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2. ENQUADRAMENTO

2.7 UNIDADES E SUB-UNIDADES DA PAISAGEM

2.7.3 LEÇA DA PALMEIRA

“Os rios são como pessoas. Têm nome e às vezes fazem questão em deixá-lo a uma terra que o mereça. Como esta aqui em frente a Matosinhos como Leça da Palmeira” (Gomes, s/d)

O rio Leça nasce em Monte Córdova, um conjunto de montes altos que separam Santo Tirso de Paços de Ferreira e passa pelas serranias de Valongo perto de São Miguel-o-Anjo. Percorre apenas 36km até chegar ao mar (Gomes, s/d) mas, pela sua

36 enorme importância na vida das populações, este deu o nome a esta terra que subsistiu, grande parte do tempo graças ao rio e à importante via de comunicação, possibilitando as trocas comerciais que o rio materializava. Desde a época da romanização, a irrigação e a ocupação agrícola dos campos foram recursos potenciados pelo rio Leça (Sousa, 2005).

A freguesia de Leça da Palmeira em especial pela sua localização privilegiada junto ao Oceano Atlântico, foi desde os tempos de 500 a.C. local escolhido para fixação das populações que aí se instalavam, facto comprovado por vestígios arqueológicos. O castro de Guifões (Figura 35) terá sido dos primeiros aglomerados habitacionais (Sousa, 2005). Este constitui

uma das mais importantes estações arqueológicas da área metropolitana do Porto pela abundante presença de fragmentos de cerâmica, facto que rapidamente despertou o interesse da comunidade científica (Cleto, 1999).

Segundo Sousa (2005), estes castros provenientes da Idade do Ferro, eram situados em locais elevados pois eram lugares estratégicos de defesa que serviam de fortificações para controlarem a área envolvente. No caso concreto do castro de Guifões, pensa-se que este castro deu origem à cidade de Matosinhos, porque desde tempos remotos viveu lá uma povoação ligada a exploração dos recursos naturais e era um local privilegiado de trocas comerciais (Bento, 1997).

A prova de que Matosinhos e a freguesia de Leça da Palmeira têm uma tradição milenar na indústria conserveira está nos inúmeros tanques escavados (Figura 36) perto da praia de Angeiras (Bento, 1997). Com a chegada dos romanos, as populações locais mudam-se das zonas fortificadas nas montanhas para as margens

dos rios, para pequenas povoações, de forma a melhor aproveitar os recursos e acabar as guerras com outros castros. Este era um povo que subsistia 2/3 do ano com a bolota e, do ponto de vista dos romanos, não aproveitava os recursos disponíveis como os frutos, o gado, ouro, prata e outros metais (Sousa, 2005). Houve assim, uma Figura 35 - Ruínas do Castro de Guifões (Fonte:

Imagens Google)

Figura 36 - Tanques escavados nas rochas de Angeiras que se acredita tererm sido usados na

37 transferência das populações dos castros para a Costa Atlântica que só lhes trouxe vantagens, como o aproveitamento da agricultura com as terras férteis das zonas mais baixas. A localização estratégica para as trocas comerciais, com a presença de recursos fluviais/marítimos, constituiu as premissas para a construção de villas romanas (Sousa, 2005). Pensa-se que as exportações de sal e de conservas terão levado à implantação de uma “vila” romanizada, tanto agrária, como piscatória e artesanal, junto à foz do rio Leça, “onde sempre sempre se pescou e exportou sal” (Bento, 1992). Segundo Sousa (2005), com a construção das estradas romanas, inicialmente com fins militares, intensificaram-se e melhoraram as trocas comerciais, assim como foi possibilitada a criação de novos núcleos habitacionais, o que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento demográfico desta região.

Ainda no séc.XI a principal fonte de riqueza da chamada Vila de Matesinus era a exploração do sal que era exportado para a Flandres e atual Alemanha (Bento, 1997). Apesar de a existência de Leça da Palmeira ser identificada, desde tempos remotos, através de vestígios arqueológicos, a primeira referência escrita surge em 1081 com a designação de “Villa Foce de Leça” que foi sofrendo alterações com o tempo. Pela análise de manuscritos antigos, verificou-se que em 1211, tinha a designação de “Morosa” ou “Moroça” que era atribuída à parte de Leça da Palmeira mais rural e para o interior, e de Leça junto ao rio (Sousa, 2005). Pelos estudos etimológicos levados a cabo por alguns autores, o topónimo de Leça da Palmeira está associado aos “Palmeiros”, peregrinos que vinham da Terra Santa e desembarcavam na foz do rio Leça (Sousa, 2005). Segundo outra fonte, Bento (1997), a freguesia de Leça da Palmeira possui esta designação por ter existido uma palmeira de tal forma monumental que sobressaía na paisagem e era o ex-libris da cidade até à data de 1758 e por isso a freguesia ficou com o nome de Leça da Palmeira.

38 Figura 37 - Foto da praia de Leça da Palmeira a sul da praia do Aterro (s/d)( Fonte: Arquivo Municipal de

Matosinhos)

Foi no início do séc XIX que as praias de Leça da Palmeira (Figura 37) se tornaram num lugar de destaque turístico e recreativo, como estância balnear frequentada, tanto pela alta burguesia, como pelos ingleses que vinham do Porto e por artistas vindos de diversos pontos do país.

Figura 38 - Linha férrea junto à praia Azul que atravessava todo o cordão dunar de Leça, foto datada de 1934 ( Fonte: Arquivo Municipal de Matosinhos)

39 Os escritores António Nobre e Ramalho Ortigão e os pintores António Carneiro e Agostinho Salgado foram aqui atraídos, tanto pelos seus encantos naturais, como pela peculiaridade da sua gente (Sousa, 2005). Segundo Bento (1997), na monografia do concelho de Bouços, editado em 1899, o início das atividades de veraneio é referido deste modo: “… a velha praia de Leça da Palmeira, situada na foz do rio Leça fora calcada a primeira vez, por banhistas, aí por 1820 a 30…”

As famílias que frequentavam as suas praias eram alojadas nas casas dos habitantes locais que as alugavam na época balnear e iam viver para umas barracas que tinham nas traseiras para o efeito, enquanto os mais ricos chegavam mesmo a construir as suas próprias casas perto do mar (Sousa, 2005). No final do séc.XIX, já havia alterações significativas, devido à chegada de meios de transporte mais modernos como o comboio que seguia pela mar (Figura 38), e foram muitas as famílias que se fixaram em Leça da Palmeira, sendo que o seu carácter de veraneio e lazer se manteve e o seu crescimento sempre esteve associado à praia e turismo (Sousa, 2005). Segundo o autor (2005), foi no ano de 1863 que Leça da Palmeira e Matosinhos foram nomeadas de Vilas e em 1984 Leça da Palmeira foi elevada à categoria de cidade sobretudo pela implementação aqui de três grandes empreendimentos económicos: o Porto de Leixões, a Refinaria de Matosinhos e a Exponor.