e para obtenção de emprego. Inversamente, é esta a categoria sócio-profissional com a maior parcela de apoio financeiro e material não quotidiano, bem como, muito particularmente, de herança, apoio em imóveis e negócios.

As profissões intelectuais e científicas, embora apresentem um perfil em parte semelhante aos empresários e dirigentes, já que têm igualmente uma menor fatia de apoios quotidianos e em alojamento, bem como em emprego e empréstimos, e também uma maior em apoio financeiro e material, apresentam a particularidade, consentânea com o seu menor volume global de capital em relação aos precedentes, de a percentagem do apoio que recebem em herança, imóveis e negócios ser inferior à media da população total apoiada, ainda que por pouco.

Nas profissões técnicas e de enquadramento intermédio, se o apoio quotidiano e material é também inferior ao total populacional e o apoio financeiro e material é igualmente superior, como nos dois casos anteriores, e se a percentagem de apoio mais patrimonial (herança, imóvel e negócio) é, tal como no caso imediatamente anterior e ainda mais vincadamente, inferior, constatamos que se dá uma subida da importância relativa dos apoios em ajudas para a obtenção de emprego e em empréstimos.

Nas categorias de trabalho assalariado mais desqualificado deparamo-nos com duas situações algo diferenciadas e que têm a ver com o trabalho no sector dos serviços. Em todas estas categoriais sociais encontramos uma percentagem de apoio em herança, imóvel e negócio abaixo do total das famílias apoiadas, bem como fatias de apoio quotidiano e em alojamento e apoio financeiro e material igualmente perto das percentagens para a população

total (embora com oscilações, ora acima, ora abaixo). Por sua vez, enquanto nos operários industriais e assalariados agrícolas e industriais o apoio em ajudas para a obtenção de emprego e em empréstimos está abaixo do total, nos empregados executantes e nos empregados executantes e operários esta lógica de apoio apresenta um valor igual ao total ou mesmo acima. O trabalho nos serviços parece, assim, produzir um efeito de aumento, ainda que falemos sempre de percentagens diminutas, desta lógica global de apoio. O trabalho agrícola, por seu turno, parece produzir um efeito de normalização estatística no que se refere aos apoios quotidianos em alojamento bem como financeiros e materiais, já que nas famílias estritamente de operariado industrial este último decresce em relação ao total, e o primeiro avoluma ainda mais a sua importância. Os assalariados agrícolas e industriais, apesar desse perfil mais perto do total da população, apresentam a percentagem de apoio em emprego e empréstimo mais baixa de todas as classes sociais.

Nos independentes e pequenos patrões, bem como nos camponeses, vamos encontrar um perfil global de apoio onde ressalta, ainda que em valores aquém dos apresentados pelos empresários e dirigentes, a lógica global de apoio patrimonial, de herança, imóvel e negócio. A diferença entre estas duas categorias diz mais respeito ao facto de os independentes e pequenos patrões deterem uma fatia de apoio em emprego e empréstimo marginalmente superior ao total populacional, enquanto os camponeses estão claramente abaixo, ainda que, por sua vez, apresentem uma percentagem de apoios quotidianos e em alojamento superior ao total.

Tal como com a classe social, o panorama global das lógicas de apoio segundo o nível de escolaridade da mulher inquirida em cada família (Quadro 4.8) também varia e, embora apresente uma distribuição mais simples do que pelas categorias sócio-profissionais, constatamos que não se trata já de uma distribuição linear como a com que nos deparamos quando analisando somente o volume de apoios. A maior complexidade da distribuição resulta, muito provavelmente, do carácter mais qualitativo do que estritamente quantitativo do indicador agora esmiuçado. Daí o termos visto a concatenação entre determinadas condições de classe e determinados perfis globais de apoio.

Segundo a escolaridade da mulher, verificamos que o apoio quotidiano e em alojamento apresenta percentagens acima do total populacional nos níveis mais baixos de escolaridade, até ao ensino preparatório e básico inclusive. Inversamente, as parcelas que esta lógica de apoio ocupa no perfil total das categorias mais escolarizadas, ainda que persistindo como a modalidade de apoio mais importante, apresentam um valor mais baixo.

Note-se no entanto, e olhando para os extremos da distribuição de graus escolares que, enquanto na categoria sem escolaridade, em que a percentagem é a maior, o número médio de apoios por família é apenas de 4,5 (abaixo dos 5,6 da média global), na categoria licenciatura ou mais, onde a fatia de apoio quotidiano e em alojamento não sendo das mais baixas está abaixo do total populacional, o número médio de ajudas por família é o maior de toda a população (com 7,8 apoios deste tipo por família).

Quadro 4.8

Lógicas de apoio e escolaridade da mulher

Escolaridade da mulher Quotidiano e

Alojamento Financeiro e Material Emprego e Empréstimo Herança, Imóvel e Negócio Total % 71,2 17,3 2,2 9,3 100,0

Sem Escolaridade Média pop. total 03,3 00,8 0,1 0,4 004,7

Média pop. apoiada 04,5 02,1 1,1 1,3 005,1

% 69,1 21,2 4,1 5,6 100,0

Ensino primário Média pop. total 04,0 01,2 0,2 0,3 005,7

Média pop. apoiada 05,2 02,4 1,3 1,3 006,7

% 65,9 25,8 4,2 4,2 100,0

Ensino Preparatório e Básico Média pop. total 04,7 01,8 0,3 0,3 007,1

Média pop. apoiada 05,7 02,8 1,3 1,2 007,7

% 58,0 32,1 5,6 4,3 100,0

Ensino Secundário Média pop. total 04,7 02,6 0,5 0,3 008,1

Média pop. apoiada 05,7 03,3 1,5 1,3 008,7

Curso Médio ou Licenciatura incompleta

% 56,5 33,2 4,8 5,4 100,0

Média pop. total 04,3 02,5 0,4 0,4 007,6

Média pop. apoiada 05,2 03,5 1,3 1,3 008,1

% 61,3 30,4 3,1 5,2 100,0

Licenciatura ou grau superior Média pop. total 06,5 03,2 0,3 0,5 010,6

Média pop. apoiada 07,8 03,8 1,3 1,5 011,2

Total

% (N=12044) 65,1 25,7 4,3 4,9 100,0

Média pop. total

(N=1776) 4,4 1,8 0,3 0,4 6,8

η2 0,02*** 0,09*** 0,02*** 0,01*** 0,05***

Média pop. apoiada

(N=1597) 5,6 2,8 1,3 1,3 7,5

η2

0,02*** 0,05*** 0,02* 0,01* 0,04***

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p <0,001

O peso relativo da lógica de apoio financeiro e material inverte o panorama apresentado pela lógica anterior. São os níveis de escolaridade acima do secundário inclusive que apresentam maiores fatias destes tipos de apoio, sendo que o número médio de apoios por família cresce mesmo linearmente com o aumento do nível escolar. A lógica de apoio em emprego e empréstimo, que vimos caracterizar globalmente mais categoriais intermédias ou pouco qualificados dos serviços, apresenta, segundo o nível de escolaridade, percentagens mais elevadas no ensino secundário ou nas situações de curso médio, bacharelato ou licenciatura incompleta.

Por sua vez, o apoio em herança, imóveis ou negócio, que vimos caracterizar as situações de classe ligadas à propriedade, quer a grande propriedade (nos empresários e dirigentes), quer a pequena (nos independentes e pequenos patrões bem como nos camponeses), apresenta um peso relativo segundo os níveis escolares que espelha a própria diversidade em termos de capital qualificacional dessas categorias sociais. Assim, é mais alto

nas situações de ensino pós-secundário, mas, acima de tudo, nas situações apenas de escolaridade primária e, muito vincadamente, nas de sem escolaridade (reflectindo fortemente o baixo perfil educacional dos segmentos sociais ligados à pequena propriedade, muito particularmente agrícola).